quarta-feira, 1 de outubro de 2014

FRANÇOIS COUPERIN

Na Rua François Miron, numa residência atrás da Igreja de Saint Gervais em Paris no dia 10 de novembro de 1668, nascia François Couperin, filho de Charles e Marie Couperin. A família Couperin veio de Chaumes-en-Brie, uma pequena cidade a 48 quilômetros leste de Paris. Foi uma das grandes dinastias da música, da qual se enumeram músicos profissionais desde os finais do século XVI até meados do século XIX.
Igreja de Saint Gervais
Seu pai foi quem lhe ensinou os primeiros passos na música, entretanto faleceu quando o garoto tinha apenas 10 anos de idade, continuando os estudos com Jacques Thomelin, que foi como um segundo pai para ele. Aos dezessete anos tornou-se organista da Igreja de Saint Gervais de Paris, cargo que foi ocupado pelo seu pai desde 1.661 até sua morte, este posto foi ocupado pela família por 173 anos, desde 1653 com seu tio Louis Couperin. A linhagem de músicos era tão prestigiosa e ramificada quanto o clã Bach.
Casou-se em 1.689 com Marie-Anne Ansault, cuja família era bastante influente no mundo dos negócios, o casal teve quatro filhos: os músicos Nicolas, Marie-Madeleine e Marguerite-Antoinette, e François Laurent. No ano seguinte publicou suas duas primeiras obras para órgão: Missa para os conventos de religiosos e religiosas e a Missa Solene para a utilização de paróquias (Messe pour les couvents de Religieux et Religieuses e a Messe solennelle à l'usage des paroisses), nessa mesma época sua mãe faleceu. 
Luis XIV - o Rei Sol
Aos 25 anos de idade, em 1693, François Couperin sucedeu ao seu professor Thomelin na Capela Real, em Versailles, com o título de Organista do Rei, indicado por Luis XIV, abrindo acesso aos círculos aristocráticos franceses da época. Foram muitas as oportunidades financeiras que se abriram, além do cargo, passou a exercer o magistério de composição e de cravo a príncipes e princesas.
Em 1696, foi laureado com um brasão próprio. Dois anos depois publica um trabalho didático sobre a arte do acompanhamento. No início do século XVIII foi distinguido com a Ordem de Cavaleiro de Latrão, estava tão bem sucedido financeiramente que se mudou da casa contígua à igreja de Saint Gervais para um grande apartamento na Rua de Saint François. Durante o reinado do Rei Sol, tornou-se um dos mais importantes e proeminentes compositores franceses, muito admirado por contemporâneos.
Arcangelo Corelli
Durante este período compôs sonatas em trios, que refletiam a sua admiração por Arcangelo Corelli, mestre barroco italiano, que conhecera provavelmente, através do envolvimento com a corte inglesa do exilado James II, que muito apreciava as obras italianas.
Em 1713 publica o primeiro dos quatro volumes com 27 suítes para cravo, os demais foram publicados em 1717,1722 e 1730.
Por volta dessa época, Couperin compôs uma das suas mais impressionantes peças de música religiosa, "Leçons de Ténebrès" (Lições da Escuridão), uma composição com base em textos sagrados para vozes solistas com um acompanhamento esparso, para ser executada durante a Semana Santa.
Luis XV
Em 1715, mesmo com o falecimento do rei Luis XIV permaneceu no cargo de organista, e ainda houve um incremento no número de alunos trazidos à corte por Luís XV. No ano seguinte publicou seu livro mais famoso “L'Art de toucher le clavecin” (A arte de tocar o Cravo), descrevendo sugestões para dedilhação, toque, ornamentação e outros aspetos da técnica para teclado. Johann Sebastian Bach adotou o sistema de dedilhação, e até o uso do polegar, criado por Couperin.
Em 1717 foi agraciado com o título Ordinaire de la Musique de la Chambre du Roi. A cada domingo apresentava um concerto com seus colegas, concertos em forma de suítes para violino, viola da gamba, oboé, fagote e cravo, seu instrumento predileto, o qual era considerado um virtuoso. Nesse mesmo ano publicou Pièces pour le clavecin (Peças para o cravo), uma série com quatro volumes de música para cravo contendo mais de 200 obras que podem tanto ser executadas no instrumento como podem ser interpretadas como pequenas obras para orquestra de câmara. François conseguia fazer o cravo soar como ninguém conseguira até então, essas peças exigem uma técnica bastante apurada para sua execução, misturando o refinamento harmônico francês com a expressividade da melodia italiana, além dos títulos dados para cada peça que remetia a poemas tais como: Le Rossignol-em-amour (O Rouxinol enamorado) ou La Distraite (A Distraída).
Publicou em 1722 a obra: 4 Concerts royaux (Quatro Concertos Reais), trata-se de quatro suítes compostas entre 1714-1715, sem qualquer indicação de instrumentação podendo ser executada apenas pelo cravo, como por cordas e sopros. Os concertos são compostos por um prelúdio e sucessão de danças na forma tradicional, Allemande, Sarabande ou Courante, seguido por outras danças, entretanto foram compostos mais para serem ouvidos do que dançados. Esta coleção foi completada em 1724 por um conjunto intitulado "Nouveaux Concerts" (Novos Concertos), com o subtítulo “Les goûts-réunis” (Os gostos reunidos), onde encontra-se a obra Le Parnasse ou L’Apothèose de Corelli.
Orgão da Igreja de St, Gervais
François Couperin nunca deixou a Igreja de St. Gervais, e arranjava ainda tempo para compor. Em 1723, como o seu estado de saúde se encontrava debilitado, fez do seu primo Nicolas Couperin seu assistente, e eventualmente seu sucessor em St. Gervais.
Em 1725, compôs uma homenagem a Jean Baptiste Lully, um italiano de nascimento e radicado na França, mestre do barroco francês, o concerto instrumental “L'apotheóse de Lully“, assim foram duas apoteoses dedicadas, respectivamente, aos dois estilos opostos, Lully e Corelli.
Les Nations (As Nações) escrita em 1726, um conjunto de quatro suítes, representa a sua obra mais importante como música de câmara, todas com o seu primeiro movimento uma “sonade” seguida pelas danças conforme a tradição francesa, as suítes são intituladas La Française, L’Espagnole, L’Imperiale e La Pièmontoise.
Em seus últimos anos compôs concertos para flauta, violino, viola de gamba e cravo, instrumento ao qual dedicou a maior parte de sua produção.
Couperin - o Grande, como era conhecido para diferenciá-lo dos demais membros do clã, faleceu em Paris no dia 11 de Setembro de 1733, em Paris, e seu corpo foi sepultado na capela Saint-Joseph do cemitério Saint-Eustache.
Sua obra foi bastante profícua, tendo como destaque a música de câmara, a religiosa e as peças para cravo, estas últimas foram descritas como "tesouros nacionais", permanecendo como marcos do repertório para teclado e símbolo da música barroca instrumental francesa.
Bach e Haendel
Couperin influenciou seus contemporâneos como Bach e Haendel, entretanto sua música caiu no esquecimento durante mais de um século, coube a Johannes Brahms sua redescoberta quando em 1880 publicou sua edição das "Peças para o cravo". Outros que colaboraram pelo seu ressurgimento foram mestres como Debussy, Wanda Landowska e, principalmente, Ravel que inclusive fez uma homenagem com Le Tombeau de Couperin (O túmulo de Couperin). Richard Strauss, também chegou a orquestrar algumas de suas peças.
Johannes Brahms        Claude Debussy                     Wanda Landowska                  Maurice Ravel            Richard Strauss
O especialista em música renascentista e barroca, Jordi Saval, classificava François Couperin como um músico por excelência que acreditava na habilidade da música em expressar-se em prosa e verso, se entrássemos na sua poesia descobriríamos que ela é mais bela do que a beleza.
Foi sem dúvida um grande observador da sua época. 

No link encontram-se algumas das obras citadas - aproveitem...

Nenhum comentário:

Postar um comentário