JEAN
SIBELIUS
Os
finlandeses dizem que seu país é uma mistura de sauna, sisu e Sibelius. Sauna
todos nós conhecemos... Ter sisu é parte do orgulho finlandês, pois é uma mescla
de confiança e autonomia, que faz com que a pessoa se veja com capacidade de
realizar qualquer coisa. E Sibelius...
Há 150 anos, no dia 08 de dezembro de 1865, nascia Johan Julius Christian
Sibelius, conhecido como Jean Sibelius dos mais populares compositores de
música erudita do fim do século XIX e início do XX, que é outra das bases da
identidade do país. Ele teve um impacto muito maior na mentalidade finlandesa
do que o meramente musical.
Nascido
numa família de língua sueca na cidade de Hämeenlinna, no Grão Ducado da
Finlândia então pertencente ao Império Russo. Foi o primeiro grande expoente e talvez
consolidador da identidade nacional finlandesa.
Sua
família decide mandá-lo para um importante colégio de língua finlandesa, o The
Hämeenlinna Normal-Lycée, onde estudou entre 1876 e 1885. Foi nessa época que
adotou o nome Jean.
Seu
primeiro grande sucesso Kullervo (Op. 7) baseado no poema épico Kalevala,
composto em 1882, quando ainda estava indeciso em seguir a carreira de músico
ou como queria a família que se dedicasse ao Direito.
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Entrada da atual Sibelius Akatemia |
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Fachada atual da Sibelius Akatemia |
Ele
terminou o ensino médio em 1885 e começou a estudar Direito na Universidade
Imperial Alexandre em Helsinque (hoje Universidade de Helsinque), porém a
música sempre foi a responsável por suas melhores notas na escola e ele logo
desistiu do Direito.
De 1886 a 1889, Sibelius estudou música na escola de
música de Helsinque (hoje a Academia Sibelius), depois estudou em Berlim de
1889 a 1890, e em Viena de 1890 a 1891.
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Aino Järnefelt (Ainola) |
Jean Sibelius casou-se com Aino Järnefelt (1871-1969) na cidade de Maxmo em 10 de junho de 1892. A casa de Jean e Aino, a Ainola, foi concluída no Lago Tuusula, na cidade de Järvenpää, Finlândia, em 1903, onde eles viveram durante o resto de suas longas vidas.
Eles tiveram seis filhas: Eva, Ruth, Kirsti (que morreu muito jovem), Katarine, Margaret e Heidi.
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As filhas de Jean
Sibelius na década de 1940. Katarina Ilves (à esquerda), Eva Paloheimo, Heidi
Blomstedt, Ruth Snellman and Margareta Jalas |
Há um caso em que o escritor finlandês Juhani
Aho despertou a ira de Sibelius, com a publicação de "Yskin"
("Solo"), uma história de amor autobiográfico em que o autor retrata
sua paixão por Aino, quando ela já estava noiva de Sibelius.
Sibelius
fez parte de um grupo de compositores que aceitou as normas de composição do
século XIX e foi muitas vezes criticado como uma figura reacionária da música
clássica do século XX. Apesar das inovações da Segunda Escola de Viena, ele
continuou a escrever num idioma estritamente tonal.
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Richard Wagner |
Como
muitos de seus contemporâneos, ele apreciou Wagner, mas apenas durante certo
tempo, escolhendo depois um caminho musical diferente. Pensando na ópera como
impulsionador de sua carreira, Sibelius começou a estudar as partituras das
óperasTannhäuser, Lohengrin, e Die Walküre de Wagner. Ele então partiu para o
Festival de Bayreuth onde ainda ouviu Parsifal, que teve grande efeito sobre
ele. Ele escreveu à esposa pouco tempo depois, "nada no mundo me
impressionou dessa forma, fazendo vibrar as cordas do meu coração".
Sibelius então começou a trabalhar em uma ópera intitulada Veneen luominen (A
Construção do Barco).
Outras
influências primárias incluem Ferruccio Busoni, Anton Bruckner e Tchaikovsky,
sendo este último particularmente evidente na Sinfonia N. 1 em Mi Menor (1899)
de Sibelius, e mais tarde em seu Concerto para Violino de 1905.
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Ferrucio Busoni - Anton Bruckner - Piotr Tchaikovsky |
Progressivamente
abandona as diretrizes de composição da forma-sonata em seu trabalho e, ao
invés de múltiplos contrastes de temas, ele ficou na ideia de envolver
continuamente células e fragmentos culminando em um grande e único tema. Dessa
forma, seu trabalho pode ser visto como um desenvolvimento único, com
permutações e derivações dos temas levando o trabalho adiante. A síntese é
muitas vezes tão completa e orgânica que leva a pensar que ele começou pelo
final, escrevendo rumo ao início, de trás para frente. Esta natureza severa da
orquestração de Sibelius é geralmente creditada como uma representação da
"característica finlandesa", extirpando o supérfluo da música.
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Gustav Mahler - Richard Strauss |
Sibelius
é muito diferente de seus rivais na virada do século XIX para o XX. Gustav
Mahler e Richard Strauss eram adeptos de misturar temas muito diferentes,
buscando contrastes quase bipolares, enquanto Sibelius transformava lentamente
seus temas.
Por
exemplo, a Sinfonia Nº 7 é composta de quatro movimentos sem pausas, as
variações vêm do tempo e do ritmo. Sua linguagem não é nada reacionária, apesar
de tonal. Sibelius dizia que, enquanto os outros compositores se preocupavam em
oferecer coquetéis à audiência, ele oferecia água pura e gelada.
Seu
poema sinfônico Finlândia era um protesto contra a crescente censura do Império
Russo que controlava o país no final do século XIX, que teve a execução pública
proibida pelos russos, então se trocava seu nome nos anúncios de concertos. Foram
inúmeros títulos falsos. Se anunciassem algo como Sentimentos Felizes ao
Amanhecer da Primavera Finlandesa, sabiam o que seria. Tal obra evoca a luta
nacional do povo finlandês. Próximo ao seu final pode se ouvir a melodia serena
do hino da Finlândia.
Assim
como a Sinfonia Nº 2, escrita na Itália logo após “Finlândia”, foi um
acontecimento nacional, numa época de invasão e opressão russas, também foi
associada como a representação sonora do nacionalismo finlandês, e também foi proibida.
O
núcleo de sua música é a coleção de sete sinfonias. Como Beethoven, cada um
usado para desenvolver uma idéia musical e avançar seu estilo pessoal.
Sinfonias continuam populares, e muitas vezes são incluídos nos programas e
concertos no país e no exterior. Sibelius procurava em cada uma delas basear-se
na anterior, melhorando-a. É conhecido o fato de Sibelius ter destruído a sua
8ª Sinfonia — aquela que deveria resumir e dar um passo adiante em relação à
sétima — depois de anos de tentativas e de ter por várias vezes prometido
mostrá-la a seus fãs americanos. Mas a oitava nunca apareceu.
As
sete sinfonias de Jean Sibelius, em sua totalidade, formam um dos conjuntos
musicais mais belos que existem. Elas estão repletas de um diálogo profundo com
a natureza. O finlandês Jean Sibelius, um dos maiores sinfonistas de todos os
tempos, leva essa missão a sério. Por isso, encontramos tanto da sua terra em
suas obras apaixonadas. As sinfonias de Sibelius de um mistério invisível. Um
halo espiritual existente entre a eteridade de sua música e alma do cosmos.
Símbolo
nacional e figura artística mundial, Sibelius parou subitamente de compor em
1927. Ele passou os trinta anos seguintes no mais completo silêncio criativo,
recolhido a sua casa encravada numa floresta finlandesa.
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Jean & Aino |
Sibelius
viveu 92 anos. O alcoolismo certamente contribuiu para o bloqueio criativo de
30 anos. Sua última aparição pública como maestro foi desastrosa — ele estava
completamente bêbado. Mas, como imagina o escritor inglês Julian Barnes no
conto O Silêncio (editado em 2006 no Brasil pela Rocco no livro Um toque de
limão), o compositor, sentado diante de uma garrafa de vodca, deve ter
proclamado a vitória. “Hoje, sou tão famoso por meu longo silêncio quanto o fui
por minha música”.
Sibelius morreu em 20 de setembro de 1957 em Ainola, onde ele está enterrado num jardim. Aino viveu ainda por doze anos até morrer em 8 de junho de 1969, sendo então enterrada junto do marido.
Erik Tawastsjerna, narra na biografia de Sibelius esta passagem sobre as vésperas de sua morte:
Ele estava retornando de sua costumeira caminhada matinal. Maravilhado, contou à sua esposa
Aino que havia visto um bando de curleus se aproximando. "Aí vêm eles, os pássaros da minha
juventude" – exclamou ele. Repentinamente um dos pássaros saiu da formação e, voando, fez um
círculo contornando Ainola. Então retornou à sua formação e continuou voando em sua jornada com
o bando. “Dois dias depois, Sibelius morria de uma hemorragia cerebral”.
Junto
com Johan Ludvig Runeberg, foi um dos símbolos culturais da Finlândia, como
base para o seu espírito nacionalista. Curiosamente, ambos Sibelius como
Runeberg vieram de famílias com afinidade sueco.
Dentre as composições de Sibelius as mais
famosas são:
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Opus 11 - Suíte Karelia de 1893
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Opus 22 - Suíte Lemminkäinen, especialmente um de seus quatro movimentos, The
Swan de Tuonela de 1893;
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Opus 26 - Poema sinfônico Finlandia de 1899;
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Opus 44 - Valse Triste de 1904;
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Opus 47 - Concerto para Violino e Orquestra em D menor de 1903.
Em 1972, as duas filhas de Sibelius ainda vivas venderam Ainola ao Estado da Finlândia. O então
Ministro da Educação, junto da Sibelius Society, a transformaram num museu, aberto em 1974.
Quando maçonaria foi revivida na Finlândia, pois fora proibida durante a soberania russa, Jean Sibelius, foi iniciado, aos 56 anos de idade, mas precisamente em 18 de agosto de 1922. Ele
foi iniciado, elevado e exaltado, na Loja “Suomi nº 1”, no mesmo
dia.
Esta Loja, foi fundada logo após a sua Iniciação, em Helsinki, capital da Finlândia.
Os cerimoniais não foram precedidos pela Consagração da Loja acima citada, mas sim conduzidos
pelo Grão-Mestre de Nova York, Ir.: Tompkins que, juntamente com os IIr.: Scudder, Kennworthy,
Lang e Necton, viajaram àquele país, no intuito de fundar uma Loja Maçônica.
Consta que a cerimônia citada, foi iniciada às 10 horas da manhã, indo até às 19 horas; havendo
apenas, um pequeno intervalo para o almoço.
Mais tarde tornou-se o grande organista da
Grande Loja da Finlândia. Ele compôs em 1927 todo o ritual musical envolvendo o
trabalho de ritualística dos graus em Loja (Opus 113, Musique Religieuse) e é a
única música ritual completa para órgão e vocalistas, adicionou duas novas
peças compostas em 1946. A nova revisão da música ritual de 1948 é um dos seus
últimos trabalhos. É considerado o maior compositor de músicas maçônicas depois
de Mozart.
ODE
A FRATERNIDADE
Op
113 - Masonic Ritual Music - 08. Ode To Fraternity
VELJESVIRSI
(Texto
Original em Finlandês, escrito por Samuli Sario, 03/05/1874 - 14/01/1957, ativista
político finlandês e senador em 1918).
Kaunist’
on, kun veljet viihtyy
sovinnossa
asumaan,
luottavaisna
aina liittyy
toisiansa
tukemaan.
Katso,
veljesrakkaus
on
kuin kukkaiskauneus,
niin
kuin kalliin yrtin tuoksu,
niin
kuin kirkkaan päivän juoksu.
Parjausta
ällös huoli,
valhe
väistä vierahaks’.
Huomaa
kaiken kaunis puoli,
paha
käännä parahaks’.
Neuvo
harhaan astuvaa,
nosta
maahan vaipuvaa.
Silloin
kasvaa kaupunkimme,
siunaus
saa sieluihimme.
Veljet
aina liittyy
toisiansa
tukemaan.
ODE
TO FRATERNITY
(Adaptação
para o inglês contida no encarte do CD Sibelius - Masonic Ritual Music –
gravadora BIS - 1977)
Good
and pleasant, O ye Brethren,
’Tis
to dwell in unity
Strong
to fight each others’ battles.
Faithful
to our mystic tie,
Precious
is fraternal love,
As
the scent of flowers rare.
Myrrh
and frankincense and spices
With
their fragrance fill the air.
Keep
we free from taint of slander,
From
the poisoned breath of spite;
Ever
speaking words of kindness,
Gentle
words of truth and light,
If
a Brother stray or fall,
Stretch
we forth our helping hand;
Thus
shall Masons ever prosper,
Thus
united shall they stand,
Good
and pleasant ’tis for
Brethren
to dwell in unity.
Para ouvir um pouco da obra deste compositor e download: