quinta-feira, 6 de setembro de 2018

ALFREDO DA ROCHA VIANNA FILHO



Nascido em 23 de Abril de 1897 no bairro carioca da Piedade numa casa espaçosa e apelidada de Pensão do Vianna, pois além dos pais e dos oito irmãos, grande era o número de agregados que ali viviam. Alfredo da Rocha Vianna seu pai era flautista amador e funcionário dos telégrafos, sua mãe Raimunda era dona de casa, nos finais de semana recebiam músicos amadores da vizinhança que frequentavam a casa para tocar.
Irineu "Batina"
Os costumes da época impediam que o pequeno Alfredo participasse destes saraus, mas de seu quarto ouvia os recitais e na manhã seguinte conseguia reproduzir as músicas numa simples flauta de folha.
Seu pai o encaminhou para aulas de bandolim e cavaquinho, aos 12 anos de idade, apesar do garoto não gostar daqueles instrumentos, ele era apaixonado pela clarineta de sons agudos. Foi insistindo até que passou finalmente a tocar flauta. Seu Alfredo percebendo o talento do menino comprou-lhe uma flauta de verdade e convenceu Irineu de Almeida, conhecido como Irineu Batina, um dos tantos agregados da pensão, a ensinar e orientar o menino, levando-o mais tarde a tocar na orquestra da Agremiação do Rancho Filhos da Jardineira na qual era diretor de harmonia, tal agremiação era algo como as atuais escolas de samba.
Estamos falando de PIXINGUINHA, apelido de infância que na verdade era a junção de dois outros apelidos do pequeno Alfredo: Sua avó, Dona Edwirges – o chamava de Pizindim - que em banto quer dizer - menino bom; enquanto os seus amigos na época da infância o apelidaram de Bexiguinha – numa referência às marcas no rosto deixadas por varíola – doença que tinha sido acometido.
Seu ouvido apurado e talento musical não demoraram a ser notados. Com apenas 14 anos de idade foi contratado para o Conjunto da Concha, na casa de chope da Lara, Rio de Janeiro. 
Conjunto da Concha:
Bonfiglio de Oliveira - Padua - Otaviano - Pixinguinha
O sucesso foi imediato. Foi contratado para tocar no Ponto, no ABC e no Cassino. As apresentações adentravam a madrugada, mas entusiasmado não com o dinheiro e sim por fazer o que gostava, o cansaço não incomodava.
Foi convidado para tocar na orquestra do maestro Paulo Sacramento, no Teatro Rio Branco. Dali ao passou a ser visto por pessoas da alta sociedade que o contratavam para tocar em festas, teatros, clubes e até circos.
Sua carreira passou a ser gravada em disco de altas rotações desde 1911, com o choro “Lata de Leite”.
Com 20 anos de idade, Pixinguinha gravaria as primeiras músicas de sua autoria: Sofres Porque Queres e Rosa.
Com o talento que tinha percebeu que precisava formar um grupo. Seu parceiro de primeira hora foi Nelson Cavaquinho e criaram o grupo – Os Batutas. O grupo foi bem recebido e em 1921 já eram convidados a se apresentar no teatro Municipal do Rio de Janeiro – o ponto alto da carreira dos músicos da época.

No ano seguinte um empresário Arnaldo Guinle propôs uma temporada de apresentações na capital Francesa - Paris. Agradaram tanto que acabaram ficando por seis meses. 
O sucesso e o retorno financeiro não foram suficientes para segurar os desentendimentos internos no grupo, que acabou na mudança de sua formação. Os Batutas mudou tanto, que restou da formação original apenas Pixinguinha e Donga – cantor do primeiro samba gravado em 1917.
Pixinguinha foi crescendo musicalmente, tornando-se inimitável e insuperável na flauta.
João de Barro
No ano de 1926 foi convidado a dirigir a orquestra do Teatro Rialto. Foi lá que conheceu a amor de sua vida – Albertina de Souza: uma bela estrela do Teatro de Revista. O encontro não poderia dar em outra coisa – casaram-se. Pixinguinha sofreu dois anos depois com o fim definitivo do grupo Os Batutas. Sobrou para ele e Donga formarem a Orquestra “Pixinguinha-Donga” que gravou vários discos pela etiqueta Parlophone.
Em 1928, o músico atingiu seu melhor período de produção artística. Compôs a canção – Carinhoso, produzida a partir da parceria com o compositor João de Barro. Compôs ainda Ingênuo, Já Te Digo, Lamento, A Vida é um Buraco.

Em 1929, foi contratado pela gravadora RCA Victor, atual BMG, e no ano seguinte compôs Urubu Malandro.
Aos 35 anos, o músico forma o grupo da Velha Guarda e oito anos depois abandona a flauta para optar pelo saxofone, em virtude de um acidente que sofreu e machucou o lábio, perdendo a embocadura para tocar flauta.

Uma outra versão para a troca de instrumento é que Pixinguinha não conseguia manusear o instrumento antigo, devido a danos físicos que o alcoolismo o estava causando. Tal como os grandes músicos do Jazz, ele estava viciado.
O episódio com as bebidas rendeu um choro “Briguei com Virginia”. Muitos pensaram que fosse uma mulher, antiga paixão. Mas o nome é referência a uma marca de pinga.
Seus grandes sócios de copo eram Donga e João da Bahiana, que se encontravam quase todos os dias no centro do Rio antigo, no Bar Gouveia, sempre aos fins de tarde. Eles se autodenominavam “nós somos um poema”.
Donga - Angela Maria - João da Bahiana - Pixinguinha

A flauta continuaria presente em suas composições, Pixinguinha encontrou um novo parceiro: Benedito Lacerda, flautista que acompanhou em gravações e apresentações. Dessa união surgiram: Um a zero; Proezas do Sólon; Oito Batutas; O Gato e o Canário e Ainda me Recordo. Foram quinze anos de canções que a Música Popular Brasileira agradece.

Um fato curioso na biografia de Pixinguinha aconteceu em 1933, quando aos 36 anos de idade foi retirar a sua primeira certidão de nascimento:
Ele nasceu Alfredo da Rocha Vianna Filho, em 1897, entretanto se registrou com o mesmo nome do pai esquecendo de colocar o “Filho”, errou também o nome da mãe – de Raimunda Rocha Vianna, passou a Raimunda Maria da Conceição.
Pixinguinha tocou ainda com os cantores Francisco Alves, Chico Viola, Mario Reis, Silvio Caldas e até Carmem Miranda, sempre com arranjos de sua autoria.
Outro fato curioso: Em 1952, na Igreja de São Geraldo, por ocasião das bodas de pratas com enlace com Dona Betinha, ao chegarem à missa, notou-se que o organista tinha faltado. Não fez de rogado, foi ele mesmo manusear o instrumento e o filho, Alfredinho, ficou do lado da mãe, tomando seu lugar na missa.
Sete anos depois, o prefeito do Rio de Janeiro, Negrão de Lima, homenageou Pixinguinha, dando nome dele a rua onde se localiza sua residência. Mas a placa de inauguração não durou muito – foi furtada por seus amigos, os escritores Sergio Porto – o Stanislaw Ponte Preta e Lucio Rangel.
Anos 60, entram em cena a Bossa Nova e novas amizades. Uma delas é Vinicius de Moraes. Os dois em 1962 escrevem a trilha sonora do filme Sol Sobre a Lama. Vinicius não sabe se trabalha ou passa o dia admirando a forma de produzir melodias do mestre Pixinguinha. Na música Lamento, o “poetinha” coloca a letra e nos dá uma ótima composição.

Dois anos depois o coração do músico fraquejou – teve um enfarte. Internado ele compõe 20 músicas. Entre elas: Solidão, Mais Quinze Dias, Harmonia das Flores, No Elevador, Mais Três, e Vou para Casa. Nessa época em parceria com Hermínio Bello de Carvalho escreveu “Fale Baixinho”, sendo música finalista num festival de canção. A partir daí passa a ter uma vida menos agitada, se retirando da vida noturna, para cada vez mais raras apresentações.
Em 1971, Dona Betinha passa mal e é internada, e dois dias depois, ele acaba sofrendo com problemas cardíacos e também vai para o mesmo hospital. Para não deixar a esposa preocupada, finge não estar hospitalizado, veste uma boa roupa, terno e chapéu e com flores nas mãos vai visitá-la. A farsa era combinada com o filho, Alfredinho e por acontecer no horário de visita do estabelecimento de saúde, ela não percebia. Ou fingia não saber. Vinicius sabendo do fato disse que não fosse ele mesmo, queria ser Pixinguinha.
O problema de saúde da dona Betinha, era sério. No dia 7 de junho de 1972, aos 72 anos, ela morreu. Ele foi brutalmente afetado pelo fato. Meses depois, em fevereiro, durante o carnaval de 1973, Pixinguinha foi a Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, batizar o neto Oscar Rodrigo. Enquanto conversava com os amigos presentes, passou as sentir dificuldade respiratória. Era um novo enfarte. Seu filho, Alfredinho, ainda tentou levá-lo até a sacristia para que pudesse repousar a tempo de alguém encontrar um médico para pronto atendimento, lamentavelmente às dezesseis horas e trinta minutos do dia 17 de fevereiro de 1973, ali mesmo na sacristia, aos 74 anos, nos deixava o grande Pixinguinha. Ele mesmo não esperava a morte, pois previa viver até os 80 anos, mas não foi possível. Foram 65 anos de uma atividade profissional ininterrupta.
Era carnaval e a Banda de Ipanema, que se preparava para uma apresentação, avisada do fato, parou. Não havia clima para festa. Partiu o Batuta, o menino bom, chegando ao céu, não ao som das harpas. Nesse dia, Deus fez exceção – pediu que os anjos tocassem flautas e saxofone. Há quem jure que a partir desse dia, os grandes músicos brasileiros ao morrer, são recepcionados por ele, com seu sorriso fácil e bom humor eterno.
Deixou além de Vinícius, muitos fãs, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Baden Powell, Paulinha da Viola, dentre outros. Jacob do Bandolim – um dos maiores bandolinista brasileiro - dois dias antes de morrer, 1969, visitou Pixinguinha. Disse que fazia aquilo para pedir a benção a seu santo.
Tinha ainda entre seus admiradores ilustres intelectuais como Sérgio Buarque de Hollanda, Rui Barbosa e Mário de Andrade, que no livro Macunaíma criou um personagem especial para o músico na historia – “um negão filho de Ogum Bexiguento fadista de profissão. Isso em 1926.
A sua música deu nova roupagem à MPB e fez escola, a ponto de ser fonte de inspiração para outros músicos. Foi o fixador do “chorinho brasileiro” e autor de clássicos até hoje indispensáveis em qualquer roda de “choro”, como “Carinhoso, Ingênuo, Lamento, Rosa, Sofres porque Queres e Vou Vivendo”. A sua peça musical “Gargalhada” é utilizada, presentemente, como prova final no curso de flautista na Escola de Música da Universidade de Paris.
De Pixinguinha não sabemos a data em que foi iniciado Maçom, provavelmente final da década de 60, foi membro da loja “Comércio e Artes” do Rio de Janeiro, a Loja Primordial do Grande Oriente do Brasil (não a original, pois a Loja foi reconstituída várias vezes após as dissidências que marcaram a história da Ordem), já que, constitucionalmente, as três Lojas formadoras do Grande Oriente – Comércio e Artes, União e Tranqüilidade e Esperança de Niterói – não podem abater colunas.

Um episódio que beira ao folclórico demonstra o grande ser humano que era Pixinguinha:
Certa vez, altas horas da noite ao retornar para sua casa foi abordado por um grupo de assaltantes. Num lance de candura, conseguiu convencer os bandidos a irem até sua casa, que sua esposa, Dona Bete, prepararia uma refeição para ambos. E assim, foi – chegando a sua residência, acordou a pobre esposa – para produzir jantar. Após saciar os criminosos, ele ainda deu uns trocados para que pudesse pegar um transporte para suas residências, e ainda deu conselhos. Esse era Pixinguinha.

Não foi o mais rico, pois semelhante ao jogador Garrincha, fazia o que gostava por prazer, e não possuía preocupação com contratos e ganhos.

Em 2012, durante a exposição "Pixinguinha" feita pela curadora Lu Araujo, os fãs tiveram acesso à sua carteirinha de membro da Loja Commércio e Artes, localizada na Lapa, Oriente do Rio de Janeiro. Apesar de ser popular no país, o compositor era discreto, "Pixinguinha era muito reservado e mesmo quem pesquisa sobre ele não encontra muitas informações sobre a sua vida privada," comentou a curadora.


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