quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

AS SUÍTES PEER GYNT


Edvard Grieg, que foi o tema de uma recente postagem, deixou algumas obras de inspiração notável, dentre elas as duas suítes orquestrais da peça teatral Peer Gynt do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen que publicou em 1867, um poema dramático em cinco atos, uma trama que mistura o folclore norueguês, s contos de fadas e a moral filosófica da tragédia grega.
Texto em português
adaptado por
Ana Maria Machado

O personagem principal “Peer Gynt” é um camponês que em virtude de seu caráter fantasioso, dissimulado e egoísta, se vê levado a um autoexílio. Ele age por impulso fazendo o que lhe convém, sem medir as consequências de seus atos. O texto relata suas aventuras da adolescência à velhice.

O início da obra retrata Peer Gynt junto a sua mãe Aase, que o censura por sua imaginação incontrolável e o repreendendo por não se casar com Ingrid, filha de um proprietário rico, que se casaria com outro pretendente no dia seguinte, o rapaz decide assistir ao casamento, na festa conhece Solveig.

Após embriagar-se sequestra Ingrid, demonstrando toda a sua irresponsabilidade juvenil, com isso se vê obrigado a fugir e comete uma sequencia de erros, engravida uma princesa Troll, foge de seu pai o Rei da Montanha, encontra-se com Bøyg, que o acusa de não assumir sua própria natureza e de renegar o seu destino.

Volta então para casa, onde se junta a Solveig. Após assistir à morte da mãe, o seu espírito errante leva-o a partir de novo, e então Peer torna-se um homem de negócios sem escrúpulos, faz tráfico escravos e armas. Peer Gynt enriquece, perde tudo, caminha pelo mundo, sempre perseguindo o lema dos trolls: “basta-te a ti mesmo”.
Ibsen

Passa anos viajando por países exóticos, ele abandona Solveig, a mulher de sua vida, que ficou a sua espera por todo o tempo, enquanto ele havia se esquecido dela. Torna-se chefe beduíno e profeta, quando tenta seduzir Anitra (filha de outro beduíno), e acaba internado num manicômio, no Cairo, onde é aclamado como “Imperador de si mesmo”.

O idoso Peer Gynt resolve voltar à cidade natal, enfrentando um naufrágio pelo caminho. Reencontra Solveig. Ela o abençoa, e então ele percebe que, depois de passar a vida correndo o mundo na tentativa de se tornar imperador de si mesmo, chegou finalmente ao lugar de onde nunca deveria ter saído… Reconhece que deixou àquela que lhe daria todo o império que necessitava, e que a sua vida se resumiu numa grande perda.

Grieg
Foi através de uma carta datada de 23 de Janeiro de 1874 endereçada a Grieg, que Ibsen solicitou ao compositor que fizesse a música para a representação cênica do texto.

Grieg aceitou, e por dois anos trabalhou na obra. Encontrou muitas dificuldades que teria dito: “o texto é tal que o compositor é forçado a matar todas as intenções de escrever verdadeira música, concentrando-se apenas no efeito externo”. Assim optou por fazer uma música incidental onde a orquestra intervinha em algumas cenas, este foi o seu Opus 23, composto de 51 peças faladas ou instrumentais.

Peer Gynt estreou com encenação e música no Mollergaden Theater em Christiania, atual Oslo, capital da Noruega com enorme sucesso, no dia 24 de Fevereiro de 1876.

Entre 1888 e 1891, Edvard Grieg selecionou oito peças divididas em duas suítes orquestrais, A Opus 46 – Suíte nº 1 e a Opus 55 – Suíte nº 2.

As suítes são independentes e não coincidem com a ordem sequencial de cada excerto na obra original.

As peças instrumentais escolhidas foram:

Opus 46
Opus 46

I. O amanhecer (Morning Mood) - representa o amanhecer no deserto do Saara, flauta e oboé dão o tom da melodia num crescendo, como “o sol a despontar através das nuvens no primeiro forte” (palavras de Grieg);
II. A morte de Aase (The Death of Aase) - surge no momento em que Peer tem um monólogo com a mãe, sem saber que ela está já morta (daí o carácter lúgubre e fúnebre da música);
III. A dança de Anitra (Anitra's Dance) retrata uma exótica e sensual dança do ventre com que Anitra, filha de um chefe beduíno, seduz Peer;
IV. No salão do Rei da Montanha (In the Hall of the Mountain King) a agitação musical e harmônica evocando o momento em que Peer está rodeado de trolls que se aproximam para matá-lo.

Opus 55
Opus 55

I. O sequestro da noiva – O Lamento de Ingrid (The Abduction of the Bride - Ingrid's Lament) -  neste trecho, o protagonista demonstra sua faceta pior, raptando uma moça no dia do casamento.
II. Dança árabe (Arabian Dance) - representa as viagens de Peer Gynt.
III. O regresso de Peer Gynt (Peer Gynt's Homecoming), Grieg procurou demonstrar aqui certos sentimentos do personagem tais como: a alegria por estar de volta, a saudade pela vida sem rumo, a reflexão sobre os acontecimentos e aventuras passados, etc.
IV. A canção de Solveig (Solveig's Song) - a bela jovem, que conquista o amor de Peer Gynt, quando ele parte em sua jornada, Solveig o espera.

Cena do filme
No cinema, alguns anos antes de se tornar uma estrela, aos 17 anos Charlton Heston intepretou Peer em uma produção de 1941, feita por estudantes, com baixo orçamento.

Até então Peer Gynt, no entanto, nunca teve um tratamento perfeito no cinema inglês, embora tenha havido várias produções televisivas e um filme sonoro em alemão em 1934.

Vale a pena ouvir este magnífico material.

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