Quem não conhece a melodia acompanhada de batidas de
tímpanos, em volume crescente, com que o diretor Stanley Kubrick inicia o
clássico 2001: Uma odisseia no espaço? Richard Strauss escreveu essa
introdução, chamada O nascer do sol, para o seu poema sinfônico Assim falou
Zaratustra. É com ela que Strauss inicia a sua interpretação sonora do texto do
filósofo Friedrich Nietzsche. O nascer do sol é considerado uma das aberturas
mais geniais e também uma das mais conhecidas da história da música.
Richard Georg Strauss nascido
no dia 11 de junho de 1864, em Munique, na Baviera (atual Alemanha). Filho de Franz
Strauss, professor de música e principal trompetista da orquestra da corte de
Munique do século XIX e Josephine Pschorr de uma família cervejeira proeminente de
Munique.
Aos quatro anos aprendeu a
tocar piano com o pai. Em 1871, compôs suas primeiras partituras: “Schneiderpolka”
(uma polca) e “Weihnachtslied” (um cântico de Natal), sua mãe escreveu o texto
e coube a Richard fazer a música. Em 1872 recebeu instrução de violino na
Escola Real de Música de Benno Walter, primo de seu pai. Estudou teoria musical
e orquestração com um regente assistente da Orquestra Tribunal de Munique e
também participava de ensaios da Orquestra do Estado Bávaro ou Orquestra do
Estado da Baviera. Uma das três maiores orquestras da cidade de Munique, junto
com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara e a Orquestra Filarmônica de Munique.
Antes de completar dez anos,
já havia escrito uma serenata para instrumentos de sopro.
Em 1874, ouviu óperas de
Richard Wagner, Lohengrin e Tannhäuser. A influência da música de Wagner sobre
o estilo de Strauss seria profunda, entretanto seu pai proibiu-o de estudá-lo.
Strauss lamentou profundamente a hostilidade conservadora de seu pai para com
as obras progressistas de Wagner. A influência paterna foi crucial em seu
desenvolvimento musical. Em 1875, frequenta as aulas de composição e
instrumentação de Franz Meyer, regente da orquestra da Corte. Em 1876, iniciou
estudos de harmonia, contraponto, fuga e piano.
No início de 1882, em Viena,
Richard Strauss fez a primeira apresentação do seu Concerto para Violino em Ré
menor, tocando uma adaptação para piano da parte orquestral, com seu Benno
Walter como solista.
Quando ele deixou a escola já
tinha composto mais de 140 obras entre canções, peças orquestrais e de câmara,
e continuou a escrever música quase até sua morte.
Ainda em 1882 entrou na
Universidade Ludwig Maximilian de Munique (LMU), onde estudou Filosofia,
estética e História da Arte, mas não a música. Deixou a universidade três anos
depois.
Hans von Bullow |
Entre 1884 foi a Berlim, onde estudou brevemente, a arte da regência,
observando o maestro Hans von Bülow nos ensaios. Bülow gostava muito do jovem e
decidiu que Strauss deveria ser seu sucessor como maestro da orquestra
Meiningen. Em 1885, tornou-se seu assistente e, um mês mais tarde, quando Bülow
renunciou, tornou-se regente titular daquela orquestra. Foi também diretor das
casas de ópera de Weimar (1886), de Berlim (1898) e de Viena (1919-1924).
Em 1885 compõe “Burleske”,
para piano e orquestra, primeira partitura de caráter nitidamente Straussiano.
Em 1886, Strauss compôs seu
primeiro poema sinfônico, "Aus Italien", iniciando então uma
bem-sucedida carreira de compositor.
Faz algumas viagens à Itália,
onde compõe seus primeiros poemas sinfônicos: Para os Italianos e Don Juan.
Em 1889 é nomeado maestro
assistente em Bayreuth e assume a direção do Teatro da Corte de Weimar. Estreia
do poema sinfônico Don Juan e compõe Morte e Transfiguração.
A fim de se restabelecer de
uma doença, parte para a Grécia em 1892. No ano seguinte vai à Sicilia e ao
Egito. Compõe Guntram, sua primeira ópera em Weimar em 1894.
Pauline de Ahna |
No dia 10 de setembro de
1894, Richard Strauss casou-se em Weimar com a soprano Pauline de Ahna. Ela foi
a primeira a cantar o papel de Freihild em sua primeira ópera, Guntram. Ela era
famosa por ser irascível, tagarela, excêntrica e franca, mas o casamento, ao
que tudo indica, era essencialmente feliz e ela era uma grande fonte de
inspiração para ele.
Posteriormente, Cosima Wagner
o convidou a reger Tannhäuser em Bayreuth, tornando-se amigo da viúva de
Wagner. Foi nomeado maestro da Corte de Munique, inicia a composição de “Till
Eulempiegel”.
Em 1896 assume a regência
titular da Opera de Munique. Paralelamente sucede ao seu protetor Hans von
Bülow à frente da Orquestra Filarmônica de Berlim.
A obra que mais o evidenciou
foi “Assim falou Zaratustra” com a sua famosa parte inicial, escrita em 1.896,
inspirada no livro homônimo de Nietzsche, escrito onze anos antes, narrando a
história do filósofo Zaratustra ou Zoroastro, que fundou uma corrente de
pensamento, o Zoroastrismo, que critica o modo de vida que existia no novo
testamento, dizendo que os homens devem ser livres, ao invés de fazer o que
dizem as instituições. Essa nova forma de liberdade se traduziria no nascimento
do Super-Homem.
Ao concluir “Assim Falou
Zaratustra” e começou a escrever “Don Quixote”. Esta última é uma obra fácil de
ser entendida.
Em 1897, o casal teve um
filho, Franz Alexander. Em 1924, Franz casou-se com Alice von Grab, uma mulher
judia, em uma cerimônia católica. Franz e Alice tiveram dois filhos, Richard e
Christian.
Em 1898, instala-se com a
família em Berlim, assumindo a direção da Orquestra Imperial da Prússia, fundou
a Associação dos Compositores Alemães.
Em 1900, em Paris, conhece o
poeta Hugo von Hofmannsthal, cujos libretos expressam magistralmente os
sentimentos dos personagens e são uma complementação perfeita para a brilhante
música de Strauss.
A parceria teve início em 1909 com a estreia de "Elektra", terminando com a morte do poeta em 1929, seguiram-se a Elektra:
O Cavaleiro da Rosa,
Ariadne em Naxos,
A Mulher sem Sombra,
A Helena Egípcia (1928)
Arabella (1929-1932).
Em 1905, publica em alemão e
com sua própria revisão o Grande Tratado de Instrumentação de Hector Berlioz.
Strauss Villa |
Ainda
naquele ano, constrói Strauss-Villa sua residência na Alta Baviera
Garmisch-Partenkirchen. O edifício é baseado na lei de conservação de 01 de
outubro de 1973, um monumento arquitetônico.
Oscar Wilde |
No dia 9 de dezembro de 1905
estreava em Dresden, na Alemanha, a ópera "Salomé",baseada em um
drama de Oscar Wilde, a peça desencadeou protestos por causa do erotismo
sedutor e perturbador na música e na narrativa, foi o grande sucesso dos palcos
em 1905 e 1906.
Salomé |
Com seu poder mortal de sedução, a ópera e a mundialmente
famosa Dança dos sete véus foram temporariamente proibidas – mesmo assim,
fizeram sucesso nos palcos de toda a Europa.
Irmã desta seria a ópera
Elektra, composta entre 1906 e 1908, uma nova fase se abriu na sua produção
musical, dedicada principalmente à ópera. Em 1908, assume a direção da Ópera da
Corte de Berlim.
Em 26 de janeiro de 1911
estreou em Dresden a divertida ópera "O Cavaleiro da Rosa",
provavelmente a peça mais encenada de Richard Strauss. Uma fascinante homenagem
à Viena dos tempos da imperatriz Maria Teresa.
Richard Strauss, Pauline e Franz (foto de 1910) |
Durante a Primeira Guerra
Mundial, Richard Strauss foi ardente partidário da dinastia dos Hohenzollern.
Apesar disso, durante a década que se seguiu à derrota da Alemanha o músico foi
acolhido internacionalmente com calor e respeito.
Em 1917, colabora com a
criação do Festival de Salzburgo, admirador de Mozart que era. Assume em 1919,
a co-direção da Opera de Viena ao lado de Franz Schalk.
Em 1923, Strauss esteve no
Brasil, onde deu memoráveis concertos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Stefan Zweig |
Abandona todas as suas
funções em 1924 para se dedicar à composição. Em 1929, inicia-se uma longa
crise existencial, profissional e estética, que durariam dez anos. Em 1931 pede
a Stefan Zweig que assine o libreto da ópera A Mulher Silenciosa.
Em 1932, Strauss compôs a
ópera "Arabela". Nessa época, a Alemanha já era nazista e Strauss
acabou se envolvendo com o regime.
Após a subida ao poder de
Hitler (1933), Richard Strauss foi nomeado diretor do Reichsmusikkammer (Câmara
de Música do III Reich), cargo que ocuparia por três anos. Isso levou a
suspeitas de simpatia com o nazismo, o que fez com que o compositor sofresse o
desdém de outros músicos, que protestaram veementemente contra o regime
nazista, entre os quais Toscanini, Arthur Rubinstein e Otto Klemperer. É sabido
que Strauss dedicou uma canção a Joseph Goebbels, ministro da propaganda da
Alemanha Nazista. Por outro lado, sabe-se também que ele colaborou com o
escritor judeu Stefan Zweig, autor do libreto de uma de suas óperas, Die
Schweigsame Frau, e fez tudo para proteger sua nora, Alice von Grab, que era
judia.
Substitui em 1933 os maestros
Otto Klemperer e Arturo Toscanini que se recusam a reger no Festival de
Bayreuth sob o regime nazista, como este último havia recusado de fazê-lo sob o
fascismo italiano. Apesar de exigir que o nome de Zweig constasse dos cartazes
de A Mulher Silenciosa, comprometeu-se com o governo a participar das
manifestações oficiais e enriquecer com sua arte e imagem os assuntos caros ao
regime. Compõe o Hino Olímpico para os Jogos Olímpicos de Berlim de 1936.
Strauss também foi, durante
muitos anos, um maestro atuante e promotor de outros compositores, foi ativo na
política cultural e defendeu os direitos dos artistas. A fim de melhorar a
posição social dos compositores, ele prestou uma contribuição para a mudança da
legislação do direito autoral.
Não mais presidente da Câmara
de Música do Reich, nos anos seguintes ele se arranjou com o regime, também para
proteger a sua nora e netos judeus.
Durante o nazismo era
importante que suas peças estivessem suficientemente presentes nas programações
e, por esse motivo, a sua atitude oportunista funcionou bem para o
nacional-socialismo.
Em 1938, estreia de “Friedenstag”
e “Daphne”.
Friedenstag (Dia da Paz), Op.
81, é uma ópera em um ato de Richard Strauss, do libreto alemão escrito por
Joseph Gregor. Strauss tinha a esperança de trabalhar novamente com Stefan
Zweig em um novo projeto após a sua colaboração anterior de schweigsame Die
Frau, mas as autoridades nazistas tinham assediado Strauss sobre a sua
colaboração com Zweig, que era de ascendência judaica.
Daphne, Op. 82, é uma ópera
em um ato de Richard Strauss, com o subtítulo “Tragédia Bucólica em um ato”.
Libreto alemão escrito por Joseph Gregor. A ópera é baseada frouxamente na
figura mitológica Daphne de Ovídio's Metamorphoses e inclui elementos tomados
de As Bacantes de Eurípides.
Em 1939, com o início da
Segunda Guerra Mundial, cai no ostracismo. Richard Strauss não foi mais
importunado pelos nazistas. Com o tempo foi se recolhendo em sua casa de campo
em Garmisch e diminuindo suas atividades. Em 1941, conclui a ópera Capriccio.
O tema da ópera Capriccio
pode ser resumido como “Qual é a maior arte, poesia ou música?” Esta questão é
dramatizada na história de uma condessa dividida entre dois pretendentes:
Olivier, um poeta, e Flamand, um compositor.
Em 1944, Richard Strauss
comemorou seu aniversário de 80 anos e conduziu a Filarmônica de Viena em
gravações de suas próprias grandes obras orquestrais.
Em 1945, estabelece-se na
Suíça e reflete sobre sua vida artística na composição de Metamorfoses
(Metamorphosen), que muitos consideram ser a sua maior obra.
Após a derrota de Hitler, em
1945, os Aliados instalaram na Alemanha um comitê de “Desnazificação”, e
Strauss foi chamado a depor, mas o tribunal o inocentou de qualquer filiação ao
Partido Nazista. Convidado a reger seus concertos em Londres em 1947, foi
recebido com entusiasmo, naquela que seria sua última e triunfal turnê.
Muita gente se surpreendeu ao
saber que Strauss ainda estava vivo quando foi a Londres, em sua primeira
viagem de avião, para um festival organizado por Sir Thomas Beecham. Ao ser
consultado sobre planos para o futuro, só pôde responder: “Bem... Morrer!”.
Pouco depois, em 1948 compôs
seu último trabalho, “Quatro Últimas Canções” (em alemão: Vier Letzte Lieder),
um conjunto de obras para soprano e orquestra que estão entre as últimas peças
de Richard Strauss, compostas em 1948, quando o compositor tinha 84 anos.
Richard Strauss - 1948 |
A estreia ocorreu em Londres
em 22 de maio de 1950, tendo por solista a soprano Kirsten Flagstad acompanhada
da Orquestra Filarmônica, regida por Wilhelm Furtwängler.
Strauss não viveu para ouvir
sua obra apresentada. Poucos anos de sua morte, já havia se tornado um dos mais
famosos ciclos de canções (lieder) do repertório lírico.
Strauss regeu pela última vez
em 1949, nas comemorações de seu 85o aniversário.
Richard Georg Strauss morreu
de insuficiência renal com 85 anos em 08 de Setembro de 1949, em sua casa em
Garmisch Partenkirchen, na Alemanha. Encontra-se sepultado em Richard Strauss
Villa, na Baviera. A esposa de Strauss, Pauline de Ahna, morreu oito meses
depois, em 13 de Maio de 1950, com 88 anos.
Richard Strauss é a síntese
da música germânica no fim do século XIX e início do XX. Herdeiro direto de
Richard Wagner no sinfonismo, de Franz Liszt no conceito (dando continuidade à
tradição dos poemas sinfônicos) e de Hector Berlioz na grandiloquência.
Notabilizou-se como regente
orquestral na Alemanha e na Áustria. Ele
era um mestre da instrumentação moderna e de uma nova sonoridade. Um mágico do
som da Baviera... O compositor tornou-se famoso em todo o mundo.
Não confundir Richard Strauss
com a família “Johann Strauss”: pai, filho e irmãos.
Richard Strauss era ateu,
duvidava de todas as religiões, exceto talvez a religião da razão. “Eu nunca me
converterei, e eu permanecerei fiel a minha velha religião clássica até o fim
de minha vida”, declarou pouco tempo antes de sua morte.
Sua atitude dúbia frente ao
nazismo continua sendo uma mancha em sua biografia.