quarta-feira, 1 de agosto de 2018

ALBERTO NEPOMUCENO



Alberto Nepomuceno foi um compositor, organista, pianista, regente e professor brasileiro nascido no dia 6 de julho de 1864, na Rua Amélia, atual Senador Pompeu, em Fortaleza, Ceará. Filho de Victor Augusto Nepomuceno (violinista e ex-organista da catedral de Fortaleza.) e Maria Virgínia de Oliveira Paiva.

Euclides Fonseca
Se Carlos Gomes foi o maior compositor brasileiro do século XIX, Alberto Nepomuceno é, sem duvida, a figura máxima da música brasileira da virada do século XIX.

Foi iniciado nos estudos musicais por seu pai. 

Aos oito anos, muda-se com a família para o Recife e tem as primeiras lições de violino e piano com o maestro Euclides Fonseca, diretor de concerto do Clube Carlos Gomes.

Em Recife manteve amizade com alunos e mestres da Faculdade de Direito, como Alfredo Pinto Vieira de Melo, Clóvis Bevilacqua e Farias Brito, entre os quais fervilhavam ideias e análises sociais de vanguarda. Tornou-se um defensor atuante das causas republicanas e abolicionistas no Nordeste.


Alfredo Pinto Vieira de Melo - Clóvis Bevilacqua - Farias Brito
Seu pai falece em 21 de Junho de 1880, assim se torna o responsável pelo sustento da mãe e irmã, Alberto empregou-se como tipógrafo e passou a ministrar aulas particulares de música, ficando impossibilitado de prosseguir seus estudos na Faculdade de Direito.

Em 1882, aos dezoito anos, substitui o seu mestre na direção dos concertos do Clube Carlos Gomes de Recife.
João Brígido

Dois anos mais tarde, retorna com a família a sua terra natal, Fortaleza, manteve laços com João Brígido e João Cordeiro, defensores do movimento abolicionista, colaborando com jornais ligados à causa. 

Em virtude disto, Governo do Ceará indefere seu pedido de custeio ao governo imperial para estudar na Europa, sem desistir de seus sonhos e objetivos, em 1885, decide partir para o Rio de Janeiro, deixando a sua mãe e irmã aos cuidados de um tio em Fortaleza.

Arthur Napoleão
No capital do Império, Rio de Janeiro, para se sustentar dá aulas de piano e toca em saraus. 

Apresenta-se pela primeira vez no Clube Beethoven, e a partir de então foi convidado a participar de concertos e reuniões musicais ao lado de Arthur Napoleão. 


Machado de Assis
Pouco tempo depois, foi nomeado professor de piano do clube, datando desta época sua amizade com Machado de Assis, que era bibliotecário do clube.

Torna-se amigo dos artistas plásticos Rodolfo e Henrique Bernardelli que o acolhem na residência da família e do violoncelista Francisco Nascimento, que, em 1887, o acompanha numa série de recitais pelo Nordeste do Brasil. 

Época em que compôs Dança de Negros, posteriormente conhecida como Batuque da Séria Brasileira, é uma das primeiras composições que utilizou motivos étnicos brasileiros. 

A primeira audição dessa obra foi apresentada pelo autor no Ceará. Outras peças foram compostas na mesma época, como Mazurca, para violoncelo e piano, Une fleur, Ave Maria, Prece e Marcha fúnebre.


Henrique e Rodolfo Bernadelli
Em Agosto de 1888, com a renda obtida na turnê pelo Nordeste, finalmente acontece sua viagem à Europa, acompanhado de seus grandes amigos, os irmãos Bernardelli, com o objetivo de ampliar sua formação musical.


Primeiro esteve em Roma, estudando harmonia, com Eugenio Terziani, e após a seu falecimento, com Cesare de Sanctis, e piano, com Giovanni Sgambati na Accademia Nazionale di Santa Cecilia.

Terziani - Sanctis - Sgambati
Ainda na Itália, em 1890, participa do concurso para a escolha do Hino à Proclamação da República, ficando em terceiro lugar, recebe do Governo Brasileiro, o prêmio de 200 mil réis mensais durante quatro anos.


Herzogenberg
Brahms
Com a premiação recebida, decide transferir-se para Berlim, onde aperfeiçoou seu domínio da língua alemã e ingressou na Academia Meister Schulle, entre 1890 e 1892, tornando-se aluno de composição de Heinrich von Herzogenberg, grande amigo de Brahms.

Durante suas férias, chegou a assistir em Viena a concertos de Brahms e de Hans von Bülow. 
Bülow
Transferiu-se depois para o Conservatório Stern de Berlim, onde, entre 1892 e 1894, cursou as aulas de composição e órgão com o professor Arnó Kleffel, e de piano, com H. Ehrlich.

Kleffel - Lechetitzky

Grieg
Nepomuceno estudou também com o famoso Theodor Lechetitzky, em cuja sala de aula teve como colega a pianista norueguesa Walborg Bang, com quem se casou em 1893. Ela era aluna de Edvard Grieg, o mais importante compositor norueguês da época, representante máximo do nacionalismo romântico. Após seu casamento, foi morar na casa de Grieg em Bergen. Esta amizade foi fundamental para que Nepomuceno elaborasse um ideal nacionalista e, sobretudo, se definisse por uma obra atenta à riqueza cultural brasileira.

Rege a Filarmônica de Berlim nas provas finais do Conservatório Stern, em 1894, executando Scherzo für grosses Orcherter e Suíte Antiga, de sua autoria.


Alexandre Guilmant
Matricula-se na Schola Cantorum, em Paris, tem aulas com o organista Alexandre Guilmant, de 1894 a 1895, nessa época, conheceu Camille Saint-Saëns, Charles Bordes, Vincent D'Indy e outros. Assistiu à estréia mundial de Prélude à l'après-midi d'un faune, de Claude Debussy.

Camille Saint-Saens, Charles Bordes, Vincent D'Indy e Claude Debussy
Nesse período foi convidado por Charles Chabault, catedrático de grego na Sorbonne, a compor a música incidental para a tragédia Electra.

Retornando ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 1895, torna-se professor de órgão do Instituto Nacional de Música. 
Oscar Guanabarino
No dia 4 de agosto daquele ano realiza um recital de canções de sua autoria em português. Polemiza com Oscar Guanabarino, defensor do canto em italiano, ao lutar pela nacionalização da música brasileira através do idioma. 
Afirmando: 

No ano seguinte, foi convidado a dirigir a Sociedade de Concertos Populares e promove recitais com repertórios europeu e brasileiro, promovendo o reconhecimento de compositores brasileiros. Permaneceu como diretor por dez anos.

Mahler
Como regente da Sociedade de Concertos Populares, em 1897, estreia várias de suas composições sinfônicas, entre elas a Sinfonia em Sol Menor, As Uiaras (coro feminino e orquestra) e a Série Brasileira, de clara orientação nacionalista, utilizando temas populares brasileiros. Marcando, dessa forma, importante momento nacionalismo brasileiro.

Em 1900 marcou uma entrevista com o diretor da Ópera de Viena, Gustav Mahler, para negociar a apresentação de sua ópera Ártemis; porém, adoeceu gravemente, indo se recuperar em Bergen, na casa de seu amigo Edvard Grieg.

A pedido de Visconde de Taunay, restaurou diversas obras do compositor Padre José Maurício Nunes Garcia, no ano seguinte, rege a Missa Festiva, deste compositor.
Visconde de Taunay e Pe. Nunes Garcia
Entre 1902 e 1903, torna-se diretor do INM, cargo que retoma em 1906 e exerce até 1916. A sua coletânea de doze canções em português foi lançada em 1904.
Duque Estrada

Manuel da Silva
Em 1907, iniciou a reforma do Hino Nacional Brasileiro, tanto na forma de execução quanto na letra de Joaquim Osório Duque Estrada, e a regulamentação de sua execução pública.

Mandou colocar no Instituto uma lápide em homenagem a Francisco Manuel da Silva, com a seguinte inscrição:
"Ao fundador do Conservatório e autor do Hino de sua pátria".

Catulo da Paixão
Cearense
Promove no INM o primeiro concerto de violão de Catulo da Paixão Cearense, em 1908, e causa grande polêmica, os críticos mais ortodoxos, consideraram "um acinte àquele templo da arte". 

No mesmo ano apresenta Prélude à l'Après-Midi d'un Faune, de Claude Debussy, em primeira audição no Brasil, durante a Exposição Nacional da Praia Vermelha, em comemoração ao Centenário da Abertura dos Portos, além desta obra estreou peças de outros autores europeus contemporâneos como Roussel, Glazunow e Rimsky-Korsakov, além dos brasileiros Carlos Gomes, Barroso Neto, Leopoldo Miguez e Henrique Oswald.
Paderewsky

Em 1909, enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional com o intuito de criar uma Orquestra Sinfônica subvencionada pelo governo. Como diretor do Instituto, recepcionou, junto com Rui Barbosa e Roberto Gomes, o pianista Paderewsky em sua visita ao Brasil.

Em 1910, financiado pelo governo brasileiro, realizou diversos concertos com músicas de compositores nacionais em Bruxelas, Genebra e Paris.

Karl Jorn
Em 1913 regeu, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o grande Festival Wagner, tendo como solista o tenor Karl Jorn, de Bayreuth. 

Schoenberg
Ainda naquele ano, sua ópera Abul, estreia em Buenos Aires, segue para Montevidéu, Rio de Janeiro e São Paulo, e é executada em Roma, em 1915.

Em 1916, traduziu o Tratado de Harmonia de Schoenberg, tentando implantá-lo no Instituto, sofreu forte oposição do corpo docente, assim com as crescentes pressões contrárias aos seus projetos, optou por se demitir naquele ano.

Separado de Walborg e com sérias dificuldades financeiras, foi morar com Frederico Nascimento em Santa Teresa.


Villa-Lobos
Ainda como incentivador dos talentos nacionais, atuou junto a Sampaio Araújo para editar as obras de um controvertido compositor que surgia na época: Heitor Villa-Lobos, incluindo-a nos concertos no Theatro Municipal, em seu último concerto no Teatro Municipal que aconteceu em 1917.
Strauss

Em setembro de 1920, semanas antes da morte de Nepomuceno, Richard Strauss rege no Theatro Municipal do Rio de Janeiro O Prelúdio de sua obra inacabada, O Garatuja.

Comédia lírica baseada na obra homônima de José de Alencar, considerada a primeira ópera genuinamente brasileira tanto quanto à música, como ambientação e utilização da língua portuguesa.

Muito doente e enfraquecido, faleceu em 16 de Outubro de 1920, aos 56 anos de idade. 
Otavio Bevilacqua

Segundo depoimento de seu grande amigo Otávio Bevilacqua, o compositor começou a cantar ao perceber a proximidade da morte: "... cantou noite adentro até o último suspiro em pleno dia".

É o Patrono da Cadeira n. 30 da Academia Brasileira de Música.

Seu interesse pela literatura brasileira e pela valorização da língua portuguesa, fez com que mantivesse contato com alguns dos mais importantes escritores, transformando essa relação em parceria em várias composições como: Ártemis (1898), com Coelho Neto; Coração triste (1899), com Machado de Assis; Numa concha (1913), com Olavo Bilac.


Coração Triste (Op.18 nº 1)

No arvoredo sussurra o vendaval do outono
Poema extraído do livro Falenas de 1870
página 215
Deita as folhas à terra, onde não há florir
E eu contemplo sem pena esse triste abandono
Só eu as vi nascer, vejo-as só eu cair

Como a escura montanha, esguia e pavorosa
Faz, quando o sol descamba, o vale anoitecer
A montanha da alma, a tristeza amorosa
Também de ignota sombra enche todo o meu ser

Transforma o frio inverno a água em pedra dura
Mas torna a pedra em água um raio de verão
Vem, ó sol, vem, assume o trono teu na altura
Vê se podes fundir meu triste coração

(tradução do poema chinês "Coração Triste Falando ao Sol" de Su-Tchon)

Alberto Nepomuceno é lembrado na historiografia musical como um dos primeiros compositores a empregar ritmos, gêneros e temas "caracteristicamente brasileiros", ao lado do paulista Alexandre Levy e do paranaense Itiberê da Cunha. Sua Galhofeira, para piano solo, por exemplo, é um maxixe. Já a Série Brasileira, de 1897, considerada por alguns como o marco inicial do nacionalismo, mescla temas folclóricos, gêneros urbanos cariocas, melódica nordestina e ritmos afro-brasileiros. Dividida em quatro partes - Alvorada na Serra, Intermédio, Sesta na Rede e Batuque, a mais famosa, um reaproveitamento da Dança de Negros - a Série desagrada à crítica mais ortodoxa da época, escandalizada com a presença de um reco-reco na última delas.

Considerado, em vida, um compositor moderno, é esquecido após a morte, solapado pelo modernismo nacionalista iniciado com a Semana de Arte de 1922, que o julga romântico e passadista, relegando sua importância à de mero "precursor".

Além das canções, Nepomuceno produz importantes composições pianísticas e de câmara. Seus quatro Quartetos são considerados o ponto alto de sua obra, ao lado das Variações para Piano.

Música Brasileira de Qualidade!

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