Neste
dia 21 de Dezembro quando ocorre o Solstício de Verão em nosso hemisfério, há
exatos 210 anos, falecia na Inglaterra John Newton.
John
Newton nasceu em Wapping, Londres, em 24 de Julho de 1725, filho de John
Newton, um capitão de um navio mercante, bem respeitado e bem sucedido
envolvido no comércio em toda a região do Mediterrâneo para a East India
Company, um homem bastante severo e reservado, e Elizabeth Seatclife, era uma mulher
bastante frágil, cristã protestante muito religiosa, atenciosa e cuidadosa, foi
ela quem ensinou ao pequeno John as Escrituras – lia capítulos inteiros da
Bíblia de uma vez – bem como hinos e poemas. Ela lhe ensinou a ler e escrever,
e sonhava que John fosse um ministro do evangelho. Lamentavelmente ela faleceu
de tuberculose duas semanas antes que ele completasse sete anos de idade. Pouco
tempo depois, seu pai casou-se novamente.
Foi
ai, que sua vida e seu comportamento mudaram totalmente, seu pai teve outro
filho com a sua madrasta e passaram a dar mais atenção ao bebê do que ao
pequeno John. Com isso começou a andar e sofrer influência de más companhias.
Abandonou os estudos e aos onze anos de idade acompanhou seu pai em algumas
viagens pelo Mar Mediterrâneo. Quando seu pai decidiu aposentar-se, arrumou
diversas ocupações para o filho que ou por descaso ou desinteresse perdeu
diversas oportunidades.
Certa
feita faltou pouco para que John Newton embarcasse num navio de guerra que
levava a bordo um amigo dele. Mais tarde, ele soube que aquele navio naufragara
e que seu amigo, junto com vários outros tripulantes, tinha morrido afogado.
HMS Harwich |
Aos
19 anos de idade, Newton foi obrigado a se alistar como aspirante da Marinha Real
para servir no navio HMS Harwich.
Passado algum tempo, achou que as condições
de lá eram intolerantes, e acabou por desertar.
John
foi capturado, encarcerado, açoitado a bordo do navio, fustigado com chicote de
nove tiras, e rebaixado, uma pena abrandada, pois na época a deserção era
penalizada com enforcamento.
John
Newton entrou em terrível depressão e desespero, que o levaram, por vezes, a
querer se lançar ao mar e a planejar maneiras de assassinar o capitão que o
humilhara. Entretanto, não demorou muito para que a situação dele mudasse,
quando o capitão de seu navio fez uma permuta entre ele e marinheiros de um
navio que estava preste a zarpar para a África Ocidental à procura de escravos.
Newton
ficou um período na África, ao longo da costa da Guiné, trabalhando para um
traficante de escravos inglês que vivia com uma amante africana. Essa mulher
não gostava de Newton. Quando John contraiu malária, ela o tratou cruelmente,
com insultos e subnutrição para que morresse de fome.
Posteriormente
foi acusado
de roubar o traficante inglês, com isso foi acorrentado e tratado como escravo.
Essa situação perdurou por um ano, até que foi cedido a outro traficante de
escravos. Newton foi mantido cativo na África por 15 meses ao todo.
Seu
retorno para Inglaterra foi a bordo do navio Greyhound, que não era um navio de
escravos, mas sim mercante em ouro, marfim, cera e madeira.
E
foi justamente a bordo deste navio que a sua vida começou a mudar novamente...
Na
noite de 21 de março de 1748, durante uma de suas viagens, uma violenta
tempestade se abateu sobre o navio, que por pouco não afundou, momentos depois
de ele deixar o convés, o marinheiro que tomou o seu lugar foi jogado ao mar,
por isso ele próprio guiou a embarcação pela tempestade. Homens, animais e
provisões foram arrastados pela força das águas e caíram no mar. Newton orou a
Deus pela primeira vez depois de anos. Ele temia estar à beira da morte e, se a
fé cristã fosse verdadeira, estava certo de que não seria perdoado. John
refletiu em tudo o que fizera naqueles últimos anos, inclusive a atitude de
zombar dos fatos históricos do Evangelho, e ficou abalado.
Passados quatro
dias, a tempestade diminuiu. Pela providência de Deus, a cera de abelha, que se
encontrava no porão de carga, ajudou que o navio continuasse a flutuar.
Newton
atribuiu a Deus aquele livramento que tiveram. Ele começou a ler o Novo
Testamento com mais interesse. Quando chegou à passagem de Lucas 15, John
percebeu os impressionantes paralelos entre a sua vida e a vida do filho
pródigo.
John
não teve a oportunidade de rever ao seu pai, o Capitão Newton havia se afogado
num acidente de natação antes de seu retorno.
John Wesley |
Em
sua volta a Inglaterra visitou a família de Mary "Polly" Catlett, sua
antiga paixão, e após três propostas, ela concordou em casar com ele. O
casamento ocorreu em fevereiro de 1750.
Na
Inglaterra, passou a ouvir pregadores como John Wesley, fundador da igreja
metodista, que condenava o tráfico de escravos e a sua vida mudou totalmente.
Newton
logo decidiu que queria se tornar um ministro do evangelho, e assim ele se
candidatou para a ordenação.
Ele foi rejeitado várias vezes, mas, finalmente,
em 1764, tornou-se um pastor anglicano, e passou ministrar em Olney,
Buckinghamshire.
Foi
autor de vários hinos e grande defensor do fim da escravidão na Inglaterra.
Em
1782, Newton disse: “Minha memória já quase se foi, mas eu recordo duas coisas:
que eu sou um grande pecador, e que Cristo é meu grande salvador!”
Em
1788 publicou "Thoughts Upon the Slave Trade" (Considerações sobre o
comércio de escravos), no qual expunha os maus tratos do tráfico e confessava
sua culpa, colaborando, no final da vida, com o político inglês William
Wilbeforce (1759-1833), autor dos projetos de lei que extinguiram definitivamente
o tráfico de escravos na Inglaterra.
Nos
últimos 43 anos de sua vida ele pregou o evangelho em Olney e em Londres.
John
Newton faleceu com a idade de 82 anos, em 21 de dezembro de 1807.
Em
1893, os restos mortais de John e Mary foram reenterrados no antigo cemitério
da igreja Olney, onde suas sepulturas podem ser visitadas.
Sobre
a sepultura está o gravado epitáfio que ele próprio escreveu e que resume sua
vida, que diz em parte:
“John Newton Clerk, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na
África, foi, pela misericórdia de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por
destruir.”
O
seu mais famoso testemunho continua vivo: AMAZING GRACE.
Com
mais de 200 anos, é a canção mais gravada de todos os tempos.
Trata-se de um
tradicional hino protestante, cuja a letra foi impressa pela primeira vez no
Newton's Olney Hymns em 1.779, sem qualquer partitura musical. Presume-se que
era recitado e não cantado naquela época.
Não existe uma data precisa desta composição, provavelmente foi escrita entre 1760 e 1770, e foi baseada na passagem em que o rei Davi rememora a misericórdia de Deus para com um homem tão insignificante e pecador como ele:
Não existe uma data precisa desta composição, provavelmente foi escrita entre 1760 e 1770, e foi baseada na passagem em que o rei Davi rememora a misericórdia de Deus para com um homem tão insignificante e pecador como ele:
“Então entrou o
rei Davi, e ficou perante o Senhor; e disse: Quem sou eu, Senhor Deus? E qual é
a minha casa, para que me tenhas trazido até aqui? E ainda isto, ó Deus, foi
pouco aos teus olhos; pelo que falaste da casa de teu servo para tempos
distantes; e trataste-me como a um homem ilustre, ó Senhor Deus.” (1 Crônicas
17:16,17)
O
que é graça? Segundo o grego, graça vem de charis que significa “graça ou favor
imerecido”. Em outras palavras se trata de receber algo que você não merecia
receber. Isso é graça.
A
canção foi composta em meio a confrontos e lutas pela liberdade, ou seja, da
Graça sobre todas as raças e tornou se mais que uma canção cristã, mas um
símbolo de luta por justiça e igualdade possível apenas através da Graça de
Deus.
A
partir de 1808, um ano após a extinção do tráfico de escravos na Inglaterra, o
texto de Amazing Grace foi associado, tanto na Europa quanto na América, a mais
de 20 melodias diferentes.
William Walker |
Em
1835, em meio a todas essas adaptações, o texto do hino foi anexado por William
Walker, no hinário "Southern Harmony" (Harmonia Sulina), à canção
tradicional norteamericana "New Britain" (ela, por si, resultado da
fusão das melodias "Gallaher" e "St. Mary"), anteriormente
impressa pela Columbian Harmony (Cincinnati, 1829), por Charles H. Spilman e
Benjamin Shaw. A fama da melodia e a felicidade da combinação tornaram essa a
mais popular de todas as versões e, nas décadas subsequentes, o Amazing grace
passou a circular quase exclusivamente com a melodia de "New
Britain".
Amazing
grace tornou-se uma espécie de hino ecumênico, entre os povos de língua
inglesa, para os momentos mais difíceis, tanto pessoais quanto coletivos, não
apenas pela beleza de seu texto e melodia, mas especialmente pelo seu
significado espiritual.
Curiosidades:
Em
21 de dezembro de 1965, data da morte de John Newton, a Assembleia Geral das
Nações Unidas adotou a Convenção internacional sobre a eliminação de todas as
formas de discriminação racial (em inglês ICERD - International Convention on
the Elimination of All Forms of Racial Discrimination).
Os
escravos eram proibidos de falar, gritar, esbravejar, então eles cantavam
apenas com sons sem pronunciar palavra alguma, todos juntos, talvez fosse esse o
ritmo original da música. Uma palestra de Wintley Phipps narra como seria esse cântico.
Amazing
Grace foi utilizada em vários filmes, dentre eles:
-
Jornada nas Estrelas II: A Ira De Khan.
Montgomery Scott toca "Amazing Grace" durante o funeral do Sr. Spock
Montgomery Scott toca "Amazing Grace" durante o funeral do Sr. Spock
-
Memphis Belle: A Fortaleza Voadora.
A tripulação e membros da equipe de terra entoam a canção durante os preparativos para a última missão da aeronave.
No
dia 11 de junho de 1988, no estádio de Wembley, em Londres, foi organizado um
show comemorando os 70 anos de Mandela que levou cerca de 80 mil pessoas ao
estádio de Wembley, em Londres e foi televisionado para 63 países. Foram seis
horas de música e discursos de personalidades e políticos. Dentre os artistas
estavam:
Sting,
Dire Straits, Stevie Wonder, George Michael, Bee Gees, Whitney Houston.
Jessy
Norman, famosa cantora lírica foi convidada encerrar o evento, ela cantaria
Amazing Grace, uma majestosa mulher afro-americana usando um esvoaçante dashiki
africano, enquanto atravessa o palco. Sem nenhum acompanhamento, sem
instrumento musicais, apenas Jessy. A multidão se agita, nervosa. Poucos
reconhecem a diva da ópera. Uma voz grita pedindo Rock and Roll. Outros se
juntam ao grito. A cena começa a ficar pesada.
Jessy
Norman começa a cantar, muito lentamente, os primeiros versos do hino. De
repente o público fica em silêncio diante da ária da graça. E após alguns
instantes, diversas centenas de fãs estavam cantando junto.
No
Brasil uma das primeiras versões foi do cantor João Alexandre - Graça Sublime.
Estima
que o hino seja tocado cerca de 10 milhões de vezes por ano.
Para
aqueles que quiserem conhecer um pouco da história de John Newton, há um filme
com a história de John Newton, que no Brasil foi lançado como Jornada pela
Liberdade, mas o título original é “Amazing Grace”.
Ao
todo, são cerca de 3,000 versões até hoje. Algumas com intérpretes famosos como
Elvis Presley, B.J. Thomas, Aretha Franklin, Willie Nelson, Rod Stewart,
Whitney Houston, Celine Dion, Il Divo, Andrea Bocelli, Celtic Woman e Susan
Boyle. (Essas versões e algumas outras estão disponíveis aqui)
"Amazing Grace"
Amazing grace! How sweet
the sound
That saved a wretch like
me!
I once was lost, but now am
found;
Was blind, but now I see.
’Twas grace that taught my
heart to fear,
And grace my fears
relieved;
How precious did that grace
appear
The hour I first believed.
Through many dangers, toils
and snares,
I have already come;
’Tis grace hath brought me
safe thus far,
And grace will lead me
home..
The Lord has promised good
to me,
His Word my hope secures;
He will my Shield and
Portion be,
As long as life endures.
Yea, when this flesh and
heart shall fail,
And mortal life shall
cease,
I shall possess, within the
veil,
A life of joy and peace.
The earth shall soon
dissolve like snow,
The sun forbear to shine;
But God, who called me here
below,
Will be forever mine.
John Newton, Olney Hymns
(London: W. Oliver, 1779)
|
"Sublime Graça"
Maravilhosa Graça, quão
doce o som.
Que salvou um pecador como
eu
Uma vez estive perdido, mas
agora fui encontrado.
Estava cego, mas agora vejo.
Foi a graça que ensinou meu
coração a temer.
E a graça meus medos
aliviou;
Quão preciosa essa graça se
mostrou.
Na hora em que pela
primeira vez eu acreditei.
Por muitos perigos, labutas
e tentações,
Eu já vim;
Essa graça me trouxe salvo
até aqui,
E a graça me levará para
casa.
O Senhor prometeu o bem
para mim
Sua Palavra assegura minha
esperança;
Ele será meu Escudo e
Porção
Enquanto a vida durar.
Sim, quando esse coração e
carne falharem,
E a vida mortal cessar,
Eu possuirei através do véu
Uma vida de paz e alegria
A Terra logo se dissolverá
como a neve
O sol deixará de brilhar
Mas Deus, que me chamou
aqui em baixo,
Será para sempre meu
|
Esta
postagem é dedicada à memória de Alberto Djinishian, um apaixonado pela canção
Amazing Grace.
Com esta postagem encerramos as atividades em 2.017! Tenham todos um ótimo Natal que a Sublime Graça esteja presente em vossos lares, e que no próximo ano possamos dar continuidade a tudo aquilo que planejamos. Saúde e Paz!