Carl Orff |
No dia 8 de junho de 1937, há
oitenta anos, na Ópera de Frankfurt estreava aquela que se tornaria a obra
clássica mais famosa do século XX – “CARMINA BURANA”, escrita por CARL ORFF
baseado no manuscrito de textos e poemas da Idade Média, e faz parte da
trilogia Trionfi, de cantatas cênicas, juntamente com Catulli Carmina de 1943 baseado
na obra de Catulo, poeta romano autor de muitos poemas eróticos, e Trionfi
dell’Affrodite de 1953.
O compositor nasceu em
Munique no dia 10 de Julho de 1895, de uma família da alta burguesia bávara,
muito ativa na vida militar alemã.
Orff em 1904 |
Estudou na Academia de Música
de Munique até 1914, serviu às forças armadas de seu país durante a Primeira
Guerra Mundial. Com o armistício retornou aos estudos musicais em sua cidade
natal, não antes de trabalhar em óperas de Mannheim e Darmstadt.
Interessou-se, ainda jovem,
pelo estudo de obras medievais. Anos mais tarde, cursa a Escola de Humanismo
onde completa seu curso de estudos humanísticos.
Dorothée Günther |
Orff com as crianças |
Em 1924, junto com a ginasta Dorothée
Günther, funda a Guenther School, para atividades físicas, músicas e dança em
Munique, na qual trabalhou com iniciantes em música até o fim de sua vida. Pelo
constante contato com crianças, desenvolveu suas teorias de educação musical
neste período.
O interesse de Carl pelas
formas musicais antigas levou-o a fazer versões modernas de várias obras. Em
1925, apresentou a versão moderna da obra Orfeo de Cláudio Montoverdi (séc. XVI-XVII).
Com a ajuda de um amigo, Carl
Maendler, Orff construiu uma série de instrumentos de percussão que eram
utilizados na escola (hoje conhecidos como “Instrumental Orff”). Foi nesta
ocasião que surgiram os instrumentos de plaquetas: xilofones, metalofones e
jogos de sinos. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a escola foi
destruída.
Gunild Keetman |
Ao término da guerra, Orff retomou seu trabalho e resolveu desenvolver, com a ajuda de Gunild Keetman, também professor de música, práticas musicais para atuar diretamente com as crianças pequenas. Os instrumentos foram reconstruídos por Klauss Becker e o “Studio 49” foi criado, o qual ainda hoje fabrica instrumentos Orff.
Para o teatro, Orff escreveu as operetas: DER MOND (A Lua), em 1939; DIE KLUGE (A Astuta), em 1943. O seu grande sucesso foi ANTIGONE, 1949, cujo argumento é a tradução de Sófocles feita por Friedrich Hölderlin no início do século XIX. Compôs outras óperas: Oedipus der Tyran (Édipo Tirano), 1960, utilizando também o texto de Hölderlin a partir do original grego e Prometheus, 1966.
O último trabalho de Orff, De
Temporum Fine Comoedia (Uma peça para o final dos tempos), teve sua
apresentação no festival de música de Salzburgo em 20 de agosto de 1973,
executada por Herbert von Karajan com a Orquestra Sinfônica e de Coro de
Colônia.
O compositor com sua obra
demonstra que não é preciso fazer música complicada para se produzir algo
realmente fenomenal.
Andechs |
Manuscritos encontrados em
1803 no convento de Benediktbeuern, um Mosteiro da Ordem de São Bento, na
Bavária alemã, e transferidos para a Biblioteca do Estado em Munique no mesmo
ano, constituído de 112 folhas de pergaminho fino, de 17 por 25cm copiados
aproximadamente no ano de 1230, encadernados posteriormente. Acredita-se que
foram três copistas que fizeram a transcrição. Os textos são ilustrados com
oito miniaturas e vinhetas.
Os poemas sacros e seculares escritos
entre os séculos XII e XIII e foram escritos pelos Goliardos, que eram clérigos
expulsos da Igreja, portanto desamparados da Igreja Romana, eram homens
eruditos, sábios com formação artística advinda de estudos realizados nos
conventos, principalmente, literatura e a música.
Acredita-se que o tédio com a vivência nos conventos e mosteiros, e a revolta com educação rigorosa que recebiam, bem como a desilusão com a corrupção do clero, foram os motivos que os fizeram abandonar o sacerdócio e tornarem-se peregrinos pela Europa.
Benediktbeuern |
Acredita-se que o tédio com a vivência nos conventos e mosteiros, e a revolta com educação rigorosa que recebiam, bem como a desilusão com a corrupção do clero, foram os motivos que os fizeram abandonar o sacerdócio e tornarem-se peregrinos pela Europa.
Os Goliardos |
Viviam do pagamento recebido dos
comerciantes das cidades por onde passavam em troca dos conhecimentos eruditos
em forma de canções ou poemas com temas como o amor, o vinho e o jogo.
Alguns os consideravam como
charlatões, falsos estudantes; outros os tratavam como libidinosos ou mesmo
brincalhões, ora odiados ora venerados.
Críticos inclementes da sociedade dos clérigos, dos senhores feudais e dos rudes camponeses, são os bocas do inferno da Igreja medieval.
Críticos inclementes da sociedade dos clérigos, dos senhores feudais e dos rudes camponeses, são os bocas do inferno da Igreja medieval.
Schumeller |
O manuscrito ficou “esquecido”
durante muito tempo, por ter sido considerado pernicioso na visão dos monges.
Seu conteúdo só foi compilado e publicado em 1847, pelo erudito de dialetos da Baviera, Johann Andréas Schumeller, quando recebeu o título latino de Carmina Burana (Canções de Beuren).
Seu conteúdo só foi compilado e publicado em 1847, pelo erudito de dialetos da Baviera, Johann Andréas Schumeller, quando recebeu o título latino de Carmina Burana (Canções de Beuren).
A palavra Carmina é o plural
de Carmen que em português é Canção. Burana refere-se ao mosteiro beneditino da
Baviera.
O códex original é
subdividido em seis partes:
-Carmina moralia et satirica
(1-55), de caráter satírico e moral;
-Carmina veris et amoris
(56-186), cantos primaveris e de amor;
-Carmina lusorum et potatorum
(187-228), cantos orgiásticos e festivos;
-Carmina divina, de conteúdo
moralístico-sacro (parte que provavelmente foi adicionada já no início do
século XIV).
-Ludi, jogos religiosos.
-Supplementum, suplemento com
diferentes versões dos carmina.
Foi deste manuscrito que se
originou a mais famosa obra do compositor Carl Orff, são textos que exaltam o
amor, o sexo, a bebida e a dança. Dos 254 poemas e textos dramáticos, foram
escolhidos apenas 24 para comporem a peça.
Richard Wagner |
Escrita em 1935 e estreada em
junho de 1937 em Frankfurt, com o intento de trazer o teatro musical ao grande
público, numa linguagem simples, diferente da complexidade de autores como
Wagner. É a única produção artística da Alemanha nazista que permaneceu
conhecida, todos os demais produtos que seguiram as regras do III Reich caíram
no obscurantismo na atualidade.
A música de Orff, entretanto, permanece até hoje banida em Israel.
A música de Orff, entretanto, permanece até hoje banida em Israel.
Orff optou por compor uma
música inteiramente nova, requer três solistas (uma soprano, um tenor e um
barítono), dois coros (um dos quais de vozes brancas, encontradas em crianças antes da puberdade), pantomimos, bailarinos e
uma grande orquestra (Orff compôs também uma segunda versão, na qual a
orquestra é substituída por dois pianos e percussão).
Carl Orff separou e agrupou
os textos por assuntos fazendo uma espécie de enredo, com o mesmo tema como
prólogo e epílogo, “O Fortuna” é dedicada a deusa romana da sorte, “Vortumna”
ou “aquela que roda”. A roda da fortuna é um símbolo da Antiguidade, sempre
girando, alternando boa e má sorte, dando a impressão de que o homem é escravo
desta roda infinita. É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança.
A seguir temos o despertar da
natureza e do amor na primavera (Veris eta facies), seguido por um clima mais
sombrio, a narrativa trata, na sequencia de uma noite numa taberna com excessos
gastronômicos e alcoólicos (In taberna).
A terceira parte descreve um amor mais vulgar (Amor volat undique). É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança.
A terceira parte descreve um amor mais vulgar (Amor volat undique). É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança.
A parte mais famosa da cantata, "O Fortuna", é uma das músicas executadas em filmes, peças publicitárias, novelas, inclusive, do vídeo game "Final Fantasy IV".
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