Em 1940, durante a Segunda
Guerra Mundial, o organista e compositor francês Olivier Messiaen, foi feito
prisioneiro pelos alemães, na época ele servia ao exército francês.
Em 15 de
janeiro de 1941 várias centenas de prisioneiros do campo de concentração de
Görlitz na Silésia foram convidados para um concerto muito incomum em um espaço
improvisado no coração do acampamento.
Os também prisioneiros, Henri
Akoka no clarinete, Jean Le Boulaire no violino e Étienne Pasquier no
violoncelo, acompanhavam Olivier Messiaen, na apresentação.
Karl-Albert Brüll |
O oficial nazista, Karl-Albert
Brüll, responsável pelo Stalag gostava de música e era um apreciador da música de
Messiaen, ao saber que o compositor estava ali, deixou que Olivier trabalhasse
a fim de fazer um concerto.
Os instrumentos musicais eram
remendados e mal utilizáveis, o violoncelo sem corda, as chaves do velho piano
erguido.
O público de cerca de 400
pessoas ouviu atentamente, aquela experiência inteiramente nova.
O católico Messiaen propôs
que sua obra fosse uma meditação sobre o Apocalipse de João (10, 1-7). A
partitura é encabeçada com o seguinte excerto:
“Vi um anjo poderoso descer do céu envolvido
numa nuvem; por cima da sua cabeça estava um arco-íris; o seu rosto era como o
Sol e as suas pernas como colunas de fogo. Pôs o pé direito sobre o mar e o pé
esquerdo sobre a terra e, mantendo-se erguido sobre o mar e a terra levantou a
mão direita ao céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos,
dizendo: não haverá mais tempo; mas nos dias em que se ouvir o sétimo anjo,
quando ele soar a trombeta, será consumado o mistério de Deus”.
O Quarteto para o Fim dos
Tempos, sua composição mais famosa, consiste em oito movimentos, e é explicado
por Messiaen da seguinte forma:
“Sete é o número perfeito, a
criação em seis dias santificada pelo Sábado divino; o sete deste repouso
prolonga-se na eternidade e se converte no oito da luz inextinguível e da paz
inalterável”.
Os movimentos são:
1. Liturgia de cristal (Liturgie
de cristal):
“Principia com o despertar
dos pássaros entre três e quatro horas da manhã. Um melro ou um rouxinol
solista improvisa, acompanhado por um conjunto de trilos perdidos no alto das
árvores. Esta cena transposta para o plano religioso significa o silêncio
harmonioso do céu”.
2. Vocalise, para o anjo que
anuncia o fim dos tempos (Vocalise, pour l'ange qui annonce la fin du temps),
movimento em três partes:
“A primeira e a terceira
parte , muito breves, evocam o poder desse anjo. A segunda parte representa as
harmonias intangíveis do céu. No piano, doces cascatas de acordes envolvem o
canto monótono do violino e do violoncelo”.
3. Abismo dos pássaros (Abime
des oiseaux):
“O abismo é o tempo, com suas
tristezas e aborrecimentos. Os pássaros, pelo contrário, simbolizam o nosso
desejo de luz, de estrelas, de arco-íris e de demonstração de júbilo”.
4. Intermezzo (Intermede):
“Menos íntimo que os outros
movimentos, mas relacionado com eles por citações rítmicas e melódicas”.
5. Louvor à eternidade de
Jesus (Louange a l'Eternite de Jesus):
É indicado na partitura:
«infinitamente lento, extático, majestoso, meditativo, muito expressivo.
»Messiaen descreve este movimento no prefácio do Quarteto:
Jesus é aqui considerado
como a Palavra. Uma longa frase de violoncelo, infinitamente lenta, magnifica
com amor e reverência a eternidade da Palavra, poderosa e gentil, "que não
diminuirá com o passar dos anos." Majestuosamente a melodia se espalha em
uma espécie de distância terna e soberana. "No princípio era a Palavra, e a
Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus".
6. Dança da fúria para as
sete trombetas (Danse du fureur, pour les sept trompetes):
“Os quatro instrumentos,
sempre em uníssono, imitam os gongos e trombetas do Apocalipse. Em toda a obra
é a única alusão ao aspecto cataclísmico do juízo final.”
7. Turbilhão de arco-íris,
para o anjo que anuncia o fim dos tempos (Fouillis d'arc-en-ciel, pour l'Ange
qui annonce la fin du temps):
“O poderoso anjo aparece e
sobretudo o arco-íris que o cobre (arco-íris: símbolo da paz, da sabedoria e de
uma vibração luminosa e sonora”).
8. Louvor à imortalidade de
Jesus (Louange a l'Immortalite de Jesus):
“Este segundo louvor dirige-se especialmente à
segunda natureza de Jesus, a Jesus-homem, ao Verbo feito carne, ressuscitado
para nos dar a vida. É todo amor. A lenta ascensão até o extremo agudo é a
elevação do homem até o seu Deus, do Filho de Deus até o Pai, da criatura
divinizada até o Paraíso”.
Messiaen, como demonstrado
nesta obra, dedicou boa parte de sua música a Deus e suas criações divinas.
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