terça-feira, 25 de março de 2014

O RÉQUIEM E A MORTE DE MOZART

Os últimos dias de Wolfgang Amadeus Mozart foram envoltos numa aura de mistério envolvendo sua derradeira criação, o célebre Réquiem em Ré menor e a sua morte.
Apenas duas obras sacras de seu repertório foram encomendas pagas: a missa que escreveu para a consagração da igreja de um orfanato em 1768 e o Réquiem de 1791.
Franz                     Franz e Karl                     Karl
Franz Walsegg-Stuppach
Pouco antes do nascimento de seu último filho, Franz Xaver Wolfgang Mozart, em Viena, ocorrido em 26 de Julho de 1791, bateu à sua porta um desconhecido, que se recusou a identificar-se e deixou Mozart encarregado da composição de um Réquiem.
Posteriormente supôs-se que aquele sombrio personagem era um enviado do conde Franz Joseph Graf von Walsegg-Stuppach, cuja esposa havia falecido. Mozart exigiu, então, um adiantamento da metade de seus honorários, feito o pagamento informou que retornaria em um mês para retirar a obra completa. Entretanto o prazo não foi cumprido, o compositor esforçou-se por terminar a encomenda o mais brevemente possível, mas foi obrigado a interromper o trabalho diversas vezes.
Alto - Clemencia de Tito
Leopoldo II e Papageno
personagem de A Flauta Mágica
Entre os meses de Agosto e Setembro, compusera apressadamente as óperas A Clemência de Tito, para a coroação de Leopoldo Segundo em Praga e a Flauta Mágica, estreada em Viena.
No final de outubro, Mozart teve que interromper suas atividades por motivos de sua fragilizada saúde.
Na segunda quinzena de novembro, voltou a trabalhar no Réquiem, até o momento em que a vida lhe foi ceifada, nas primeiras horas do dia 5 de dezembro de 1791. A obra ficou, portanto inacabada.
O Réquiem em Ré menor (KV 626) é uma missa fúnebre e talvez uma de suas melhores e mais famosas obras, não apenas pela música em si, mas também pelos debates em torno de até qual parte da obra foi preparada por Mozart antes de sua morte.
Desde o falecimento de seu pai, Leopold, tornou-se obsessivo com ideias de morte, ainda debilitado pela fadiga e pela doença que lhe consumia e impressionado pelo misterioso homem que acreditava ser um mensageiro do Destino e o réquiem encomendado seria para seu próprio funeral.
Leopold Mozart
Mozart concluiu apenas três secções com o coro e composição completa: Introito, Kyrie e Dies Irae. Para o restante da sequência ficou trechos instrumentais, o coro, vozes solistas e o cifrado do contrabaixo e órgão incompletos, deixando somente algumas anotações. Também ficaram indicações para o Domine Jesu e Agnus Dei. E nada escrito para o Sanctus nem para o Communio.

Pelo menos quatro compositores trabalharam na conclusão do Réquiem nos meses após a morte de Mozart - Franz Xaver Süssmayr, Franz Jakob Freystädtler, Joseph Eybler e Abbé Maximilian Stadler.
Constanze e Mozart

Constanze, viúva do compositor, quis honrar o contrato firmado pelo marido e aliada às dificuldades financeiras, procurou por Joseph Eybler, um compositor admirado por Mozart que assinou um contrato em 21 de Dezembro de 1791, mas abdicou pouco depois, tendo orquestrado grande parte da “Sequenz” diretamente na pauta original. Constanze tentou outros compositores. Coube a tarefa ao discípulo de Mozart Franz Xaver Süssmayr, que durante o último ano de vida do compositor, fez parte do circulo da família, não só como aluno, mas também como amigo, assim tomando por base os esboços e anotações, compôs as partes que faltavam. Anos mais tarde teria dito sobre o Requiem de Mozart: “o meu trabalho não é digno deste grande homem”.

Franz Xaver Süssmayr                          Mozart e Süssmayr
As causas da morte de Mozart ficaram cercadas de mistério. Acreditou-se que uma crise de estresse poderia ter abalado sua integridade física. Os problemas financeiros do músico forçaram-no a aceitar uma carga de encomendas obrigando-o a um ritmo de trabalho alucinante. Relata-se que o mal que o acometeu havia se desenvolvido de maneira gradual. Náuseas, dificuldades de movimentação dos pés e das mãos teriam sido os primeiros sintomas da crise de febre militar aguda, doença que foi registrada enquanto sua causa mortis oficial. No entanto, passado menos de um mês de sua morte, um jornal de Berlim levantou a suspeita de que Mozart fora assassinado.
Carl Thomas, filho de Mozart, relatou que o corpo de seu pai estava inchado e fétido, o que impossibilitou uma necropsia detalhada. As condições alteradas do cadáver suscitaram a possibilidade de envenenamento. Dentre os suspeitos, estava Antonio Salieri, um dos maiores rivais artísticos de Mozart.
Salieri ainda em vida teve de conviver com as acusações de assassinato, mas enquanto estava lúcido negou veementemente. É interessante notar que, mesmo tendo sido invejoso de Mozart, ele foi professor do filho mais novo do compositor, Franz Xaver "Wolfgang Amadeus Sohn" Mozart. No final de 1791, os compositores aparentemente cessam as hostilidades. Mozart inclusive convidou e acompanhou Salieri e Katherina Cavalieri para uma apresentação de A Flauta Mágica, K.620.
Salieri, entretanto, à beira da morte em seu delírio confessou ser o assassino de Mozart.
                      Antonio Salieri                            Cartaz de A Flauta Mágica
Registrado na certidão de óbito de Mozart, a causa da morte do músico foi a febre Frieselfieber, porém desde então, tem-se especulado sobre envenenamento, sífilis, febre reumática, insuficiência renal, tuberculose e etriquinose, que é uma doença parasitária causada pela ingestão de comida crua ou carne de porco pouco cozida.
Mozart desde o seu nascimento, sempre tivera baixa imunidade e contraiu diversas doenças durante toda a sua vida, o que lhe tornou uma pessoa bastante frágil e suscetível a qualquer moléstia.
Pouco antes - na verdade tarde demais - nobres húngaros se cotizam para oferecer a Mozart uma pensão anual de mil florins, que lhe permitiria viver com dignidade. Ainda, segundo a tradição, forte tempestade teria dispersado os poucos acompanhantes a caminho do cemitério. Finalmente o coveiro teria enterrado (e logo não saberia aonde) o corpo que chegara na carruagem fúnebre, seguido apenas por Pimperl, cachorro que fora do compositor. O fato de ter sido enterrado em vala comum foi devido à austeridade que imperava em seu país e ao seu caráter descuidado, devido ao qual não previu a tempo os trâmites burocráticos necessários para que tivesse um último adeus mais decoroso. Mozart vivia em Viena, longe de sua família em Salzburgo - que na época ficava a três dias de viagem - e, foi um amigo seu que preparou seu funeral.
Em 2009, os estudos da Universidade de Amsterdã vem esclarecer toda esta situação polêmica. “Nossos descobrimentos sugerem que Mozart foi vítima de uma epidemia de inflamação de garganta que foi contraída por muitos cidadãos vienenses no mês de sua morte, e que Mozart foi uma das dezenas de pessoas em que a epidemia desenvolveu um tipo de complicação no rim que é mortal”, disse à Reuters o pesquisador Richard Zegers, da Universidade de Amsterdã na Holanda.
Voltando ao Réquiem...
A obra teve a sua estreia em Viena, 2 de Janeiro de 1793, num concerto em benefício da viúva de Mozart, Konstanze Weber. Foi interpretado novamente em 14 de Dezembro de 1793, durante uma missa para a esposa da Walsegg.
Um réquiem é uma missa para os mortos, em latim, Missa Pro Defunctis. Seu nome advém do primeiro verso do Intróito "Requiem aeternam dona eis, Domine ", que significa "Descanso eterno conceder-lhes , ó Senhor". A liturgia é uma versão modificada da missa católica romana.
Estudiosos debatem quem escreveu tais secções, deixando de parte os detalhes relacionados com a orquestração, do manuscrito original do Réquiem, mas a base dessa discussão é provavelmente a que se segue:
Introit: Requiem aeternam [Mozart]
Kyrie [Mozart, parte da instrumentação por Süssmayr e talvez outra parte por F.J.Freystädtler]
Sequenz: Dies irae [Mozart e Süssmayr*]
Tuba mirum [Mozart e Süssmayr]
Rex tremendae [Mozart e Süssmayr]
Recordare [Mozart e Süssmayr]
Confutatis [Mozart e Süssmayr]
Lacrimosa [Mozart (compassos 1–8), Süssmayr depois]
Offertorium: Domine Jesu e Hostias [Mozart, Süssmayr e depois Abbé Maximilian Stadler]
Sanctus [Süssmayr]
Benedictus [Süssmayr]
Communion: Lux aeterna [Süssmayr, baseado no 'Introit' e no Kyrie em ré menor, KV 341(368a)]
* Do ‘Dies irae’ às ‘Hostias’, as partes vocais, a linha do baixo e, intermitentemente, a parte mais importante da instrumentação, foi composta por Mozart, que deixou vários esboços, incluindo um Amen em estilo fugado para o final do ‘Lacrimosa’ que Süssmayr teria ignorado ou desconhecido a sua existência.
Existem dúvidas se Süssmayr teria ou não composto sozinho todas as secções faltantes. Talvez Mozart, em seu leito de morte, tivesse murmurado partes do Sanctus, Benedictus e Agnus Dei, ou se haveria esboços sobre as três últimas secções da obra. Süssmayr teria em sua precoce carreira, capacidade ou não de compor, sem ajuda de outros compositores, e atingir uma consistência tão elevada.


O Réquiem começa com o Intróito. O texto é uma oração para o falecido que seria elevado no Dia do Juízo:

Introit: Requiem aeternam

Latim
Português
Requiem Aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat gelo.
Te decet hino Deus , em Sion, et tibi reddetur votum em Jerusalém.
Exaudi orationem meam, ad te omnis caro veniet .
Requiem Aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat gelo.
Repouso eterno dá-lhes, Senhor, e luz perpétua os ilumine.
Tu és digno de hinos, ó Deus, em Sião, e a ti rendemos homenagens em Jerusalém:
Ouve a minha oração, diante de Ti toda carne comparecerá.
Repouso eterno dá-lhes, Senhor, E luz perpétua os ilumine.

O Kyrie é todo em grego, é a única passagem neste idioma, todo o restante é em latim.

KYRIE

Grego
Português
Kyrie elesion ,
Elesion Christe,
Kyrie elesion
Senhor, tem piedade.
Cristo, tem piedade.
Senhor, tem piedade

Dia do juízo é uma parte de muita importância no Réquiem, trata-se do texto que antecede ao Evangelho, e descreve o dia do Juízo.
Contendo dezenove versos, compreende a maior parte do Réquiem. Mozart dividiu o Dies Irae em seis movimentos, tendo como título as primeiras palavras de cada movimento.


DIES IRAE

Latim
Português
Dies Irae ! morre illa
Sæclum Solvet em Favilla :
Teste David cum Sibylla !
 Quantus tremor est Futurus ,
Quando iudex est Venturus ,
Cuncta discussurus stricte !
Dia de ira, aquele dia no qual os séculos se desfarão em cinzas assim testificam Davi e Sibila.
Quanto temor haverá então,
Quando o Juiz vier, para julgar com rigor todas as coisas

O texto a seguir descreve o Dia do Juízo conforme consta no Apocalipse de São João:

TUBA MIRUM

Latim
Português
Tuba, mirum spargens sonum
Per sepulchra regionum,
Coget omnes ante thronum.
Mors stupebit, et natura,
Cum resurget creatura,
Judicanti responsura.
Liber scriptus proferetur,
In quo totum continetur,
Unde mundus judicetur.
Judex ergo cum sedebit,
Quidquid latet, apparebit:
Nil inultum remanebit.
Quid sum miser tunc dicturus?
Quem patronum rogaturus,
Cum vix justus sit securus?
A trombeta poderosa espalha seu som pela região dos sepulcros, para juntar a todos diante do trono.
A morte e a natureza se espantarão
com as criaturas que ressurgem, para responderem ao juízo.
Um livro será trazido, no qual tudo está contido, pelo qual o mundo será julgado. Logo que o juiz se assente, tudo o que está oculto, aparecerá: nada ficará impune.
O que eu, miserável, poderei dizer?
A que patrono recorrerei, quando apenas o justo estará seguro?

Agora o clamor por misericórdia...

REX TREMENDAE

Latim
Português
Rex tremendae majestatis
Qui salvandos salvas gratis,
Salva me, fons pietatis!
Ó Rei, de tremenda majestade,
que ao salvar, salva gratuitamente
salva a mim, ó fonte de piedade!

Um pedido de concurso para a misericórdia. Esta é a parte mais longa da Sequentia...

RECORDARE

Latim
Português
Recordare, Jesu pie,
Quod sum causa tuæ viæ:
Ne me perdas illa die.
Quærens me, sedisti lassus:
Redemisti Crucem passus:
Tantus labor non sit cassus.
Juste judex ultionis,
Donum fac remissionis
Ante diem rationis.
Ingemisco, tamquam reus:
Culpa rubet vultus meus:
Supplicanti parce, Deus.
Qui Mariam absolvisti,
Et latronem exaudisti,
Mihi quoque spem dedisti.
Preces meæ non sunt dignæ:
Sed tu bonus fac benigne,
Ne perenni cremer igne.
Inter oves locum præsta,
Et ab hædis me sequestra,
Statuens in parte dextra.
Lembra-te, ó Jesus piedoso,
que fui a causa de tua peregrinação,
não me perca naquele dia.
Procurando-me, ficaste exausto
me redimiste morrendo na cruz
que tanto trabalho não seja em vão.
Juiz de justo castigo
dá-me o dom da remissão
diante do dia da razão.
Choro e gemo como um réu,
a culpa enrubesce meu semblante.
A este suplicante poupai, ó Deus.
Tu, que absolveste Maria
e ao ladrão ouviste
a mim também deste esperança.
Minhas preces não são dignas
Sê bondoso e tende misericórdia,
que eu não queime no fogo eterno.
Dai-me lugar entre as tuas ovelhas
e afastai-me dos bodes,
que eu me assente à tua direita.

O arrependimento...
CONFUTATIS

Latim
Português
Confutatis maledictis,
Flammis acribus addictis:
Voca me cum benedictis.
Oro supplex et acclinis,
Cor contritum quasi cinis:
Gere curam mei finis.
Condenados os malditos
e lançados às chamas devoradoras,
chama-me junto aos benditos
Oro, suplicante e prostrado,
o coração contrito, quase em cinzas
tomai conta do meu fim

Conclusão da oração pelo falecido...

LACRIMOSA

Latim
Português
Lacrimosa dies illa,
Qua resurget ex favilla.
Judicandus homo reus:
Huic ergo parce, Deus.
Pie Jesu Domine,
Dona eis requiem. Amen.
Dia de lágrimas, aquele,
No qual, ressurgirá das cinzas,
Um homem para ser julgado;
Portanto, poupe-o, ó Deus.
Ó, misericordioso, Senhor Jesus,
Conceda-lhe a paz eterna. Amém.

Offertorium:
 Domine Jesu

Latim
Português
Domine Jesu Christe, Rex gloriae gloriae, libera
animas omnium fidelium defunctorum de poenis inferni
et de profundo lacu: libera eas de ore
leonis, ne absorbeat eas tartarus, ne cadant in obscurum.
Sed signifer sanctus Michael repraesentet eas in lucem sanctam:
Quam olium Abrahae promisiti et semini ejus.
Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, liberta
as almas de todos que morreram fiéis das penas do inferno,
e do lago profundo: libertai-as da boca
do leão, que não sejam absorvidas no inferno, nem caiam na escuridão
Mas que o arcanjo Miguel os conduza à luz santa:
Conforme prometeste a Abraão e sua descendência.

Hostias

Latim
Português
Hostias et preces tibi, Domine, laudis offerimus:
tu suscipe pro animabus illus, quarum hodie
memoriam facimus: fac eas, Domine, de morte
transire ad vitam, quam olim Abrahae promisti et semini ejus.
Sacrifícios e preces a Ti, Senhor, oferecemos com louvores:
Recebe-os em favor daquelas almas, às quais hoje
memória rendemos: fazei-as, Senhor, da morte
transcenderem à vida, conforme prometeste a Abraão e sua descendência.

O texto do Sanctus extraído de Isaías 6:3, descreve o cântico dos anjos defronte a Deus
SANCTUS

Latim
Português
Sanctus, Sanctus, Sanctus,
Dominus Deus Sabaoth.
Pleni sunt coeli et terra gloria tua
Hosanna in excelsis.
Santo, Santo, Santo
Senhor Deus dos Exércitos.
Cheios estão os céus e a terra da Tua glória
Hosana nas alturas.

O texto do Benedictus foi extraído de Mateus 21:09 , e descreve a entrada de Jesus em Jerusalém para a festa da Páscoa.

BENEDICTUS

Latim
Português
Benedictus qui venit
in nomine Domini.
Hosanna in excelsis.
Bendito o que vem
em nome do Senhor
Hosana nas alturas.

No Agnus Dei há uma modificação específica para o Réquiem substituiu-se a tradicional: "tem misericórdia de nós" por o "dai-lhes repouso".

AGNUS DEI

Latim
Português
Agnus Dei,
qui tollis peccata mundi,
dona eis requiem.
Agnus Dei,
qui tollis peccata mundi,
dona eis requiem
Agnus Dei,
qui tollis peccata mundi,
dona eis requiem sempiternam.
Cordeiro de Deus,
que tira os pecados do mundo,
dai-lhes repouso.
Cordeiro de Deus,
que tira os pecados do mundo,
dai-lhes repouso
Cordeiro de Deus,
que tira os pecados do mundo,
dai-lhes o repouso eterno.

Communion: Lux aeterna

Latim
Português
Lux aeterna luceat eis, Domine:
Cum Sanctus tuis in aeternum: quia pius es.
Requiem aeternam dona eis. Domine: et lux
perpetua luceat eis. Cum Sanctis tuits in
aeternum: quia pius es.
Que a luz eterna os ilumine, Senhor:
Com os teus santos na eternidade: pois és piedoso.
Repouso eterno dá-lhes, Senhor: e que a luz
perpétua os ilumine. Com teus santos na
eternidade: pois és piedoso.

Lux Aeterna é uma repetição do movimento de abertura Aeternam Requiem.

Luz eterna foi dada ao gênio Wolfgang Amadeus Mozart, e sua obra o imortalizou. A causa de sua morte, é um mero detalhe. O importante foi o que fez em vida e isto é eterno.



Obra completa, para ouvir e baixar em:

quarta-feira, 19 de março de 2014

EQUINÓCIO DE OUTONO

Nesta data comemoramos O Equinócio de Outono. Antonio Lucio Vivaldi para celebrar esta data compôs o Concerto nº 3 em F maior - RV 293 – O Outono - peça em três movimentos - Allegro, Adagio Molto e Allegro. Como curiosidade, neste concerto os movimentos têm nomes, são eles conforme sua ordem, Ballo Canto de Villanelli – Dança e Canto dos Aldeões, Ubriachi Dormienti – Bêbados Sonolentos e La Caccia – A Caça.
O Outono no Hemisfério Sul é marcado pelo ingresso do Sol no grau zero de Áries, que corresponde com o início da Primavera Sideral.


O Outono terá início no dia 20/03/2014 às 16 horas e 57 minutos. Nessa data, a noite e o dia terão a mesma duração. É a estação do ano que sucede ao Verão e antecede o Inverno. É caracterizado por queda na temperatura, e pelo amarelar das folhas das árvores, que indica a passagem de estações (exceto nas regiões próximas ao equador). O Outono do hemisfério norte é chamado de "Outono boreal", e o do hemisfério sul é chamado de "Outono austral". Como nas outras três peças que compõem as quatro estações há também um soneto, ei-lo:

O Outono

Celebra o aldeão com danças e cantos
O grande prazer de uma feliz colheita;
Mas um tanto aceso pelo licor de Baco
Encerra com o sono estes divertimentos.

Faz a todos interromper danças e cantos,
O clima temperado é aprazível;
E a estação convida a uns e outros
Ao gozar de um dulcíssimo sono.

O caçador, na nova manhã, à caça,
Com trompas, espingardas e cães, irrompe;
Foge a besta, mas seguem-lhe o rastro.

Já exausta e apavorada com o grande rumor,
Por tiros e mordidas ferida, ameaça
Uma frágil fuga, mas cai e morre oprimida!

O primeiro movimento liga-se à primeira estrofe, o segundo à segunda, e o terceiro às duas últimas. Teríamos então:


Outono é tradicionalmente a época da colheita, e para celebrá-la, temos a Dança e canto dos camponeses. O violino imita os deslizes e os risos alegres do camponês exagerando no vinho, ou seja, O ébrio. 

E depois de muito vinho… eis o ébrio que dorme. Os mais atenciosos irão reparar que a melodia do violino se assemelha ao barulho de alguém roncando.
Fim de festa, Os ébrios adormecidos se juntam para tirar uma soneca.


O concerto termina descrevendo com detalhes A caçada, com o violino solo imitando o som de trompas de caça. E os caçadores encontram A fera que foge. Aqui a partitura indica Espingardas e cães, sem detalhar quem é a espingarda e quem é o cão. Tomando por base o cão do pastor da Primavera, acredito que as notas separadas sejam os latidos dos cães, e as notas repetidas em furor o barulho das espingardas. Mas também poderia ser o contrário… Ao final, A fera fugindo morre, para alegria do caçador.

Vale a pena assistir a esta interpretação:

Astor Piazzolla também compôs quatro canções que representam as estações portenhas, gravadas em álbuns distintos. O Otono Porteño encontra-se no álbum Adiós Nonino de 1969.

Acesse o link abaixo para ouvir este concerto e outras peças de Antonio Vivaldi e também o Outono de Piazzolla:

quinta-feira, 13 de março de 2014

Raphael Rabello

Raphael Baptista Rabello, violonista e compositor brasileiro, ligado ao choro e à música popular brasileira. É considerado um dos maiores violonistas brasileiros de todos os tempos, sobretudo em sua especialidade, o violão de sete cordas.
Nascido em 31 de outubro de 1962 na cidade de Petrópolis no Estado do Rio de Janeiro. Raphael era o caçula de nove irmãos, numa família que respirava música.
Dizia ele anos mais tarde: “Todo mundo tocava, o Fabiano tocava violão, a Isolina tocava piano, Amélia cantava e tocava, tinha o coral das minhas irmãs com o meu avô. Tocava violão o meu avô. A Luciana já tocava antes de mim e eu só ficava olhando aquilo tudo...”.
Seus avôs José Queiroz Baptista (materno) e Flaviano Lins Rabello (paterno) também eram músicos, violonistas.
Raphael dedicaria uma de suas composições mais conhecidas, “Meu avô” ao Sr. José que foi o primeiro professor de música dos seus nove netos.
Dino 7 Cordas
Ainda criança observava os “chorões” tocando em sua casa, então pegava o violão às escondidas e estudava sozinho. Um dia, em uma reunião familiar, o garoto com aproximadamente seis anos surpreendeu a todos tocando Brejeiro de Ernesto Nazareth.
Após o avô, teve vários professores de música, aos 12 anos e teve aulas com o famoso Dino Sete Cordas, seu ídolo. Em virtude da familiaridade com esse instrumento, adotaria durante algum tempo o nome artístico de RAPHAEL SETE CORDAS. Este, aliás, seria o nome do seu segundo disco, lançado aos vinte anos de idade. Deste disco, destaca-se a música O Voo da Mosca, de Jacob do Bandolim, onde se tem a impressão de ouvirmos dois ou três violões, tal é a complexidade da composição.
A capacidade de desfilar pelos vários estilos musicais, do choro à bossa-nova, do samba ao clássico, fez com que nas décadas de 80 e 90 realizasse uma série de trabalhos marcantes na história da MPB. Gravou 22 discos, participou de mais de 600 faixas em discos de diversos artistas, e fez arranjos de violão e voz ou pequenos grupos para um sem-número de gravações. Era, como se costuma dizer, um “rato de estúdio”, atividade que iniciou em 1978.
Dentre eles, podemos destacar o trabalho com Ney Matogrosso (à flor da pele), o disco RAPHAEL RABELLO INTERPRETA RADAMÉS GNATTALI e o CD DOIS IRMÃOS, com Paulo Moura.
Em 1993, com o bandolinista Déo Rian, lança o disco “Delicatesse”10, composto de músicas eruditas.
Em seus 32 anos, Raphael recebeu dois diagnósticos precipitados. O primeiro veio aos seis. Sua mãe, Amélia, foi chamada à escola onde o filho estudava. Lá, ouviu da professora que o futuro virtuose tinha "problemas de coordenação motora".
O segundo veio no fim da vida. No dia 27 de maio de 1989, Raphael sofreu um acidente de táxi, no Leblon. De lá foi levado ao hospital Miguel Couto, onde recebeu nove pinos e uma placa no braço, que fora quebrado. De acordo com o médico, ele levaria seis meses para voltar a tocar - foram dois.
Ainda no hospital, passou por uma transfusão de sangue. Dois anos depois procurou um endocrinologista para emagrecer. Após análises, o médico lhe disse que o exame de HIV dera positivo. A família crê que o resultado pudesse ser um falso positivo.
Desesperado, Raphael iniciou uma corrida contra o tempo. Encontrou na cocaína um meio para levar noites de trabalho em claro.
Em 1995, pediu para ser internado. Em menos de uma semana, teve um surto de abstinência e foi sedado. Raphael, que sofria de apneia, engasgou durante o sono e faleceu prematuramente no dia 27 de Abril, vítima de complicações respiratórias aos 32 anos de idade, e é lembrado até hoje como o "MOZART DO CHORO".
Raphael deixou duas filhas, Rachel e Diana.
Palácio do GOB no RJ

Raphael Rabello foi iniciado na ARLS Esperança nº 37 - GOB – RJ.


“Nada me fará sofrer, pois trago junto ao coração, o bojo do meu violão cantando. Nada me dá mais prazer ,nem mesmo uma grande paixão que o som das sete cordas do meu violão tocando”
“E o peito meu fibra por fibra apaixonado vibra, com prima e bordão e é aí que eu sinto a mão de Deus na minha mão”.

Trechos de Sete Cordas - letra de Paulo Cesar Pinheiro para a música de Raphael Rabello
Parentesco de Raphael Rabello (infográfico Folha S Paulo)



Link para acesso às músicas: