segunda-feira, 19 de outubro de 2015

TEREZÍN

Faço esta postagem para cobrir a lacuna da semana anterior, e principalmente para homenagear um blog que sempre frequento e me alimento com obras e textos maravilhosos.

Assim sendo a partir do próximo parágrafo, nada será escrito por mim, apenas reprodução do texto apresentado por Vassily Genrikhovich, no blog http://pqpbach.sul21.com.br , com a devida permissão.



Este magnífico álbum seria tocante mesmo sem as circunstâncias que, a seguir, passo a lhes descrever – e se o leitor-ouvinte é daqueles que prefere apreciar apenas o que escuta, sem se abalar com circunstâncias extramusicais, sugiro que passe direto ao download.
A fortaleza austro-húngara de Theresienstadt (em tcheco, Terezín), foi criada no século XVIII nas proximidades de Ústí nad Labem, ao norte de Praga. Afora sua função defensiva, também serviu como centro de detenção para prisioneiros políticos, mas foi durante o sombrio período da ocupação alemã da Boêmia (1939-1945) que o nome de Terezín foi definitivamente escrito na História da Infâmia.

“Todos tinham fome” – Liana Frankl, 9 anos
Depois da anexação do território tcheco dos Sudetos (1938) e de garantir a influência sobre o estado-fantoche da Eslováquia (1939), o Reich transformou o restante do território da então Tchecoslováquia no Protetorado da Boêmia e Morávia, nominalmente autônomo e governado por tchecos colaboracionistas. Na prática, quem mandava no Protetorado era um Reichsprotektor, cargo que coube, entre outros, a dois dos mais truculentos membros dos quadros do Partido Nazista: Richard Heydrich (assassinado em 1943) e Wilhelm Frick (executado em Nürnberg em 1945).
Josef Novak, 7 anos
Tão logo tomaram as rédeas do poder, os nazistas começaram a esmagar os movimentos de resistência e expulsar os então mais de cem mil judeus tchecos de suas residências. A maior parte deles foi parar na cidadela de Terezín, que rapidamente viu sua população inflar para quase sessenta mil pessoas, amontoadas em condições degradantes e num espaço preparado para receber menos de sete mil. Além dos judeus da Boêmia, Morávia e Eslováquia, Terezín também recebeu deportados da Alemanha, Áustria, Países Baixos e Dinamarca, bem como prisioneiros de outros países.
Helga Weiss, 13 anos
Enquanto a fome, o frio e as epidemias ceifavam vidas entre os prisioneiros, o eficiente aparato de propaganda nazista vendia a imagem de Terezín como uma cidade-modelo, em que os judeus viviam em liberdade e celebravam sua cultura dentro do Reich: o emblema de um tratamento humano e respeitoso que era o antônimo exato do que recebiam. Numa ocasião especialmente infame, os nazistas “embelezaram” Terezín para uma inspeção da Cruz Vermelha e para um filme de propaganda, amontoando os prisioneiros famélicos e doentes em galpões para deixar à vista tão só os pouquíssimos internos em estado razoável de saúde. O resultado da medida, no auge de uma epidemia de tifo, foi mortífero.
“Não no gueto” – Dorita Weiser, 9 anos
Com o advento da “Solução Final”, os guetos foram evacuados, e seus moradores, transportados para campos de extermínio. Além das 33.000 mortes devidas às péssimas condições de vida em Terezín, outras 88.000 pessoas que por lá passaram foram levadas para Auschwitz-Birkenau, Treblinka e Sobibor, ao encontro da morte. No total, das mais de 150.000 vítimas do fascismo que viveram em Terezín, menos de 18.000 sobreviveram – entre os quais apenas 240 das 15.000 crianças.
Ella Liebermann, 16 anos
Apesar da extrema dureza da vida no gueto, e dos abusos e censura rigorosa dos nazistas, a vida e a Arte floresceram em Terezín tanto quanto puderam. Artistas deportados continuaram a escrever, compor, pintar e esculpir suas obras. A pintora Friedl Dicker-Brandeis, notavelmente, deu aulas de Pintura e Desenho para muitas crianças, com o intuito de aliviar-lhes a opressão em que viviam. Estes jovens artistas, que em sua maioria encontraram a morte nos anos subsequentes, deixaram para a posteridade um pungente legado que não só descreve melhor do que quaisquer palavras os horrores que presenciaram, mas que também preservou seus nomes para a posteridade. Alguns destes preciosos desenhos, a um só tempo tocantes e perturbadores, ilustram esta postagem.
Ella Liebermann, 16 anos
Sensibilizada com a história de Terezín, a diva sueca Anne Sofie von Otter rodeou-se de colaboradores para produzir este disco, inteiramente devotado a obras compostas por prisioneiros do gueto. 
Anne Sofie von Otter

Se algumas delas transpiram alegria, serenidade e escracho, é difícil nossas faringes não se apertarem ante a constatação de que a maior parte de seus compositores faleceu em 1944 – o ano da liquidação de Terezín. O que à primeira vista parece uma colagem com os gêneros mais diversos – de canções de cabaré a Lieder em tcheco e em iídiche, e até uma sonata para violino solo – ganha uma coesão admirável graças às interpretações muito sensíveis e reverentes.
No fim, ao extinguir-se a última nota do violino, o silêncio cala fundo, e é como se uma voz nos sussurrasse:
– Esquecer… é repetir.
NUNCA, pois, esqueçamos Terezín.
“A chegada do trem com deportados” – Edita Pollak, 9 anos



Os músicos que acompanham a mezzo-soprano Anne Sofie von Otter no álbum:

Christian Gerhaher, barítono - Daniel Hope, violino - Bengt Forsberg e Gerold Huber, piano
Ib Hausmann, clarinete - Philip Dukes, viola - Josephine Knight, violoncelo - Bebe Risenfors, violão e acordeão

As faixas, seus autores e intérpretes:
Ilse Weber - Karel Svenk - Emmerich Kalman - Hans Krasa

Ilse WEBER (1903-1944)
01 – Ich wandre durch Theresienstadt
Anne-Sophie von Otter, Bengt Forsberg, Bebe Risenfors

Karel ŠVENK (1917-1945)
arranjo de Moshe Zorman
02 – Pod destnikem
03 – Vsecho jde!
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg, Bebe Risenfors

Ilse WEBER
04 – Ade, Kamerad!
Christian Gerhaher, Gerold Huber
05 – Und die Regen rinnt
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg

Adolf STRAUSS (1902-1944)
arranjo de Moshe Zorman
06 –  Ich weiß bestimmt, ich werd Dich
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg

Emmerich KÁLMÁN (1882-1953)
07 – Gräfin Mariza – Opereta em três atos: Terezín-Lied
Christian Gerhaher, Gerold Huber

Martin ROMAN (1910-1996)
08 – Karrussell
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg

Ilse WEBER
09 – Wiegala
Anne Sofie von Otter, Bebe Risenfors

Hans KRÁSA (1899-1944)
Três Canções sobre poemas de Arthur Rimbaud, traduzidas por Vítězslav Nezval:
10 – Čtyřverší
11 – Vzrušení
12 – Přátelé
Christian Gerhaher, Ib Hausmann, Philip Dukes, Josephine Knight

Carlo Sigmund TAUBE (1897-1944)
13 – Ein jüdisches Kind
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg, Ib Hausmann

Viktor ULLMAN (1898-1944)
14 – Drei jiddische Lieder (Brezulinka), Op.53 – no. 1: Berjoskele
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg
Seis Sonetos de Louize Labané, Op.34
15 – No. 1: “Claire Vénus”
16 – No. 2: “On voit mourir”
17 – No. 3: “Je vis, je meurs…”
Anne Sofie von Otter, Bengt Forsberg

Pavel HAAS (1899-1944)
Quatro Canções sobre Poemas Chineses
18 –  Zaslechl jsem divoké husy
19 – V bambusovém háji
20 – Daleko měsíc je domova
21 – Probděná noc
Christian Gerhaher, Gerold Huber

Erwin Schulhoff [Ervín ŠULHOV] (1894-1942)
Sonata para violino solo (1927)
22 – Allegro con fuoco
23 – Andante cantabile
24 – Scherzo
25 – Finale
Daniel Hope
Carlo Sigmund Taube - Viktor Ullman - Pavel Haas - Erwin Schulhoff
Não consegui as imagens de dois compositores: Adolf Strauss e Martin Roman.

Acesse também ao site do Museu Judaico de Praga http://www.jewishmuseum.cz/en/explore/permanent-collection/children-s-drawings-from-the-terezin-ghetto-1942-1944/

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