quarta-feira, 27 de julho de 2016

BRAVO!






Em 16 de Junho de 1975 estreava na Rede Globo a nova novela das 19 horas: Bravo!
Trama escrita inicialmente por Janete Clair e concluída por Gilberto Braga sob a supervisão semanal da autora, com direção de Fábio Sabag e Reynaldo Boury, foram 197 capítulos, sendo o último transmitido no dia 16 de Junho de 1976, há quarenta anos.
Janete Clair

Janete parou de escrever a trama por volta do capítulo 106, isso porque a novela Roque Santeiro foi censurada às vésperas de estrear. Pânico geral na emissora... 

Nada pronto para um plano B, a autora, que era famosa pela capacidade de improvisar e criar com prazos curtos, escreveu às pressas uma trama substituta aproveitando o elenco da novela censurada. E assim nasceu a novela “Pecado Capital” um dos seus maiores sucessos na televisão, mas isso é outra história.

Por que falar de uma novela neste blog?

Capa do Disco
Simples a trama é sobre a vida de um maestro e compositor, nem me recordo direito da trama, era uma criança com pouco mais de uma década de vida, a maior importância para mim foi a sua Trilha Sonora Internacional, fui apresentado à chamada música erudita.

O sucesso da trilha sonora internacional foi tamanho que foram lançadas mais três peças clássicas posteriores: Bravo Volume 2 (1977), Bravo Volume 3 (1979) e Bravo Especial (1985), mas para mim a que vale é essa. Discos estes que não tive na época, mas encontrei na grande rede.




Um disco, com dez faixas, compostas pelos grandes mestres. Dissequemos então cada uma delas:

Arthur Fiedler regendo a Boston Pops
1 – História de Três Amores – Rachmaninoff; sobre o compositor russo já comentei aqui, é parte, ou melhor, é a 18ª variação (Andante Cantabile em Ré Maior) da Opus 43, Rapsódia sobre um tema de Paganini em Lá Menor, são vinte e quatro variações no total. Foi escrita em 1934. É a variação mais conhecida da obra. A canção também fez parte da trilha sonora do filme Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time). Na gravação temos o pianista Leonard Pennario, acompanhado pela Boston Pops Orchestra regida por Arthur Fiedler.


Raymond Lefèvre
2 – Adágio da Sonata ao Luar – Beethoven – temos aqui uma adaptação de Raymond Lefèvre para o primeiro movimento (Adagio Sostenutto) da Sonata para piano nº 14 Opus 27 nº 2 de Beethoven escrita em 1801, e muito tocada na época, o título sonata ao luar, surgiu apenas cinco anos após a morte do compositor. Quando em 1832, o crítico Rellstab comparou a música a um luar sobre o lago Lucerna.


Waldo de los Rios 
3 – Terceira Sinfonia em Fá Maior – 3º Movimento – Brahms, escrita em 1883, é uma sinfonia com quatro movimentos, aqui temos uma adaptação e regência do maestro Waldo de los Rios acompanhado pela Orchestra Manuel de Falla, para o Terceiro Movimento (Poco Allegretto) da Opus 90.

Heinz Sandauer
4 – Minueto nº 9 – Paderewski interpretação da Orchestre of the Volksoper of Vienna com a regência de Heinz Sandauer para a composição do diplomata, político e músico polonês, que apesar de estar com nº 9 –Trata-se da primeira de seis peças que compõem o seu Humoresques de Concerto, Op. 14. Escrito em 1887, sendo a peça mais popular do autor.

Arthur Rubinstein
5 – Noturno em Mi Bemol Maior (Opus 9 nº 2 ) – Chopin – uma interpretação de Arthur Rubinstein para obra escrita entre 1830 e 1832 e dedicados a Madame Camille Pleyel, a Opus 9 é composta por três noturnos.
Roger Webb
6 – Concerto para Piano em Si Bemol Menor – Tchaikovsky, num arranjo de Roger Webb, mais uma informação incompleta que consta no álbum, este é o Concerto nº 1 para piano em Si Bemol Menor Opus 23 em seu primeiro movimento Allegro non Troppo e molto Maestoso – Allegro con Spirito, escrita entre novembro de 1874 e Fevereiro de 1875, com revisões feitas pelo compositor em 1879 e 1888. O compositor escreveu mais dois concertos para piano.

Swingle Singers
7 – Ária – Bach, um arranjo vocal apresentado pelo grupo Swingle Singers para a peça do mestre alemão Johann Sebastian Bach, também conhecida como Ária na corda Sol (G) ou Ária da quarta corda é uma adaptação para violino e piano do segundo movimento da Suíte nº 3 em Ré Maior para orquestra BWV 1068, escrita para o Príncipe Leopoldo, entre 1717 e 1723. Os títulos "Ária na corda Sol" e "Ária da 4ª Corda" não são originais. Vieram de uma adaptação para violino e piano do 2º movimento desta feita por August Wilhelmj. Que fez uma transposição da tonalidade original em Ré Maior para Dó Maior, executando a peça apenas na 4ª corda de seu violino, que é afinada habitualmente em Sol.
Andre Kostelanetz
8 – Valsa das Flores – Tchaikovsky, extraída do balé O Quebra Nozes, está é a segunda faixa do compositor russo presente na trilha num arranjo de Andre Kostelanetz, o balé foi escrito entre 1891 e 1892, sendo uma das três obras compostas para balé do autor que já havia escrito anteriormente O Lago dos Cisnes e A Bela Adormecida, a valsa aparece no segundo ato.
Boston Pops Orchestra
9 – Pomp and Circumstance – Elgar (já apresentado aqui); mais uma vez temos a Boston Pops Orchestra com a regência de Arthur Fiedler, para a obra escrita em 1901, numa série chamada Pomp And Circumstance Military Marches Op 39, o título vem do 3º Ato, de Otelo na cena III de William Shakespeare, no total são seis marchas que compõem o Opus. Aqui é apresentada a Marcha nº 1 em Ré Maior.
Perez Dworecki
10 – Canto do Cisne Negro – Villa-Lobos, o disco encerra com o dramático peça escrita pelo compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos interpretado por Perez Dworecki, escrita entre 1916 e 1917, foi extraído do poema sinfônico de Villa-Lobos Naufrágio de Kleônicos é um dueto para violoncelo e piano.

Divirta-se

quinta-feira, 21 de julho de 2016

50 Anos num Submarino Amarelo


Em 05 de Agosto de 1966, foi lançado no Reino Unido, o álbum Revolver da banda The Beatles, três dias depois também lançado nos Estados Unidos.


Não pretendo aqui discorrer sobre o álbum que foi o sétimo álbum da discografia oficial da banda. Um disco inovador e que marca o início da fase psicodélica do FAB FOUR. E sim de uma faixa específica: Yellow Submarine.

Vamos vivendo uma bela vida,
Achamos para tudo uma saída,
Céu azul, mar verde e belo,
Em nosso submarino amarelo.

A canção completou cinquenta anos de sua gravação entre o final de maio e o início de junho deste ano. Embarcando na fantasia da letra que retrata um velho marinheiro narrando a sua estória de vida.

Apesar de nos créditos constarem como autores Lennon & McCartney, esta é uma canção quase que exclusivamente de Paul McCartney, escrita com alguns palpites de John Lennon e a ajuda de Donovan Philips Leitch, ou simplesmente Donovan, autor do verso sky of blue and sea of green.

Numa entrevista em 1980, John Lennon comentou a respeito das autorias das canções com a marca Lennon & McCartney, dizendo quais eram suas e quais eram de Paul, com relação à Yellow Submarine, disse ele, “trata-se mesmo de uma criação do Paul. 

Donovan ajudou com a letra. Eu também ajudei com a letra. Nós virtualmente fizemos a canção nascer no estúdio, mas baseados na inspiração de Paul, na ideia de Paul, com o título definido por Paul”.

A ideia desde a sua concepção era para que música fosse cantada por Ringo. Conforme relatado pelo próprio autor, em uma entrevista no ano de 1994: "Pensei numa canção para Ringo cantar, o que acabou mesmo acontecendo, então eu concebi o vocal com pouca variação melódica e comecei a construir uma história, algo como um marinheiro veterano contando para os jovens sobre onde ele morava. Pelo que eu me recordo, a canção foi composta quase completamente por mim”. De início era um submarino colorido.

A música foi lançada também em compacto simples, sendo o lado B: Eleonor Rigby. 

Geoff Emerick
É uma das canções mais famosas da banda, e é caracterizada por um refrão marcante e muitos efeitos sonoros.

A produção da faixa coube a George Martin e o engenheiro de som foi Geoff Emerick.

A música foi gravada no dia 26 de Maio de 1966, no Abbey Road Studio, participaram da gravação, John Lennon no violão, Paul McCartney no baixo, George Harrison no pandeiro e Ringo Starr na bateria e voz principal, John, Paul e George fizeram ainda os vocais de apoio.


No dia 01 de Junho de 1966, reza a lenda que todos os presentes no estúdio participaram da gravação, um grupo de metais formado por músicos de estúdio, os quatro Beatles e ainda, George Martin, Pattie Boyd, Mal Evans, Brian Jones, Neil Aspinall, Marianne Faithfull, Geoff Emerick e até o chofer da banda Alf Bicknell, numa alegre contagiante festa infantil entoavam o refrão:

“WE ALL LIVE IN A YELLOW SUBMARINE, 
YELLOW SUBMARINE, YELLOW SUBMARINE, 
WE ALL LIVE IN A YELLOW SUBMARINE, 
YELLOW SUBMARINE, YELLOW SUBMARINE.”

Pattie Boyd (esposa Harrison na época. Mal Evans, Brian Jones (dos Rolling Stones), Neil Aspinall (junto com Paul na foto) Marianne Faithfull e Alf Bicknel (da esquerda para direita)

Além disso, houve ainda: John soprando canudinho dentro de um balde d’água para fazer borbulhas; brindes com copos de vidro; Ringo gritando com voz de marinheiro atrás da porta do estúdio; correntes giradas dentro de uma banheira de estanho para criar sons de água, todos estes efeitos foram inseridos, tendo ainda apitos, sons de motores, buzinas, sinos de navio, sons de vento e tempestade, Paul e John conversando através de latinhas, para criar o som do “capitão” ou gritando frase soltas como ordens.

Beatles no Estúdio 2 do Abbey Road

O Estúdio 2 transformou-se num vibrante submarino amarelo.

Beatles no Estúdio 2 do Abbey Road
Naquela época já havia uma série televisiva de curta metragem norte americana baseada no grupo – The Beatles Cartoon.


Produzida pela King Features estreou na ABC em 25 de Setembro de 1965 e terminou em 07 de Setembro de 1969, foram produzidos 39 episódios duplos, sempre com títulos de canções do grupo, e a apresentação de versões de outras canções da banda entre as estórias.
Brian Epstein
Al Brodax
Com o sucesso da série animada o empresário Brian Epstein foi procurado, no início de 1967, pelo produtor Al Brodax que propôs um longa-metragem de animação com o quarteto baseado na canção.


O quarteto decide ceder algumas músicas inéditas para o filme e coloca todo o seu catálogo musical à disposição da produtora, eles não têm o filme como prioridade, praticamente não participam da criação, não acompanham o roteiro e produção, tampouco colocam suas próprias vozes nos personagens. George Martin se prontificou a cuidar de toda a produção musical.
George Martin
O disco com a trilha sonora foi lançado em 17 de Janeiro de 1969, contrariando o sucesso de crítica e bilheteria do filme, o álbum é considerado o mais fraco do grupo e o único que não atinge o 1° lugar nas paradas nos EUA e no Reino Unido. 

O álbum difere de todo restante da discografia da banda, contando com 13 faixas no total, apenas seis músicas pertencem ao grupo, sendo que apenas quatro são inéditas, e gravadas entre 1967 e 1968, algo como sobra de estúdio.

Destas músicas quatro tem a assinatura Lennon & McCartney e duas escritas por George Harrison. As demais faixas são instrumentais compostas por George Martin, inclusive uma versão de Yellow Submarine com arranjo orquestral.
Pepperland
O líder dos Blues Meanies
O filme é altamente psicodélico, com um desfile de cores constante, a estória se passa em Pepperland, uma terra submarina, onde reina a música e o amor, até ser atacada e subjugada pelos Blues Meanies, que escravizam a população, e acabam com toda a alegria do lugar.

Old Fred e Ringo
O maestro da Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Old Fred, consegue escapar e parte a procura dos Beatles como salvadores do amor e da música, o filme coloca o quarteto em um submarino amarelo para lutar contra os vilões azuis. O Submarino Amarelo do título repousa em cima de uma pirâmide semelhante às astecas, em uma colina. 

Durante a viagem, os garotos passam por diversos lugares no fundo do mar, cantando uma música para cada lugar específico.

George Dunning
O filme foi dirigido pelo produtor de animação George Dunning. Os Beatles reais só aparecem no final do filme. Até os dias atuais é considerado um clássico da animação. Após o lançamento do filme, os Beatles adoraram e se arrependeram de não terem feito as vozes originais, agendaram uma reunião para relançar com as vozes, mas com o final da banda esse projeto não foi adiante.






As músicas inéditas são:

All Together Now uma típica canção infantil. Assinada por McCartney e Lennon, foi gravada em 1967, marinheiros cantando durante o trabalho, temos na faixa John tocando banjo, Paul no baixo, Ringo na bateria, George faz backing e toca buzinas de carro, foi gravada em apenas seis horas.

It’s All Too Much é uma homenagem de George Harrison a Pattie, sua esposa, (para quem George comporia também Something anos mais tarde e Eric Clapton faria Layla, também para ela) a versão original tem oito minutos, foi gravada em 1967. Com George nas guitarras, órgão e baixo, John nas guitarras e Ringo na bateria (essa gravação não contou com Paul). Canção gravada pouco depois do lançamento de “Sgt. Peppers” em 1967, e pronta a entrar em Magical Mystery Tour, mas mais uma vez boicotada pelos companheiros de banda.

Only a Northern Song, também composta por Harrison, dominam os trompetes distorcidos, um órgão com reverb, um piano revertido e um xilofone, formando a música mais psicodélica dos Beatles. A música foi gravada em 1967 e ficou de fora do disco “Sgt Peppers”, segundo Geoff Emerick, pelos outros membros, por acharem que a música não servia aos propósitos da concepção do disco. A letra é mais um desabafo e crítica de Harrison tanto sobre o preconceito e desrespeito ao povo de Liverpool (“É apenas Uma Canção do Norte”) quanto a empresa no qual Lennon/McCartney eram vinculados e omissos, a Northern Songs Published, e as canções de Harrison eram consideradas “músicas contratadas”. No refrão ele diz: “It doesn't really matter what chords I play/What words I say/Or time of day it is/As it's only a northern song” ou “Não importa os acordes que eu toco/Ou as palavras que digo/ Ou qual hora ou dia é hoje/É apenas uma canção da Northern Songs” ou “Apenas uma canção do Norte”.

Hey Bulldog, que fecha o lado A, é um rock&roll clássico e enxuto liderado por um riff de piano, composto por John e gravado em maio de 1968 durante as gravações do compacto de “Lady Madonna”. Geoff Emerick disse: “Durante aquelas gravações foi a última vez que vi eles tocando juntos, num sentimento dinâmico de entusiasmo e compaixão... Depois disso eles foram para Índia e tudo desmoronou”. 

Temos ainda:

All You Need is Love, que tem autoria de John Lennon e co-autoria de Paul McCartney. É considerada pela revista Rolling Stone como a melhor canção de todos os tempos e quebrou uma grande barreira ao ser executada para mais de 26 países e vista por mais de 400 milhões de pessoas ao mesmo tempo, em 25 de julho de 1967. A música é uma mensagem de paz e amor a todos os povos. 


A canção é recheada de referências: a introdução francesa de “La Marseillaise”, “Greensleeves”, “In The Mood” de Glenn Miller executado com saxofones, “She Loves You” cantado espontaneamente por John Lennon, além das palavras “Yes, you can” e “Yesterday”, outra citação ao passado. George Martin ainda acrescenta passagens de “Brandenburg Concerto n° 2”.

E claro a faixa título que já foi dissecada acima.

O lado B do disco são trilhas musicais compostas e orquestradas pelo produtor da banda George Martin, sendo elas “Pepperland”, “Sea of Time”, “Sea of Holes”, “Sea of Monsters”, “March of The Meanies”, “Pepper Land Laid Waste” e “Yellow Submarine in Pepperland” essa última um arranjo de Martin sobre a música título.
Fila para assistir a estreia do filme em Londres no Piccadilly Circus

Segundo John Lennon, ele odiou o trabalho feito por Martin e disse ser desnecessário usar o nome dos Beatles para produzir “aquela porcaria horrível, para impressionar amantes de música clássica”. John também achava que Martin era mais um daqueles que queria ser o “quinto beatle” e injustamente referia-se a ele como “essas pessoas que acham que nos fizeram musicalmente”.

Robertinho de Recife e George Martin


A canção “Pepperland” de George Martin consta na trilha sonora da novela brasileira “Pantanal”, exibida originalmente pela extinta TV Manchete em 1990, numa versão gravada por Robertinho de Recife com o título Mundo dos Sonhos.







quarta-feira, 13 de julho de 2016

UMA PAUSA PARA O CAFÉ


A obra do mestre Johann Sebastian Bach que possui a injusta fama de sério, suas cantatas são na maioria obras sacras, mas eis que nem tudo é seriedade, afinal para viver de música sempre existem as concessões, e com Bach não seria diferente... E então aceitou o convite e compôs:

A Cantata do Café (Kaffeekantate) BWV 211.

Collegium Musicum
A Kaffeekantate é resultado do trabalho de Bach com o Leipzig Collegium Musicum, fundado por Telemann, uma sociedade musical que oferecia concertos semanais e que ele assumira a direção musical em 1729, era uma das entidades mais ativas de Leipzig em seu gênero e um ponto de encontro e debates artísticos para muitos viajantes ilustres.

Bach permaneceu à frente do Collegium até 1737, e depois reassumiu a função em 1739 até 1741. O Collegium Musicum se reunia sempre às sextas-feiras na Cafeteria de Gottfried Zimmermann, e ali apresentava diferentes tipos de música, fosse solo ou de câmara, instrumental e vocal.



Cafe Zimmermann
A obra trata-se de uma propaganda do estabelecimento comercial, encomendada por seu proprietário, uma ode ao Café, consumido como estimulante, e servindo de acompanhamento para as conversas dos intelectuais sobre política e artes.

Serviu também como uma crítica à sociedade da época, início dos anos 30 do século XVIII, pois beber café era um desejo proibido para as mulheres.

Os homens tentavam impedi-las de consumirem aquele líquido escuro feito com aquele pó misterioso, que havia chegado à Alemanha em 1670, o “negro veneno” transformaria a mulher em um ser descontrolado e estéril.


O mestre alemão ignorou tal movimento em troca do pagamento, como quase sempre fazia, produziu uma obra-prima, uma pequena comédia que funciona tanto no palco quanto nas salas de concertos.
A Cantata do café foi apresentada pela primeira vez no outono de 1734. Bach sequer deu um título à obra, grafando apenas "cantata" nos seus registros originais.

Picander
O texto, publicado pela primeira vez em 1732 como Uber den Caffe, é de "Picander", pseudônimo de Christian Friedrich Henrici, um poeta e libretista de longa data de Bach em Leipzig. O texto impresso inclui apenas nº 1 a 8, o autor do nº 9 e 10 é desconhecida, mas provavelmente tenha sido escrito por Bach mesmo.

Os personagens são autênticos: um pai rabugento e rústico (Schlendrian) e uma filha mimada, cheia de caprichos e obstinada (Liesgen).

A narrativa apresenta um pai preocupado com a nova mania de sua filha, tomar o café, que ela consumia três vezes ao dia, a fim de fazer com que a filha abandonasse este vício, o pai oferece um casamento para a jovem.

A moçoila aceita entusiasmada a sugestão do pai que então sai em busca de um marido, entretanto a garota, ardilosamente, inclui uma cláusula no contrato matrimonial, permitindo tomar café sempre que ela quisesse.

A Cantata foi apresentada entre 1732 e 1735 na Kaffeehaus de Zimmermann, em Leipzig. A primeira Kaffeehaus da cidade, aberta em 1694. Em 1735 haviam ao menos oito privilegiadas casas.

Na época, os papéis femininos da obra foram interpretados por homens, uma vez que “cantoras” eram proibidas de se apresentarem em lugares tidos como sérios, como Cafés e Igrejas.

Esta Cantata é única dentre os trabalhos de Bach, sendo o mais próximo que ele chegou a escrever como ópera.

Segue uma tradução livre do libreto, e nas imagens as versões em alemão apresentada nas faixas, traduções para o inglês e para o francês:


1 - Recitativo - Narrador:
Silêncio, não faleis,
e ouçam o que acontece:
Aí vem o senhor Schlendrian 
com sua filha Liesgen,
E ele rosna como um urso, 
ouçam o que ela lhe fez!

2 - Aria (barítono) - Schlendrian:
Não são suficientes
os cem mil problemas
que se tem com os filhos!
O que todos os dias
à minha filha Liesgen
digo é totalmente inútil.




3 - Recitativo (barítono e soprano)
Schlendrian:
Filha má e rebelde,
Ah! Quando alcançarei meu propósito,
deixa o café!

Liesgen:
Pai, não sejais tão severo!
Se não posso tomar por dia,
três xícaras de café,
Ficarei,
para meu mal, 
mais fraca que uma cabra.




4 - Aria (soprano) Liesgen:
Mmm! 
Como é saboroso o café, 
mais delicioso que mil beijos, 
mais doce que o vinho moscatel.
Café, café eu preciso,
e quem quiser agradar-me, ah!
Que me sirva um café!



5 -  Recitativo (barítono e soprano)
Schlendrian:
Se não deixas o café, 
não irá mais a nenhuma festa, 
nem tampouco passear.


Liesgen:
Ah, tudo bem!
Mas, deixa-me o café!

Schlendrian:
Ah, pequena atrevida!
Não lhe darei saias com aros, 
como é a moda.

Liesgen:
Me conformo
tranquilamente.

Schlendrian:
Nem ficarás na janela,
e não verás ninguém
que lá fora passa!

Liesgen:
Tudo bem, 
mas por favor, 
deixa-me o café!

Schlendrian:
Nem tampouco
te darei uma argola de ouro
ou prata para prender
o lenço em tua cabeça!


Liesgen:
Bem, bem, 
mas deixa-me
o meu gosto!

Schlendrian:
Liesgen caprichosa,
então cederá em tudo?


6 - Aria (barítono)
Schlendrian:
As moças teimosas
não são fáceis
de convencer.
Mas,
se se encontra
uma maneira, ah!
Se pode conseguir!


7 - Recitativo (barítono e soprano)
Schlendrian:
Farás
o que teu
pai diz!

Liesgen:
Tudo, 
menos 
sobre o café.

Schlendrian:
Bem, 
então terás
de resignar-te
em nunca ter
jamais um marido.


Liesgen:
Ah, 
pai, 
um marido?

Schlendrian:
Juro
que não
o terás.

Liesgen:
Até que eu não deixe o café?
Então o deixarei para sempre!
Ouça, pai, não tomarei mais.

Schlendrian:
Então sim,
terás um marido.



8 - Aria (soprano)
Liesgen:
Hoje mesmo,
querido pai,
o dê-me! 
Ah, um marido! 
Isto sim que me convêm!
Ah, se em breve
em lugar do café 
antes de ir deitar-me, 
tivesse um galante
enamorado!


9 - Recitativo (tenor)
Narrador:
Agora o velho Schlendrian
vai buscar da maneira
que para sua filha rapidamente 
possa encontrar um esposo. 
Mas Liesgen em segredo disse:
- Nenhum noivo entrará nesta casa
se antes não me promete, 
no contrato matrimonial escrito, 
que me será permitido
preparar café quando desejar.

10 - Coro (terceto: soprano, tenor e barítono)
Todos:
O gato não deixa os ratos
e às jovens agrada o café.
A mãe ama o café, 
a avó também o toma, 
quem culpará a filha?



Faixas: BWV 211 (Coffee Cantata):
01. Recitativo (T)- Schweigt stille, plaudert nicht
02. Aria (B)- Hat man nicht mit seinen Kindern
03. Recitativo (B,S)- Du böses Kind, du loses Mädchen
04. Aria (S)- Ei! wie schmeckt der Coffee süße
05. Dialogo (B,S)- Wenn du mir nicht den Coffee läßt
06. Aria (B)- Mädchen, die von harten Sinnen
07. Dialogo (B,S)- Nun folge, was dein Vater spricht!
08. Aria (S)- Heute noch, lieber Vater, tut es doch
09. Recitativo (T)- Nun geht und sucht den alten Schlendrian
10. Chorus (S,T,B)- Die Katze läßt das Mausen nicht

No alto: McMillan, Saint-Gelais - Röschmann
Abaixo: Les Violons du Roy (não é a formação da época) com Labadie ao centro

Nesta versão apresentada temos:
Dorothea Röschmann – Soprano (S), Liesgen;
Hugues Saint-Gelais – Tenor (T), Narrador;
Kevin McMillan – Barítono (B), Schlendrian;
Les Violons du Roy – Regência de Bernard Labadie

Os músicos integrantes do Les Violons na época da gravação


As faixas foram extraídas do Álbum Bach Secular Cantatas lançado em 1994 pelo selo Dorian Recordings.