quinta-feira, 6 de setembro de 2018

RADAMÉS GNATTALI



Nascido em Porto Alegre, em 27 de janeiro de 1906, exatos 150 anos depois do nascimento de Wolfgang Amadeus Mozart, criado no Bairro Bom Fim, Radamés Gnattali foi um arranjador, compositor e pianista, filho mais velho do imigrante italiano Alessandro Gnattali, um marceneiro de profissão, apaixonado pela música, principalmente pela ópera que teve aulas com César Fossati, tornou-se músico profissional, tocando fagote e, posteriormente, passando a regente.

Na convivência com a família Fossati que conheceu Adélia Fossati, uma pianista com quem se casou. Os nomes dos três primeiros filhos do casal: Radamés, Aída e Ernâni, foram retirados de personagens de óperas de Verdi. Os outros dois filhos foram Alexandre e Teresinha.

A própria mãe, percebendo o interesse do pequeno Radamés, quando tinha seis anos de idade, decidiu ministrar lições de piano, e ao mesmo tempo iniciou-se nos estudos do violino com a prima Olga Fossati.

Aos 14 anos, entrou para o Conservatório de Porto Alegre para estudar piano, ingressando já no 5º ano, ali foi aluno de Guilherme Fontainha e na Escola Nacional de Música, com Agnelo França. Ao mesmo tempo praticou o violão e o cavaquinho. 

Participou da Jazz Band Colombo, tocando as 'trilhas' dos filmes mudos exibidos no Cine Colombo.

Em 1923 ao concluir com mérito o 8º ano do curso de piano, foi ao Rio de Janeiro acompanhado por Fontainha, para um recital. Nessa ocasião conheceu Ernesto Nazareth.

Terminou o curso de piano em 1924, com medalha de ouro no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre e fez concertos em várias capitais brasileiras, dedica-se ainda ao violino, que troca pela viola em 1925 para integrar o quarteto de cordas Henrique Oswald, em que atua durante quatro anos. Também passou a estudar composição e orquestração.

Nesta temporada, conhece Vera, estudante de piano de São Leopoldo. Os dois se apaixonam e começam a namorar. No carnaval de 1925, Vera é eleita rainha da folia em São Leopoldo, recebendo de presente um hino composto pelo amado.

Apesar da oposição dos pais da moça, comerciantes, casaram-se em 1932, viveram juntos por 33 anos, até 1965, quando ficou viúvo. Com ela teve seus dois filhos: Roberta, que se tornou psicanalista, e Alexandre, formado em odontologia e que se dedicou à filosofia ioga.
Gluckman
Aos 23 anos, em outubro de 1929, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, estreou como solista interpretando o Concerto n° 1 para piano e orquestra de Tchaikovsky, sob a regência de Arnold Glückman.

Ainda em 1929, o governo gaúcho recusara seu pedido de uma bolsa de estudos. Em 9 de julho de 1931, no Theatro São Pedro, interpretou peças para piano de vários compositores, inclusive as suas “Rapsódia Brasileira” e “Ponteio, Roda e Samba” – esta, uma suíte de três peças construídas sobre temas populares (a terceira peça, mais tarde, teria o título alterado para “Baile”, em vez de “Samba”). O crítico Léo Lanner, escreveu no jornal Correio do Povo, sobre a Rapsódia Brasileira para Piano: "Não é rapsódia, mas ensaio, embora tímido, de poderosa obra sinfônica".

Ainda naquele ano muda-se em definitivo para o Rio de Janeiro, adquire a fama de virtuose do teclado, sem recursos financeiros para seguir a carreira de concertista, decide tocar em orquestras de teatro.

Desde o início dos anos 30, trabalhou direto no então jovem meio de comunicação, o rádio. passou pela Rádio Clube do Brasil, Rádio Mayrink Veiga, na Gazeta de Cajuti, e Transmissora. Foi nessa última que começou a escrever seus primeiros arranjos. 

Em 1936 passa a fazer parte do grande elenco de artistas, músicos e comunicadores da PR8 Rádio Nacional, onde trabalhou por 30 anos, como arranjador. Ali Radamés criou a Orquestra Carioca, a primeira rádio a dedicar-se exclusivamente à música brasileira. Em 1939 substituiu Pixinguinha como arranjador da gravadora RCA Victor. 

Foi o autor da parte orquestral de gravações célebres como a do cantor Orlando Silva para Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro, da famosa gravação original de Aquarela do Brasil (Ary Barroso) ou de Copacabana (João de Barro e Alberto Ribeiro) imortalizada na voz de Dick Farney.

O modernista Mário de Andrade escreveu: “Apesar da mocidade, já domina a orquestra como raros entre nós. É a maior promessa do momento”.

Arnaldo Estrella
Em 1942, faleceu seu pai, Alessandro, o que faz com que o compositor retorne a cidade de Porto Alegre, e traz consigo a sua mãe, Dona Adélia, para morar com ele, até o seu falecimento em 1954.

Em 1943 acontece a primeira audição de uma obra de Radamés no exterior. O Concerto n° 2 para piano e orquestra foi interpretado por Arnaldo Estrella em Washington, Chicago e Filadélfia. 

Naquele mesmo ano estreia o programa de grande sucesso, “Um milhão de melodias” que ficou 13 anos no ar, era uma espécie de parada musical onde eram apresentadas composições de todas as partes do mundo, para o programa, acrescida de dois violões, cavaquinho e vasta percussão, transforma a Orquestra Carioca da Rádio Nacional na Orquestra Brasileira de Radamés Gnattali com a proposta de abrasileirar as orquestrações.
Orlando Silva - Francisco Alves - Carlos Galhardo - Silvio Caldas
Entre 1930 e 1941, sua composição erudita aproveita temas folclóricos e a traz a influência do estilo de Grieg e do jazz. A partir da metade da década de 1940, abandona o nacionalismo neoclássico, em obras tais como Trio Miniatura, Brasiliana nº 1 e o Concerto Romântico. Suas composições populares ficam mais simplificadas, e os arranjos para os "quatro grandes", como eram conhecidos os quatro principais cantores do disco e do rádio - Orlando Silva, Francisco Alves, Carlos Galhardo e Silvio Caldas −, têm uma orquestração mais intimista, com instrumentos como marimba, guitarra e acordeom, produzindo um timbre considerado precursor da bossa nova.
Dick Farney

O arranjo de Copacabana, gravado em 1946 por Dick Farney, é considerado por alguns críticos um marco nesse processo, antecipando, com seu ambiente camerístico, as sonoridades bossa-novistas.

Em 1949, ao lado de Zé Menezes (guitarra), Pedro Vidal Ramos (contrabaixo) e Luciano Perrone (bateria), forma o Quarteto Continental, ampliado para sexteto em 1960, com a inclusão de sua irmã Aída Gnattali (piano) e Chiquinho do Acordeon.

O conjunto viaja pela Europa e tem grande importância na divulgação da música popular brasileira. Como pianista solo, destaca-se como intérprete de Ernesto Nazareth, de quem grava em disco uma série de oito obras, em 1953.

Na década de 1950, além do trabalho nas rádios, Radamés Gnattali criou trilhas para o cinema, com destaque para os filmes Tico-tico no fubá (1952) de Adolpho Celi, Rio, 40 graus (1955) e Rio, Zona Norte (1957) de Nelson Pereira dos Santos.

Tom Jobim
Em 1954 estreou o programa “Quando os maestros se encontram”. A idéia inicial era incentivar jovens talentos da regência. 

Dentre os novatos havia um que depois ficou famoso e amigo de Radamés, Antonio Carlos Jobim, no programa dirige uma orquestra sinfônica completa, que executa músicas do repertório nacional e internacional.

Os temas populares brasileiros sempre foram fonte de inspiração para Radamés Gnattali. 

Na Brasiliana nº 6 para piano e orquestra (1954), utilizou o tema da famosa canção gaúcha “Prenda Minha”. Na Sinfonia Popular nº1 (1955), o segundo movimento é baseado no tema de um pregão baiano chamado “Flor da Noite”. O ritmo do toque do berimbau foi usado para construir a “Capoeira”, movimento final da Brasiliana nº 3, de 1948.

A série de Brasilianas, aliás, é uma espécie de síntese da obra de Radamés Gnattali.

Nela encontramos toda a riqueza da música brasileira em formações as mais variadas que vão desde o piano e o violão solo até a grande orquestra sinfônica com e sem solistas.

Outro reflexo da vivência radiofônica na obra de Gnattali é a inusitada instrumentação de suas peças. Cercado de bons solistas na Rádio Nacional, o compositor procura escrever para eles.
Edu da Gaita, Chiquinho do Acordeon, Jacob Bittencourt e Laurindo de Almeida
É assim que surge seu Concerto para Harmônica de Boca e Orquestra (1958), escrito para Edu da Gaita; Concerto para Acordeão e Orquestra (1958), para Chiquinho do Acordeão; Retratos, concerto para bandolim e orquestra, para Jacob Bittencourt; Suíte Popular Brasileira para Violão e Piano (1956), com Laurindo de Almeida.

Em 1960 embarcou para Europa, apresentando-se num sexteto que incluía Acordeão, Guitarra, Bateria e Contrabaixo.

Foi contemporâneo de compositores como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Pixinguinha.

Em 1966, passou a viver com Nelly Martins, ex-atriz da Rádio Nacional, cantora e pianista que, abandonando a carreira artística, acabou se formando em medicina.

Nas décadas de 1960 e 1970, com a substituição do rádio pela televisão como principal meio de comunicação de massa, as orquestras radiofônicas desaparecem, e Gnattali passa a se dedicar mais à música erudita. Trabalha na TV Excelsior e TV Globo, como maestro e arranjador, entre 1968 e 1979, responsável por trilhas de novelas, casos especiais, minisséries e demais atrações musicais da emissora.

Na década de 70, Radamés teve influência na composição de choros, incentivando jovens instrumentistas como Raphael Rabello, Joel Nascimento e Mauricio Carrilho, e para a formação de grupos de choro como o Camerata Carioca. Também compôs obras importantes para o violão, Orquestra, concerto para piano e uma variedade de choros.

Foi parceiro de Tom Jobim. No seu círculo de amizades Tom Jobim, Cartola, Heitor Villa-Lobos, Pixinguinha Donga, João da Baiana, Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez e Camargo Guarnieri. É autor do hino do Estado de Mato Grosso do Sul - a peça foi escolhida em concurso público nacional.

Radamés foi um dos mestres mais requisitados nesse período, demonstrando uma jovialidade que encantou novos chorões como Joel Nascimento, Raphael Rabello e Maurício Carrilho. Nasceu assim uma amizade que gerou muitos encontros e parcerias. Em 1979 surgiu, no cenário da música instrumental, o conjunto de choro Camerata Carioca, tendo Radamés como padrinho.

Camerata Carioca e Radamés Gnattali
Em janeiro de 1983, recebeu o Prêmio Shell na categoria de música erudita; na ocasião, foi homenageado com um concerto no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que contou com a participação da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, do Duo Assad e da Camerata Carioca. 

Em maio do mesmo ano, numa série de eventos em homenagem a Pixinguinha, Radamés e Elizeth Cardoso apresentaram o recital Uma Rosa para Pixinguinha e, em parceria com a Camerata Carioca, gravou o disco Vivaldi e Pixinguinha.
A saúde começou a fraquejar em 1986, quando Radamés sofreu um derrame que o deixou com o lado direito do corpo paralisado. Em 1988, em decorrência de problemas circulatórios, sofreu outro derrame, falecendo no dia 13 de fevereiro de 1988 na cidade do Rio de Janeiro.

Durante toda sua carreira Radamés Gnattali transitou com igual desenvoltura entre a música clássica, que em declarações dizia preferir, e a música popular, que garantia sua renda. Ao mesmo tempo em que deu tratamento sinfônico aos arranjos populares, aproveitou em sua obra procedimentos melódicos e harmônicos tirados da música popular e do jazz.

Adicionalmente a todo este histórico artístico, Radamés dedicou-se também ao público infantil na sua maturidade profissional. Imortalizou sua arte musical em diversos volumes de história infantil para LP (coleção disquinho), hoje traduzidas em versão digital disponível em lojas virtuais como o itunes.

Foi membro da Academia Brasileira de Música e da Academia de Música Popular Brasileira.

Principais composições
Brasilianas nº 1,2,3,6,9 e 10 (1944-1962)
Concertos para piano e orquestra nº 1,2 e 3 (1963)
Concerto para Violoncelo e orquestra (1941)
Concerto para viola e orquestra de cordas (1967)
Concerto para harmônica de boca (1960)
Hino do estado do Mato Grosso do Sul, escolhido num concurso público.
10 Estudos para Violão

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