quinta-feira, 5 de julho de 2018

BRAZILIAN OCTOPUS

Único disco do Brazilian Octopus
A multinacional Rhodia, indústria pioneira na fabricação de fibras sintéticas para vestuário, através de seus executivos decidiu formar um supergrupo musical que se responsabilizasse pela sonorização dos desfiles que a empresa promoveria, com exibição televisiva em horário nobre. 

Livio Rangan
Livio Rangan,
 nascido em Trieste, que chegou ao Brasil em 1953, era jornalista de profissão, começou na publicidade ao pedir o patrocínio da Rhodia para um espetáculo de balé, e foi contratado para dirigir o departamento de marketing da companhia, foi o responsável por recrutar os músicos para o evento, os escolhidos eram de orientações tão diversas, como o bruxo dos mil instrumentos Hermeto Pascoal (flauta), o pós-tropicalista Lanny Gordin (guitarra), o bossanovista Cido Bianchi (piano), Olmir ”Alemão” Stocker (violão e guitarra), Nilson da Matta (contrabaixista de jazz), contando ainda Douglas de Oliveira (bateria), João Carlos Pegoraro (vibrafone) e, Carlos Alberto de Alcântara Pereira (sax e flauta).

A missão do grupo O Brazilian Octopus era executar ao vivo a trilha sonora do Momento 68, o mais ambicioso dos espetáculos institucionais da Rhodia produzidos até então no país, que pretendia associar a Rhodia com o futuro que já havia chegado. Com direção musical do maestro Rogério Duprat e direção cênica de Ademar Guerra, esse show-desfile tinha os atores Raul Cortês e Walmor Chagas encabeçando o elenco, ao lado dos cantores Gilberto Gil, Caetano Veloso, Eliana Pitman e do bailarino Lennie Dale. Os textos eram assinados por Millôr Fernandes. "Eu me fantasiei de leão várias vezes naqueles desfiles da Rhodia. O grupo todo se vestia de bicho e tocava dentro de uma jaula", lembra Hermeto.


“A única vez que a Rhodia tem algum tipo de dificuldade com relação à ditadura foi no desfile Momento 68, no qual vários elementos que compuseram a temática do desfile eram inspirados nos movimentos da cultura jovem internacional, em pleno momento de engajamento e questionamento dos valores tradicionais. Dessa maneira, o governo os considerava como ‘subversivos’. O desfile não chegou a ser censurado propriamente, mas foi vigiado com mais atenção.” (Gal Costa)

Esse encontro inusitado aconteceu mesmo, mais exatamente em 1968. O grupo só existiu durante um ano e deixou apenas um álbum como registro de sua passagem pelo cenário musical - intitulado Brazilian Octopus, e marca um capítulo pouco conhecido da história da nossa música instrumental.

"Sem dúvida, o grupo mais estranho surgido na música brasileira", comenta Marcelo Dolabela, em seu dicionário ABZ do Rock Brasileiro (ed. Estrela do Sul, 1987).

Com músicos tão versáteis, não foi tarefa difícil. A gravação do álbum aconteceu a partir dos encontros e ensaios dos oito integrantes. O LP foi lançado pela Fermata em 1969, trazendo 12 temas instrumentais, com vários destaques.

Integrantes mais conhecidos:
Alexander Gordin, mais conhecido como Lanny Gordin, nascido em Xangai na China em 28 de Novembro de 1951, de pai russo e mãe polonesa, viveu em Israel até os seis anos, quando se mudou para o Brasil. Os primeiros trabalhos de Lanny Gordin foram com artistas da Jovem Guarda. Foi um guitarrista onipresente na Tropicália, ele participou de todos os álbuns lançados no país naquele fim de década, por Caetano, Gil, Gal e Bethânia, além de outros vários artistas iniciantes.

Hermeto Pascoal, o futuro bruxo dos instrumentos e das sonoridades estranhas, era ainda iniciante.

O álbum marca a estreia de Hermeto em disco, apesar de já colaborar com outras formações instrumentais até então.

Aparecido Bianchi ou Cido Bianchi, que juntamente com o contrabaixista Sabá e o baterista Toninho, formou o Jongo trio, grupo que acompanhou Baden Powell e acabou sendo convidado para tocar com Elis Regina e Jair Rodrigues no show "Dois na Bossa", que virou LP de muito sucesso. Faleceu em São Paulo no 01 de Março de 2015 aos 79 anos, foi o primeiro nome contatado por Lívio para a arregimentação dos outros músicos e para a própria concepção do projeto, além do Jongo Trio, participou também do Milton Banana Trio.

Olmir Stocker, nascido em Taquari no Rio Grande do Sul no dia 17 de junho de 1936, mais conhecido como Alemão, trabalhou na rádio gaúcha e acompanhou na guitarra diversos artistas na tevê, com especial destaque para Elis Regina. 

Em São Paulo, começou a trabalhar com Roberto Carlos e Wanderléia. Foi o autor de O Caderninho, hit da geração jovem guarda.

Nilson Carlos Ruiz Matta, ou apenas Nilson Matta, nascido em São Paulo no dia 1 de março de 1949 é um baixista e compositor brasileiro que reside nos Estados Unidos, mais especificamente em Nova Iorque desde 1985. 

Ele também é conhecido por seu trabalho com Trio da Paz, Don Pullen African Brazilian Connection, Joe Henderson, Yo-Yo Ma e Nilson Matta's Brazilian Voyage.


As músicas:
Gamboa - Cyro Pereira, Mário Albanese
Rhodosando - Hermeto Pascoal
Canção Latina - Olmir Stocker "Alemão" – posteriormente recebeu letra de Vitor Martins
Pavane - Gabriel Fauré – Adaptação do Brazilian Octopus
As Borboletas (Les Papillons) - André Popp e Pierre Cour
Momento B/8 - Brazilian Octopus, Rogério Duprat
Summer Hill - Carlos Lyra e Vinícius de Moraes
Gosto De Ser Como Sou - Cyro Pereira, Mário Albanese
Chayê - Hermeto Pascoal
Canção De Fim De Tarde - Tereza Souza, Walter Santos
O Pássaro (The Bird) – Lanny Gordin
Casa Forte - Edu Lobo

Produzido por Mario Albanese e Fausto Canova, com duração total de 29 minutos e 28 segundos, as canções de Brazilian Octopus, o disco, passeiam por estilos derivados do Easy Listening, que foram revalorizados a partir dos anos 1990. 

A sonoridade transita por vários ritmos brasileiros, sendo experimental e psicodélica, transmitindo diversas sensações.

São 12 faixas que compõem um dos 100 discos psicodélicos mais emblemáticos da história, de acordo com a conceituada revista inglesa “Mojo”.

"Naquela época, não pensávamos em grana, só queríamos tocar. Foi uma experiência maravilhosa", recorda Cido Bianchi, hoje também maestro e arranjador.

A gravação de Pássaro de Lanny Gordin acabou provocando um bate-boca no estúdio entre Hermeto e os técnicos de som. "Como essa música tinha uma linha melódica repetitiva, ele escreveu um contracanto tocado por duas flautas, para variar um pouco. Só que, na hora da mixagem, o contracanto tinha sumido da gravação. O Hermeto ficou tão bravo que queria pegar o técnico", diverte-se o saxofonista Carlos Alberto.

Hermeto não aparece na capa do disco porque não pôde comparecer à sessão de fotos. Um funcionário da agência de propaganda Standard, que gerenciava a conta da Rhodia, foi fotografado ao piano. Assim como um velhinho, um cachorro e uma criança, que não tinham nada a ver com a gravação, mas aparecem na capa. A sessão de fotos foi realizada num terreno descampado, cuja aridez lembrava a superfície da Lua - referência à então badalada corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética.

"Nunca recebemos um tostão por esse disco. Parece que ele foi lançado na Europa, onde fez até um certo sucesso", diz Carlos Alberto, lembrando que os integrantes do Brazilian Octopus chegaram a procurar a diretoria da Fermata, para tirar satisfações sobre a vendagem do álbum. Em vez de cheques, receberam apenas elogios e um convite para gravar outro disco. Como imaginaram que não receberiam nada novamente, recusaram. Terminou ali o inusitado octeto.

Hermeto Pascoal não se surpreende, nem mesmo se incomoda, ao saber que cópias domésticas do único álbum do Brazilian Octopus vêm circulando no formato CD, em São Paulo. "Se a gravadora não se interessa em fazer o CD, essas pessoas têm que copiar mesmo. É o único jeito que o público tem de ouvir a nossa música", referenda um dos pais dessa raridade da MPB instrumental dos anos 60.

Fontes:
Texto escrito por Carlos Calado, e publicado no site Cliquemusic em 24/11/2000.
wikipedia
jc.ne10.uol.com.br
monkeybuzz.com.br


BRAZILIAN OCTOPUS - merece ser ouvido!

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