Edvard Grieg, que foi o tema
de uma recente postagem, deixou algumas obras de inspiração notável, dentre
elas as duas suítes orquestrais da peça teatral Peer Gynt do dramaturgo
norueguês Henrik Ibsen que publicou em 1867, um poema dramático em cinco atos,
uma trama que mistura o folclore norueguês, s contos de fadas e a moral
filosófica da tragédia grega.
Texto em português adaptado por Ana Maria Machado |
O personagem principal “Peer
Gynt” é um camponês que em virtude de seu caráter fantasioso, dissimulado e
egoísta, se vê levado a um autoexílio. Ele age por impulso fazendo o que lhe
convém, sem medir as consequências de seus atos. O texto relata suas aventuras
da adolescência à velhice.
O início da obra retrata Peer
Gynt junto a sua mãe Aase, que o censura por sua imaginação incontrolável e o
repreendendo por não se casar com Ingrid, filha de um proprietário rico, que se
casaria com outro pretendente no dia seguinte, o rapaz decide assistir ao
casamento, na festa conhece Solveig.
Após embriagar-se sequestra
Ingrid, demonstrando toda a sua irresponsabilidade juvenil, com isso se vê
obrigado a fugir e comete uma sequencia de erros, engravida uma princesa Troll,
foge de seu pai o Rei da Montanha, encontra-se com Bøyg, que o acusa de não
assumir sua própria natureza e de renegar o seu destino.
Volta então para casa, onde
se junta a Solveig. Após assistir à morte da mãe, o seu espírito errante leva-o
a partir de novo, e então Peer torna-se um homem de negócios sem escrúpulos, faz
tráfico escravos e armas. Peer Gynt enriquece, perde tudo, caminha pelo mundo,
sempre perseguindo o lema dos trolls: “basta-te a ti mesmo”.
Ibsen |
Passa anos viajando por
países exóticos, ele abandona Solveig, a mulher de sua vida, que ficou a sua espera
por todo o tempo, enquanto ele havia se esquecido dela. Torna-se chefe beduíno
e profeta, quando tenta seduzir Anitra (filha de outro beduíno), e acaba
internado num manicômio, no Cairo, onde é aclamado como “Imperador de si
mesmo”.
O idoso Peer Gynt resolve
voltar à cidade natal, enfrentando um naufrágio pelo caminho. Reencontra
Solveig. Ela o abençoa, e então ele percebe que, depois de passar a vida
correndo o mundo na tentativa de se tornar imperador de si mesmo, chegou
finalmente ao lugar de onde nunca deveria ter saído… Reconhece que deixou
àquela que lhe daria todo o império que necessitava, e que a sua vida se
resumiu numa grande perda.
Grieg |
Foi através de uma carta datada
de 23 de Janeiro de 1874 endereçada a Grieg, que Ibsen solicitou ao compositor
que fizesse a música para a representação cênica do texto.
Grieg aceitou, e por dois
anos trabalhou na obra. Encontrou muitas dificuldades que teria dito: “o texto
é tal que o compositor é forçado a matar todas as intenções de escrever
verdadeira música, concentrando-se apenas no efeito externo”. Assim optou por
fazer uma música incidental onde a orquestra intervinha em algumas cenas, este
foi o seu Opus 23, composto de 51 peças faladas ou instrumentais.
Peer Gynt estreou com
encenação e música no Mollergaden Theater em Christiania, atual Oslo, capital
da Noruega com enorme sucesso, no dia 24 de Fevereiro de 1876.
Entre 1888 e 1891, Edvard
Grieg selecionou oito peças divididas em duas suítes orquestrais, A Opus 46 –
Suíte nº 1 e a Opus 55 – Suíte nº 2.
As suítes são independentes e
não coincidem com a ordem sequencial de cada excerto na obra original.
As peças instrumentais
escolhidas foram:
Opus 46 |
Opus 46
I. O amanhecer (Morning Mood)
- representa o amanhecer no deserto do Saara, flauta e oboé dão o tom da
melodia num crescendo, como “o sol a despontar através das nuvens no primeiro
forte” (palavras de Grieg);
II. A morte de Aase (The
Death of Aase) - surge no momento em que Peer tem um monólogo com a mãe, sem
saber que ela está já morta (daí o carácter lúgubre e fúnebre da música);
III. A dança de Anitra (Anitra's
Dance) retrata uma exótica e sensual dança do ventre com que Anitra, filha de
um chefe beduíno, seduz Peer;
IV. No salão do Rei da
Montanha (In the Hall of the Mountain King) a agitação musical e harmônica
evocando o momento em que Peer está rodeado de trolls que se aproximam para
matá-lo.
Opus 55 |
Opus 55
I. O sequestro da noiva – O
Lamento de Ingrid (The Abduction of the Bride - Ingrid's Lament) - neste trecho, o protagonista demonstra sua
faceta pior, raptando uma moça no dia do casamento.
II. Dança árabe (Arabian
Dance) - representa as viagens de Peer Gynt.
III. O regresso de Peer Gynt (Peer
Gynt's Homecoming), Grieg procurou demonstrar aqui certos sentimentos do
personagem tais como: a alegria por estar de volta, a saudade pela vida sem rumo,
a reflexão sobre os acontecimentos e aventuras passados, etc.
IV. A canção de Solveig (Solveig's
Song) - a bela jovem, que conquista o amor de Peer Gynt, quando ele parte em
sua jornada, Solveig o espera.
Cena do filme |
No cinema, alguns anos antes
de se tornar uma estrela, aos 17 anos Charlton Heston intepretou Peer em uma produção de 1941, feita por estudantes, com baixo orçamento.
Até então Peer
Gynt, no entanto, nunca teve um tratamento perfeito no cinema inglês, embora
tenha havido várias produções televisivas e um filme sonoro em alemão em 1934.
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