terça-feira, 26 de agosto de 2014

CONCERTO DE ARANJUEZ - J.RODRIGO

CONCERTO DE ARANJUEZ

Com a deflagração da Guerra Civil Espanhola em Julho de 1936, o compositor Joaquin Rodrigo passou a viver como nômade, estando ora em uma cidade ou país, ora em outro. Na primavera de 1938, em Paris, num encontro, com o violonista Regino Sainz de la Maza e o Marques de Bolarque, foi lhe sugerido a que compusesse um concerto para violão, algo inédito até então. Nascia ali a semente de seu trabalho mais reconhecido no mundo todo - o Concerto de Aranjuez!
Joaquin Rodrigo                           Regino Sainz de la Maza
Com o término da Guerra Civil em Abril de 1939, em setembro do mesmo ano, o casal, Joaquin Rodrigo e Victoria Kamhi, retornou a Madrid e na bagagem trazia o manuscrito completo do Concerto de Aranjuez. Totalmente escrito em Paris, longe da tensa situação política vivida na Espanha, com o cruel conflito e na iminência da Segunda Grande Guerra Mundial, foi neste contexto que nasceu esta linda obra.
O Concerto de Aranjuez é uma composição musical para violão clássico e orquestra. Poucas vezes o som do violão se entrelaça com música produzida por toda a orquestra, os solos do instrumento se destacam em todos os momentos. A intenção da obra era descrever os jardins do Palácio Real de Aranjuez, a residência de verão do Rei Felipe II na segunda metade do século XVI, e reconstruído em meados do século XVIII por Fernando VI. A beleza de seus jardins é indescritível. Dividido em três movimentos: Allegro con spirito, Adagio e Allegro gentile.
Allegro con spirito, o primeiro movimento, tem como base um fandango. Um tema para o violão. A orquestra com o violão contrastando com os outros instrumentos como - violoncelo, clarinete, oboé e flauta.
O Adagio, o mais conhecido dos três, tem ritmo lento e melodia calma, um suave acompanhamento de violão e cordas. Há diálogo entre o corne inglês e o violão. Existe um crescendo na melodia com o acompanhamento dos instrumentos de sopro, mas gradualmente relaxando para a melodia com arpejos de calma do violão. O adagio é lírico, baseado nas melodias cantadas na Semana Santa.
Guernica bombardeada
Rodrigo e Victoria mantiveram silêncio por muitos anos sobre as fontes do segundo movimento, suspeitava-se que houvesse sido sugerido pelo bombardeio de Guernica, em 1937. Entretanto em sua autobiografia, Victoria afirma que é trata-se de uma lembrança dos dias felizes da lua de mel, e também uma resposta à tristeza pela perda do primeiro filho do casal.
Terceiro e último movimento - Allegro gentile, um único tema repetido várias vezes pelo violão e com orquestração. O Concerto termina romântico.
O título da obra remete ao nacionalismo espanhol do compositor. Aranjuez é uma cidade na Nova Castela, ao sul de Madrid, conhecida pela imponência de seu castelo, erguido no século XVIII. Rodrigo dizia ser a obra uma visita "aos tempos passados, à beleza dos jardins de Aranjuez, suas fontes, árvores e pássaros". O Concerto de Aranjuez representa, na verdade, a vitória do espírito sobre o corpo.
Na estreia em Nove de Novembro de 1940, o solista foi Regino Sainz de la Maza, aquele que sugeriu a composição, acompanhado pela Orquestra Filarmônica de Barcelona, regida por César Mensoza Lasalle, no "Palau de la Musica Catalana", em Barcelona, sendo o primeiro concerto de violão e orquestra da História da Música.
Até a sua estreia, não havia uma obra que apresentasse um violão como instrumento solista. Entretanto a sua execução é uma das maiores dificuldades, pois o concerto foi escrito ao piano, obrigando o intérprete a um virtuosismo sem igual.
Rodrigo tentou inspirar os intérpretes do Concerto: "Eu queria indicar uma época específica, o final do século XVIII e o dos século XIX, as cortes de Carlos IV e Fernando VII, uma atmosfera de majas, toureiros, e sons espanhóis regressos da América."
Estreou em Madrid apenas no dia 12 de fevereiro de 1941, no Teatro Espanhol de Madrid, sobre a direção de Jesús Arámbarri, também com Regino Sainz de la Maza como solista. Posteriormente seria publicada pela Literaria Sociedad General de Autores de España, em 1949.
Em 1991 Paco de Lucia gravou Concerto de Aranjuez com a Orquestra de Cadaqués. Rodrigo esteve presente nas gravações, e teria dito que nunca ninguém tinha tocado a sua peça com tanta paixão e intensidade como Paco de Lucia.
O Concerto teve até hoje mais de 50 gravações e a mais vendida é a do violonista Paco de Lucía. Foi até levado para a Lua, em 1969, para inspirar o astronauta americano Neil Armstrong.
Esta obra musical colocou o violão como instrumento clássico, até então considerado como folclórico. É também considerada a música espanhola mais interpretada em todo o mundo, e, em particular, o seu adagio.

No link abaixo, pode-se acessar várias versões da obra:
https://drive.google.com/drive/folders/0B9F356bpnhA-NWRMWVNmei1keFE?resourcekey=0-_lxBs0tExU-CPaDQhKXs9g&usp=sharing

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

JOAQUIN RODRIGO

Joaquín Rodrigo


"Eu só queria que fosse bom. Que desse prazer." Explicando seu sentimento e desejo ao escrever o Concerto de Aranjuez.

Joaquin Rodrigo Vidre, Marquês dos Jardins de Aranjuez, nascido em Sagunto na Espanha no dia 22 de novembro de 1901. Caçula dentre seus dez irmãos, filho de Juana Ribelles e um comerciante e proprietário de terras, Vicente Rodrigo Peirats.


Em 1905 um surto de difteria atingiu Sagunto ceifando a vida de muitas crianças, Joaquin Rodrigo sobreviveu, mas teve como sequela a perda total da visão. Anos mais tarde, sem amargura alguma, que tal fato foi provavelmente o que o conduziu à música. "As pessoas cegas são mais felizes, talvez por causa deste rico mundo que permite os voos da imaginação."
Partitura em Braille
Pouco tempo depois a família muda-se para Valencia, ingressa numa escola especial para meninos deficientes visuais. Demonstra interesse pela literatura e pela música, principalmente pelo fato de sua família frequentar teatro e como não podia ver, aprecia as músicas tocadas.
Teve aulas com professores do Conservatório de Valência, aulas de harmonia e composição com Francisco Antich, e influenciaram na sua formação musical Enrique Gomá e Eduardo Lopez Chavarri.
Sua família contratou Rafael Ibañez, que se tornou seu melhor amigo, para servir como secretário, copista e leitor de obras literárias espanholas, trabalhos filosóficos e tudo mais que fosse necessário. Dizia ele: Rafael me emprestou os olhos que eu não tinha.
Tornou-se um excelente pianista já no início dos anos 20. Fazia algumas pequenas composições. Escreveu Dois Esboços para Violino e Piano, sua Opus nº 1 em 1923. Ainda neste ano compôs uma Suíte para Piano, Cançoneta para Violino e Orquestra de Cordas, Ave Maria, e La Berceuse de Outono apenas para piano, e orquestrada nos anos 1930 e incorporada à Música para um Jardim em 1957. Rodrigo escrevia todas as suas peças em Braille.
Em 1924, Juglares, seu primeiro trabalho para orquestra foi executado com sucesso pela Orquestra Sinfônica de Valência sob a regência de Enrique Esquerdo.
Participou de uma competição nacional em 1925 com Cinco Peças Infantis, recebendo menção honrosa do júri.
Paul Dukas
Dois anos depois mudou-se para Paris, e começou a estudar com Paul Dukas na École Normal de Musique, com quem estudou por cinco anos, Dukas o considerava como o melhor compositor espanhol que conhecera até então.
Conheceu Manuel de Falla que acabara de entrar na Legion D’ Honneur Francesa, este insistiu que no concerto apresentado em sua cerimônia de ingresso fossem tocadas músicas de outros compositores espanhóis, e não somente dele, sugerindo Halffter, Turina e Rodrigo. Joaquin sempre agradeceu a oportunidade de apresentar e interpretar a sua própria música a uma plateia tão distinta e bem informada.
Joaquin Rodrigo e Victoria Kamhi
Conheceu Victoria Kamhi, pianista turca, com quem se casou em 1933. Abdicou de sua carreira para dedicar-se exclusivamente a Joaquin Rodrigo.
Anos mais tarde, Victoria, publicou a biografia De la mano de Joaquin Rodrigo – Historia de Nuestra Vida, narrando sua juventude, namoro com Rodrigo e a história de suas vidas.
No seu retorno à Valência, Rodrigo compôs Cântico de la Esposa com letra de San Juan do Cruz, e o poema sinfônico Per la Flor de Lliri Blau, obra que lhe valeu o prêmio do Círculo de Belas Artes de Valencia. Com apoio de Manuel de Falla conseguiu em Madrid, adquiriu a Conta de Bolsa de Estudos de Cartagena que lhe permitiu o regresso à Paris juntamente com Victoria.
Começa a compor incessantemente, neste período surgiram algumas de suas obras mais importantes para piano. Assistia à aulas de Maurice Emmanuel e André Pirro, e algumas aulas de Paul Dukas, com estas aulas solidificou sua base musical.
Mudou-se para Austria para comentar o Festival de Verão de Salzburgo, como correspondente da revista Le Monde Musical e do diário Las Provincias, foi em Salzburg que compôs o tributo à memória de Dukas, a Sonata de Adiós.
Com uma nova extensão da bolsa de estudos partiu para Baden-Baden, na Alemanha em junho de 1936, entretanto com inicio da Guerra Civil Espanhola em 18 de Julho de 1936, houve um corte na bolsa e viveu juntamente com a esposa de aulas de espanhol e música num quarto do asilo para cegos de Friburgo, onde foram acolhidos como “refugiados espanhóis”. Rodrigo realizou um estudo do canto dos pássaros, e compôs dentre outras canções a Cancion del Cucu, inspirada pela beleza dos arredores, com letra de Victoria.
Regino Sainz de la Maza
Na primavera de 1938, foi convidado a ministrar aulas durante o verão na Universidade de Santander. Fez amizades com os escritores Gerardo Diego e Damaso Alonso, e com o crítico Eugenio D’Ors. Num encontro, durante uma viagem a Paris, com o Regino Sainz de la Maza e o Marques de Bolarque, sugeriram a Joaquin que compusesse um concerto para violão. Este trabalho seria o Concerto de Aranjuez.



Em 1939, Manuel de Falla propôs que assumisse uma cadeira de professor de música na Universidade de Granada ou na Universidade de Sevilha, e Antonio Tovar ofereceu um cargo no Departamento de Musica da Radio Nacional Espanhola. O casal queria se estabelecer em Madrid e assim optaram pela oferta de Tovar.
Manuel de Falla                 Antonio Tovar
Chegaram a Madrid, em Setembro de 1939, dois dias antes de explodir a Segunda Grande Guerra Mundial, trazia consigo o manuscrito completo do Concerto de Aranjuez. De acordo com o próprio compositor trata-se de uma visita "aos tempos passados, à beleza dos jardins de Aranjuez, suas fontes, árvores e pássaros". Esta obra representou um dos grandes impulsos que elevaram o violão, frequentemente considerado um instrumento "folclórico", a um instrumento erudito.
Aranjuez - Madrid
Os anos 40 foram de grande importância na vida de Joaquin Rodrigo, naquele período, foi chefe da seção de arte e de propaganda da ONCE, foi aconselhador de música da Radio Nacional. Em 1941 nasceu sua primogênita Cecília. Recebeu o Prêmio Nacional de Música pelo Concierto Heroico para piano e orquestra em 1942. No mesmo ano passou a ser crítico musical dos jornais Pueblo, Marca e Madri. Foi diretor do Departamento de Música da Radio Nacional entre 1944 e 1945. Dirigiu a Classe de Música Manuel de Falla desde a sua criação em 1947 e ao longo de trinta anos na Universidade de Madrid. Em 1948, para as comemorações dedicadas a Miguel de Cervantes criou a obra Ausências de Dulcinéia, premiada com o Prêmio Cervantes.

Andrés Segovia

Em 1954, compôs a Fantasia para um Gentilhombre para violão e orquestra para Andrés Segóvia. Diversos foram os prêmios e honrarias recebidos em reconhecimento de seu trabalho tanto na Espanha como em outros países.
Em 1986, escreveu e apresentou uma de suas ultimas obras: Canção de San Francisco de Assis para coro e orquestra.
                         Rei Juan Carlos I                                 Prêmio Príncipe de Astúrias

Em 1991, o Rei Juan Carlos I deu-lhe o título de Marques dos Jardins de Aranjuez, cinco anos depois recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias, pela contribuição a musica espanhola. Ao receber o prêmio, considerado, a mais alta distinção da Espanha, ele perguntou: "Por que eu?"
Sua companheira e colaboradora, Victoria falece em 21 de Julho de 1997, quase dois anos depois faleceu na sua casa em Madrid, rodeado por sua família, no dia 06 de julho de 1999. Os restos mortais Joaquin e Victoria descansam juntos na abóbada familiar do cemitério de Aranjuez.

Rodrigo foi autor de onze concertos para diversos instrumentos, mais de 60 canções, peças para orquestra e para instrumentos solo, pelo menos 27 peças para violão, além de música para teatro e cinema. Foi o Concerto de Aranjuez que o consagrou mundialmente. O autor teria dito que nunca ninguém tinha tocado a sua peça com tanta paixão e intensidade como Paco de Lucia.

Rodrigo desafiava as teorias com um insistente otimismo: "Tudo o que é belo permanecerá." Àqueles que questionam sua obra Rodrigo continuaria respondendo como costumava: "Meu copo pode ser pequeno. Mas é do meu próprio copo que bebo."


A maioria das peças citadas encontram-se no link abaixo:
https://drive.google.com/drive/folders/0B9F356bpnhA-MFFUR0Q1OExtM0E?resourcekey=0-zcoXi8L3iUUEuwRRcyTI6g&usp=sharing

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

RACHMANINOFF


Nos idos dos anos 70, houve uma novela chamada BRAVO, não me recordo dela em si, mas sua trilha sonora, aquele Long Play de Vinil foi o meu primeiro contato com a obra deste russo. História de Três Amores era a primeira faixa do lado A daquele disco. E para voltar no tempo e sentir um pouco da nostálgica época da vitrola e daquelas bolachas pretas. Falarei de Sergei Vassilievitch Rachmaninoff. - Optei pela grafia por esta, visto que era a forma com que o autor assinava na forma ocidental. Entretanto encontram-se várias grafias para o seu nome e sobrenome: Sergey ou Sergej, Rachmaninov, Rachmaninow, Rakhamaninov e Rakhamaninoff.


"Minha visão é um produto do temperamento, assim como a música russa. Nunca tentei, conscientemente, escrever música russa ou qualquer outra espécie de música".

Nikolai Zverev
Filho de aristocratas russos empobrecidos, seus pais foram pianistas amadores, nascido no dia 1º de Abril de 1873 em Semyonovo, nas proximidades da província de Novgorod no noroeste da Rússia. Teve uma educação musical refinada e de causar inveja a muitos. Suas primeiras lições de piano foram com sua mãe. A família mudou-se para São Petesburgo, ingressou no Conservatório da cidade, aos sete anos idade estudou música com Anna Dmitrieva Ornazkaia. Mais tarde, em Moscou, teve aulas de piano com Nikolai Zverev, de contraponto com Serguei Taneyev e de harmonia e composição com Anton Arensky no conservatório de Moscou entre os anos de 1885 e 1892 se graduou como compositor e pianista com distinção. Estudou também com seu primo Alexander Ziloti, ex-aluno de Franz Liszt. O jovem Sergei era considerado bastante preguiçoso e faltava às aulas para patinar no gelo. Foi o regime rigoroso de Zverev que o disciplinou. Suas primeiras peças sérias para piano foram compostas e executadas nesta época.
Em 1892, completou seu Concerto para Piano No. 1 (Op. 1, 1891), que ele revisou em 1917. Na mesma época, compôs um conjunto de peças para piano, Morceaux de Fantaisie (Opus 3) na qual o Prelúdio em Dó-sustenido Menor era parte integrante e que se tornou famoso. De acordo com Francis Crociata, o compositor ficou confuso com a fascinação do público por essa composição. Esta peça de piano estabeleceu o estilo e temperamento de sua obra: escura, melancólica e chocante. Rachmaninoff compunha de maneira fortemente dramática e romântica, assim como o seu grande antecessor russo, Tchaikovsky, em breve falaremos dele.
No mesmo ano, formou-se no conservatório de Moscou com distinção como pianista e compositor, a Ópera Aleko em um ato, baseada num libreto de Nemirovich-Danchenko e inspirada no poema do célebre escritor Aleksander Puchkin, apresentada no Teatro Bolshoi em 09 de maio de 1893, foi sua peça de formatura e rendeu uma medalha de ouro como premiação.
Ainda naquele ano, escreveu “O Rochedo”, baseado num poema de Lermontov e no conto “Durante a Viagem” de Tchekov, que relata o breve romance entre um homem maduro e uma jovem em uma pousada, Rachmaninoff dedicou a obra ao autor da narrativa.
Stravinsky descreveu Rachmaninov como uma "carranca de seis pés e meio", Sergei era muito alto, quase dois metros de altura, e em público mantinha sempre uma expressão severa, com mãos grandes e dedos muito longos, cruzava o teclado do piano melhor do que qualquer outro pianista. Sua figura, para aqueles que o conheciam na intimidade, era outra, tinha um ótimo senso de humor e apreciação por boa comida e bom vinho.
Cesar Cui
Alexander Glazunov

Em 27 de Março de 1897 estreou a sua Sinfonia nº 1 em Ré Menor Opus 13, regida por Alexander Glazunov, foi um fracasso, a obra foi comparada pelo crítico Cesar Cui “como a dez pragas do Egito admirada apenas pelos inatos de conservatório de música no inferno”, isto o levou a uma forte depressão, incapaz de compor durante quase três anos, trabalhando exclusivamente como pianista. Dizem que Glazunov estaria bêbado...


Nikolai Dahl

A crise criativa foi resolvida através de ajuda médica, compondo em 1900 seu Concerto Para Piano nº 2, Opus 18, dedicado ao seu médico Dr. Nikolai Dahl, um pioneiro da hipnose em Moscou que conseguiu devolver a sua autoconfiança, na estreia o próprio Rachmaninoff foi o solista, e a peça é considerada como uma de suas composições mais populares.

Natalie e Sergei Rachmaninoff
Natalie Satina, sua prima, era sua paixão desde a infância, entretanto devido aos laços consanguíneos, só poderiam assumir o matrimônio com a bênção dos pais e a autorização do Czar. A mãe de Natalie agilizou os trâmites e em 29 de Abril de 1902, casaram-se numa igreja dentro de um quartel militar sob muita chuva em Moscou, a união durou até a morte de Sergei.

Após várias apresentações como maestro, Entre 1904 e 1906, foi regente e diretor musical do Teatro Bolshoi. A agitação política contínua, greve de bailarinos e outros entreveros, fizeram com que pedisse demissão do teatro, após o que ele foi para a Itália (em Florença e depois em Marina di Pisa) até julho. Ele passou os três invernos seguintes em Dresden, na Alemanha, trabalhando intensivamente como compositor e retornando à familiar Ivanovka apenas nos verões.
Em Dresden, escreveu o poema sinfônico A Ilha dos Mortos (1909) e o concerto N.3 (1909), este escrito especialmente para sua primeira viagem aos Estados Unidos, onde foi bem recebido e convidado a permanecer naquele país, mas preferiu retornar a Moscou.
Entre 1901 e 1917, viveu o seu momento mais feliz. Como compositor havia desenvolvido uma obra pianística excelente:
- Entre 1901 e 1903 – Prelúdios Op.23,
- 1907 - Sonata nº 1 em Ré menor,
- 1910 - Prelúdios Op. 32,
- 1911 - Estudos Op. 33
- 1917 - Estudos Op. 39, além das obras orquestrais e vocais.
Em 1911, foi diretor da Orquestra Filarmônica de Moscou, assim durante dois anos suas obrigações o mantiveram na capital russa.
Assim que se desligou do cargo retomou as suas viagens, e em 1913 na cidade de Roma, compôs Os sinos Op. 35, uma sinfonia para orquestra, coro, e três solistas: uma soprano, um tenor e um barítono, baseou-se no poema de Edgard Allan Poe. Assim como o poema, a obra apresentava quatro momentos, as etapas da vida humana, representadas através da sonoridade de quatro tipos de sino, que tentou reproduzir através da orquestra.
Os sinos de prata do primeiro movimento: o Nascimento;
Os sinos de casamento: a Cerimônia Nupcial;
Os sinos de alarme: o Amadurecimento; por fim
Os sinos de ferro: retratando a morte.
Rachmaninoff considerava esta a sua obra mais primorosa.

OS SINOS – Edgard Alan Poe
I
Escuta: nos renós tilintam sinos
argentinos!
Ah! Que de mundo de alegria o som cantante prenuncia!
Como tinem, lindo, lindo,
No ar da noite fria e bela!
Vão tinindo e o céu inteiro se constela,
Florescente, refulgindo
Com deleites cristalinos!
Dão ao Tempo uma cadência tão constante
Como um rúnico descante,
Com os tintinabulares, pequeninos sons, bem finos,
Que nascendo vão dos sinos,
Sim, dos sinos, sim, dos sinos,
Saltitantes, bimbalhantes, dentre os sinos.
II
Escuta: em núpcias vão cantando os sinos,
Áureos sinos!
Quantos mundos de ventura seu tanger nos prefigura!
No ar da noite, embalsamado,
Como entoam seu enlevo abençoado!
Tons dourados, lentas notas
Concordantes...
E tão límpido poema aí flutua
Para as rolas que o escutam, divagantes,
Vendo a lua!
Volumoso, vem das celas retumbantes
Todo um jorro de eufonia
Que se amplia,
"O futuro é belo e bom!"
- clama o som,
Que arrebata, com em êxtases divinos,
No balanço repicante que lá soa,
Que tão bem, tão bem ecoa
Na vibrante voz dos sinos, sinos, sinos,
Carrilhões e sinos, sinos,
No rimado, consonante som dos sinos.
III
Escuta: em longo alarma bradam sinos,
Brônzeos sinos!
Ah! Que história de agonia, turbulenta, se anuncia!
Treme a noite, com pavor,
Quando os ouve em seu bramido assustador.
Tanto é o medo que, incapazes de falar,
Limitam-se a gritar,
Em tons frouxos, desiguais,
Clamorosos, apelando por clemência ao surdo fogo,
Contendo loucamente com o frenesi do fogo,
Que se lança bem mais alto,
Que em desejo audaz estua
De, no empenho resoluto de algum salto,
(sim! agora ou nunca mais!),
Alcançar a fronte pálida da lua!
Oh! Os sinos, sinos, sinos!
De que lenda pavorosa, de alarmar,
Falam tanto?
Clangorantes, ululantes, graves, finos,
Quanto espanto vertem, quanto,
No fremente seio do ar!
E por eles bem a gente sabe - ouvindo
Seu tinido,
Seu bramido -
Se o perigo é vindo ou findo.
Bem distintamente o ouvido reconhece
Pela luta,
Na disputa,
Se o perigo morre ou cresce,
Pela ampliante ou descrescente voz colérica dos sinos,
Badalante voz dos sinos,
Sim, dos sinos, sim, dos sinos,
Do clamor e do clangor que vêm dos sinos!
IV
Escuta: dobram, lentamente, os sinos,
Férreos sinos!
Ah! Que mundo pensares tão solenes põem nos ares!
Na silente noite fria,
Quando a alma se arrepia
À ameaça desse canto melancólico de espanto!
Pois em cada som saído
Da garganta enferrujada
Há um gemido!
E os sineiros (Ah! essa gente
Que, habitando o campanário,
Solitário,
Vai dobrando, badalando a redobrada
Voz monótona e envolvente...),
Quão ufanos ficam eles, quando vão
Tombar pedras sobre o humano coração!
Nem mulher nem homem são,
Nem são feras: nada mais
Do que seres fantasmais.
E é seu Rei quem assim tange,
É quem tange, e dobra, e tange.
E reboa
Triunfal, do sino, a loa!
E seu peito de ventura se intumesce
Com os hinos funerários lá dos sinos;
Dança, ulula, e bem parece
Ter o Tempo num compasso tão constante
Qual de rúnico descante,
Pelos hinos lá dos sinos!
Ah! Dos sinos!
Leva o Tempo num compasso tão constante
Como em rúnico descante,
Pela pulsação dos sinos,
A plangente voz dos sinos,
Pelo soluçar dos sinos!
Leva o Tempo num compasso tão constante,
Que a dobrar se sente, ovante,
Bem feliz esse rúnico descante,
Com o reboar que vem dos sinos,
A gemente voz dos sinos,
O clamor que sai dos sinos,
A alucinação dos sinos,
O angustioso,
Lamentoso, lutuoso som dos sinos!
São João Crisóstomo
No verão de 1910, após o retorno de sua turnê pelos Estados Unidos, escreveu sua primeira obra religiosa, a Opus 31 – Liturgia de São João Crisóstomo, uma peça para coral em vinte movimentos, cinco anos mais tarde, em 1915, escreveu a sua segunda obra litúrgica, Vésperas, peça “à capella” para coral em quinze movimentos, baseada nos textos da Cerimônia de Vigília Pascal da Igreja Ortodoxa Russa. O que difere uma obra da outra foi a maior preocupação, na segunda obra, com a adequação à finalidade litúrgica, enquanto que na primeira havia um tom profano.
A Revolução Bolchevista Russa de 1917 viu-se forçado a fugir para o exílio com esposa e duas filhas. Abandonou sua produção como compositor, retomando sua carreira como concertista de piano, fixa residência em Nova Iorque, nos Estados Unidos até 1928. Durante sete anos, passou períodos na França e na Suíça, até o seu retorno definitivo aos Estados Unidos em 1935.
Thomas A. Edison


Em 1919, fez gravações para Thomas Edison usando um piano vertical o qual o inventor admitiu ser de qualidade inferior; entretanto, os discos renderam fama ao compositor. No ano seguinte ele assinou um contrato exclusivo com a Victor Talking Machine Company e continuou a fazer gravações com a Victor até fevereiro de 1942.



Nessa época produziu poucas obras, por passar parte de seu tempo com sua família, e devido à saudade de sua terra natal; ele sentiu que abandonar a Rússia foi como deixar para trás sua inspiração. Voltou a compor apenas em 1926, quando escreveu o Concerto para piano nº 4, considerado o menos interessante de seus concertos, iniciou a sua composição ainda na Rússia, e ao concluir deixou-se influenciar pela a música americana.
Variações sobre um Tema de Corelli foi escrita em 1931, no mesmo ano, juntamente com outros exilados russos, foi um dos fundadores de uma escola de música em Paris que posteriormente ganharia seu nome, o Conservatoire Rachmaninoff.
Rapsódia sobre um tema de Paganini composta em 1934, homenagem ao grande virtuose da história da música romântica, é atualmente um dos seus trabalhos mais conhecidos.  Entre os anos de 1935 e 1936 compôs a Sinfonia nº 3 foi a primeira obra orquestral desde a Ilha dos Mortos em 1909, uma obra influenciada pela linguagem musical americana. O tema morte aparece em seu canto de cisne, composto em 1940, foram Danças Sinfônicas, seu último trabalho completo, faz referência ao Alliluya da obra Vésperas e ao primeiro tema de sua Primeira Sinfonia. O nome original era Danças fantásticas, com parte de sua música aproveitada do balé Os citas iniciado em 1915 que não chegou a ser concluído. Trata-se de uma obra de profundo lirismo. Suas mais belas nostálgicas e melancólicas melodias estão presentes nestas três obras.
Rachmaninoff caiu doente durante uma turnê de concertos em 1942, e foi subsequentemente diagnosticado com um melanoma maligno, mesmo assim atraído por atores e diretores russos que proliferavam em Hollywood, mudou-se para Beverly Hills. Devido ao seu estado de saúde, o compositor foi levado para Nova Orleans. Ciente da gravidade da doença, pediu uma enfermeira russa e um rádio que lhe permitisse ouvir música emitida de Moscou.
Em 1 de Fevereiro de 1943, Sergei e Natalie Rachmaninoff tornaram-se cidadãos americanos.

Seu último recital, em 17 de fevereiro de 1943 no Alumni Gymnasium da Universidade de Tennessee em Knoxville, profeticamente performando a Sonata No. 2 em Si Bemol Menor de Chopin, que contém a famosa marcha fúnebre. Uma estátua comemorativa do último concerto de Rachmaninoff existe no Parque de World's Fair, em Knoxville.

Pessoas que o conheceram nesta época diziam que era homem mais triste que já haviam visto. Em 1961, o maestro Ormandy declarou:
Rachmaninoff foi, na realidade, duas pessoas. Ele odiava sua própria música e estava geralmente infeliz ao executá-la ou conduzi-la para o público, então é este lado triste que o público conhece. Entretanto, entre seus amigos mais próximos, ele tinha um senso de humor muito bom e tinha um bom espírito.
Residência onde faleceu Rachmaninoff
Faleceu em 28 de março de 1943, na sua residência de Beverly Hills, Los Angeles – Califórnia, distante de sua terra natal que, apesar de muitos anos de exílio, nunca chegou a esquecer, corroído pelo câncer e pela amargura de saber que a guerra assolava seu país. Nas horas finais de sua vida, ele insistia que podia ouvir música tocando em algum lugar por perto. Após ser repetidamente assegurado de que não era o caso, ele declarou: "então a música está na minha cabeça".
Desde 1931 a reprodução de sua música era proibida pelas autoridades russas, por considerá-la perigosa e burguesa, após a sua morte, um movimento para recuperar a obra de Rachmaninoff como parte do patrimônio russo teve início. Sua música passou, a partir de então, a se impor com força nos círculos musicais soviéticos.
Sua produção teve forte declínio, entre 1892 e 1917, enquanto viveu principalmente na Rússia escreveu trinta e nove composições com números opus.  Durante o exílio, entre 1918 e 1943, completou apenas seis.
Embora tenha sido quase toda escrita no século XX, a música de Rachmaninoff é classificada como Romântica do século XIX.

Curiosidades:




Em 1923 Rachmaninoff se introduziu no pioneirismo da aviação ao estudar os desenhos de Igor Sikorsky e, de acordo com o filho de Sikorsky, doou uma quantia de $5000 e disse "eu acredito em você, confio em você, pague-me de volta somente quando puder, vá, comece a fazer seus aviões".







Na Alemanha produziu-se uma vodca chamada "Rachmaninoff", em homenagem ao compositor.





Eric Carmen


A canção popular norte americana, "All by Myself" (cujo sucesso foi escrito por Eric Carmen e gravada em 1975, e mais tarde por Sheryl Crow (1994) e Celine Dion (1996), é um arranjo temático do II movimento - Adagio Sostenuto - do Concerto para Piano No. 2, Opus 18, em dó menor de Rachmaninoff.
Eric Carmen também escreveu Never Gonna Fall in Love Again, desta vez, se baseando no III movimento---Adagio---da Sinfonia Nº2, Opus 27, em mi menor, também de Rachmaninoff. (ambas encontram-se no link abaixo)





Em 1965, Robert Wright e George Forrest, os escritores de Kismet, escreveram um musical chamado "Anya", usando a música de Rachmaninoff como base.








O Concerto para piano n.º 2 de Rachmaninoff é mencionado no filme The Seven Year Itch ("O Pecado Mora ao Lado") de 1955, que estrelava Marilyn Monroe.





A Rapsódia Sobre um Tema de Paganini foi trilha sonora do filme Somewhere in Time ("Em Algum Lugar do Passado"), de 1980.



O filme Shine de 1996, sobre a vida do pianista David Helfgott, gira em torno do Concerto para Piano No. 3 de Rachmaninoff.




O concerto para piano n.º 2 foi uma das músicas preferidas pela Princesa Diana. Segundo o livro "Diana crônicas íntimas" de Tina Brown, a princesa costumava ouvi-la ao escrever cartas e em momentos de descanso.



O concerto para piano n.º 2 e outras obras aparecem ou são mencionadas no anime Nodame Cantabile.




A "Sinfonia No. 3" é brevemente mencionada no filme "Homem de Ferro 2", de 2010, como "a Terceira de Rachmaninoff", pelo vilão Justin Hammer.



Para ouvir e copiar as obras do autor acesse ao link abaixo:
https://drive.google.com/drive/folders/0B9F356bpnhA-eGJyZWkxOFR4cHc?resourcekey=0-9zEXfLIHb6C3633qN8azTg&usp=sharing

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ANDREAS STAIER


Andreas Staier
Nascido no dia 13 de Setembro de 1955 em Göttingen na Alemanha. Estudou piano moderno e cravo em Hanover e Amsterdã. Teve como professores de piano Kurt Bauer e Erika Haase, com Lajos Rovatkay teve aulas de cravo.
Entre 1983 e 1986 foi o cravista solo do Musica Antiqua Köln, grupo fundado em 1973 por Reinhard Goebel com estudantes do Conservatório de Colônia, especializado em música barroca, com o qual excursionou com frequência, ao mesmo tempo continuava seus estudos em interpretação em música clássica e pós-clássica de pianoforte. Em 1986 abandonou o grupo para partir em carreira de solista, tanto no fortepiano quanto no cravo. Fez uma turnê, acompanhado por Wilbert Hazelzet, flautista e Hajo Bäss, violinista, sob o nome de Les Adieux.
Entre 1987 e 1996, foi professor de cravo na Schola Cantorum, em Basileia.
Staier ganhou uma reputação como um cravista distinto, fortepianista, e intérprete de música de câmara. Seu repertório inclui a música séculos 17, 18 e 19.
Participou como solista, em concertos na Europa, Estados Unidos e Japão acompanhando orquestras tais como: Concerto Köln, Orquestra Barroca de Friburgo, Academia de Música de Berlim e a Orquestra dos Champs-Elysées.
Formou um Trio com o violinista Daniel Sepec e o violoncelista Jean-Guilhen Queyras, gravou recentemente obras de Beethoven para a Harmonia Mundi.
Também se apresenta em duo (teclado a quatro mãos) com Christine Schornsheim, Alexander Melnikov e Tobias Koch. Assim como em duo com o barítono alemão Georg Nigl, com as violinistas Petra Müllejans e Isabelle Faust e o clarinetista Lorenzo Coppola. Tem também tocado com artistas de renome internacional como Anne Sophie von Otter, Pedro Memelsdorff, Alexej Lubimov e o tenor Christoph Prégardien.
Considerado como o mais proeminente especialista em cravo e pianoforte da atualidade. A sua discografia é considerada uma referência e bastante premiada pela crítica internacional.
Curiosidades:

O fortepiano é um instrumento musical de teclas, antecessor do piano atual. Foi inventado por Bartolomeo Cristofori por volta de 1700, e foi construído e vendido por toda a Europa até o século XIX. Ainda são fabricados em números relativamente pequenos, primordialmente para servir às pessoas e organizações interessadas em performances de época.

Cravo é a designação dada a qualquer instrumento musical de tecla, incluindo os grandes instrumentos comumente chamados de cravos, mas também os menores: virginal, o virginal muselar e a espineta. Todos esses instrumentos pertencem ao grupo das cordas pinçadas, ao invés de percuti-la como no piano ou no clavicórdio. 
Outras nomenclaturas para o instrumento:
clavicembalo, cembalo em italiano e alemão. Clavecin em francês. Clavicordio no espanhol, gerando confusão com o clavicórdio. Por essa razão, nos círculos musicais espanhóis, utilizam a palavra italiana ou, mais comumente, a palavra francesa.
Um cravista é um músico que toca o cravo.

Recentemente em gravações da obra de Beethoven utilizou o mesmo piano que pertenceu ao compositor.


Para acessar e ouvir parte da obra deste músico acesse o link abaixo: