Lançado
há quarenta e cinco anos, exatamente no dia 24 de Março de 1973, no Reino
Unido, um disco histórico, The Dark Side Of The Moon, o oitavo disco do Pink
Floyd, que correspondeu a uma pequena e importante mudança no som da banda,
caracterizada pela diminuição na duração das canções com letras mais pessoais e
instrumentais menores. O álbum, inicialmente, seria chamado de Eclipse.
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Os integrantes originais: Syd. Nick, Roger e Rick |
O
grupo Pink Floyd foi fundado em 1965, pelos estudantes Syd Barrett (guitarrista
e vocalista), Nick Mason (baterista), Roger Waters (baixista e vocalista) e
Richard Wright (tecladista e vocalista), tornaram-se populares tocando no
cenário alternativo londrino. Sob a liderança de Barrett, lançaram dois singles
de sucesso e um bem-sucedido álbum de estreia, The Piper at the Gates of Dawn,
de 1967.
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The Piper at the Gates of Dawn |
David Gilmour foi integrado como o quinto membro em dezembro de 1967,
enquanto Barrett saiu, em abril de 1968, por uma deterioração mental causada
por psicotrópicos e drogas pesadas.
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Gilmour |
A partir deste período, a banda se reinventou,
Waters passou a ser o principal letrista e responsável pelos conceitos de
álbuns como The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975),
Animals (1977) e The Wall (1979).
Entre
1972 e 1973, Pink Floyd não era um nome importante no mundo da música, não detinha
grandes sucessos de vendagem.
Ainda abalado pela saída de Syd Barrett, que
durante os primeiros anos foi o líder e principal compositor da banda, nesse
período conturbado nasceu um disco amargo, que falava da vida nas suas mais
míseras partes.
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Meddle |
O
grupo se reunião, entre junho de 1972 a janeiro de 1973, no estúdio Abbey Road,
em Londres, para gravarem o álbum. Syd Barrett foi o personagem que inspirou
Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright para a temática do
disco, principalmente na referência à loucura.
O
conceito básico do disco foi desenvolvido quando a banda estava ensaiando no
Broadhurst Gardens Studios em Londres para a turnê do álbum Meddle.
A banda
sairia numa turnê pelo Reino Unido, Estados Unidos e Japão. Não era o objetivo
naquele momento criar material novo, entretanto as ideias foram aparecendo. Roger
Waters propôs que o novo material fosse apresentado já naquela nova turnê,
contando que sua principal ideia era criar canções que focassem em coisas que
"cansam as pessoas", assim como na pressão que os integrantes sofriam
por seu estilo de vida e os problemas envolvendo Syd Barrett, todos concordaram.
O
grupo trabalhou junto na criação do material novo, Roger gravou as primeiras
fitas demo em um pequeno estúdio próprio em sua casa em Londres.
O ensaio do
novo material foi em segredo num pequeno armazém que pertencia aos Rolling
Stones, posteriormente migraram para o Rainbow Theater.
Os músicos compraram
novos equipamentos, incluindo amplificadores, uma mesa de mixagem e um conjunto
inteiro de iluminação de palco.
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álbum do Medicine Head |
Então
veio a ideia de realizar um concerto com suas novas canções, antes mesmo de
gravá-las, ali mesmo e providenciaram mais de nove toneladas em equipamentos, e
o novo projeto foi intitulado como The Dark Side of the Moon.
Entretanto a banda
Medicine Head já tinha lançado um disco com aquele título, mudaram então para
Eclipse, pouco tempo descobriram que o álbum havia sido um fracasso comercial e
então voltaram ao nome inicial.
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Gravação Pirata dos Shows |
O
concerto Dark Side of the Moon: A Piece for Assorted Lunatics foi realizado
pela primeira vez no Rainbow em 17 de fevereiro de 1972 com uma plateia formada
apenas por jornalistas e críticos, e recebeu avaliações muito boas de quase
todos os presentes.
As novas canções foram apresentadas quase que na mesma
ordem em que foram lançadas no disco, mas o som apresentava algumas diferenças em
relação ao que mais tarde foi lançado, principalmente devido à falta de
sintetizadores e aos momentos em que liam alguns trechos da Bíblia no começo de
algumas canções.
A banda seguiu fazendo pausas estratégicas na turnê para
realizar as gravações em estúdio, realizando o último concerto novamente naquele
teatro em 4 de novembro de 1973.
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Alan Parsons ao centro |
No
estúdio a banda trabalhou ao lado do engenheiro de som Alan Parsons, com quem
já haviam trabalhado no disco Atom Heart Mother e que já era famoso por ter
trabalhado no Álbum Abbey Road dos Beatles. Para as sessões, foram usadas as
técnicas mais avançadas disponíveis na época.
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Interior do Estúdio Abbey Road onde o disco foi gravado |
A
capa do disco, que juntamente com a Abbey Road dos Beatles é das mais famosas
imagens do rock.
A arte de um disco muitas vezes pode até ser isenta de
significado, no entanto, não é o caso desse álbum, nela cada detalhe foi
milimetricamente calculado para que o resultado trouxesse inúmeros significados
às ideias da banda para o álbum, um feixe de luz transpassando um prisma e se
decompondo em um espectro de cores.
Uma metáfora, não só para as dúvidas que a
humanidade possui, mas para a própria humanidade. A astronomia diz que a lua
tem um lado oculto que ninguém foi capaz de ver.
O título relaciona esse “lado
oculto da lua” como o lado que todo ser humano possui e tenta esconder, nosso
lado repleto de falhas, mas o mais humano. De todos os detalhes envolvidos na
capa, apenas um não possui base em estudos muito profundos.
A luz branca se
divide em seis raios coloridos, ao invés das sete cores tradicionais do
arco-íris. Teria isso algum significado em especial? “Não. Na verdade, o azul
escuro não ficou esteticamente bonito junto das outras cores e então resolvemos
tirá-lo fora, porque a arte deve estar acima da ciência“.
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Storm Thorgerson entre David Gilmour e Roger Waters |
Além das inúmeras interpretações,
uma mais simples é citada por Storm Thorgerson, o designer responsável pela
arte:
“como
aquele simples som – representado pelo feixe – poderia significar uma
complexidade de coisas que a banda queria tratar.”
As
faixas se apresentam na seguinte ordem, no vinil quase não se percebe a mudança
das faixas:
Speak to me, foi composta por Mason, – com uma introdução com sons
de máquinas de escrever, risadas e barulhos aleatórios introduzem o ouvinte no
clima de loucura do disco.
Breathe,
de autoria coletiva da banda, elimina toda aquela balbúrdia e tudo muda para a
melancolia da faixa, um poema sobre a miséria humana, cantado por David Gilmour.
On
the Run retoma o som alucinado, representando a loucura causada pelas drogas,
em forma de efeitos eletrônicos, o instrumental foi composto por Gilmour e
Waters.
Time,
outra composição coletiva, é um dos maiores destaques do Pink Floyd, o clima
tenso de sua introdução acumula até certo ponto e desaba em letra e melodia bem
fortes, cantadas por Gilmour e Wright. A poesia da letra retrata o envelhecimento
em versos como And you run and run/ To catch up with the sun/ But it’s sinking
(E você corre e corre/ Pra alcançar o sol/ Mas ele está se pondo) e o medo da
morte nos versos But you are older/ And shorter of breath/ And one day closer
to death (Mas você está mais velho/ E com menos fôlego/ E a cada dia mais
próximo da morte).
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Clare Torry |
The
Great Gig In The Sky, de Rick Wright, é uma metáfora para o desespero que tudo
o foi apresentado até aqui no disco, a voz de Clare Torry demonstra momentos de
desespero e de relaxamento.
Money,
composição de Roger Waters, tem um clima animado pra falar do dinheiro e de
todo seu poder, retratados na voz de David Gilmour, com a participação do
saxofonista, Dick Parry.
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Dick Parry. |
Us
And Them traz a solidão num brilhante arranjo, uma das melhores canções que a
banda já fez, de autoria de Waters e Wright e interpretadas por Wright e
Gilmour.
Any
Colour You Like, parceria de Gilmour, Mason e Wright, é outra faixa
instrumental que representa os estados alterados da mente através da guitarra
psicodélica de David Gilmour.
Brain
Damage, de Roger Waters e também vocalista, se caracteriza pelo tom apropriado
pra falar de Syd Barret, as drogas e a loucura são o tema central aqui. Roger
Waters parece escrever diretamente para seu amigo: “I will see you on the dark
side of the moon”.
Eclipse
é escrita com a métrica de uma poesia. Trata de um resumo das ideias colocadas
no disco, simplifica o ser humano com atos e metáforas em um arranjo que parece
de fim de espetáculo, também escrita e cantada pro Waters.
O
álbum começa e termina com o mesmo som, o pulsar de um coração.
Aconselha-se
a ouvir o álbum na sequencia e viajar na loucura apresentada.
Em
quase todas as faixas podem ser ouvidas conversas e frases ao fundo, são vozes
de pessoas selecionadas pela equipe de gravação, feitas em forma descontraída.
Algumas vozes incluem risadas um tanto assustadoras, além de frases aleatórias.
Speak
To Me
I’ve
been mad for fucking years, absolutely years, been over the edge of yonks, been
working me buns off for bands… (Eu
tenho estado louco por malditos anos, um longo tempo, tenho estado no limite,
tenho trabalhado muito por bandas…)
I’ve
always been mad, I know I’ve been mad, like the most of us… very hard to
explain why you’re mad, even if you are not mad… (Eu
sei que fui louco, eu sempre fui louco, como a maioria de nós… muito difícil de
explicar porque você está com raiva, mesmo se você não é louco…)
On
The Run
Live
for today, gone tomorrow, that’s me! (Vive
pra hoje, se vai amanhã, esse sou eu!)
Great
Gig In The Sky
I
never said I was frightened of dying. (Eu
nunca disse que estava com medo de morrer.)
Us
And Them
I
haven’t had a good thump in years, absolutely years. (Eu
não tive um bom baque em anos, absolutamente em anos.)
I
don’t know! I was really drunk at the time. (Eu
não sei! Eu estava muito bêbado na hora.)
Brain
Damage
I
can’t think of anything to say except… ahahahahahaha! I think it’s marvellous! (Eu
não consigo pensar em nada, exceto… ahahahahahaha! Eu acho maravilhoso!)
Eclipse
There
is no dark side of the moon, really… as a matter of fact it’s all dark.
(Não
há lado escuro da lua, na verdade… ela é toda escura.) – última frase do disco quase inaudível.
The
Dark Side of The Moon vendeu mais de quinze milhões de cópias, considerado o
terceiro álbum mais vendido do mundo.
Há
uma lenda que o disco teria um sincronismo com o filme o Mágico de Oz. Tocando
o disco após o terceiro rugido do leão da MGM, a sincronia entre filme e álbum
será incrivelmente quase perfeita. A sincronia vai desde as melodias – que se
encaixam muito bem nas cenas, parecendo trilha sonora – até frases que combinam
com o que está acontecendo no filme. Eis alguns trechos. Num especial para a MTV em 2002, os membros
da banda afirmam que não poderiam planejar isto, mesmo por que não era possível
reproduzir o filme no estúdio.
Embarquem nessa viagem