Chico Rei é um personagem
lendário da tradição oral de Minas Gerais, ele teria sido um monarca africano,
nascido no Reino do Congo, seu nome original era Galanga e, juntamente com seus
súditos, fora trazido por portugueses traficantes de escravos ao Brasil.
Durante
a viagem os marujos atiraram ao mar, sua esposa, a rainha Djalô e a filha, a
princesa Itulo, para aplacar a ira dos deuses da tempestade, que quase afundou
o navio.
Interior da Encardideira |
Ao chegarem todos os escravos foram comprados pelo major Augusto,
proprietário da mina da Encardideira, e levados para Vila Rica, para
trabalharem nessa escavação subterrânea.
A mina atualmente é atração turística em Ouro Preto |
Segundo a tradição Chico Rei e
outros escravos escondiam ouro entre os cabelos quando saiam da mina e posteriormente
lavavam na pia batismal da igreja, acobertados pelos religiosos.
Santa Ifigênia |
Outra vertente
afirma que os escravos poderiam trabalhar além do período imposto pelos
senhores e esse excedente era pago.
Assim conseguiu comprar sua liberdade e a
de seu filho. E aos poucos, foi comprando a alforria de seus súditos.
Além de
comprar a Encardideira.
O grupo formou uma irmandade
em honra de Santa Ifigênia, provavelmente a primeira irmandade de negros livres
de Vila Rica.
Conde de Bobadela |
Juntos ergueram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Chico Rei tornou-se
monarca, no século XVIII, com a anuência do governador-geral Gomes Freire de
Andrada, o conde de Bobadela.
Galanga teria morrido de hepatite aos 72 anos de
idade.
Não há fontes documentais suficientes que comprovem sua existência.
Dessa maneira, a figura de Chico Rei resultaria da mistura de traços de
diferentes personagens históricas.
A música sinfônica de
Francisco Mignone é composta inicialmente por um ciclo de quatro bailados ou
poemas sinfônicos com temática associada a ambientes afro-brasileiros, que teve seu início quando Mignone migra para a Cidade do Rio
de Janeiro, no início dos anos 30 do século XX.
Mario de Andrade |
A primeira obra desse ciclo é o Maracatú de Chico-Rei (grafado
originalmente com acento no u), um balé com coro e orquestra, e que encanta
desde sua primeira execução, na década de 30.
Com argumento de Mário de Andrade, o bailado narra o episódio da construção da
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, situada em Villa-Rica (hoje Ouro Preto), e
as festas negras que se originaram no período da escravatura.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário |
O maracatu é um ritmo
genuinamente pernambucano, e entre as danças dramáticas do folclore brasileiro,
é o paraíso do sincretismo, e Chico Rei é uma lenda que mistura resistência e conversão ao credo cristão, a ponto de desejar
construir uma Igreja católica para os negros.
Lenda carregada de ambiguidades,
que por um lado cria uma figura de poder representativa da população negra, mas
por outro lado é atravessada pela ideologia da prosperidade através do
trabalho.
Francisco Mignone |
No Maracatu de Chico Rei de
Francisco Mignone existem seis negros escravizados que pertenciam à tribo
original do rei negro, e a apoteótica Dança Final à frente da Igreja se
justificaria para recolher ouro para conseguir a alforria destes seis negros.
O Maracatu do Chico Rei
termina com uma grande mensagem de liberdade, que é alcançada no seu instante final.
A introdução dos novos personagens na dança dramática: além dos seis escravos,
temos dois príncipes brancos que são o pretexto para que inclusão de danças
europeias (Minuetto e Gavotta) com os príncipes e seu séquito.
Acrescentando um
contraste musical inexistente no Maracatu tradicional, e permite que o ambiente
rítmico afro-brasileiro da Dança Final volte com toda a força.
Maria Olenewa |
A Dança de Chico-Rei e da
Rainha N’Ginga se enquadra entre os momentos mais felizes da música de concerto
latino-americana, de um colorido orquestral invejável, digno dos melhores
compositores russos, e de uma rítmica singular e contagiante nos pontos mais
altos.
A obra estreou em 1939, no Rio de Janeiro, com coreografia da russa Maria Olenewa.
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