terça-feira, 18 de novembro de 2014

BOLERO

A BAILARINA!
Ida Rubinstein

Ida Lvovna Rubinstein, nascida em Kharkov na Ucrânia no dia 05 de Outubro de 1885, foi atriz e dançarina russa, considerada muito bonita, expressiva e audaciosa no palco. Oriunda de família judia russa muito rica, ainda jovem ficou órfã, sendo criada por parentes, teve uma educação refinada e orientada para as artes. Aos dezenove anos com recursos próprios montou a peça Antígona de Sofócles, tomando para si, o papel principal. Casou-se com o seu primo Vladimir Horwitz em 1908. No mesmo ano montou o espetáculo de dança Salomé, baseado na obra de Oscar Wilde, considerado indecente e erótico pelos censores do Império. No ano seguinte, ingressa no grupo de balé de Serguei Diaghilev, participando de diversas apresentações por dois anos. Durante a Primeira Guerra, pouco se apresenta, dedicando-se a obras de caridade e assistência financeira aos feridos de guerra. Em 1920 volta a atuar com a companhia de Diaghilev. Oito anos mais tarde funda a sua própria companhia, Les Balles de Ida Rubinstein.
Artistas renomados ou ainda não se tornaram muito conhecidos através de encomendas suas.  A criação do balé Bolero, de Maurice Ravel, foi uma encomenda sua ao autor, em 1928. Neste mesmo ano, ela o interpretaria, com coreografia de Bronislava Nijinska.

A COREÓGRAFA

Bronislava Nijinska,
 coreógrafa oficial da companhia de Ida Rubinstein e irmã de Vaslav Nijinsky, nascida em Minsk, na atual Bielorrússia, em 08 de Janeiro de 1891, além de coreógrafa, foi dançarina e professora de balé, também fez parte da companhia de Diaghilev juntamente com o seu irmão. Sua mais importante criação foi Les Noces baseada na música de Igor Stravinsky.



O AUTOR
Maurice Ravel

Isaac Albéniz
O Bolero é uma obra musical em um único movimento escrita para orquestra, é a peça mais famosa de Maurice Ravel. Composta entre Julho e Outubro de 1928, tem o seu título original era Bolero-Fandango. O bolero é um ritmo que mescla raízes espanholas com influências locais. Como citado anteriormente obra foi um pedido da dançarina Ida Rubinstein, que encomendou a Ravel a criação de um balé com características espanholas, a princípio seria uma orquestração da obra Iberia de Isaac Albéniz, o que não foi possível, pois os direitos foram passados por Albéniz ao seu pupilo Ferdinand Enrique Arbos. Sendo assim teve compor algo totalmente novo e específico.

O RITMO E A DURAÇÃO

O bolero tem um ritmo invariável e uma melodia uniforme e repetitiva, a notação de tempo na partitura original é semínima igual a 76, entretanto há um risco e o número 66 substituindo a marcação original, o que significa que o metrônomo baterá 76 vezes por minuto, e pela quantidade de compassos a duração teórica original da peça seria de catorze minutos e dez segundos. Este tipo de notação é bastante comum em partituras. Na primeira gravação de Piero Coppola, contando com a presença do compositor, o Bolero durou quinze minutos e quarenta segundos. Ravel comentou tempos mais tarde, a um jornalista do Daily Telegraph que a obra duraria dezessete minutos. Anos mais tarde o maestro português Pedro de Freitas Branco, amigo de Ravel, dirigiu uma execução lenta da obra (semínima = 54), o que fez com que a obra durasse 18m30s.

Ravel em 1931 comentou: “Devo dizer que o Bolero raramente é regido como penso que deveria ser. Digo, o Bolero deve ser executado em tempo único do início ao fim, no estilo queixoso e monótono das melodias árabe-espanholas. [...] Os virtuoses são incorrigíveis, imersos em suas fantasias, como se os compositores não existissem”.
A caixa, instrumento musical que teve a sua origem na Europa do século XV, a sua utilização básica era a marcação de ritmos em marchas militares. Este instrumento dita o ritmo do bolero, são dois compassos repetidos cento e sessenta e nove vezes, estes dois compassos em ostinato dão ao Bolero de Ravel o ritmo uniforme e invariável.

OSTINATO
Em música, ostinato é um motivo ou frase musical que é persistentemente repetido numa mesma altura. A ideia repetida pode ser um padrão rítmico, parte de uma melodia ou uma melodia completa.
Basso ostinato (também chamado de baixo ostinato; em inglês "ground bass") é uma parte do baixo ou linha do baixo que se repete continuamente enquanto a melodia, e possivelmente a harmonia feita sobre ele, se altera. Foi desenvolvido já no Século XIII e usado com frequência da era barroca em diante.

Em música popular, muitos riffs para baixo podem ser vistos como uma versão moderna do baixo ostinato. Dois exemplos são as canções Money (2), do Pink Floyd (de The Dark Side of The Moon - 1973) e Planet Caravan (2), do Black Sabbath.
Uma pequena peça com um ostinato famoso pode ser encontrada na música tema do filme Tubarão composta por John Williams. Foram utilizadas duas notas da seção do baixo da escala, repetidas em vários andamentos, para expressar as diferentes atividades do tubarão assassino. Esse ostinato de duas notas talvez seja a música de filme mais facilmente reconhecível da história do cinema.
Outro exemplo bastante conveniente para se entender o método é a famosa canção do ABBA, "Take a Chance on Me"(2). Nesse vídeo musical, os quatro membros do grupo são distribuídos nos quatro cantos da tela; durante a execução da canção, Benny and Björn cantam, repetidamente, "take a chance, take a chance, take a, take a chan-chance", ao mesmo tempo em que Agnetha e Frida cantam a letra da canção.
Sendo uma estrutura acessível que permite a improvisação, o ostinato foi amplamente utilizado no período barroco. Por cerca de um século e meio, começando por volta de 1770, a técnica quase foi abandonada. Ela ressuscitou repentinamente no início do século XX com o desenvolvimento do jazz.

De volta ao Bolero de Ravel, a única sensação de mudança é dada pelos efeitos de orquestração e dinâmica, com um crescendo progressivo e uma curta modulação em Mi maior próxima ao fim, mas retorna ao Dó maior original faltando apenas oito compassos do final. Alguns críticos dizem que o Bolero é o mais longo crescendo da música erudita mundial, outros o citam como um grande orgasmo musical.
Ravel considerava como um simples estudo de orquestração. Um exercício de composição privilegiando a dinâmica em que se pretendia uma redefinição e reinvenção dos movimentos de dança. O Bolero, entretanto guarda muita originalidade e, em sua versão de concerto, chegou a ser uma das obras musicais mais interpretadas a ponto de permanecer, até 1993, em primeiro lugar na classificação mundial de direitos da Sociedade dos Autores, Compositores e Editores de Música (SACEM). O próprio Ravel ficou surpreendido com a divulgação e popularidade, pois para ele a obra só teria sentido acompanhada da coreografia. Para ele não existia música nenhuma neste balé apenas a dança.

O BALÉ
Ida Rubinstein com o figurino do balé.

Ravel pretendia que o balé fosse montado em área externa, com uma fábrica ao fundo, numa alusão à Carmen de Bizet, ópera que admirava. No entanto, a montagem situou a ação num obscuro café de Barcelona, iluminado apenas por uma lâmpada. A bailarina começa a dançar sobre uma grande mesa enquanto, homens permanecem sentados jogando cartas.


Alexandre Benois
Desenho de Benois
O balé teve a sua estreia em Paris, na Ópera Garnier, em 22 de Novembro de 1928, com a regência de Walther Straram, coreografia de Bronislava Nijinska e cenários de Alexandre Benois. Ida Rubinstein representava o papel da bailarina de flamenco, numa coreografia sensual que despertou escândalo.


René Chalupt, crítico da época, escreveu:
“Movimento orquestral inspirado numa dança espanhola, caracterizado por ritmo e tempo invariáveis, uma melodia obsessiva em dó maior, repetida sem nenhuma modificação, exceto pelos efeitos orquestrais, num crescendo que termina com uma modulação em mi maior e uma coda estrondosa.”
Nota: Coda (que traduzindo do idioma italiano para o português quer dizer cauda) é a seção com que se termina uma música.
O Bolero foi a única composição de Ravel em 1928, sendo que não compunha para um balé desde La Valse em 1919.


Em 1934, o estúdio Paramount produziu um filme, protagonizado por Carole Lombard e George Raft, intitulado Bolero, em que a música desempenha importante papel. A fama da obra já não podia ser detida.



Algumas curiosidades sobre a obra:

- O saxofone sopranino na partitura original é um saxofone em Fá; todavia, hoje há somente saxofones em Mi bemol. Não se sabe se alguma vez um saxofone sopranino em Fá terá existido, ou se Ravel pretendia uma transposição. Tanto as partes de saxofone como de saxofone sopranino são tocadas no saxofone soprano em Si bemol.

- O Bolero é tocado diariamente na Praia do Jacaré em João Pessoa-PB durante o pôr-do-sol, pelo músico Jurandy do Sax. (1)

- A música faz parte da trilha sonora do anime Digimon e do jogo Xenogears.

- Em 1961, o dançarino e coreógrafo Maurice Béjart criou sua versão para o Bolero, tornando-a uma de suas obras mais importantes. Em 1980, a coreografia de Béjart foi reproduzida pelo bailarino argentino Jorge Donn no filme Retratos da Vida (Les uns et les autres), do diretor francês Claude Lelouch. (1)

- Nos jogos de inverno de 1984, a dupla Torvill & Dean do Reino Unido fizeram a sua apresentação ao som do Bolero. (1)

- No desfile cívico-militar do Dia da Independência, 07 de setembro de 2014, a tropa da Polícia Militar da Paraíba desfilou aos acordes do Bolero de Ravel, adaptado pela Banda de Música da PMPB.

- A dupla Jica e Turcão fizeram uma versão do Bolero chamada Bolero da Rosicler, sendo a base da música feita por um despertador. (1 e 2)

- Trabalho do curso de Cinema de Animação da Escola de Belas Artes da UFMG. (1)

(1) são os vídeos que estão disponíveis e (2) são as músicas, além de algumas versões do Bolero, no link abaixo:

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