quarta-feira, 31 de maio de 2017

CORELLI


Arcangelo Corelli foi um professor, maestro, violinista e compositor italiano, nascido na Vila de Fusignano, província de Ravena, no dia 17 de Fevereiro de 1653, foi o quinto filho de Santa Raffini e Arcangelo Corelli, que veio a falecer pouco mais de um mês antes de seu nascimento.



Pouco se sabe sobre a sua vida.

Sua vocação musical teria se revelado muito cedo, ao ouvir um padre violinista, porém sua família apoiava a ideia de que tivesse a música como profissão. Em sua época esta arte era passatempo e sinalizava uma educação refinada, entretanto os profissionais não tinham prestígio social e vinham das classes sociais mais baixas.

Giovanni Battista Bassani
Sua mãe viúva permitiu que tivesse aulas com professores desconhecidos, sem deixar a educação formal.

Passou por Lugo e Faenza. Aos treze anos estava em Bolonha, onde decidiu dedicar-se integralmente à música.

Naquela cidade manteve contato com afamados professores, dentre eles Giovanni Benvenuti e Leonardo Brugnoli, e provavelmente Giovanni Battista Bassani e manifestou sua preferência pelo violino.

Academia Filarmônica - ontem e hoje
Progrediu rapidamente no aprendizado do instrumento, tanto que em 1670 foi admitido na Academia Filarmônica, uma das mais seletivas da Itália.

Corelli foi um dos responsáveis pela ascensão do violino como instrumento solista.

Matteo Simonelli
Sentindo a necessidade de aperfeiçoar-se no contraponto e na composição, decidiu partir para Roma, sob a orientação de Matteo Simonelli, um exímio contrapontista, que exerceu importante influência no seu amadurecimento como compositor.

Lully
Acredita-se que antes de chegar a Roma tenha feito uma viagem a Paris, onde teria estado com o célebre Jean-Baptiste Lully.

Também haveria estado em Munique, Heidelberg, Ansbach, Düsseldorf e Hannover.

Igreja São João dos Florentinos

Seu primeiro registro seguro, em Roma, data de 31 de março de 1675, onde consta dentre os violinistas na execução de um grupo de oratórios na Igreja San Giovanni dei Fiorentini, incluindo a obra San Giovanni Battista, de Alessandro Stradella.
Stradella
Em 25 de agosto seu nome aparece na lista de pagamento pela execução de obras na Festa de São Luís realizada na Chiesa San Luigi dei Francesi, em presença da nobreza e do corpo diplomático.

Igreja São Luiz dos Franceses
Entre 1676 e 1678 é documentado como segundo violino na mesma Igreja.

Em 06 de janeiro de 1678 foi o primeiro violino e regente da orquestra que apresentou a ópera Dov'è amore è pietà, de Bernardo Pasquini, na inauguração do Teatro Capranica. Esta apresentação significou sua consagração no mundo musical romano.
Pasquini
Tornou-se primeiro violino da orquestra de São Luís e em 1679 entrou no serviço da ex-rainha Cristina da Suécia, que se radicara em Roma e ali mantinha uma corte brilhante.

No ano seguinte concluiu e apresentou sua primeira coleção organizada de obras, impressa em 1681: Sonate à tre, doi Violini, e Violone, o Arcileuto, col Basso per l'Organo (Sonatas a três; dois violinos e violoncelo ou arquialaúde, com órgão como baixo), que dedicou a Cristina. 

Na autoria, fez reverência aos seus estudos iniciais, assinando como Arcangelo Corelli de Fusignano, o Bolonhês, apelido logo abandonado.

Entre agosto de 1682 até 1709 esteve sempre à frente da orquestra de São Luís.

Deixou a Corte de Cristina, em 1.684, pois seu salário não era regular no pagamento de seu salário.

Em 1685 publicou sua Opera Seconda, composta de doze sonatas de câmara, que recebeu críticas do bolonhês Matteo Zanni por supostos erros de composição. O autor escreveu uma defesa indignada que deu origem a uma polêmica epistolar que se estendeu por meses.
Cardela Pamphili

Com prestígio, tornou-se conhecido internacionalmente como maestro, compositor e virtuoso do violino, tendo suas obras reimpressas e admiradas em muitas cidades da Europa.

Passou para o serviço do cardeal Benedetto Pamphili, um amigo e grande mecenas, que em 1687 o tornou seu mestre de música. No mesmo ano foi listado entre os membros da prestigiada Congregazione dei Virtuosi di Santa Cecilia al Pantheon.

Nesta época começou a lecionar, dentre seus alunos estava Matteo Fornari, que seria também seu secretário e auxiliar pelo resto da vida.

Ainda em 1687, organizou um grande concerto em homenagem ao rei Jaime II da Inglaterra por ocasião da embaixada que ele enviara ao papa Inocêncio XI, conduzindo uma orquestra de 150 músicos.
Opera Terza
Em 1689, publica sua coleção de doze sonatas de igreja (Opera Terza).
Cardeal Ottoboni
Graças à intervenção de Pamphili, que em 1690 foi transferido para Bolonha, Corelli tornou-se diretor de música da corte do cardeal Pietro Ottoboni, sobrinho do papa Alexandre VIII. Era personagem de grande influência na Igreja e se dedicava a um intenso mecenato, outra eminência a quem deveria amizade e grandes benefícios, e em cujo palácio veio a morar. Sua amizade se estenderia à família de Corelli, acolhendo seus irmãos Ippolito, Domenico e Giacinto em sua corte. Ali o compositor teria total liberdade de ação, sem as pressões que outros músicos sofriam de seus patrões poderosos.


Sua vida pessoal era modesta e discreta, somente dando-se ao luxo de adquirir uma coleção de pinturas.

Em 1694, publica uma nova série de doze sonatas de câmara.

Em 1700 publica suas doze sonatas para violino e baixo.

Em 1706, Corelli foi admitido na Accademia dell'Arcadia (Academia da Arcádia), a glória máxima para um artista, onde adotou o nome simbólico Arcomelo Erimanteo.

Em 1708 circulou uma notícia de que havia morrido, gerando pesar em várias cortes europeias, escreveu uma carta ao governante esclarecendo que ainda vivia, também declarava trabalhava na elaboração de sua última coleção de obras, os concertos grossos, que não veria ser publicada.

Em 1710 deixou de aparecer em público, sendo substituído por seu discípulo Fornari na direção da orquestra de São Luís.

Até 1712 residiu no Palácio da Chancelaria, e no fim deste ano, talvez pressagiando seu fim, mudou-se para o Palazzetto Ermini, onde moravam seu irmão Giacinto e seu sobrinho.

Em 05 de janeiro de 1713 escreveu seu testamento, onde constava um patrimônio relativamente pequeno, constituído de seus violinos e partituras e uma pensão, mas destacava-se a grande coleção de pinturas que reuniu ao longo de sua vida, com cerca de 140 peças.

Faleceu na noite de 08 de janeiro, sem que se saiba a causa do óbito. Não tinha sessenta anos.

Sua morte causou comoção, o cardeal Ottoboni escreveu uma carta de condolências à família onde se colocava como seu protetor perpétuo.

Panteão e detalhe da lápide
Foi sepultado no Panteão, privilégio nunca concedido a um músico, e conseguiu que o eleitor do Palatinado conferisse à sua família o título de marqueses de Ladenburg.

Seus obituários foram unânimes em reconhecer sua grandeza, e durante muitos anos o aniversário de sua morte foi celebrado solenemente no Panteão.

Handel - Bach - Couperin
O legado musical que deixou influenciou toda uma geração de compositores, dentre eles Georg Friedrich Händel, Johann Sebastian Bach e François Couperin, além de muitos outros de menor expressão.


Em 1714 é publicada, postumamente, sua Opera Sesta, com os doze concertos grossos. 

Essa série de concertos é considerada o ápice dos seus esforços em composição, e que manteve sua fama póstuma.

Geminiani
Sabidamente teve muitos alunos, mas quem foram eles permanece uma grande incógnita, e poucos são os que seguramente passaram por sua disciplina, entre eles o já citado Fornari, Giovanni Battista Somis, Pietro Castrucci, Sir John Clerk of Penicuik, Gasparo Visconti, Giovanni Stefano Carbonelli, Francesco Gasparini, Jean-Baptiste Anet, Georg Muffat, e Francesco Geminiani, tradicionalmente considerado seu mais dotado discípulo, às vezes se duvida que tenha de fato aprendido com ele.

Ouçam um pouco de sua obra!

quinta-feira, 25 de maio de 2017

ALESSANDRO SCARLATTI


Alessandro Scarlatti, era o nome artístico de Pietro Alessandro Gaspari, nascido no dia 02 de Maio de 1660, na Sicília, em Trapani ou Palermo. 

Foi um compositor italiano de grande importância para a música lírica do período barroco.

Seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento da ópera séria e da ópera bufa (ópera cômica) do seu tempo.
Francesco

Filho de Pietro Scarlata e Eleanor d’Armato.

Foi o mais velho de sete irmãos, alguns dos quais vieram a ser músicos: Anna Maria, Melchiorra e Tommaso, cantores; Francesco, compositor.

Quando contava cerca de doze anos, foi enviado para o continente com as duas irmãs, e as três crianças foram residir na casa de alguns parentes, em Roma.

Pouco se conhece sobre os primeiros anos de juventude ou dos seus estudos.
Giacomo Carissimi

Supõe-se que, em Roma, Alessandro tenha sido aluno de Foggia e Pasquini. E também tenha tido aulas com Giacomo Carissimi.

Alessandro havia se casado em 1678, no ano seguinte no dia 05 de Maio nasce Pietro Filippo, seu primeiro filho, que seria um compositor, organista e maestro.

O primeiro documento que comprova a atividade de Alessandro Scarlatti como compositor remonta a 1679, e diz respeito à alocação de uma atribuição importante - a elaboração de um oratório para Arciconfraternita del SS. Crocifisso (Arquifraternidade do Santíssimo Crucifixo).

O sucesso que sua ópera Gli Equivoci nell’amore (1679) alcançou em Roma contribuiu de forma decisiva para que Scarlatti ganhasse a proteção da Rainha Cristina da Suécia.

Rainha Cristina
Cristina vivia na cidade à época depois de ter abdicado e se convertido ao catolicismo e fez de Scarlatti seu maestro di cappella, este posto fez com que sua obra fosse admirada por um círculo requintado de ouvintes em Roma, fato que contribuiu diretamente para a rápida ascensão do autor, sobretudo no campo da música vocal.

Em fevereiro de 1684, o ex-embaixador espanhol no Vaticano, Gaspar de Haro y Guzmán, na época nomeado Vice-Rei de Nápoles, contratou Alessandro Scarlatti para ser o seu maestro di cappella.

Um ano depois de assumir o novo posto, no dia 26 de Outubro nasceu o sexto filho de Alessandro, Giuseppe Domenico, o mais famoso de seus dez filhos.

Os filhos: Pietro Filippo e Giuseppe Domenico

Ocupou o cargo até 1702, produzindo cerca de 80 óperas, sendo que apenas a metade sobreviveu até nossos dias. Foram ainda nove oratórios, sete serenatas e 65 cantatas.

Nesse período Scarlatti firmou alguns dos pilares da ópera de seu tempo que estiveram em vigor até a grande revolução feita por Mozart.

Dentre esses elementos temos a abertura em estilo italiano (rápido-lento-rápido), os recitativos acompanhados e a ária da capo.

Por conta da Guerra de Sucessão Espanhola, entre 1701 e 1713, viu-se obrigado a mudar de função, tentou primeiro, um posto na corte de Florença, junto a Ferdinando de Medici, filho do Grão-Duque da Toscana, mas sem sucesso.

Assim Scarlatti retorna a Roma, conquistando o cargo de vice maestro di cappella na igreja de Santa Maria Maggiore, em 1703, por influência do cardeal Pietro Ottoboni, que já o havia contratado no ano anterior.

Em Roma, Scarlatti se tornou um requisitado compositor de cantatas, tendo recebido encomendas dos Medici e da rainha Maria da Polônia.
Corelli

Em 1706, Scarlatti é admitido na Academia de la Arcadia, cujo acesso estava restrito a nobres e eruditos. Manteve contato próximo com outro expoente da música barroca, o compositor e violinista Arcangelo Corelli.

Entre os anos de 1707 e 1708, Scarlatti não compôs óperas, mas recebeu encomendas importantes como um ciclo de responsórios para a Semana Santa para a corte dos Medici e a célebre Cantata per la Notte di Natale, interpretada na corte papal.

Em 1708, Scarlatti compõe dois oratórios com textos do cardeal Ottoboni: Il Martirio di Santa Cecilia e o Oratorio per la Passione di nostro Signor Gesu Cristo. Essas obras fizeram parte do ciclo de oito oratórios que o cardeal havia organizado para o período da Quaresma. O segundo desses oratórios, com o subtítulo de La Colpa, Il Pentimento, la Grazia é considerado uma de suas maiores obras no gênero e foi representado no Palácio da Chancelaria, da Santa Sé.
Händel

É possível que Scarlatti tenha composto essa obra-prima no contexto de sua rivalidade com o jovem Händel (1685-1759) que se encontrava na Itália na mesma época e cujo oratório La Resurrezione foi apresentado no Domingo de Páscoa seguinte no palácio Ruspoli, em Roma.

A falta de um posto fixo e de seus rendimentos insuficientes são motivos para o seu retorno a Nápoles.

Em 1708, o novo governo austríaco tornou a chamá-lo à Nápoles, onde foi reintegrado nas suas antigas funções. Estava no auge de sua carreira e os 10 anos seguintes que passou em Nápoles foram, tanto para ele como para a família, um período de intensa atividade artística.

1716, o papa lhe concedeu privilégios de nobreza.

Em Nápoles, porém, seguiram-se diversos fracassos no campo operístico. A cidade parecia ter se cansado de sua música. Sua ópera cômica Il trionfo dell'onore de 1718 não foi bem recebida pelo público da cidade. Melhor acolhida tiveram suas obras cômicas em dialeto napolitano que começavam a entrar em moda nessa época.

Produziu algumas de suas melhores óperas, para o Teatro Capranica em Roma, tais como Telemaco em 1718 e Marco Attilio Regolò em 1719. Sua última ópera, La Griselda, foi apresentada também no Teatro Capranica, em 1721 sob o patrocínio do príncipe Francesco Ruspoli.

E deste mesmo ano uma missa para coro e orquestra, composta em honra a Santa Cecília sob encomenda do cardeal Troiano Acquaviva.

Desde então, a obra de Scarlatti começou a cair no esquecimento, e uma nova geração de compositores líricos ocupava o seu espaço, nomes como Leonardo Leo, Leonardo Vinci, Johann Adolf Hasse e Giovanni Battista Pergolesi.

Leonardo Leo, Leonardo Vinci e Pergolesi
Em seus últimos anos de vida, em Nápoles, Scarlatti recebeu e ensinou diversos dos nomes daquela nova geração, incluindo o compositor lírico Hasse e flautista Johann Joachim Quantz.

Os alunos: Johann Adolf Hasse e Johann Joachim Quantz

Compôs nessa época suas sete sonatas para flauta e cordas. Scarlatti morreu em Nápoles em 24 de outubro de 1725, foi sepultado na igreja de Montesanto, em Nápoles.

Tratado como o pai da escola napolitana de ópera, um dos primeiros grandes músicos clássicos. É considerado um precursor direto de Mozart. 

quinta-feira, 18 de maio de 2017

MESSIAEN


Compositor, organista e ornitologista francês, autor de vasta produção, que se estende pela música para órgão, piano, de câmara, vocal (com ou sem instrumentos), concertante, sinfônica, coral-sinfônico e uma ópera: São Francisco de Assis.

Olivier Eugène Prosper Charles Messiaen nascido no dia 10 de Dezembro de 1908 em Avignon, no sul da França.


O casal e Olivier aos dois anos.
Foi primeiro filho de Pierre Messiaen (1883-1957), um professor de inglês que traduziu as peças de Shakeaspeare para o francês e Cécile Sauvage (1883-1927), uma poetisa que publicou uma sequência de poemas, L'âme bourgeon en ("A Alma de brotamento"), o último capítulo de Tandis que la terre tourne ("À medida que as voltas da Terra"), que trata o nascimento de seu filho.

Seu pai foi convocado como soldado durante a Primeira Guerra Mundial. Cécile Sauvage muda-se para Grenoble onde Olivier passa uma parte importante da sua infância. 

Grenoble
Grenoble fica situada perto das montanhas as quais irão marcar intensamente Messiaen. 

Foram estas montanhas em particular, que Messiaen teve em mente em diversas obras, nomeadamente em ‘Montagnes’, terceiro andamento do ciclo vocal Harawi (1945), ou em ‘Les Mains de l’abîme’ do Livre d’Orgue (1951), ou ainda ‘Chocard des Alpes’ da obra Catalogue d’Oiseaux (1956-58).

Foi nessa época que Olivier adquire uma fé católica inabalável.

Ravel e Debussy
Desde cedo demonstrou interesse pela música, sendo autodidata no piano, demonstrando interesse pelos compositores franceses Ravel e Debussy.

Em 1918, seu pai voltou da guerra, a família muda-se para Nantes. O jovem Olivier continua com as aulas de música. Recebeu as primeiras aulas de piano com os professores Véron e Gontran Arcouët e harmonia com o professor Jehan de Gibon.

No ano seguinte, seu pai consegue um emprego de professor no Liceu Charlemagne em Paris, e a família se mudou novamente.

Aos onze anos de idade, entrou no Conservatório de Paris, para estudar piano e percussão.

Estuda diversas disciplinas com diferentes professores entre os quais Jean e Noël Gallon (aulas privadas em paralelo com o conservatório), Georges Falkenberg (piano), Georges Caussade (contraponto e fuga), César Abel Estyle (piano acompanhamento) e Joseph Baggers (tímpanos e percussão).

No Conservatório conquista diversos prêmios entre os anos de 1924 e 1930, mérito dele e de seus professores:


Emmanuel - Dupré - Dukas
- Maurice Emmanuel (história da Música) desenvolve o interesse no jovem Olivier por ritmos antigos gregos e modos exóticos.

- Marcel Dupré (órgão e improvisação) que transmite o legado dos grandes organistas franceses, instrumento que teve como mentores Alexandre Guilmant e Charles Marie Widor,

- Paul Dukas (composição e orquestração) é o responsável pelo seu domínio da orquestração e composição.

Eglise de la Sainte-Trinite
Em 1928, aos 20 anos, ele fez várias visitas à casa de suas tias paternas, Martha e Agnès Messiaen em Fuligny, Aube. Foi ali que compôs sete de seus primeiros trabalhos no piano. 

Ele ouve o canto dos pássaros e transcreve em sua música. Fascinado pelas aves, que inspiraram sua vida e muitas de suas composições, ele também se torna um ornitólogo.


Aos vinte e dois anos de idade, em Setembro de 1931, foi designado organista na Eglise de la Sainte-Trinite de Paris, sendo o mais jovem instrumentista a ocupar este posto, que ocupou até à sua morte, sucedendo Charles Quef, ali compôs numerosas obras.

Junho de 1932 casa-se com a violinista e compositora Claire Delbos para a qual escreve como prenda de casamento a obra Thème et variations para violino e piano.

Em 1936-7 escreve Poème pour Mi para soprano com piano ou orquestra (‘Mi’ é o nome afectivo da sua mulher).

A sua maior obra desta época foi o ciclo de nove meditações para órgão intituladas La Nativité du Seigneur (1935), com a duração de cerca de uma hora, na qual, pela primeira vez Messiaen utiliza um sistema rítmico próprio combinado com uma estrutura melódico-harmónica muito particular.

Ela termina seus dias em um hospital psiquiátrico, falecendo em 1959.

École Normale de Musique
De 1936 a 1939, Olivier lecionou na École Normale de Musique, em Paris e na Schola Cantorum e ao mesmo tempo ajudou a fundar o grupo Jeune France com André Jolivet, Daniel Lesur e Yves Harness.

Quando eclodiu a segunda guerra mundial foi chamado a cumprir o serviço militar.

Em Maio de 1940 foi capturado e feito prisioneiro de guerra tendo sido levado para o campo de concentração de Görlitz na Silesia. onde esteve dois anos.
Stalag VIII A, Görlitz
Foi ali que compôs o Quatuor pour la fin du temps ("Quarteto pelo fim do tempo"), sua obra mais célebre, para os quatro instrumentos disponíveis: piano, violino, violoncelo e clarinete. Tendo sido apresentada em circunstâncias insólitas, na própria prisão, perante cerca de cinco mil prisioneiros oriundos de diversos países, a 15 de Janeiro de 1941. 


da esquerda para direita:
Jean Le Boulaires, Messiaen (em pé), Henri Akoka e Étienne Pasquier
São intérpretes o próprio Messiaen, em piano, e três outros músicos também aí detidos - o violoncelista Étienne Pasquier, o violinista Jean Le Boulaire e o clarinetista Henri Akoka.

Yvonne Loriod
Ao sair da prisão em 1941, Messiaen foi nomeado professor de harmonia no Conservatório de Paris, tornando-se um dos pedagogos mais influentes do seu tempo. 

Ali conheceu uma jovem estudante, Yvonne Loriod, que se torna a primeira e mais importante intérprete de suas obras para piano, casaram-se em 1961.

A década de quarenta constituiu um importante período na sua composição onde se incluem obras como Visions de l’Amen (1943) para dois pianos, Trois petites liturgies (1943-44) vocalorquestral, Vint Regards sur l’Énfant-Jésus (1944) para piano, Harawi (1945) soprano e piano.


Koussevitzky

Até compor a Turangalîla-Symphonie, escrita entre 1946 e 1948, por encomenda de Serge Koussevitzky para a Boston Symphony Orchestra.


A obra estreou em 1949, sob a regência do maestro Leonard Bernstein.

Olivier decide utilizar na obra um um instrumento musical eletrônico com teclado, denominado Ondas Martenot.

A máquina foi criada em 1928 por Maurice Martenot, originalmente muito semelhante ao teremim, que produz um som ondulante com válvulas termiónicas de frequência oscilatória.


Criador e Criatura - Maurice Martenot e Ondas Martenot

Uma obra, de inspiração mística, e com uma linguagem musical caracterizada por um ritmo novo e elementos exóticos.  

Na década seguinte, nos anos cinquenta, quase toda a sua música é baseada no canto dos pássaros onde explora o seu fascínio pelo ritmo.

Em 1966, torna-se professor de composição, função que ocupa até à sua reforma em 1978.

Seu ensino no Conservatório de Paris também contribuiu para sua reputação internacional, como a lista de seus alunos é longa e prestigiosa.

Dentre seus alunos temos Pierre Boulez, Pierre Henry, Marius Constant, Antoine Duhamel, Jean Prodromides Gilbert Amy, François-Bernard Mache, Paul Méfano, Karlheinz Stockhausen, Iannis Xenakis, Michaël Levinas, Tristan Murail, Adrienne Clostre, Gérard Grisey, Philippe Fenelon, Kent Nagano, George Benjamin, Alain Louvier Alain Abbott, Erzsébet Szőnyi, Alain Mabit Jean-Pierre Leguay, Betsy Jolas, Serge Garant, Gilles Tremblay, Michel Fano, Claude Vivier, Michèle Reverdy, Serge Gut, José Antônio Rezende de Almeida Prado, etc.

Na década de 1960, o compositor procurou fazer uma síntese estilística do seu próprio legado e criou obras de profunda devoção religiosa e grandes proporções como a célebre oratória La Transfiguration, resultado de uma encomenda da Fundação Gulbenkian.

Messiaen viaja com a pianista Yvonne Loriod e leciona em vários países: Argentina, Bulgária, Canadá, EUA, Finlândia, Hungria, Itália, Japão.

Saint François d'Assise (1975-83) ópera em 3 atos e 8 quadros com libreto do compositor, constitui uma inesperada experiência no domínio da ópera tendo sido encomendada e estreada na Ópera de Paris, tendo se seguido, imediatamente, a sua última e monumental obra para órgão Livre du Saint-Sacrament (1984) por encomenda da American Organists Guild.


Mehta

Finalmente depois de ter escrito algumas pequenas peças, conclui em 1992 Éclairs sur l'Au-Delà, obra encomendada por Zubin Mehta para a Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, no âmbito das comemorações do 150º aniversário deste agrupamento.



Suas grandes obras fizeram dele um dos compositores mais influentes da música contemporânea na segunda metade do século XX. Entre os elementos característicos de sua linguagem são:

- A cor;
- Cantos de pássaros;
- Ritmos;
- Modos de transposição;
- Inspiração cristã;
- Métrica grega e cantochão.

Ele morreu 27 de abril de 1992 no Hospital Beaujon, em Clichy. E seu corpo está sepultado no cemitério de Saint-Théoffrey a 35 km de Grenoble, entre Laffrey e La Mure, a cidade em que ele possuía uma propriedade.

Detalhe de sua sepultura


“A música é um diálogo permanente entre o espaço e o tempo, entre som e cor, o diálogo que leva a unificação: o tempo é o espaço, o som é cor, o espaço é um momento de complexo superposto, sons complexos existem simultaneamente como cores complexas. O músico que pensa, vê, ouve, fala através desses conceitos básicos e pode até certo ponto se aproximar do além." Olivier Messiaen

quinta-feira, 11 de maio de 2017

VIVALDI



Nascido em 04 de Março de 1678 em Veneza, que naquela época era república independente – a Sereníssima Reppublica. Antonio era o mais velho de sete filhos de Giovanni Battista Vivaldi e Camilla Calicchio.



Na infância, influenciado pelo pai que era violinista e barbeiro, foi matriculado na Capela Ducal de São Marcos para aperfeiçoar seus conhecimentos com as notas musicais e, induzido também a estudar Teologia, assim teria todas as garantias e a proteção da Igreja e transitaria livremente no meio musical de Veneza.

Aos 25 anos foi ordenado padre, naquela época era conhecido como o Padre Ruivo, pois era bastante raro ter os cabelos vermelhos além de não ser bem vistos. Exerceu o sacerdócio por pouco mais de um ano.

Conta-se que durante o sacerdócio, por vezes abandonava as missas para anotar melodias que lhe vinham à mente, o que acabou fazendo com fosse afastado das funções sacerdotais pelo Tribunal da Inquisição, porém, ele mesmo explicaria o seu problema, já no final da vida:

“Há vinte e cinco anos não celebro missa e não mais o farei, não por ordem ou proibição de meus superiores, mas de minha vontade espontânea, devido a uma doença congênita que me deixa a sensação de falta de ar. Assim que me ordenei padre, rezei a missa durante pouco mais de um ano e por três vezes tive que abandonar o altar sem terminar a cerimônia, por causa desse mesmo mal”.

Vivaldi chamava a tal doença de stretezza di petto – estreiteza de peito. Asma. É certo que sua saúde era frágil desde o nascimento.

No início do século XVIII em sua cidade natal, Vivaldi era professor de violino no Ospedale della Pietà, instituição religiosa que fornecia abrigo e formação musical para meninas carentes.

Tornou-se diretor desta casa em 1705, cargo bastante cobiçado, não tanto pela remuneração, mas por dispor de uma boa orquestra, coro e solistas sem qualquer limitação.

Assim pode desenvolver diversas experiências musicais, compondo especialmente para as crianças daquele orfanato.

Vivaldi dedicou-se também à ópera, não apenas como compositor, mas empresariado. Teve seu nome ligado ao Teatro Santo Ângelo de Veneza, onde se tornou o principal organizador, contratava e dispensa atores e cantores, resolvia os atritos, solucionava os problemas financeiros, ensaiava, montava turnês, a sua doença não o impedia de fazer aquilo que mais gostava.

Vivaldi e Giraud - cena do filme Vivaldi, um príncipe em Veneza
Escandalizou a sociedade conservadora de sua época, por estar sempre cercado de uma legião feminina, em especial, contava com a inseparável companhia de sua jovem aluna e cantora Anna Giraud. A história registra apenas que a morte do compositor os separou, mas nunca se casaram.

Sua companhia teatral esteve em inúmeras cidades, entretanto em Ferrara no ano de 1737, viu-se proibido de apresentar-se, pois o Cardeal Tommaso Ruffo considerava-o uma pessoa indigna:

- “Um padre que não reza missa e que mantém uma amizade suspeita com uma cantora”. 

Em virtude a proibição boa parte dos bens de Vivaldi foi consumida, o que para ele foi considerada uma ruína total. 

Quase falido e mal visto em sua cidade, parte para o Norte da Europa, em 1740.

Alguns pesquisadores defendem que Vivaldi fora expulso pelo governo do Grão Ducado de Veneza. Durante este exílio, na cidade de Viena, hospedou-se juntamente com Anna na casa de um desconhecido de nome Satler, ficando algum tempo ali vindo a falecer no dia 28 de Julho de 1741.

Foi sepultado de forma simples, pobre e sem qualquer ritual ou protocolo, na mais completa obscuridade.

Destacou-se principalmente em três gêneros:
- Música Sacra, Ópera e principalmente o Concerto, onde se encontra o melhor de sua música.

Compôs:
- 456 concertos, sendo 210 para o violino ou violoncelo solo, dos quais se destaca o seu mais conhecido e divulgado trabalho, As quatro estações.
- 73 Sonatas,
- 44 motetos,
- 3 oratórios,
- 2 serenatas,
- 100 árias (número aproximado)
- 30 cantatas e;
- 47 óperas.

Sem considerar o que foi perdido, pois desde 1729 deixara de publicar suas obras preferindo vendê-las a particulares, pois o lucro era maior.

Os números demonstram sua agitação e ânsia de compor, todas as peças têm a sedução como a sua marca pessoal, sua música é uma das mais ricas já compostas, embora com uma estrutura simples e clara.

Vivaldi deixou sua marca em toda a música instrumental que o sucedeu, é considerado o primeiro compositor sinfônico. Com ele os violinos adquirem grande força e densidade orquestral, é fixado o esquema tradicional de movimentos (rápido, lento, rápido), surge o concerto para solista, a instrumentação e a orquestração ganham importância nunca alcançada. Há também o lado impressionista representado em obras como As Quatro Estações e a Tempestade no Mar.

O amor à arte e a coragem de romper as regras vigentes na sociedade veneziana de sua época foram marcas principais na sua trajetória. As melodias agradavam a minoria intelectual e despertavam interesses em pessoas que, até então, se mantinham distantes da música. Sem temer críticas, o músico inovou em suas composições, iluminando a estrutura formal e rítmica do concerto. Buscou contrastes harmônicos, que resultam em originalidade. Uma irreverência que fez dele um dos maiores talentos do período barroco.

Sua música era moderna para a sua época e até hoje não perdeu seu encanto, era uma escrita de certa forma fácil, pois em grande parte foi composta para interpretação das crianças do orfanato.

Seus concertos foram tomados como modelos formais por vários compositores do barroco tardio, inclusive Johann Sebastian Bach, que transcreveu dez deles para teclados, nem todos os músicos demonstram o mesmo entusiasmo pela sua obra, Stravinsky afirmou em tom provocativo que Vivaldi não teria escrito centenas de concertos, mas um único e repetido centenas de vezes.

Apesar da fama de que gozou em vida, Vivaldi foi logo esquecido com o advento do classicismo. 

Seus originais foram encadernados, após sua morte, em 27 volumes e vendidos a particulares, sendo redescobertos na década de 1920 em Turim e Genova.

Alfred Tomatis
A música de Vivaldi, juntamente com a de Mozart, Tchaikovsky, Corelli e Bach foi incluída nas teorias de Alfred Tomatis sobre os efeitos da música no comportamento humano, sendo usada em terapia musical.


Peter Ryom
As obras de Antonio Lucio Vivaldi são identificadas por seus números RV ou Ryom-Verzeichnis compilados no catálogo de Peter Ryom.