quarta-feira, 28 de junho de 2017

QUATUOR POUR LA FIN DU TEMPS

QUARTETO PARA O FIM DOS TEMPOS

Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o organista e compositor francês Olivier Messiaen, foi feito prisioneiro pelos alemães, na época ele servia ao exército francês. 

Em 15 de janeiro de 1941 várias centenas de prisioneiros do campo de concentração de Görlitz na Silésia foram convidados para um concerto muito incomum em um espaço improvisado no coração do acampamento.

Os também prisioneiros, Henri Akoka no clarinete, Jean Le Boulaire no violino e Étienne Pasquier no violoncelo, acompanhavam Olivier Messiaen, na apresentação.

Karl-Albert Brüll
O oficial nazista, Karl-Albert Brüll, responsável pelo Stalag gostava de música e era um apreciador da música de Messiaen, ao saber que o compositor estava ali, deixou que Olivier trabalhasse a fim de fazer um concerto.

Os instrumentos musicais eram remendados e mal utilizáveis, o violoncelo sem corda, as chaves do velho piano erguido.

O público de cerca de 400 pessoas ouviu atentamente, aquela experiência inteiramente nova.


O católico Messiaen propôs que sua obra fosse uma meditação sobre o Apocalipse de João (10, 1-7). A partitura é encabeçada com o seguinte excerto:

 “Vi um anjo poderoso descer do céu envolvido numa nuvem; por cima da sua cabeça estava um arco-íris; o seu rosto era como o Sol e as suas pernas como colunas de fogo. Pôs o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra e, mantendo-se erguido sobre o mar e a terra levantou a mão direita ao céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: não haverá mais tempo; mas nos dias em que se ouvir o sétimo anjo, quando ele soar a trombeta, será consumado o mistério de Deus”.

O Quarteto para o Fim dos Tempos, sua composição mais famosa, consiste em oito movimentos, e é explicado por Messiaen da seguinte forma:

“Sete é o número perfeito, a criação em seis dias santificada pelo Sábado divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e se converte no oito da luz inextinguível e da paz inalterável”.

Os movimentos são:

1. Liturgia de cristal (Liturgie de cristal):

“Principia com o despertar dos pássaros entre três e quatro horas da manhã. Um melro ou um rouxinol solista improvisa, acompanhado por um conjunto de trilos perdidos no alto das árvores. Esta cena transposta para o plano religioso significa o silêncio harmonioso do céu”.

2. Vocalise, para o anjo que anuncia o fim dos tempos (Vocalise, pour l'ange qui annonce la fin du temps), movimento em três partes:

“A primeira e a terceira parte , muito breves, evocam o poder desse anjo. A segunda parte representa as harmonias intangíveis do céu. No piano, doces cascatas de acordes envolvem o canto monótono do violino e do violoncelo”.

3. Abismo dos pássaros (Abime des oiseaux):

“O abismo é o tempo, com suas tristezas e aborrecimentos. Os pássaros, pelo contrário, simbolizam o nosso desejo de luz, de estrelas, de arco-íris e de demonstração de júbilo”.

4. Intermezzo (Intermede):

“Menos íntimo que os outros movimentos, mas relacionado com eles por citações rítmicas e melódicas”.

5. Louvor à eternidade de Jesus (Louange a l'Eternite de Jesus):

É indicado na partitura: «infinitamente lento, extático, majestoso, meditativo, muito expressivo. »Messiaen descreve este movimento no prefácio do Quarteto:

Jesus é aqui considerado como a Palavra. Uma longa frase de violoncelo, infinitamente lenta, magnifica com amor e reverência a eternidade da Palavra, poderosa e gentil, "que não diminuirá com o passar dos anos." Majestuosamente a melodia se espalha em uma espécie de distância terna e soberana. "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus".

6. Dança da fúria para as sete trombetas (Danse du fureur, pour les sept trompetes):

“Os quatro instrumentos, sempre em uníssono, imitam os gongos e trombetas do Apocalipse. Em toda a obra é a única alusão ao aspecto cataclísmico do juízo final.”

7. Turbilhão de arco-íris, para o anjo que anuncia o fim dos tempos (Fouillis d'arc-en-ciel, pour l'Ange qui annonce la fin du temps):

“O poderoso anjo aparece e sobretudo o arco-íris que o cobre (arco-íris: símbolo da paz, da sabedoria e de uma vibração luminosa e sonora”).

8. Louvor à imortalidade de Jesus (Louange a l'Immortalite de Jesus):

“Este segundo louvor dirige-se especialmente à segunda natureza de Jesus, a Jesus-homem, ao Verbo feito carne, ressuscitado para nos dar a vida. É todo amor. A lenta ascensão até o extremo agudo é a elevação do homem até o seu Deus, do Filho de Deus até o Pai, da criatura divinizada até o Paraíso”.

Messiaen, como demonstrado nesta obra, dedicou boa parte de sua música a Deus e suas criações divinas.

Uma peça difícil, mas vale a pena ouvir

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