quinta-feira, 18 de maio de 2017

MESSIAEN


Compositor, organista e ornitologista francês, autor de vasta produção, que se estende pela música para órgão, piano, de câmara, vocal (com ou sem instrumentos), concertante, sinfônica, coral-sinfônico e uma ópera: São Francisco de Assis.

Olivier Eugène Prosper Charles Messiaen nascido no dia 10 de Dezembro de 1908 em Avignon, no sul da França.


O casal e Olivier aos dois anos.
Foi primeiro filho de Pierre Messiaen (1883-1957), um professor de inglês que traduziu as peças de Shakeaspeare para o francês e Cécile Sauvage (1883-1927), uma poetisa que publicou uma sequência de poemas, L'âme bourgeon en ("A Alma de brotamento"), o último capítulo de Tandis que la terre tourne ("À medida que as voltas da Terra"), que trata o nascimento de seu filho.

Seu pai foi convocado como soldado durante a Primeira Guerra Mundial. Cécile Sauvage muda-se para Grenoble onde Olivier passa uma parte importante da sua infância. 

Grenoble
Grenoble fica situada perto das montanhas as quais irão marcar intensamente Messiaen. 

Foram estas montanhas em particular, que Messiaen teve em mente em diversas obras, nomeadamente em ‘Montagnes’, terceiro andamento do ciclo vocal Harawi (1945), ou em ‘Les Mains de l’abîme’ do Livre d’Orgue (1951), ou ainda ‘Chocard des Alpes’ da obra Catalogue d’Oiseaux (1956-58).

Foi nessa época que Olivier adquire uma fé católica inabalável.

Ravel e Debussy
Desde cedo demonstrou interesse pela música, sendo autodidata no piano, demonstrando interesse pelos compositores franceses Ravel e Debussy.

Em 1918, seu pai voltou da guerra, a família muda-se para Nantes. O jovem Olivier continua com as aulas de música. Recebeu as primeiras aulas de piano com os professores Véron e Gontran Arcouët e harmonia com o professor Jehan de Gibon.

No ano seguinte, seu pai consegue um emprego de professor no Liceu Charlemagne em Paris, e a família se mudou novamente.

Aos onze anos de idade, entrou no Conservatório de Paris, para estudar piano e percussão.

Estuda diversas disciplinas com diferentes professores entre os quais Jean e Noël Gallon (aulas privadas em paralelo com o conservatório), Georges Falkenberg (piano), Georges Caussade (contraponto e fuga), César Abel Estyle (piano acompanhamento) e Joseph Baggers (tímpanos e percussão).

No Conservatório conquista diversos prêmios entre os anos de 1924 e 1930, mérito dele e de seus professores:


Emmanuel - Dupré - Dukas
- Maurice Emmanuel (história da Música) desenvolve o interesse no jovem Olivier por ritmos antigos gregos e modos exóticos.

- Marcel Dupré (órgão e improvisação) que transmite o legado dos grandes organistas franceses, instrumento que teve como mentores Alexandre Guilmant e Charles Marie Widor,

- Paul Dukas (composição e orquestração) é o responsável pelo seu domínio da orquestração e composição.

Eglise de la Sainte-Trinite
Em 1928, aos 20 anos, ele fez várias visitas à casa de suas tias paternas, Martha e Agnès Messiaen em Fuligny, Aube. Foi ali que compôs sete de seus primeiros trabalhos no piano. 

Ele ouve o canto dos pássaros e transcreve em sua música. Fascinado pelas aves, que inspiraram sua vida e muitas de suas composições, ele também se torna um ornitólogo.


Aos vinte e dois anos de idade, em Setembro de 1931, foi designado organista na Eglise de la Sainte-Trinite de Paris, sendo o mais jovem instrumentista a ocupar este posto, que ocupou até à sua morte, sucedendo Charles Quef, ali compôs numerosas obras.

Junho de 1932 casa-se com a violinista e compositora Claire Delbos para a qual escreve como prenda de casamento a obra Thème et variations para violino e piano.

Em 1936-7 escreve Poème pour Mi para soprano com piano ou orquestra (‘Mi’ é o nome afectivo da sua mulher).

A sua maior obra desta época foi o ciclo de nove meditações para órgão intituladas La Nativité du Seigneur (1935), com a duração de cerca de uma hora, na qual, pela primeira vez Messiaen utiliza um sistema rítmico próprio combinado com uma estrutura melódico-harmónica muito particular.

Ela termina seus dias em um hospital psiquiátrico, falecendo em 1959.

École Normale de Musique
De 1936 a 1939, Olivier lecionou na École Normale de Musique, em Paris e na Schola Cantorum e ao mesmo tempo ajudou a fundar o grupo Jeune France com André Jolivet, Daniel Lesur e Yves Harness.

Quando eclodiu a segunda guerra mundial foi chamado a cumprir o serviço militar.

Em Maio de 1940 foi capturado e feito prisioneiro de guerra tendo sido levado para o campo de concentração de Görlitz na Silesia. onde esteve dois anos.
Stalag VIII A, Görlitz
Foi ali que compôs o Quatuor pour la fin du temps ("Quarteto pelo fim do tempo"), sua obra mais célebre, para os quatro instrumentos disponíveis: piano, violino, violoncelo e clarinete. Tendo sido apresentada em circunstâncias insólitas, na própria prisão, perante cerca de cinco mil prisioneiros oriundos de diversos países, a 15 de Janeiro de 1941. 


da esquerda para direita:
Jean Le Boulaires, Messiaen (em pé), Henri Akoka e Étienne Pasquier
São intérpretes o próprio Messiaen, em piano, e três outros músicos também aí detidos - o violoncelista Étienne Pasquier, o violinista Jean Le Boulaire e o clarinetista Henri Akoka.

Yvonne Loriod
Ao sair da prisão em 1941, Messiaen foi nomeado professor de harmonia no Conservatório de Paris, tornando-se um dos pedagogos mais influentes do seu tempo. 

Ali conheceu uma jovem estudante, Yvonne Loriod, que se torna a primeira e mais importante intérprete de suas obras para piano, casaram-se em 1961.

A década de quarenta constituiu um importante período na sua composição onde se incluem obras como Visions de l’Amen (1943) para dois pianos, Trois petites liturgies (1943-44) vocalorquestral, Vint Regards sur l’Énfant-Jésus (1944) para piano, Harawi (1945) soprano e piano.


Koussevitzky

Até compor a Turangalîla-Symphonie, escrita entre 1946 e 1948, por encomenda de Serge Koussevitzky para a Boston Symphony Orchestra.


A obra estreou em 1949, sob a regência do maestro Leonard Bernstein.

Olivier decide utilizar na obra um um instrumento musical eletrônico com teclado, denominado Ondas Martenot.

A máquina foi criada em 1928 por Maurice Martenot, originalmente muito semelhante ao teremim, que produz um som ondulante com válvulas termiónicas de frequência oscilatória.


Criador e Criatura - Maurice Martenot e Ondas Martenot

Uma obra, de inspiração mística, e com uma linguagem musical caracterizada por um ritmo novo e elementos exóticos.  

Na década seguinte, nos anos cinquenta, quase toda a sua música é baseada no canto dos pássaros onde explora o seu fascínio pelo ritmo.

Em 1966, torna-se professor de composição, função que ocupa até à sua reforma em 1978.

Seu ensino no Conservatório de Paris também contribuiu para sua reputação internacional, como a lista de seus alunos é longa e prestigiosa.

Dentre seus alunos temos Pierre Boulez, Pierre Henry, Marius Constant, Antoine Duhamel, Jean Prodromides Gilbert Amy, François-Bernard Mache, Paul Méfano, Karlheinz Stockhausen, Iannis Xenakis, Michaël Levinas, Tristan Murail, Adrienne Clostre, Gérard Grisey, Philippe Fenelon, Kent Nagano, George Benjamin, Alain Louvier Alain Abbott, Erzsébet Szőnyi, Alain Mabit Jean-Pierre Leguay, Betsy Jolas, Serge Garant, Gilles Tremblay, Michel Fano, Claude Vivier, Michèle Reverdy, Serge Gut, José Antônio Rezende de Almeida Prado, etc.

Na década de 1960, o compositor procurou fazer uma síntese estilística do seu próprio legado e criou obras de profunda devoção religiosa e grandes proporções como a célebre oratória La Transfiguration, resultado de uma encomenda da Fundação Gulbenkian.

Messiaen viaja com a pianista Yvonne Loriod e leciona em vários países: Argentina, Bulgária, Canadá, EUA, Finlândia, Hungria, Itália, Japão.

Saint François d'Assise (1975-83) ópera em 3 atos e 8 quadros com libreto do compositor, constitui uma inesperada experiência no domínio da ópera tendo sido encomendada e estreada na Ópera de Paris, tendo se seguido, imediatamente, a sua última e monumental obra para órgão Livre du Saint-Sacrament (1984) por encomenda da American Organists Guild.


Mehta

Finalmente depois de ter escrito algumas pequenas peças, conclui em 1992 Éclairs sur l'Au-Delà, obra encomendada por Zubin Mehta para a Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, no âmbito das comemorações do 150º aniversário deste agrupamento.



Suas grandes obras fizeram dele um dos compositores mais influentes da música contemporânea na segunda metade do século XX. Entre os elementos característicos de sua linguagem são:

- A cor;
- Cantos de pássaros;
- Ritmos;
- Modos de transposição;
- Inspiração cristã;
- Métrica grega e cantochão.

Ele morreu 27 de abril de 1992 no Hospital Beaujon, em Clichy. E seu corpo está sepultado no cemitério de Saint-Théoffrey a 35 km de Grenoble, entre Laffrey e La Mure, a cidade em que ele possuía uma propriedade.

Detalhe de sua sepultura


“A música é um diálogo permanente entre o espaço e o tempo, entre som e cor, o diálogo que leva a unificação: o tempo é o espaço, o som é cor, o espaço é um momento de complexo superposto, sons complexos existem simultaneamente como cores complexas. O músico que pensa, vê, ouve, fala através desses conceitos básicos e pode até certo ponto se aproximar do além." Olivier Messiaen

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