quarta-feira, 20 de setembro de 2017

CARMINA BURANA

Carl Orff
Estamos adentrando na Primavera... Celebremos a nova estação, assim como os Goliardos na Idade Média!


No dia 8 de junho de 1937, há oitenta anos, na Ópera de Frankfurt estreava aquela que se tornaria a obra clássica mais famosa do século XX – “CARMINA BURANA”, escrita por CARL ORFF baseado no manuscrito de textos e poemas da Idade Média, e faz parte da trilogia Trionfi, de cantatas cênicas, juntamente com Catulli Carmina de 1943 baseado na obra de Catulo, poeta romano autor de muitos poemas eróticos, e Trionfi dell’Affrodite de 1953.

O compositor nasceu em Munique no dia 10 de Julho de 1895, de uma família da alta burguesia bávara, muito ativa na vida militar alemã.

Orff em 1904
Com sua mãe, o menino de apenas cinco anos iniciou seus estudos de piano. Posteriormente aprendeu violoncelo e participou da orquestra da escola em que estudava, também participou como solista no coral da igreja que frequentava.

Estudou na Academia de Música de Munique até 1914, serviu às forças armadas de seu país durante a Primeira Guerra Mundial. Com o armistício retornou aos estudos musicais em sua cidade natal, não antes de trabalhar em óperas de Mannheim e Darmstadt.

Interessou-se, ainda jovem, pelo estudo de obras medievais. Anos mais tarde, cursa a Escola de Humanismo onde completa seu curso de estudos humanísticos.

Dorothée Günther
Orff com as crianças
Mesmo considerado como o mais popular compositor do Século XX, sua maior contribuição foi na área da pedagogia musical, com o Método Orff de ensino musical, baseado na percussão e no canto.

Em 1924, junto com a ginasta Dorothée Günther, funda a Guenther School, para atividades físicas, músicas e dança em Munique, na qual trabalhou com iniciantes em música até o fim de sua vida. Pelo constante contato com crianças, desenvolveu suas teorias de educação musical neste período.

O interesse de Carl pelas formas musicais antigas levou-o a fazer versões modernas de várias obras. Em 1925, apresentou a versão moderna da obra Orfeo de Cláudio Montoverdi (séc. XVI-XVII).

Com a ajuda de um amigo, Carl Maendler, Orff construiu uma série de instrumentos de percussão que eram utilizados na escola (hoje conhecidos como “Instrumental Orff”). Foi nesta ocasião que surgiram os instrumentos de plaquetas: xilofones, metalofones e jogos de sinos. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a escola foi destruída.

Gunild Keetman
Em 1936, desafiou corajosamente os nazistas ao zombar discretamente de Hitler, ao compor e dirigir a opereta ASTUTULI, onde desafiava e criticava o regime autoritário do ditador; por sorte, a censura nazista não entendeu a mensagem.

Ao término da guerra, Orff retomou seu trabalho e resolveu desenvolver, com a ajuda de Gunild Keetman, também professor de música, práticas musicais para atuar diretamente com as crianças pequenas. Os instrumentos foram reconstruídos por Klauss Becker e o “Studio 49” foi criado, o qual ainda hoje fabrica instrumentos Orff.

Para o teatro, Orff escreveu as operetas: DER MOND (A Lua), em 1939; DIE KLUGE (A Astuta), em 1943. O seu grande sucesso foi ANTIGONE, 1949, cujo argumento é a tradução de Sófocles feita por Friedrich Hölderlin no início do século XIX. Compôs outras óperas: Oedipus der Tyran (Édipo Tirano), 1960, utilizando também o texto de Hölderlin a partir do original grego e Prometheus, 1966.
Friedrich Hölderlin

O último trabalho de Orff, De Temporum Fine Comoedia (Uma peça para o final dos tempos), teve sua apresentação no festival de música de Salzburgo em 20 de agosto de 1973, executada por Herbert von Karajan com a Orquestra Sinfônica e de Coro de Colônia.

O compositor com sua obra demonstra que não é preciso fazer música complicada para se produzir algo realmente fenomenal.

Andechs
Carl Orff faleceu no dia 29 de março de 1982, em Munique e foi sepultado na igreja barroca do Mosteiro de Andechs, no priorado de mesmo nome, sul de Munique.

Manuscritos encontrados em 1803 no convento de Benediktbeuern, um Mosteiro da Ordem de São Bento, na Bavária alemã, e transferidos para a Biblioteca do Estado em Munique no mesmo ano, constituído de 112 folhas de pergaminho fino, de 17 por 25cm copiados aproximadamente no ano de 1230, encadernados posteriormente. Acredita-se que foram três copistas que fizeram a transcrição. Os textos são ilustrados com oito miniaturas e vinhetas.
Benediktbeuern
Os poemas sacros e seculares escritos entre os séculos XII e XIII e foram escritos pelos Goliardos, que eram clérigos expulsos da Igreja, portanto desamparados da Igreja Romana, eram homens eruditos, sábios com formação artística advinda de estudos realizados nos conventos, principalmente, literatura e a música. 

Acredita-se que o tédio com a vivência nos conventos e mosteiros, e a revolta com educação rigorosa que recebiam, bem como a desilusão com a corrupção do clero, foram os motivos que os fizeram abandonar o sacerdócio e tornarem-se peregrinos pela Europa.

Os Goliardos

Viviam do pagamento recebido dos comerciantes das cidades por onde passavam em troca dos conhecimentos eruditos em forma de canções ou poemas com temas como o amor, o vinho e o jogo.

Alguns os consideravam como charlatões, falsos estudantes; outros os tratavam como libidinosos ou mesmo brincalhões, ora odiados ora venerados. 

Críticos inclementes da sociedade dos clérigos, dos senhores feudais e dos rudes camponeses, são os bocas do inferno da Igreja medieval.

Schumeller
Suas canções eram sátiras, pilhérias, gracejos, caçoadas, galhofas, zombarias, que criticam as autoridades seculares e eclesiásticas, à hipocrisia e ao poder econômico da época.

O manuscrito ficou “esquecido” durante muito tempo, por ter sido considerado pernicioso na visão dos monges.

Seu conteúdo só foi compilado e publicado em 1847, pelo erudito de dialetos da Baviera, Johann Andréas Schumeller, quando recebeu o título latino de Carmina Burana (Canções de Beuren).

A palavra Carmina é o plural de Carmen que em português é Canção. Burana refere-se ao mosteiro beneditino da Baviera.

O códex original é subdividido em seis partes:

-Carmina moralia et satirica (1-55), de caráter satírico e moral;
-Carmina veris et amoris (56-186), cantos primaveris e de amor;
-Carmina lusorum et potatorum (187-228), cantos orgiásticos e festivos;
-Carmina divina, de conteúdo moralístico-sacro (parte que provavelmente foi adicionada já no início do século XIV).
-Ludi, jogos religiosos.
-Supplementum, suplemento com diferentes versões dos carmina.

Foi deste manuscrito que se originou a mais famosa obra do compositor Carl Orff, são textos que exaltam o amor, o sexo, a bebida e a dança. Dos 254 poemas e textos dramáticos, foram escolhidos apenas 24 para comporem a peça.
Richard Wagner

Escrita em 1935 e estreada em junho de 1937 em Frankfurt, com o intento de trazer o teatro musical ao grande público, numa linguagem simples, diferente da complexidade de autores como Wagner. É a única produção artística da Alemanha nazista que permaneceu conhecida, todos os demais produtos que seguiram as regras do III Reich caíram no obscurantismo na atualidade.

A música de Orff, entretanto, permanece até hoje banida em Israel.

Orff optou por compor uma música inteiramente nova, requer três solistas (uma soprano, um tenor e um barítono), dois coros (um dos quais de vozes brancas, encontradas em crianças antes da puberdade), pantomimos, bailarinos e uma grande orquestra (Orff compôs também uma segunda versão, na qual a orquestra é substituída por dois pianos e percussão).


Carl Orff separou e agrupou os textos por assuntos fazendo uma espécie de enredo, com o mesmo tema como prólogo e epílogo, “O Fortuna” é dedicada a deusa romana da sorte, “Vortumna” ou “aquela que roda”. A roda da fortuna é um símbolo da Antiguidade, sempre girando, alternando boa e má sorte, dando a impressão de que o homem é escravo desta roda infinita. É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança.

A seguir temos o despertar da natureza e do amor na primavera (Veris eta facies), seguido por um clima mais sombrio, a narrativa trata, na sequencia de uma noite numa taberna com excessos gastronômicos e alcoólicos (In taberna). 

A terceira parte descreve um amor mais vulgar (Amor volat undique). É uma parábola da vida humana exposta a constante mudança.


A parte mais famosa da cantata, "O Fortuna", é uma das músicas executadas em filmes, peças publicitárias, novelas, inclusive, do vídeo game "Final Fantasy IV".














Nenhum comentário:

Postar um comentário