quinta-feira, 23 de agosto de 2018

MARACATU DE CHICO REI



Chico Rei é um personagem lendário da tradição oral de Minas Gerais, ele teria sido um monarca africano, nascido no Reino do Congo, seu nome original era Galanga e, juntamente com seus súditos, fora trazido por portugueses traficantes de escravos ao Brasil.

Durante a viagem os marujos atiraram ao mar, sua esposa, a rainha Djalô e a filha, a princesa Itulo, para aplacar a ira dos deuses da tempestade, que quase afundou o navio. 

Interior da Encardideira
Ao chegarem todos os escravos foram comprados pelo major Augusto, proprietário da mina da Encardideira, e levados para Vila Rica, para trabalharem nessa escavação subterrânea.

A mina atualmente
é atração turística
em Ouro Preto
Segundo a tradição Chico Rei e outros escravos escondiam ouro entre os cabelos quando saiam da mina e posteriormente lavavam na pia batismal da igreja, acobertados pelos religiosos. 
Santa Ifigênia

Outra vertente afirma que os escravos poderiam trabalhar além do período imposto pelos senhores e esse excedente era pago. 

Assim conseguiu comprar sua liberdade e a de seu filho. E aos poucos, foi comprando a alforria de seus súditos.
Além de comprar a Encardideira.

O grupo formou uma irmandade em honra de Santa Ifigênia, provavelmente a primeira irmandade de negros livres de Vila Rica. 
Conde de Bobadela

Juntos ergueram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. 

Chico Rei tornou-se monarca, no século XVIII, com a anuência do governador-geral Gomes Freire de Andrada, o conde de Bobadela. 

Galanga teria morrido de hepatite aos 72 anos de idade. 

Não há fontes documentais suficientes que comprovem sua existência. Dessa maneira, a figura de Chico Rei resultaria da mistura de traços de diferentes personagens históricas.

A música sinfônica de Francisco Mignone é composta inicialmente por um ciclo de quatro bailados ou poemas sinfônicos com temática associada a ambientes afro-brasileiros, que teve seu início quando Mignone migra para a Cidade do Rio de Janeiro,  no início dos anos 30 do século XX. 

Mario de Andrade
A primeira obra desse ciclo é o Maracatú de Chico-Rei (grafado originalmente com acento no u), um balé com coro e orquestra, e que encanta desde sua primeira execução, na década de 30.

Com argumento de Mário de Andrade, o bailado narra o episódio da construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, situada em Villa-Rica (hoje Ouro Preto), e as festas negras que se originaram no período da escravatura. 

Igreja de Nossa Senhora do Rosário 

O maracatu é um ritmo genuinamente pernambucano, e entre as danças dramáticas do folclore brasileiro, é o paraíso do sincretismo, e Chico Rei é uma lenda que mistura resistência e conversão ao credo cristão, a ponto de desejar construir uma Igreja católica para os negros.

Lenda carregada de ambiguidades, que por um lado cria uma figura de poder representativa da população negra, mas por outro lado é atravessada pela ideologia da prosperidade através do trabalho.

Francisco Mignone
No Maracatu de Chico Rei de Francisco Mignone existem seis negros escravizados que pertenciam à tribo original do rei negro, e a apoteótica Dança Final à frente da Igreja se justificaria para recolher ouro para conseguir a alforria destes seis negros.

O Maracatu do Chico Rei termina com uma grande mensagem de liberdade, que é alcançada no seu instante final. 

A introdução dos novos personagens na dança dramática: além dos seis escravos, temos dois príncipes brancos que são o pretexto para que inclusão de danças europeias (Minuetto e Gavotta) com os príncipes e seu séquito. 

Acrescentando um contraste musical inexistente no Maracatu tradicional, e permite que o ambiente rítmico afro-brasileiro da Dança Final volte com toda a força.

Maria Olenewa
A Dança de Chico-Rei e da Rainha N’Ginga se enquadra entre os momentos mais felizes da música de concerto latino-americana, de um colorido orquestral invejável, digno dos melhores compositores russos, e de uma rítmica singular e contagiante nos pontos mais altos.

A obra estreou em 1939, no Rio de Janeiro, com coreografia da russa Maria Olenewa.



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