Na Rua François Miron, numa
residência atrás da Igreja de Saint Gervais em Paris no dia 10 de novembro de
1668, nascia François Couperin, filho de Charles e Marie Couperin. A família
Couperin veio de Chaumes-en-Brie, uma pequena cidade a 48 quilômetros leste de
Paris. Foi uma das grandes dinastias da música, da qual se enumeram músicos
profissionais desde os finais do século XVI até meados do século XIX.
Igreja de Saint Gervais |
Seu pai foi quem lhe ensinou
os primeiros passos na música, entretanto faleceu quando o garoto tinha apenas
10 anos de idade, continuando os estudos com Jacques Thomelin, que foi como um
segundo pai para ele. Aos dezessete anos tornou-se organista da Igreja de Saint
Gervais de Paris, cargo que foi ocupado pelo seu pai desde 1.661 até sua morte,
este posto foi ocupado pela família por 173 anos, desde 1653 com seu tio Louis
Couperin. A linhagem de músicos era tão prestigiosa e ramificada quanto o clã
Bach.
Casou-se em 1.689 com
Marie-Anne Ansault, cuja família era bastante influente no mundo dos negócios, o
casal teve quatro filhos: os músicos Nicolas, Marie-Madeleine e
Marguerite-Antoinette, e François Laurent. No ano seguinte publicou suas duas
primeiras obras para órgão: Missa para os conventos de religiosos e religiosas
e a Missa Solene para a utilização de paróquias (Messe pour les couvents de
Religieux et Religieuses e a Messe solennelle à l'usage des paroisses), nessa
mesma época sua mãe faleceu.
Luis XIV - o Rei Sol |
Aos 25 anos de idade, em
1693, François Couperin sucedeu ao seu professor Thomelin na Capela Real, em
Versailles, com o título de Organista do Rei, indicado por Luis XIV, abrindo acesso
aos círculos aristocráticos franceses da época. Foram muitas as oportunidades
financeiras que se abriram, além do cargo, passou a exercer o magistério de
composição e de cravo a príncipes e princesas.
Em 1696, foi laureado com um
brasão próprio. Dois anos depois publica um trabalho didático sobre a arte do
acompanhamento. No início do século XVIII foi distinguido com a Ordem de
Cavaleiro de Latrão, estava tão bem sucedido financeiramente que se mudou da
casa contígua à igreja de Saint Gervais para um grande apartamento na Rua de
Saint François. Durante o reinado do Rei Sol, tornou-se um dos mais importantes
e proeminentes compositores franceses, muito admirado por contemporâneos.
Arcangelo Corelli |
Durante este período compôs
sonatas em trios, que refletiam a sua admiração por Arcangelo Corelli, mestre
barroco italiano, que conhecera provavelmente, através do envolvimento com a
corte inglesa do exilado James II, que muito apreciava as obras italianas.
Em 1713 publica o primeiro
dos quatro volumes com 27 suítes para cravo, os demais foram publicados em
1717,1722 e 1730.
Por volta dessa época,
Couperin compôs uma das suas mais impressionantes peças de música religiosa,
"Leçons de Ténebrès" (Lições da Escuridão), uma composição com base
em textos sagrados para vozes solistas com um acompanhamento esparso, para ser
executada durante a Semana Santa.
Luis XV |
Em 1715, mesmo com o
falecimento do rei Luis XIV permaneceu no cargo de organista, e ainda houve um
incremento no número de alunos trazidos à corte por Luís XV. No ano seguinte
publicou seu livro mais famoso “L'Art de toucher le clavecin” (A arte de tocar
o Cravo), descrevendo sugestões para dedilhação, toque, ornamentação e outros
aspetos da técnica para teclado. Johann Sebastian Bach adotou o sistema de
dedilhação, e até o uso do polegar, criado por Couperin.
Em 1717 foi agraciado com o
título Ordinaire de la Musique de la Chambre du Roi. A cada domingo apresentava
um concerto com seus colegas, concertos em forma de suítes para violino, viola
da gamba, oboé, fagote e cravo, seu instrumento predileto, o qual era
considerado um virtuoso. Nesse mesmo ano publicou Pièces pour le clavecin
(Peças para o cravo), uma série com quatro volumes de música para cravo contendo
mais de 200 obras que podem tanto ser executadas no instrumento como podem ser
interpretadas como pequenas obras para orquestra de câmara. François conseguia fazer o cravo soar como
ninguém conseguira até então, essas peças exigem uma técnica bastante apurada
para sua execução, misturando o refinamento harmônico francês com a
expressividade da melodia italiana, além dos títulos dados para cada peça que
remetia a poemas tais como: Le Rossignol-em-amour (O Rouxinol enamorado) ou La
Distraite (A Distraída).
Publicou em 1722 a obra: 4
Concerts royaux (Quatro Concertos Reais), trata-se de quatro suítes compostas
entre 1714-1715, sem qualquer indicação de instrumentação podendo ser executada
apenas pelo cravo, como por cordas e sopros. Os concertos são compostos por um
prelúdio e sucessão de danças na forma tradicional, Allemande, Sarabande ou
Courante, seguido por outras danças, entretanto foram compostos mais para serem
ouvidos do que dançados. Esta coleção foi completada em 1724 por um conjunto intitulado
"Nouveaux Concerts" (Novos Concertos), com o subtítulo “Les
goûts-réunis” (Os gostos reunidos), onde encontra-se a obra Le Parnasse ou L’Apothèose
de Corelli.
Orgão da Igreja de St, Gervais |
François Couperin nunca
deixou a Igreja de St. Gervais, e arranjava ainda tempo para compor. Em 1723,
como o seu estado de saúde se encontrava debilitado, fez do seu primo Nicolas
Couperin seu assistente, e eventualmente seu sucessor em St. Gervais.
Em 1725, compôs uma homenagem
a Jean Baptiste Lully, um italiano de nascimento e radicado na França, mestre
do barroco francês, o concerto instrumental “L'apotheóse de Lully“, assim foram
duas apoteoses dedicadas, respectivamente, aos dois estilos opostos, Lully e
Corelli.
Les Nations (As Nações)
escrita em 1726, um conjunto de quatro suítes, representa a sua obra mais importante
como música de câmara, todas com o seu primeiro movimento uma “sonade” seguida
pelas danças conforme a tradição francesa, as suítes são intituladas La
Française, L’Espagnole, L’Imperiale e La Pièmontoise.
Em seus últimos anos compôs
concertos para flauta, violino, viola de gamba e cravo, instrumento ao qual
dedicou a maior parte de sua produção.
Couperin - o Grande, como era
conhecido para diferenciá-lo dos demais membros do clã, faleceu em Paris no dia
11 de Setembro de 1733, em Paris, e seu corpo foi sepultado na capela
Saint-Joseph do cemitério Saint-Eustache.
Sua obra foi bastante profícua,
tendo como destaque a música de câmara, a religiosa e as peças para cravo,
estas últimas foram descritas como "tesouros nacionais", permanecendo
como marcos do repertório para teclado e símbolo da música barroca instrumental
francesa.
Bach e Haendel |
Couperin influenciou seus
contemporâneos como Bach e Haendel, entretanto sua música caiu no esquecimento
durante mais de um século, coube a Johannes Brahms sua redescoberta quando em
1880 publicou sua edição das "Peças para o cravo". Outros que
colaboraram pelo seu ressurgimento foram mestres como Debussy, Wanda Landowska
e, principalmente, Ravel que inclusive fez uma homenagem com Le Tombeau de
Couperin (O túmulo de Couperin). Richard Strauss, também chegou a orquestrar
algumas de suas peças.
Johannes Brahms Claude Debussy Wanda Landowska Maurice Ravel Richard Strauss |
O especialista em música
renascentista e barroca, Jordi Saval, classificava François Couperin como um
músico por excelência que acreditava na habilidade da música em expressar-se em
prosa e verso, se entrássemos na sua poesia descobriríamos que ela é mais bela
do que a beleza.
Foi sem dúvida um grande
observador da sua época.
No link encontram-se algumas das obras citadas - aproveitem...
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