Sigismund Neukomm foi o filho
mais velho do casal David Neukomm e Kordula, nascido em Salzburgo no dia 10 de
Julho de 1778, numa casa vizinha àquela em que nasceu Wolfgang Amadeus Mozart,
22 anos antes.
Considerado um dos grandes
músicos do seu tempo, organista afamado e com uma carreira internacional
enquanto compositor, regente, teórico e crítico, é quase um desconhecido na
atualidade, considerado como um compositor de transição entre o período
Clássico e o Romântico.
O pequeno Sigismund aprendeu
a ler aos quatro anos e escrever fluentemente aos cinco anos de idade, seu pai
que era professor cuidou de sua educação infantil.
Aos sete anos de idade
iniciou seus estudos musicais com o organista Franz Xaver Weissauer. Logo
dominava também instrumentos de cordas e de sopro.
Johann Michael Haydn |
Posteriormente teve como
instrutor Johann Michael Haydn, mestre de capela e organista da Catedral de
Salzburgo, que lhe confiou parte de suas funções de organista naquela igreja.
Ao mesmo tempo cursava
filosofia e matemática na Universidade de Salzburgo.
Aos 16 anos, foi nomeado
organista da Igreja daquela universidade e ele passou a ganhar seu próprio
dinheiro.
Joseph Haydn |
Beethoven |
Aos 19 anos de idade, em março
de 1797, partiu para Viena e por recomendação de Michael, foi um dos foi
primeiros alunos de Joseph Haydn.
Joseph apreciava as habilidades
musicais de seu pupilo, que logo tornou seu colaborador mais próximo, confiando
a ele os arranjos para piano de seus dois oratórios "A Criação" e
"As Estações".
O ilustre professor costumava
dizer que Beethoven fora seu melhor aluno, mas Neukomm o preferido.
Nos sete anos em Viena, entre
1797 e 1804, Neukomm lecionou piano e canto. Seus alunos mais famosos eram Anna
Milder-Hauptmann e Franz Xaver Wolfgang Mozart, filho de Mozart.
Anna Milder - Franz Xaver |
A partir de 1804 inicia o Catálogo
Temático, em Viena, e apresenta os primeiros compassos de cada obra, bem como o
local e a data de finalização das composições.
Maria Feodorovna |
No início do século XIX, ele
mudou-se primeiro para a Suécia e depois para Rússia, levando consigo uma carta
de Joseph Haydn a czarina Maria Feodorovna, uma ex-aluna de seu mestre.
Em São
Petersburgo, obteve o cargo de diretor do teatro alemão, permanecendo na função
até 1809. Nesse período, viaja muito, esteve
em Estocolmo e Paris.
Na França encontra Cherubini, Gossec, Grétry, Monsigny,
entre outros.
Cherubini - Gossec - Grétry - Monsigny |
Em 1809, deixa a Rússia e
segue para Berlim, então ocupada pelos franceses, e retornou a Viena, visitando
o velho mestre Joseph Haydn, então com 77 anos de idade.
Dussek |
Nesta ocasião, dele
teria recebido a incumbência de terminar algumas de suas obras inéditas.
No ano seguinte fixa
residência em Paris, onde sucede Jan Dussek como pianista residente da casa do
Príncipe Charles Maurice de Talleyrand, ministro dos negócios estrangeiros da monarquia
francesa restaurada.
Luís XVIII |
Foi escolhido para reger, na
igreja de Notre-Dame, em presença de toda a família real, compondo e executando
Te Deum que marcou a entrada de Luís XVIII em Paris.
Luis XVI e Maria Antonieta |
No Congresso de Viena em
1815, onde se reuniam a nobreza de todos os países para fixar a nova geografia
da Europa, recebeu a incumbência de elaborar o programa musical.
Salieri |
Executou na
Igreja de Santo Estêvão, seu Requiem em Dó Menor, composto para celebrar a
memória de Luís XVI e de Maria Antonieta, com 300 cantores, divididos em dois
coros e regidos por Salieri.
Por esta obra recebeu do rei
a insígnia de Cavaleiro da Legião de Honra Francesa, passando a assinar como
Sigismund Ritter von Neukomm.
Com a vinda da corte
portuguesa ao Brasil no início do século XIX, quando Dom João VI, ao ver sua
coroa ameaçada pela invasão napoleônica, decide partir para o Rio de Janeiro em
1808.
D. João e D. Carlota |
Anos mais tarde a Monarquia Restaurada Francesa de Luís XVIII, com a
intenção de reestabelecer as relações diplomáticas após o fim das guerras
napoleônicas entre as duas monarquias, envia o Duque de Luxemburgo para o Rio
de Janeiro como embaixador extraordinário, que felicitaria Dom João por sua
ascensão ao trono, vago desde a morte de D. Maria I.
A comitiva, integrada ainda
por Auguste de Saint-Hilaire, deixa Brest no dia 2 de abril de 1816 na fragata “L
´Hermione”, aportando no Rio de Janeiro no dia 30 de maio, é nessa comitiva que
parte Neukomm.
Uma carta de recomendação do Príncipe de Talleyrand, endereçada
ao Conde de La Barca, garante ao compositor uma estadia agradável em solo
brasileiro sob a proteção desse último, deveria permanecer por poucos meses,
gostou da cidade e aceitou o convite do ministro do reino para exercer
atividades musicais na corte.
A 16 de setembro de 1816, um
decreto real nomeou-o professor público de música no Rio de Janeiro e
encarregado de prestar serviços como compositor e executante.
Dom Pedro - D. Leopoldina - D. Isabel Maria |
Uma das novas funções de
Neukomm foi ensinar música aos infantes reais, como o Príncipe Dom Pedro e sua
esposa Dona Leopoldina, da princesa D. Isabel Maria de Bragança e outros
infantes.
Francisco Manuel da Silva |
Teve ainda dentre os seus
alunos, Francisco Manuel da Silva, autor do atual Hino Nacional Brasileiro, que
se tornaria o maior responsável pela atividade musical no período da Regência.
O Hino Brasileiro faz menção a dois pequenos trechos da sua Fantasia para
Flauta Solo, talvez uma homenagem de Francisco Manuel ao seu mestre.
Foi o responsável pela
divulgação da música de Mozart e Haydn junto da corte portuguesa, popularizando
a obra destes mestres.
Aclamação de Dom João VI |
No Rio de Janeiro Neukomm
escreveu várias peças. A principal delas foi a Missa Solemnis pro Die
Acclamationis Joannis VI, composta em 1817, para aclamação no Rio de Janeiro de
Dom João como Rei de Portugal, Brasil e Algarves, em 06 de Fevereiro de 1818, uma cerimônia preparada
durante dois anos e cujas festividades se prolongaram por muitos dias.
Outra obra sacra de destaque
escrita enquanto estava na corte foi a Missa Sancti Francisci, de 1820,
composta por encomenda de D. Leopoldina e oferecida a seu pai, o Imperador Francisco
I da Áustria, que foi enviada para o chefe do Império Austríaco juntamente com
a seguinte carta:
"Querido Papai:
Francisco I |
Mando-vos nesta ocasião uma missa cantada de Neukomm
que, como súdito austríaco e discípulo de Haydn, merecerá sem dúvida as vossas
boas graças, e, além disto, contém duas fugas que, todos sabemos, vós muito
gostais. O meu marido é compositor, também, e faz-vos presente de uma Sinfonia
e Te-Deum, compostos por ele; na verdade são um tanto teatrais, o que é por
culpa do seu professor, mas o que vos posso assegurar é que ele próprio os
compôs sem auxílio de ninguém.
Beijo-vos muitas vezes as mãos e sou com o mais
profundo respeito e amor filial, caro Papai, vossa filha obediente,
Leopoldina
São Cristóvão, 19 de fevereiro, 1821. "
Foi um dos primeiros
compositores no Brasil a se dedicar ao repertório de câmara, como o Noturno
para oboé trompa e piano, escrito em 03 de julho de 1817 para o entretenimento
da família real no Paço da Quinta da Boa Vista.
Joaquim Manoel da Câmara |
Para os saraus da
aristocracia compôs L'amoureux, uma fantasia para pianoforte e flauta, escrita
em 12 de abril de 1819 e dedicada a seus amigos, o casal von Langsdorff.
Ainda em 1819, compõe O Amor
Brazileiro, peça para piano inspirada num lundu de Joaquim Manoel da Câmara, assim como L' amourex, músico
sem instrução afamado por tocar “uma pequena viola francesa de sua invenção,
chamada cavaquinho”, autor do qual transcreveu diversas peças para o piano.
Pe. José Maurício |
Também escrevia artigos para
o periódico vienense “Allgemeine Musikalische Zeitung” onde comentava episódios
da corte brasileira e citava figuras importantes da música local, em especial do
Padre José Maurício Nunes Garcia, de quem foi grande incentivador e divulgador
de seu talento, de quem dizia ser o maior improvisador do mundo.
Escreveu ainda a Sinfonia
para Grande Orquestra em mi bemol maior, de 1820, primeira obra do gênero escrita
no Brasil.
Permaneceu no Brasil de 1816 até
1821, durante esse período compôs entre 90 e 100 obras sobre motivos populares.
Príncipe de Talleyrand |
Em 1821, O Requiem de Mozart
foi reapresentado no Rio de Janeiro e, Neukomm decidiu completá-lo, acrescentando,
ao final do Requiem, o Responsório “Libera me, Domine”, que não havia sido
planejado por Mozart, mas que era previsto na liturgia romana. A encomenda
feita ao compositor austríaco seria destinada ao aniversário de falecimento da
esposa do Conde Franz Von Walsegg, e para esse tipo de ocasião, um Requiem não
inclui este responsório que é cantado somente nas missas de corpo presente.
Recebeu de D. João VI de
Portugal as insígnias da Ordem de Cristo e, pouco mais tarde, já em Paris, as
da Ordem da Conceição.
Ele retornou a Paris em 1821. Foi reintegrado ao posto de
músico do Príncipe de Talleyrand.
Beethoven - Bach - Haydn - Haendel |
Ocupou seu tempo na
transcrição para órgão e fortepiano das obras de Beethoven, Bach, Haydn e
Haendel, publicadas por famosas casas editoriais da época, como Schott e
Breitkopft & Härtel, de Leipzig, Richault e outras.
Largamente conhecido em sua
época, viajou incessantemente até seus últimos anos de vida, esteve na Itália em
1826, na Bélgica e na Holanda em 1827, na Inglaterra em 1829, na Alemanha em 1832,
na costa norte africana em 1834, na Áustria em 1838 e na Suíça em 1840, mantendo
amizade com importantes personalidades do período, tais como Walter Scott,
Mendelssohn, Cherubini e Chopin.
Walter Scott - Mendelssohn - Cherubini e Chopin |
Em 1837, compôs um Te Deum para
a inauguração do monumento a Gutenberg, em Mogúncia.
Retornou a sua cidade natal,
Salzburgo, como convidado especial em 1842, para a inauguração da estátua de
Wolfgang Amadeus Mozart, onde proferiu o discurso comemorativo.
Recebeu diversas
condecorações pelos serviços prestados, tais como as já citadas Cavaleiro da
Legião de Honra da França e as Ordens de Cristo e da Conceição, a da Águia
Vermelha da Prússia, as medalhas do rei Louis-Philippe e de ouro da coroação do
rei da Prússia, além do título de Doutor em Música pela Universidade de Dublin.
Faleceu em Paris, no dia 03
de Abril de 1.858.
O seu Catálogo Temático
encontra-se depositado na Biblioteca Nacional da França, juntamente com a quase
totalidade das obras de Neukomm, e é uma cópia feita pelo irmão do compositor, pois
o original foi perdido. Em testamento determinou que após sua morte seu
catálogo fosse impresso e exemplares enviados para os seus amigos na Europa, e para
as sociedades científicas e artísticas que lhe agraciaram com títulos, também para
bibliotecas públicas dos países por onde tivesse viajado. Um orçamento relativo
foi solicitado à editora Breitkopf & Härtel, mas não foi efetivado por
razões ignoradas.
Sua irmã Elisabeth Neukomm
(1789-1816) foi uma soprano famosa em Viena.
Em 1945, é nomeado o Patrono
da Cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Música, no Rio de Janeiro.
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