terça-feira, 28 de outubro de 2014

JOSEPH MAURICE RAVEL


"A tradição é a personalidade dos imbecis".

Joseph-Maurice Ravel nascido no dia 07 de Março de 1875, na comuna francesa de Ciboure na região da Aquitânia nos Pirineus Atlânticos, parte do País Basco Francês, na casa 12 do Quai de la Nivelle.
Os pais
Filho de Pierre Joseph Ravel, um engenheiro suíço e de Marie Delouart Ravel, de origem basca.
Nessa época a França se recuperava da Guerra Franco-Prussiana, e começava um período bastante criativo na arte francesa. Teve um irmão mais novo Édouard.
Joseph Maurice & Edouard Ravel
Em junho de 1875, a família mudou para Paris, o que o afastou de suas origens bascas, contrariando assim afirmações que insistem que a influência espanhola em sua obra viria destas origens. Retornou ao País Basco apenas aos vinte e cinco anos de idade.
Charles de Bériot
Teve uma infância bastante feliz. Seus pais incentivaram os primeiros passos musicais e artísticos de seus filhos. Em 1882, os dois irmãos começaram a receber aulas de piano com Henry Ghys, apesar de no início seu pai, para obrigá-lo a praticar o piano, tinha que lhe prometer pequenas gorjetas, o interesse demonstrado por Maurice chamou a atenção dos pais e em 1887, recebeu precocemente aulas de harmonia, contraponto e composição com Charles René. O clima artístico e musical prodigiosamente fértil de Paris do fim do século XIX não podia, senão, estimular o desenvolvimento do jovem e assim foi matriculado no tradicional Conservatório de Paris em 1889 onde permaneceu por seis anos, ali teve aulas com Charles de Bériot.
Ricardo Viñes
e Maurice Ravel
Erik Satie
Maurice Ravel tinha vontade de aprender, entretanto não gostava de aulas coletivas e, por isso anos mais tarde, passou a estudar, sozinho, regras de composição. Conheceu o pianista espanhol Ricardo Viñes, que se tornou um grande amigo e o principal intérprete de suas obras.
Conheceu Erik Satie em 1893, músico que seria uma de suas influências.
Sua primeira composição foi Menuet Antique de 1895.
Aos 26 anos obteve, com uma cantata, o segundo lugar no Prêmio de Roma, que consagrava novos talentos.
André Gedalge             Gabriel Fauré     
Em 1897 estudou contraponto com André Gedalge, no ano seguinte, retornou ao Conservatório de Paris para estudar composição com Gabriel Fauré, que dizia ser muito bom aluno, laborioso e pontual.  Ao término destes estudos compôs a Abertura para Sheherazade e a famosa Pavane pour une enfant defunte (Pavana para uma infanta defunta), anteriores as estas já havia composto em 1898, Valse en Re majeur pour piano.
Foi na "Exposition Universelle" (Exposição Universal), em 1899, que Ravel adquiriu o gosto pela arte oriental. 
Em 1900, era favorito à conquista, sofreu sua maior decepção ao ser derrotado.
Claude Debussy
Ravel e Viñes participariam do grupo conhecido como Les Apaches que causou agitação na estreia de Pelléas et Mélisande de Claude Debussy, em 1902.
Sentia a necessidade de criar uma obra que fosse aprovada tanto pela crítica quanto pelo público, isto em 1903, quando completou e lançou Sheherazade, atingiu relativamente o seu objetivo.
Em 1904, não foi sequer admitido às provas eliminatórias do Prêmio de Roma, o conservadorismo do júri, declara o compositor inelegível, em virtude de seu estilo, harmonia e temática, que é frequentemente associado ao impressionista Debussy. Sem se conformar tornou-se arredio, e no auge da belle époque europeia, preferia se dedicar ao trabalho musical e não participava de quaisquer eventos sociais.
Em 1906, começou, mas não concluiu uma homenagem orquestral a Johann Strauss a que chamou Viena.
Seu pai morre em 1908, e no ano seguinte Ravel decide morar sozinho. Foi nesse período que compôs sua primeira ópera, L'Heure Espagñole e também a Rapsodie Espagñole.
Em 1909, encontrou-se com Igor Stravinsky, em Paris, numa apresentação de seus balés, dirigidos por Serge Diaghilev.
Igor Stravinsky                      Serge Diaghilev
Ravel tinha atitudes infantis, gostava de brinquedos o que transparecia em suas obras com temas ligados à fantasia, contos de fadas e magias. Como exemplo, temos a suíte Mamãe Gansa, de 1910, que posteriormente foi transformada e adaptada para o balé.
No ano seguinte, juntamente com outros músicos que frequentavam o curso de Fauré, fundou a Sociedade Musical Independente, em oposição à Sociedade Nacional de Música.
Cena do balé
Daphnis et Chloe
1912
Foi em 1912 que alcançou o almejado sucesso de crítica e público, ao apresentar a música encomendada pelo coreógrafo russo Diaghilev para o Balé Daphnis et Chloé.
Com início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, Ravel deixou de compor e tentou alistar-se na aviação militar, contudo foi reprovado por falta de aptidões físicas. No ano seguinte, conseguiu um posto de motorista do Exército. Em 1916 uma forte disenteria provocou o seu retorno a Paris. O músico estava bastante abalado emocionalmente, perdera amigos na guerra, aconteceu o falecimento da mãe, em 1917, que a pessoa mais próxima a ele, sem contar as decepções amorosas, razão pela qual Ravel nunca se casou. Nesta época compôs muito pouco, temos Deux Melodies Hebraiques (1914), Poemes de Mallarmé (1915), Trois Chansons (1916), e Le Tombeau de Couperin (1917), esta última foi uma dupla homenagem, primeira ao compositor Couperin, e a segunda aos amigos mortos na guerra, a quem dedicou cada um dos seis movimentos, como segue:

I. Prélude – à memória de Lieutenant Jacques Charlot.
II. Fugue – à memória de Jean Cruppi.
III. Forlane – à memória de Lieutenant Gabriel Deluc.
IV. Rigaudon – à memória de Pierre e Pascal Gaudin.
V. Menuet – à Jean Dreyfus
VI. Toccata – à memória do Capitão Joseph de Marliave.
Com o término da guerra conclui Viena, agora com o título La Valse e considerando-a um ‘poema coreográfico.
Com a morte de Debussy, em 1918, que era considerado o maior compositor francês desde 1900. O título passou a ser de Ravel. Ambos são comparados com frequência. Ravel e Debussy influenciavam e respeitavam um ao outro. Em 1920, recusou a principal condecoração francesa, a Legião de Honra.
Começou a compor pequenas peças e a orquestrar peças de outros compositores.
Ida Rubinstein
Paul Wittgenstein
Em 1925 compôs L'Enfant et les Sortilèges, uma turnê pelos Estados Unidos em 1928, e no mesmo ano, Bolero, certamente sua obra mais famosa, composta a pedido da bailarina Ida Rubinstein.
O Concerto para Piano em Sol maior e o Concerto para Piano para a Mão Esquerda vieram à luz em 1930 e 1931, especialmente para o músico Paul Wittgenstein que durante a guerra perdeu o braço direito.

Em 1932 sofreu um acidente de automóvel que deixaria sequelas, assim os últimos anos de Ravel foram afetados pela Doença de Pick, mal que se reflete em distúrbios de linguagem, personalidade e comportamento e é um tipo de demência fronto-temporal. Foi submetido a uma cirurgia cerebral não foi detectado tumor algum em sua zona cerebral. Antes de recuperar a consciência, Ravel falece no dia 28 de dezembro de 1937, aos 62 anos de idade.

O compositor russo Stravinsky, contemporâneo de Ravel, comparou-o ao "mais perfeito dos relojoeiros suíços". Isso bem definia a complexidade, precisão e delicadeza da obra de seu colega francês.

Para ouvir e baixar algumas obras de Ravel acesse o link abaixo:
https://drive.google.com/drive/folders/0B9F356bpnhA-c3oweUJIa2lIelU?resourcekey=0-pM2ihPcMwTL9WXtNSraaqw&usp=sharing

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

ERNESTO NAZARETH

Compositor brasileiro dotado de uma extraordinária originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a união, o enlace. (Mario de Andrade)

Na região do Porto do Rio de Janeiro, Bairro Cidade Nova, na encosta do Morro do Nheco (atual Morro do Pinto) na Rua do Bom Jardim (hoje Rua Marquês de Sapucaí) na modesta casa de número 9, nascia Ernesto Júlio Nazareth, no dia 20 de Março de 1863, filho do despachante aduaneiro Vasco Lourenço da Silva Nazareth e de D. Carolina Augusta da Cunha Nazareth, pianista.
O país vivia períodos caracterizados por grandes mudanças e instabilidade social e política no país, como a guerra do Paraguai, o movimento abolicionista e a instauração da República.
Ainda na infância, sofreu uma queda que lhe afetou o ouvido direito, causando problemas auditivos que lhe acompanhariam por toda a vida.
Os pais e irmão (a mãe
aparece grávida de Ernesto
na foto)
Os saraus familiares eram comuns em sua residência, tendo assim início o seu convívio com a música. Por sua mãe foi apresentado ao piano e com ela aprendeu os primeiros acordes de Chopin, Mozart e Beethoven, também músicas populares da época como polcas, valsas e modinhas.
Charles Lucien Lambert
Aos dez anos de idade, com o falecimento de D. Carolina, sua mãe, a educação do garoto ficou a cargo de seu pai, que contratou o jovem pianista amador Eduardo Rodolpho de Andrade Madeira, um amigo da família para dar continuidade à sua educação musical. Charles Lucien Lambert, professor de piano norte americano de Nova Orleans, radicado no Rio de Janeiro, também lhe ministrou algumas lições, passando desde então a formar-se autodidaticamente.
Em 1877, aos 14 anos de idade, estudando no Colégio Belmonte - foi colega de Olavo Bilac - iniciou suas composições. Sua primeira música foi "Você Bem Sabe", dedicada a seu pai, e editada pela Casa Arthur Napoleão, que durante muito tempo foi o principal centro musical no Rio de Janeiro, seu proprietário ficou entusiasmado com o novo ritmo. A partir daí outras obras vieram como: “Gentes! O imposto pegou”, “Gracieta”, “O nome dela” e “Cruz, Perigo!”.
Sua primeira apresentação pública aconteceu aos 17 anos de idade no Club Mozart. No ano seguinte, em 1881, compôs a polca "Não caio noutra!", seu primeiro grande sucesso, com diversas reedições.  Nos anos que se seguiram apresentou-se em diferentes clubes da corte, inclusive no Club Rossini em São Cristóvão. Naquela época, a polca, pelo seu aspecto brejeiro e alegre, fazia bastante sucesso.
Ernesto Nazareth e Teodora Amália de Meireles
Os filhos:
 Eulina - Diniz (alto)
Maria de Lourdes e Ernestinho (abaixo)
Em 14 de julho de 1886, aos 23 anos de idade, casou-se com Teodora Amália de Meireles, a quem dedicou o tango "Dora", nome pelo qual era tratada na intimidade. O casal teve quatro filhos: Eulina, Diniz, Maria de Lourdes e Ernestinho.
A partir de 1889, a agora Casa Arthur Napoleão e Miguez, passou a publicar a "Revista Musical e de Belas-Artes", situada na Rua do Ouvidor, o estabelecimento propiciou ao compositor valiosas relações com o mundo musical de então. Daí em diante, passou a ser um profissional do piano e da música.
"Brejeiro," composto em 1893, uma de suas composições mais famosas, é lançado pela Casa Vieira Machado, com a qual alcançou sucesso nacional e internacional, foi considerado o marco do tango brasileiro, foi publicada em Paris e nos Estados Unidos em 1914. Em razão de dificuldades financeiras, Nazareth vendeu os direitos dessa peça para Editora Fontes e Cia. por 50.000 réis, anos mais tarde foi gravado pela banda da Guarda Republicana de Paris.
Catulo da Paixão
Cearense
Seu primeiro concerto como pianista aconteceu no Salão Nobre da Intendência de Guerra, por iniciativa do Clube São Cristóvão no Rio de Janeiro, em 1898.
A primeira gravação de sua autoria, o tango brasileiro, “Está Chumbado”, foi realizada pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro em 1902.
O cantor Mario Pinheiro grava “Brejeiro”, com o título de “O sertanejo enamorado”, com letra de Catulo da Paixão Cearense, em 1904. (Link da música na voz de Vicente Celestino): https://drive.google.com/folderview?id=0B9F356bpnhA-YXlWX3dFSVJGQ0U&usp=sharing

O SERTANEJO ENAMORADO (Brejeiro)
Ai, ladrãozinho,
Nesse lábio de coral
Dá-me um beijinho
Não te pode, fazer mal

És tão sestrosa
Não há como tú
Flor tão cheirosa, não há
(para ladrão)
Não me apoquentes, assim,
Ai de mim
Ai, ai, ai de mim

Teu lábio cheira
Como um galho de Alecrim
Tú és faceira
Queres dar, cabo de mim

Ouve um suspiro de amor
Estes ais,
Que dá um martírio de dor, ora meu Deus !
Como é penoso viver, a gemer
Ai, ai a gemer.

Eu canto em minha viola, ternuras de amor
Mas de muito amar
O choro, as mágoas consola
Teu belo rigor, quer minha vida acabar

Eu sou Jaçanã ferida
Gemendo de amor
Lá na solidão
Minh'alma no peito vencida
Soluça de dor
Nesta pobre canção

Na minha choça, seu escravo, sou até
Tenho uma roça e uma casa de sapé
Foi para dar-te que a fiz e que vivo
Por amar-te feliz
Valha-me Deus
Nela contigo serei
Mais que um rei
Há, ai ! Mais que um rei

Como eu sou rico, se me cresce, o milharal
Ai, como fico, se floresce, o cafezal
Mas fico mudo, sem ti chora tudo
Tudo, tudo daqui, úi, úi, úi!
Quando me negas ó flor, teu amor,

Ai ! O teu amor !



É nomeado, em 1907, terceiro escriturário do Tesouro Nacional. Ficando pouco tempo na função, vivendo exclusivamente de música, com aulas particulares de piano e tocando em casas de música, de família e clubes. Em 1908, empregou-se como pianista na Casa Mozart. 
Fachada do Cinema Odeon

De 1909 a 1913, e de 1917 a 1918, trabalhou na sala de espera do antigo Cinema Odeon (anterior ao prédio moderno da Cinelândia), muitas personalidades ilustres iam àquele estabelecimento apenas para ouvi-lo, dentre eles Rui Barbosa. Foi em homenagem a este cinema que Nazareth batizou sua composição mais famosa, o tango "Odeon", composto em 1910.
Arthur Rubinstein & Darius Milhaud
Ali também conheceu o pianista Arthur Rubinstein e o compositor Darius Milhaud, que vivia no Brasil como secretário diplomático da missão francesa. "Seu jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira", declarou Milhaud sobre Ernesto Nazareth. Trechos de canções de Nazareth foram citadas em seu balé Le Boeuf sur le Toit (O Boi no Telhado) e a suíte "Saudades do Brasil". Estas obras encontram-se neste link:https://drive.google.com/folderview?id=0B9F356bpnhA-WUhpWFRzV0M4M28&usp=sharing)
Vivia em uma casa no bairro de Ipanema, em 1917, quando morre sua filha, Maria de Lourdes, considerado o primeiro abalo dos inúmeros que Ernesto enfrentou...
Em 1919, trabalha como pianista demonstrador da Casa Carlos Gomes à Rua Gonçalves Dias, do pianista e compositor Eduardo Souto, executava músicas para serem vendidas, entre elas, as suas próprias composições. Na época, a maneira mais comum de se tomar conhecimento das novidades musicais era através das casas de música e seus pianistas demonstradores. E em 1920, Heitor Villa-Lobos dedicou a ele a peça "Choros nº 1", para violão. Em 1922 foi convidado pelo compositor Luciano Gallet a participar de um recital no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, tocou seus tangos: "Brejeiro", "Nenê", "Bambino" e "Turuna".
Segundo os biógrafos, ele era muito exigente com as pessoas que executavam suas músicas, e frequentemente mandava parar a execução antes do final. No ano seguinte, participou da inauguração da Rádio M.E.C. (antiga Rádio Sociedade do Rio de Janeiro), como pianista.
Piano Sanzin doado por
seus admiradores paulistas
Em 1926, Nazareth embarcou para uma turnê no estado de São Paulo, que foi planejada inicialmente para durar três meses, mas acabou se prolongando por onze, com concertos na Capital, Campinas, Sorocaba e Tatuí. Tinha então 63 anos, e foi a primeira vez que saiu do estado do Rio de Janeiro. Nessa ocasião, Mário de Andrade fez uma conferência sobre sua obra, foi também homenageado pela Cultura Artística de São Paulo e ainda tocou no Conservatório Dramático e Musical de Campinas. Apresentou-se no Teatro Municipal de São Paulo. Seus admiradores se uniram e deram-lhe um piano italiano Sanzin, que hoje faz parte do acervo do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Em 1927, Nazareth retornou à sua cidade natal, já apresentando sinais de surdez.
Em 1929, morre sua mulher, o que lhe provocou profundo abalo.
Em 1930, concluiu sua última composição, a valsa "Resignação". No mesmo ano, gravou ao piano a polca "Apanhei-te, cavaquinho" e os tangos brasileiros: "Escovado", "Turuna" e "Nenê" de sua autoria, para a casa Edson. (Link com estas gravações e outras de 1912, conforme a relação abaixo):
https://drive.google.com/folderview?id=0B9F356bpnhA-Ynd5MkZhTTh2Nms&usp=sharing


Gravações de 1912:
Odeon - Ernesto Nazareth (piano) e Pedro de Alcântara (flautim)
Favorito - Ernesto Nazareth (piano) e Pedro de Alcântara (flautim)
Linguagem do coração (de Joaquim Callado)  - Ernesto Nazareth (piano) e Pedro de Alcântara (flautim)
Choro e poesia (de Catullo da Paixão Cearense) - Ernesto Nazareth (piano) e Pedro de Alcântara (flautim)

Gravações de 1930:
Nenê - Ernesto Nazareth (piano)
Turuna - Ernesto Nazareth 
Apanhei-te cavaquinho - Ernesto Nazareth
Escovado - Ernesto Nazareth

Por volta de 1932, passou a residir em Laranjeiras. Apresentou um recital só com músicas de sua autoria em um concerto precedido por uma conferência de Gastão Penalva. Neste mesmo ano realizou uma turnê pelo sul do país. 
Foto como interno da Colônia Juliano Moreira
Após um longo processo de perda de audição, o compositor foi definitivamente vitimado pela surdez, somando-se a isso os abalos que sofreu com as mortes de sua filha e da esposa causou-lhe uma deterioração e forte perturbação mental, e a consequente internação no Instituto Neuropsiquiátrico situado na Praia Vermelha, foi também diagnosticado como portador de sífilis e em 1933 é internado na Colônia Juliano Moreira, situada em Jacarepaguá.
Cemitério São Francisco Xavier
Cachoeira dos Ciganos
No dia primeiro de fevereiro de 1934, saiu para um passeio pelas alamedas do sanatório e, sem ser visto, fugiu, desaparecendo. Após três dias de buscas, o corpo do compositor foi encontrado nas águas da Cachoeira dos Ciganos. Ernesto Nazareth foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, mesma região da cidade onde nasceu.

Deixou 211 peças completas para piano, que retrataram o ambiente musical das serestas e dos choros do Rio de Janeiro. O musicólogo Mozart de Araújo disse sobre sua obra: "As características da música nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal modo ele se identificou com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua obra, perdendo embora a sua funcionalidade coreográfica imediata, se revalorizou, transformando-se hoje no mais rico repositório de fórmulas e constâncias rítmico-melódicas, jamais devidas, em qualquer tempo, a qualquer compositor de sua categoria".  Compôs em torno de 90 tangos, cerca de 40 valsas e em torno de 20 polcas, destinando-se o restante de sua obra a gêneros variados como mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas etc. Dentre sua obra as músicas mais conhecidas são: "Apanhei-te, cavaquinho", "Ameno Resedá", "Confidências", "Coração que sente", "Expansiva", "Turbilhão de beijos", "Odeon", "Fon-fon", "Escorregando", "Brejeiro" e "Bambino".
O tango brasileiro era o nome dado no fim do século XIX e começo do XX, ao estilo hoje conhecido como choro ou chorinho, entretanto naquela época a palavra "choro" designava não um gênero, mas conjuntos musicais normalmente compostos de flauta, cavaquinho e violões que animavam as festas chamadas de forrobodós, executando polcas, lundus, habaneras e mazurcas e outros gêneros estrangeiros de uma maneira sincopada. O tango Brasileiro era uma variante do gênero musical cubano conhecido como habanera ou tango-habanera. Na dança passou a ser designado de maxixe, que era proibida ou mal vista. Assim o "Tango Brasileiro" escondia a relação com o maxixe dessas composições.
Estudiosos afirmam que existe uma diferença harmônica, sendo o Tango Brasileiro um pouco mais complexo do que o Maxixe.
Sua obra situa entre o popular e o erudito, cai bem tanto nas mãos de Arthur Moreira Lima como de Jacob do Bandolim.
Curiosidades:
O Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) criou o Diploma Ernesto Nazareth uma honraria concedida aos artistas com representatividade na história da MPB.
Seus tangos-brasileiros têm a indicação metronômica de MM semínima igual a 80 batidas, já no choro, a indicação é de 100 batidas.
Para mostrar essa diferença, Nazareth compôs o choro "Apanhei-te Cavaquinho." Foi uma das únicas composições que ele considerou como choro. O mesmo entendimento tinham Chiquinha Gonzaga, Antonio Calado, Alexandre Levy e outros.
Assim como Rachmaminoff, Nazareth tinha as mãos muito grandes, o que lhe facilitava compor e tocar acordes acima de uma oitava, o que torna difícil a interpretação de sua obra, no piano, por aqueles cujas mãos tem um tamanho normal.
Com o agravamento da surdez, tocava debruçado sobre o piano para conseguir ouvir sua própria música.

No link abaixo é possível ouvir toda a obra de Ernesto Nazareth, entretanto não é possível fazer o seu download:

Este outro link direciona para o site desenvolvido pelo Instituto Moreira Salles em comemoração aos 150 anos de Ernesto Nazareth:

Aqui o link com parte da obra de Ernesto Nazareth:


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

FRANÇOIS COUPERIN

Na Rua François Miron, numa residência atrás da Igreja de Saint Gervais em Paris no dia 10 de novembro de 1668, nascia François Couperin, filho de Charles e Marie Couperin. A família Couperin veio de Chaumes-en-Brie, uma pequena cidade a 48 quilômetros leste de Paris. Foi uma das grandes dinastias da música, da qual se enumeram músicos profissionais desde os finais do século XVI até meados do século XIX.
Igreja de Saint Gervais
Seu pai foi quem lhe ensinou os primeiros passos na música, entretanto faleceu quando o garoto tinha apenas 10 anos de idade, continuando os estudos com Jacques Thomelin, que foi como um segundo pai para ele. Aos dezessete anos tornou-se organista da Igreja de Saint Gervais de Paris, cargo que foi ocupado pelo seu pai desde 1.661 até sua morte, este posto foi ocupado pela família por 173 anos, desde 1653 com seu tio Louis Couperin. A linhagem de músicos era tão prestigiosa e ramificada quanto o clã Bach.
Casou-se em 1.689 com Marie-Anne Ansault, cuja família era bastante influente no mundo dos negócios, o casal teve quatro filhos: os músicos Nicolas, Marie-Madeleine e Marguerite-Antoinette, e François Laurent. No ano seguinte publicou suas duas primeiras obras para órgão: Missa para os conventos de religiosos e religiosas e a Missa Solene para a utilização de paróquias (Messe pour les couvents de Religieux et Religieuses e a Messe solennelle à l'usage des paroisses), nessa mesma época sua mãe faleceu. 
Luis XIV - o Rei Sol
Aos 25 anos de idade, em 1693, François Couperin sucedeu ao seu professor Thomelin na Capela Real, em Versailles, com o título de Organista do Rei, indicado por Luis XIV, abrindo acesso aos círculos aristocráticos franceses da época. Foram muitas as oportunidades financeiras que se abriram, além do cargo, passou a exercer o magistério de composição e de cravo a príncipes e princesas.
Em 1696, foi laureado com um brasão próprio. Dois anos depois publica um trabalho didático sobre a arte do acompanhamento. No início do século XVIII foi distinguido com a Ordem de Cavaleiro de Latrão, estava tão bem sucedido financeiramente que se mudou da casa contígua à igreja de Saint Gervais para um grande apartamento na Rua de Saint François. Durante o reinado do Rei Sol, tornou-se um dos mais importantes e proeminentes compositores franceses, muito admirado por contemporâneos.
Arcangelo Corelli
Durante este período compôs sonatas em trios, que refletiam a sua admiração por Arcangelo Corelli, mestre barroco italiano, que conhecera provavelmente, através do envolvimento com a corte inglesa do exilado James II, que muito apreciava as obras italianas.
Em 1713 publica o primeiro dos quatro volumes com 27 suítes para cravo, os demais foram publicados em 1717,1722 e 1730.
Por volta dessa época, Couperin compôs uma das suas mais impressionantes peças de música religiosa, "Leçons de Ténebrès" (Lições da Escuridão), uma composição com base em textos sagrados para vozes solistas com um acompanhamento esparso, para ser executada durante a Semana Santa.
Luis XV
Em 1715, mesmo com o falecimento do rei Luis XIV permaneceu no cargo de organista, e ainda houve um incremento no número de alunos trazidos à corte por Luís XV. No ano seguinte publicou seu livro mais famoso “L'Art de toucher le clavecin” (A arte de tocar o Cravo), descrevendo sugestões para dedilhação, toque, ornamentação e outros aspetos da técnica para teclado. Johann Sebastian Bach adotou o sistema de dedilhação, e até o uso do polegar, criado por Couperin.
Em 1717 foi agraciado com o título Ordinaire de la Musique de la Chambre du Roi. A cada domingo apresentava um concerto com seus colegas, concertos em forma de suítes para violino, viola da gamba, oboé, fagote e cravo, seu instrumento predileto, o qual era considerado um virtuoso. Nesse mesmo ano publicou Pièces pour le clavecin (Peças para o cravo), uma série com quatro volumes de música para cravo contendo mais de 200 obras que podem tanto ser executadas no instrumento como podem ser interpretadas como pequenas obras para orquestra de câmara. François conseguia fazer o cravo soar como ninguém conseguira até então, essas peças exigem uma técnica bastante apurada para sua execução, misturando o refinamento harmônico francês com a expressividade da melodia italiana, além dos títulos dados para cada peça que remetia a poemas tais como: Le Rossignol-em-amour (O Rouxinol enamorado) ou La Distraite (A Distraída).
Publicou em 1722 a obra: 4 Concerts royaux (Quatro Concertos Reais), trata-se de quatro suítes compostas entre 1714-1715, sem qualquer indicação de instrumentação podendo ser executada apenas pelo cravo, como por cordas e sopros. Os concertos são compostos por um prelúdio e sucessão de danças na forma tradicional, Allemande, Sarabande ou Courante, seguido por outras danças, entretanto foram compostos mais para serem ouvidos do que dançados. Esta coleção foi completada em 1724 por um conjunto intitulado "Nouveaux Concerts" (Novos Concertos), com o subtítulo “Les goûts-réunis” (Os gostos reunidos), onde encontra-se a obra Le Parnasse ou L’Apothèose de Corelli.
Orgão da Igreja de St, Gervais
François Couperin nunca deixou a Igreja de St. Gervais, e arranjava ainda tempo para compor. Em 1723, como o seu estado de saúde se encontrava debilitado, fez do seu primo Nicolas Couperin seu assistente, e eventualmente seu sucessor em St. Gervais.
Em 1725, compôs uma homenagem a Jean Baptiste Lully, um italiano de nascimento e radicado na França, mestre do barroco francês, o concerto instrumental “L'apotheóse de Lully“, assim foram duas apoteoses dedicadas, respectivamente, aos dois estilos opostos, Lully e Corelli.
Les Nations (As Nações) escrita em 1726, um conjunto de quatro suítes, representa a sua obra mais importante como música de câmara, todas com o seu primeiro movimento uma “sonade” seguida pelas danças conforme a tradição francesa, as suítes são intituladas La Française, L’Espagnole, L’Imperiale e La Pièmontoise.
Em seus últimos anos compôs concertos para flauta, violino, viola de gamba e cravo, instrumento ao qual dedicou a maior parte de sua produção.
Couperin - o Grande, como era conhecido para diferenciá-lo dos demais membros do clã, faleceu em Paris no dia 11 de Setembro de 1733, em Paris, e seu corpo foi sepultado na capela Saint-Joseph do cemitério Saint-Eustache.
Sua obra foi bastante profícua, tendo como destaque a música de câmara, a religiosa e as peças para cravo, estas últimas foram descritas como "tesouros nacionais", permanecendo como marcos do repertório para teclado e símbolo da música barroca instrumental francesa.
Bach e Haendel
Couperin influenciou seus contemporâneos como Bach e Haendel, entretanto sua música caiu no esquecimento durante mais de um século, coube a Johannes Brahms sua redescoberta quando em 1880 publicou sua edição das "Peças para o cravo". Outros que colaboraram pelo seu ressurgimento foram mestres como Debussy, Wanda Landowska e, principalmente, Ravel que inclusive fez uma homenagem com Le Tombeau de Couperin (O túmulo de Couperin). Richard Strauss, também chegou a orquestrar algumas de suas peças.
Johannes Brahms        Claude Debussy                     Wanda Landowska                  Maurice Ravel            Richard Strauss
O especialista em música renascentista e barroca, Jordi Saval, classificava François Couperin como um músico por excelência que acreditava na habilidade da música em expressar-se em prosa e verso, se entrássemos na sua poesia descobriríamos que ela é mais bela do que a beleza.
Foi sem dúvida um grande observador da sua época. 

No link encontram-se algumas das obras citadas - aproveitem...