sexta-feira, 24 de maio de 2019

ROBERT SCHUMANN


"Ele ouvia as vozes dos anjos e anotava suas músicas. Mas logo os anjos se transformaram em demônios". 

A frase, dita por um amigo do compositor, define aquela que foi a maior batalha de Robert Alexander Schumann durante toda a vida: a luta contra a loucura. Bem poucos artistas encarnaram o espírito do romantismo tão bem quanto ele.

Schumann-Haus, Zwickau
Nascido praticamente dentro de uma livraria, na casa que hoje é o museu Schumann-Haus, em Zwickau no Reino da Saxônia, atual Alemanha, no dia 8 de junho de 1.810, foi o quinto e o último filho de Friedrich August Schumann, um livreiro, editor e romancista, e de Johanna Christina Schumann, seus irmãos eram: Emilie (1796–1825), Eduard (1799–1839) , Carl (1801–1849) e Julius (1805–1833).

Graças à profissão do pai teve acesso ao melhor da literatura da época, obras de Schiller, Goethe, Shakespeare, Lord Byron, E. T. A. Hoffman, Walter Scott e Johann Paul Friedrich Richter, autores foram fontes de inspiração em sua obra musical.

Intitulado como o Chopin alemão, Schumann é conhecido principalmente por suas composições para piano e suas canções, compositor típico do romantismo alemão. A tragédia romântica foi seu tema não só como artista, mas marcou também sua vida.

Johann Gottfried Kuntsch
Seu primeiro contato com a música foi aos sete anos quando passou a ter aulas de piano com Johann Gottfried Kuntsch, um autodidata que lecionava no liceu e tocava órgão na igreja de Santa Maria. Meses mais tarde, Robert já escrevia pequenas danças.

Aos dez anos foi transferido para o Liceu de Zwickau, onde permaneceu até 1828. Aos doze anos, Robert havia concluído a primeira das suas composições e havia formado um pequeno conjunto com seus amigos de escola (dois violinos, duas flautas, duas trompas e um clarinete) para tocar na escola e nas casas de família.

Schumann teve uma educação bastante abrangente, aprendeu latim, grego e francês, era apreciador da literatura grega e latina.

Suas aulas de música haviam sido interrompidas quando aos quinze anos, seu mestre Kuntzch reconheceu nada mais ter a lhe ensinar.

O ano seguinte, 1826, marca a sua vida por duas grandes perdas, sua irmã Emilie, num acesso de loucura, suicidou-se e seu pai, cuja saúde não caminhava bem, não suportou o choque e faleceu no mesmo ano. Robert entregou-se à melancolia, à passividade, a pressentimentos mórbidos.

Leipzig - década de 1820
Após formar-se no ensino médio, sua mãe decidiu que ele deveria estudar Direito, assim em 29 de março de 1828, Schumann se matriculou na Universidade de Leipzig, na capital do Reino da Saxônia.

Ocorre que a capital era desde Johann Sebastian Bach, um centro do que havia de melhor na música alemã, sendo reconhecida como Hauptstadt der deutschen Musik, a Capital da Música Germânica.

Friedrich Wieck
Método Logier
Schumann conheceu na casa do professor Ernst August Carus: Friedrich Wieck, um autodidata em piano, teoria da composição e educação musical e professor de piano com uma excelente reputação. 
Sua abordagem, seguindo o método de Bernhard Logier, consistia na combinação de tocar piano e técnica, bem como uma educação básica em teoria musical.

O mestre tinha como sua aluna mais bem sucedida sua filha Clara, uma pianista-prodígio, que Schumann viu pela primeira vez em 31 de março de 1828.

Heinrich Dorn
No mesmo período, estudou composição com Heinrich Ludwig Egmont Dorn, mestre de capela da catedral de Leipzig, recebendo como principais influências as obras de Mozart, Schubert e Beethoven, dentre outros.

"Minha vida tem sido uma luta entre a poesia e a prosa, ou, se quiseres, entre a música e o direito. Agora estou em uma encruzilhada e a questão para onde ir, me assusta". Escreveu em uma correspondência à sua mãe.

Preocupada Johana entrou em contato com Wieck que teria afirmado:
"Comprometo-me, minha senhora, a fazer de seu filho Robert, em menos de três anos, graças ao seu talento e à sua imaginação, um dos maiores pianistas vivos, mais espiritual e ardoroso que Mocheles, mais magnífico que Hummel."

Com isso teve a aprovação materna para seguir com a música em detrimento ao direito.
Niccolò Paganini
Nos meses seguintes, surgiram as primeiras obras primas de Schumann: Variações sobre o Nome Abbeg, Papillons. No estudo de piano, seu progresso era enorme, seria um virtuose.

Após assistir em Abril de 1830, com dois amigos em Frankfurt um concerto de Niccolò Paganini, viu-se impactado em dois aspectos: "Paganini despertou o máximo para a diligência" na prática do piano, e Schumann planejou variações virtuosas no La Campanella de Paganini, do qual apenas alguns esboços foram preservados.

Neue Zeitschrift für Musik
Ambicionado por adquirir a virtuosidade nas mãos, utiliza um aparelho chamado quiroplasto. O constante uso do apetrecho e o excesso de horas de estudos diários, na primavera de 1832, tornou paralítico para sempre, de um dos dedos da mão direita, com isso a história da música perdeu um intérprete e ganhou um grande compositor.

Desta forma, dedicou-se a composição e na produção de textos sobre música. Em 1834, fundou a revista "Neue Zeitschrift für Musik" (Nova Revista para a Música), com amigos e intelectuais da época, onde publicava artigos sobre os principais compositores e intérpretes alemães da época, e promovia novos artistas, dentre eles Brahms, que se tornou um grande amigo e quase um membro de sua família.

Ernestine von Fricken
Ainda naquele ano, ficou noivo de Ernestine von Fricken, porém rompeu o noivado antes do final de um ano, dedicou a jovem senhora, uma de suas obras-primas, Carnaval.

Clara Wieck após várias excursões como pianista retorna de Paris em abril de 1835, contando dezesseis anos. O amor entre Robert e Clara despontava definitivamente. 

O pai da jovem se opôs ao romance entre eles, visto que o talento da filha seria desperdiçado. 

Para evitar e afastar o casal, Clara foi para Dresden e proibida de qualquer forma de se comunicar com compositor.

Teve início um conflito judicial, encerrado em 1.840, quando Clara completou 21 anos e quando conseguiu a permissão nos tribunais para se casar com Schumann, o que aconteceu em 12 de setembro.


Em um de seus anos mais produtivos, 1840, ele compôs 168 lieder, boa parte delas apresentadas ao público pelo amigo e também compositor Felix Mendelssohn, regente da Gewandhaus, a magnífica sala de espetáculos de Leipzig. 

Grande parte das canções foi feita sobre poemas de Heine. Os mais belos são os que pertencem ao Ciclo Eichendorff.

O relacionamento do casal, além de oito filhos, rendeu 20 mil cartas trocadas, os problemas de uma família normal não impediram que os dois trabalhassem ativamente: ele compondo e ela se apresentando nos principais centros europeus. Devido a sua carreira de concertista, Clara gozava de muito maior renome do que ele. Tratado muitas vezes como "marido de Clara Wieck".

Schumann-Haus em Leipzig
O casal viveu por quatro anos em Leipzig, tempo inspirador para Schumann que compôs diversos ciclos de canções, quartetos de cordas, peças pianísticas, as primeiras sinfonias e o Concerto para piano em Lá menor, entre outras obras. A casa em Leipzig onde viveram de 1840 a 1844 hoje é um museu, espaço para eventos e escola - a "Schumann-Haus".

A popularidade de sua música, no entanto, era restrita: Beethoven e Chopin correspondiam mais ao gosto da época, e diante disso, Clara executava suas obras, algumas vezes no “bis” em seus recitais.

Conservatório de Leipzig

Em 1843, a convite de Mendelssohn, Schumann foi contratado para dar aulas no Conservatório de Leipzig, mas não se revelou um bom professor. Viajou para a Rússia em companhia da esposa e, quando retornou ao reino, os distúrbios psíquicos tornaram-se mais graves.

A partir de 1845, a qualidade das obras de Schumann começou a cair.

Schumann mudou-se com sua família para a Renânia em 1850, onde assumiu o cargo de diretor musical em Düsseldorf. 

Schumann teve graves problemas com os músicos, devido a sua estabilidade emocional. Em 1853, começa a ter alucinações auditivas, ouvindo incessantemente a nota "lá"; a isso se juntava a dificuldade de fala e a melancolia.

No início do ano seguinte, as alucinações tornam-se cada vez mais frequentes e, nos momentos de lucidez, é tomado pelo temor de se tornar completamente louco.

Na noite 17 de fevereiro de 1854, Schumann se levanta de seu leito, atormentado e insone, para escrever um tema ditado por anjos que via ao seu redor. Mas, aos poucos, essas figuras celestiais se transformam em demônios em forma de hiena e de tigre. E essas novas visões são acompanhadas de uma música tenebrosa e assustadora.

Manicômio de Endenich 
Em 27 de fevereiro de 1854, atirou-se no Rio Reno. 

Foi salvo por um grupo de barqueiros, mas, por vontade própria pede para ser internado num asilo de alienados, foi encaminhado para um manicômio em Endenich, próximo a Bonn, de onde jamais sairia. 

Foi diagnosticado com “melancolia psicótica”.

Proibido de encontrar a esposa, recebe frequentemente a visita de amigos. Para Clara, envia cartas que testemunham o seu amor até o fim: "Oh! se eu pudesse te rever, falar-te mais uma vez". A 23 de julho de 1856, cessa toda a alimentação. Chamada às pressas, Clara testemunha seus últimos momentos de consciência: "Ele me sorriu e com grande esforço me enlaçou em seus braços. Eu não trocaria esse abraço por todos os tesouros do mundo".

Morreu ao lado da esposa, Clara, e do amigo e discípulo Brahms, no dia 29 de julho de 1.856.

Clara Wieck Schumann
Os pesquisadores Eliot Slater, Alfred Meyer e Eric Sams afirmam que a demência de Schumann seria decorrente de uma mal curada sífilis terciária, que o próprio compositor admitiu ter contraído em seus anos de juventude.

Clara Schumann retomou a carreira de pianista, falecendo aos 77 anos em Frankfurt.

Robert Schumann não foi devidamente reconhecido em vida. Apenas depois de sua morte tornou-se um dos compositores mais queridos do público, influenciando César Franck, Alexander Borodin, Antonin Dvorak e Edvard Grieg.

Schumann correspondeu aos parâmetros do romantismo, nos quais amores impossíveis se alternavam com insanidade, delírios e atração pela morte.

Schumann também foi excelente crítico de música. Foi severo com Rossini e Meyerbeer, reconheceu o valor de Mendelssohn, descobriu obras inéditas de Schubert, saudou devidamente Chopin e adivinhou o gênio de Brahms.


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