sexta-feira, 31 de agosto de 2018

MASS - Leonard Bernstein



Em breve discorrerei sobre Leonard Bernstein que no último dia 25 completou o centenário de seu nascimento.


Trataremos de uma peça específica chamada Mass, cujo título original é MASS - A Theatre Piece for Singers, Players, and Dancers (Uma peça de teatro para cantores, músicos e dançarinos).

John & Jacqueline Kennedy
A peça foi encomendada por Jacqueline Kennedy para a inauguração, em 08 de Setembro de 1971, do John F. Kennedy Center for the Performing Arts em Washington, D.C., sem especificarem o que gostariam ou, tampouco a temática da obra deixando a cargo de Bernstein o que seria apresentado. 

O compositor aproveitou essa autonomia para trabalhar e optou por escrever uma Missa baseada nos rituais católicos, o que agradou, pois John Kennedy foi o primeiro presidente católico dos EUA e Bernstein fora sensível ao fato.

Stephen Schwartz & Paul Simon
A ideia original era compor uma Missa tradicional, porém decidiu-se por uma forma baseada na Missa Tridentina da Igreja Católica Romana, com passagens litúrgicas cantadas em latim, a missa também inclui textos adicionais em inglês escritos por Bernstein, pelo compositor da Broadway Stephen Schwartz, e por Paul Simon (que escreveu parte do tropo (*) "Half of the People"). 

A obra trabalho foi escrita para encenação, e também na forma padrão de concerto.


Leonard Cohen
A ideia para compor uma missa, veio da experiência de Bernstein em reger no funeral de Robert F. Kennedy em 1968 na Catedral de St. Patrick, em Manhattan, também da regência do bicentenário de Beethoven em Viena em 1970 e um pequeno trecho "A Simple Song", escrita para o filme Irmão Sol, Irmã Lua, de Franco Zeffirelli, antes de sua desistência do projeto após três meses nos quais trabalhou com Leonard Cohen.

No elenco original constava:
- O Celebrante - O personagem central da obra, um padre católico que conduz a celebração da missa.
 - Três corais: Um Coro Formal - Um coro misto que cantam as porções latinas da Missa. Coral de crianças e cantores de rua.
- Acólitos - Assistentes do Celebrante, que executam danças e assistência ao altar durante a missa.
Uma orquestra clássica completa no espaço entre o palco e a plateia, e também músicos no palco - incluindo uma banda de rock e uma banda de marcha que interagiam no palco.


No início da peça os artistas estão em harmonia e concordância, com o decorrer da missa, no entanto, o coro da rua começa a expressar dúvidas e suspeitas sobre a necessidade de Deus em suas vidas e o papel da massa. No clímax emocional da peça, a crescente cacofonia da reclamação do coro finalmente interrompe a elevação do Corpo e do Sangue (o pão e o vinho transubstanciados). O celebrante, furioso, arremessa o pão sagrado, alojado num ostensório ornamentado em forma de cruz, e o cálice de vinho, esmagando-os no chão. Neste sacrilégio, os outros membros do elenco caem no chão como se estivessem mortos enquanto o Celebrante canta um solo. Este solo mistura a descrença do coro com sua percepção de que ele se sente desgastado e se pergunta onde a força de sua fé original se foi. No final de sua música, ele também entra em colapso. Começa um solo de flauta (Espírito Santo), partindo aqui e ali de diferentes oradores no salão, finalmente "pousando" em uma única nota clara. Um servidor do altar, que estava ausente durante o conflito, então canta um hino de louvor a Deus, "Sing God a Secret Song". Isso restaura a fé dos três coros, que se juntam ao servidor do altar, um por um, em seu hino de louvor. Eles dizem ao Celebrante "Pax tecum" (Que a paz esteja com você) e terminam com um hino pedindo a bênção de Deus. As últimas palavras da peça são: "A missa terminou; vá em paz".

Leonard Bernstein compôs a missa para uma grande orquestra e coro e incluiu também um grupo de músicos de rua. Dividiu a orquestra em duas partes: as cordas, teclados e percussão estão no poço; enquanto os instrumentos de sopro, metais, guitarras, sintetizadores e percussão estão no palco. A instrumentação é a seguinte:

Orquestra do Poço:
glockenspiel
Instrumentos de percussão (entre  4 e 5 músicos): timbales, bongos, tarola, tambor de tenor, bumbo, 4 tambores, címbalos, prato suspenso, triângulo, 2 chocalhos, sinos, tam-tam, bigorna, blocos de templo, bloco de madeira, pandeiro, xilofone, glockenspiel, marimba e vibrafone
Teclados: celesta, piano e 2 órgãos Allen (pequenos e grandes)
Cordas: harpa, primeiro e segundo violinos, violas, violoncelos e contrabaixos.

Orquestra de Palco:
Instrumentos de sopro de madeira: 2 flautas, 2 oboés, 3 clarinetes e 2 fagotes.
Instrumentos de sopro de metal: 4 Horns, 4 trompetes, 3 trombones e tuba
Percussão (2 músicos): bongos, 2 baterias, címbalos de dedo, blocos de templo, 2 pandeiros e glockenspiel
Teclado: 2 sintetizadores (um para banda de blues, outro para banda de rock)
Voz: solo de barítono alto (Celebrante), solo de menino soprano, coro (pelo menos 60 cantores), coro de meninos (pelo menos 20 cantores)
Cordas: violão, 2 guitarras elétricas  e 2 baixos (um para a orquestra de palco e outro para a banda de rock)

Bernstein incluiu uma nota explicando como os músicos da orquestra do palco estariam vestidos e também atuariam como membros do elenco. Bernstein também chegou a incluir uma nota de rodapé que o baixista e o tecladista da banda Blues e o tecladista, baixista e baterista da banda Rock deveriam ser incluídos como percussionistas para a orquestra do segundo movimento.

Músicos de rua:
Percussão: 3 tambores de aço, claves, garrafas, um pandeiro, cabaças e latas
Voz: pelo menos 45 cantores (20 a 30 solistas são usados nesse grupo)

Em suas instruções, Bernstein indicou que a percussão deveria ser tocada por membros dos músicos de rua.

Richard Nixon
O FBI manteve um arquivo sobre Bernstein por causa de seus pontos de vista esquerdistas. No verão de 1971, o Bureau advertiu a Casa Branca que o texto latino da missa poderia conter mensagens contra a guerra, o que poderia causar constrangimento ao presidente Nixon, caso ele participasse da estreia e aplaudisse educadamente. 

Rumores de tal enredo de Bernstein vazaram para a imprensa. De acordo com Gordon Liddy, o conselheiro da Casa Branca John Dean afirmou que o trabalho era "definitivamente contra a guerra e anti-establishment, etc". Nixon não compareceu à estreia; Nixon teve essa decisão descrita na imprensa como um ato de cortesia para Jacqueline Kennedy Onassis, porque ele sentiu que a abertura formal "deveria ser realmente sua noite".
Jacqueline Kennedy e
Leonard Bernstein
Ao final da apresentação, a plateia permaneceu três minutos em silêncio — uma eternidade certamente causada pelo pasmo frente a notável provocação de Lenny –, mas depois prorrompeu em aplausos de quase trinta minutos.


1.   Antiphon: Kyrie Eleison
2.   Hymn and Psalm: "A Simple Song"
3.   Responsory: Alleluia
4.   Prefatory Prayers (Kyrie Rondo)
5.   Thrice-Triple Canon: Dominus vobiscum
6.   In nomine Patris
7.   Prayer for the Congregation (Chorale: "Almighty Father")
8.   Epiphany
9.   Confiteor
10. Trope: "I Don't Know" 
11. Trope: "Easy"
12. Meditation no. 1
13. Gloria tibi
14. Gloria in excelsis Deo
15. Trope: "Half of the People"
16. Trope: "Thank You"
17. Meditation no. 2
18. Epistle: "The Word of the Lord"
19. Gospel-Sermon: "God Said"
20. Credo
21. Trope: "Non Credo"
22. Trope: "Hurry"
23. Trope: "World Without End"
24. Trope: "I Believe in God"
25. Meditation no. 3: De profundis, part 1
26. Offertory: De profundis, part 2
27. The Lord's Prayer, Our Father
28. Trope: "I Go On"
29. Sanctus
30. Agnus Dei
31. Fraction: "Things Get Broken"
32. Pax: Communion ("Secret Songs")

As músicas estão aqui

(*) Tropo: é o uso da linguagem figurada, via palavra, frase ou uma imagem, para efeito artístico. A palavra tropo também passou a ser usada para descrever dispositivos literários e retóricos comumente recorrentes, motivos ou clichês em obras criativas. O termo tropo deriva do grego tropos, "volta, direção, caminho", derivado do verbo trepein, "virar, dirigir, alterar, mudar". Tropos e sua classificação foram um campo importante na retórica clássica. O estudo dos tropos foi retomado na crítica moderna, especialmente na desconstrução.  A crítica tropológica (não confundir com leitura tropológica, um tipo de exegese bíblica) é o estudo histórico dos tropos, que visa "definir os tropos dominantes de uma época" e "encontrar esses tropos em textos literários e não literários". , uma investigação interdisciplinar da qual Michel Foucault foi um "exemplar importante". Um uso especializado é a amplificação medieval de textos da liturgia, como no Kyrie Eleison (Kyrie, / magnae Deus potentia, / libertador hominis, / transgressoris mandati, / eleison). O exemplo mais importante de tal tropo é o Quem quaeritis ?, uma amplificação antes do Introit do Domingo de Páscoa e a fonte do drama litúrgico. Esta prática particular chegou ao fim com a Missa Tridentina, a unificação da liturgia em 1570 promulgada pelo Papa Pio V. 



quinta-feira, 23 de agosto de 2018

MARACATU DE CHICO REI



Chico Rei é um personagem lendário da tradição oral de Minas Gerais, ele teria sido um monarca africano, nascido no Reino do Congo, seu nome original era Galanga e, juntamente com seus súditos, fora trazido por portugueses traficantes de escravos ao Brasil.

Durante a viagem os marujos atiraram ao mar, sua esposa, a rainha Djalô e a filha, a princesa Itulo, para aplacar a ira dos deuses da tempestade, que quase afundou o navio. 

Interior da Encardideira
Ao chegarem todos os escravos foram comprados pelo major Augusto, proprietário da mina da Encardideira, e levados para Vila Rica, para trabalharem nessa escavação subterrânea.

A mina atualmente
é atração turística
em Ouro Preto
Segundo a tradição Chico Rei e outros escravos escondiam ouro entre os cabelos quando saiam da mina e posteriormente lavavam na pia batismal da igreja, acobertados pelos religiosos. 
Santa Ifigênia

Outra vertente afirma que os escravos poderiam trabalhar além do período imposto pelos senhores e esse excedente era pago. 

Assim conseguiu comprar sua liberdade e a de seu filho. E aos poucos, foi comprando a alforria de seus súditos.
Além de comprar a Encardideira.

O grupo formou uma irmandade em honra de Santa Ifigênia, provavelmente a primeira irmandade de negros livres de Vila Rica. 
Conde de Bobadela

Juntos ergueram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. 

Chico Rei tornou-se monarca, no século XVIII, com a anuência do governador-geral Gomes Freire de Andrada, o conde de Bobadela. 

Galanga teria morrido de hepatite aos 72 anos de idade. 

Não há fontes documentais suficientes que comprovem sua existência. Dessa maneira, a figura de Chico Rei resultaria da mistura de traços de diferentes personagens históricas.

A música sinfônica de Francisco Mignone é composta inicialmente por um ciclo de quatro bailados ou poemas sinfônicos com temática associada a ambientes afro-brasileiros, que teve seu início quando Mignone migra para a Cidade do Rio de Janeiro,  no início dos anos 30 do século XX. 

Mario de Andrade
A primeira obra desse ciclo é o Maracatú de Chico-Rei (grafado originalmente com acento no u), um balé com coro e orquestra, e que encanta desde sua primeira execução, na década de 30.

Com argumento de Mário de Andrade, o bailado narra o episódio da construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, situada em Villa-Rica (hoje Ouro Preto), e as festas negras que se originaram no período da escravatura. 

Igreja de Nossa Senhora do Rosário 

O maracatu é um ritmo genuinamente pernambucano, e entre as danças dramáticas do folclore brasileiro, é o paraíso do sincretismo, e Chico Rei é uma lenda que mistura resistência e conversão ao credo cristão, a ponto de desejar construir uma Igreja católica para os negros.

Lenda carregada de ambiguidades, que por um lado cria uma figura de poder representativa da população negra, mas por outro lado é atravessada pela ideologia da prosperidade através do trabalho.

Francisco Mignone
No Maracatu de Chico Rei de Francisco Mignone existem seis negros escravizados que pertenciam à tribo original do rei negro, e a apoteótica Dança Final à frente da Igreja se justificaria para recolher ouro para conseguir a alforria destes seis negros.

O Maracatu do Chico Rei termina com uma grande mensagem de liberdade, que é alcançada no seu instante final. 

A introdução dos novos personagens na dança dramática: além dos seis escravos, temos dois príncipes brancos que são o pretexto para que inclusão de danças europeias (Minuetto e Gavotta) com os príncipes e seu séquito. 

Acrescentando um contraste musical inexistente no Maracatu tradicional, e permite que o ambiente rítmico afro-brasileiro da Dança Final volte com toda a força.

Maria Olenewa
A Dança de Chico-Rei e da Rainha N’Ginga se enquadra entre os momentos mais felizes da música de concerto latino-americana, de um colorido orquestral invejável, digno dos melhores compositores russos, e de uma rítmica singular e contagiante nos pontos mais altos.

A obra estreou em 1939, no Rio de Janeiro, com coreografia da russa Maria Olenewa.



quarta-feira, 15 de agosto de 2018

FRANCISCO MIGNONE



Francisco Paulo Mignone foi flautista, pianista, compositor, regente e, professor, nasceu em São Paulo, capital, no dia 03 de setembro de 1897, filho do flautista italiano Alferio Mignone, que imigrou para o Brasil em 1896.

Prédio do Conservatório na Av. São João
Francisco iniciou os estudos de flauta com seu pai, que era professor de flauta no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, músico de orquestra e regente.

Aos dez anos de idade começa a estudar piano com Silvio Motto. 

Três anos mais tarde, estreia como flautista e pianista condutor em orquestras de cinema. 

Savino de Benedictis
Também integra grupos de choro e compõe muita música popular e de salão, era conhecido por tocar nas rodas de choro em bairros como o Brás, Bixiga e Barra Funda como Chico Bororó, pseudônimo que abandona após 1914.

Antes de completar quinze anos, em 1912, ingressa no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, foi aluno de Luigi Chiaffarelli, de Savino de Benedictis (harmonia) e de Paolo Agostino Cantu (harmonia, composição e contraponto).

Ao longo do curso, exibe-se frequentemente como solista ao teclado. 

Obteve o segundo lugar em um concurso de música popular realizado no conservatório com a valsa "Manon" e o tango "Não se impressione". 

Foi diplomado em 1917. nessa instituição, conheceu um de seus amigos: Mário de Andrade. 
Edvard Grieg
Mesmo depois de formado ainda continuou a ter aulas com o pai.

Em 16 de setembro de 1918, se apresenta como pianista, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, interpretando o primeiro movimento do Concerto em Lá menor para Piano e Orquestra de Edvard Grieg

Apresentou também algumas obras de sua autoria, como o poema sinfônico Caramuru (1917) e a Suíte campestre (1918).

Vicenzo Ferroni
Agraciado com uma bolsa de estudos pela Comissão do Pensionato Artístico do Estado de São, em 1920, viajou para Milão, onde estudou com o maestro Vicenzo Ferroni, ex-aluno do compositor francês Jules Massenet, que o introduz nas técnicas composicionais francesas bem como na tradição operística italiana. 

Richard Strauss
Com a ajuda do maestro escreve sua primeira ópera, em 1921, O Contratador de Diamantes, cujo libreto, de Gerolamo Bottoni, inspira-se no drama homônimo de Afonso Arinos, que estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 1924, desta obra se tornou célebre, o bailado do segundo ato: Congada, escrita em 1921 e estreada no Brasil pela Orquestra Filarmônica de Viena em 1923, (antes da representação integral da ópera), sob a batuta de Richard Strauss.

Também na Itália compôs sua segunda ópera, L’Innocente, concluída em 1927, e que também estreou no Rio de Janeiro, em 05 de setembro de 1928.

Euclides da Cunha
Entre 1927 e 1928 esteve na Espanha, onde compôs a Suíte Asturiana. Enquanto esteve na Europa, participou de dois concursos promovidos pela Sociedade de Concertos Sinfônicos de São Paulo. 

No primeiro, em 1923, foi vencedor com a peça Cenas da Roça. No segundo, em 1926, foi duplamente premiado, com as peças Festa Dionisíaca, um poema sinfônico escrito em 1923, e No sertão (1925), inspirado em "Os sertões" de Euclides da Cunha.

Francisco Alves
Ainda em 1928, Francisco Alves lança o maxixe “Aí, pirata”, a primeira obra de música popular de Francisco Mignone gravada pelo selo Odeon.

Foram nove anos na Europa, com constantes visitas ao Brasil, que estabeleceram a qualidade do embasamento: "E no final de todos esses ensinamentos eu me tornei o meu próprio professor".

Beniamino Gigli e Tito Schippa
Seu retorno ao Brasil acontece em 1929, em São Paulo, atua como pianista trabalhando com os tenores Beniamino Gigli e Tito Schippa, e também se torna professor no Conservatório Dramático e Musical, onde reencontrou Mario de Andrade, uma figura importante para a reorientação estética da obra de Mignone.

Em 1931, sua Primeira Fantasia Brasileira, para piano e orquestra, à qual se seguem mais três, todas explorando ritmos e desenhos melódicos característicos brasileiros.
Liddy e uma aluna

Em 1932, casa-se com Elisa Hedwig Carolina Mankel Chiaffarelli Mignone, Liddy, educadora musical, musicista e pianista, filha do professor de piano Luigi Chiaffarelli.

No ano seguinte, Mignone se muda para o Rio de Janeiro para assumir o posto de professor de regência do Instituto Nacional de Música, atual Escola de Música da UFRJ. 

Mario de Andrade
É desta época a elaboração do bailado Maracatu do Chico Rei com a colaboração de Mário de Andrade, principal marco da transição para o nacionalismo, inspirado em episódios da construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Salvador.

Em 1936 participou da fundação do Conservatório Brasileiro de Música, sendo seu primeiro vice-diretor. Em 1939, pôr concurso, Mignone é efetivado junto ao INM na matéria que lecionava.

Nesse mesmo ano, atinge o ponto alto da fase nacionalista com a suíte orquestral Festas das Igrejas, descrevendo o ambiente festivo de quatro templos religiosos brasileiros (São Francisco da Bahia, Rosário de Ouro Preto, Minas Gerais, O Outeirinho da Glória no Rio de Janeiro e Nossa Senhora do Brasil em Aparecida).

Entre 1938 e 1942, destacam-se as Doze Valsas de Esquina, (cada uma composta sobre um dos 12 tons menores), e nas quais buscava reproduzir a maneira de tocar dos chorões.

Alberto Cavalcanti
Em 1951, assume a direção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Na década de 1950, escreve para cinema, compondo as trilhas de Caiçara, 1950, e Menina Moça, 1951, ambos de Alberto Cavalcanti. 

Prêmio Saci
Compõe a Sinfonia Tropical, em 1958. No ano seguinte recebe o Prêmio Saci de melhor composição por Sob o Céu da Bahia, 1957, de Ernesto Remani.

Em 1961 foi o regente do primeiro concerto da recém-fundada Orquestra da Rádio MEC, atual, Orquestra Sinfônica Nacional (OSN-UFF).

Liddy, sua esposa, faleceu em um acidente aéreo em 26 de Novembro de 1962, no ano seguinte casou-se com a pianista paraense Maria Josephina, com quem desenvolve frutífera parceria em recitais a quatro mãos.

Deste matrimônio nasceu Anete Mignone. Na década de 1960, começou a compor as primeiras obras atonais e afastou-se da fase nacionalista.

Monina  Raitzin de Távora
Carlos Barbosa Lima
Em 1967, aposentou-se da cátedra da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em 1970 foi apresentado ao violonista Carlos Barbosa Lima, pelo professor do mesmo, Isaías Sávio, e assim nasceu o interesse do compositor pelo violão. 

Até então, havia composto apenas Modinha, em 1956, obra dedicada à violonista argentina Monina Raitzin de Távora. 

Maria Josefina
Compõe algumas das melhores obras clássicas para violão no Brasil, especialmente dois grandes ciclos no mesmo ano, 1970 (12 Valsas para Violão e 12 Estudos para Violão) e o Concerto para Violão e Orquestra.

Em 1976, compôs a ópera "Chalaça", e dois anos depois a ópera "O sargento de milícias". 

Em 1978, gravou RGE em duo pianístico com sua mulher Maria Josefina o LP "Ernesto Nazareth", um disco tributo ao compositor Ernesto Nazareth.

Capa do Álbum Mário de Andrade
trezentos, 350
Em 1983, participou juntamente com Camargo Guarnieri, Lenita Bruno e Teca Calazans do álbum duplo "Mário de Andrade, trezentos, 350" lançado pela Funarte em homenagem ao escritor Mário de Andrade.

Segue atuando como regente e pianista até pouco antes de sua morte, que ocorre no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1986, aos 88 anos de idade.

Villa Lobos
Francisco Mignone é considerado um dos três maiores compositores do país, ao lado de Villa-Lobos e Lourenzo Fernandez.

Os estudiosos dividem sua obra em duas fases: a primeira, de influência italiana, mesmo tendo composto nesta fase sobre temas brasileiros, e a segunda, quando a partir de influências do amigo aderiu ao movimento modernista e, até o fim da vida, acabou construindo um repertório único, que se notabilizou por fundir o popular, o folclórico e o clássico.

Apelidado “o rei da valsa” pelo amigo Manuel Bandeira, frequentador de seus saraus junto com Carlos Drummond de Andrade, Antônio Houaiss e Alfredo Volpi.

Manuel Bandeira - Carlos Drummond de Andrade - Antonio Houaiss - Alfredo Volpi
Tem 1.024 obras catalogadas que abrangem os mais diversos gêneros, desde peças para piano, com destaque para as Lendas Sertanejas, as Valsas de Esquina, as Valsas Choro, quatro Sonatas e quatro Sonatinas; os Concertinos para fagote e clarineta, o Concerto para piano, os bailados: Maracatu do Chico Rei, Leilão e Quincas Berro D’Água, peças orquestrais como Festa das Igrejas e a Sinfonia Tropical e as óperas O Chalaça e Sargento de Milícias.

O piano foi seu instrumento preferido, sendo um talentoso pianista, seria um grande intérprete, entretanto optou pela composição.
Oscar Lorenzo Fernandez

Francisco Mignone e Oscar Lorenzo Fernández foram homenageados no I Concurso Nacional Funarte de Canto Coral, em 1997, ano em que se comemorava o centenário de nascimento de ambos os compositores. 

O regulamento do concurso exigia a execução de obras desses compositores pelos coros participantes. 

Aos coros que melhor o fizessem, era concedido o Prêmio Centenário.

Ainda hoje, Mignone é tocado no mundo todo – é comum chegarem direitos autorais referentes a execuções em países como a Austrália e a Finlândia.

Conheça um pouco da obra