César Guerra Peixe, nascido em Petrópolis, RJ, no dia
18 de Março de 1914, era o caçula de dez irmãos, filho Francisco Antônio Guerra
Peixe e Anna Adelaide Guerra Peixe, imigrantes portugueses que chegaram ao
Brasil em 1893.
Aos seis anos de idade aprendeu a tocar violão com o
seu pai, que trabalhava como ferrador de cavalos e era músico amador. Aos sete
era autodidata em bandolim, aos oito tocava violino e aos nove iniciou-se no piano.
Aos onze anos de idade é matriculado na Escola de
Música Santa Cecília, tendo aula de violino com o professor Gao Omacht, dentre
outros. Estudou também piano e teoria musical. Foi premiado por três vezes com
a medalha de prata por seu aproveitamento no violino.
Aos catorze anos de idade conseguiu o seu primeiro
trabalho, no cinema Glória em Petrópolis, como violinista nas sessões de filme
mudo.
Em 1929, aos quinze anos, conclui o curso de teoria e
solfejo com Deoclécio Damasceno de Freitas e é nomeado professor coadjuvante de
violino na Escola.
No ano seguinte, seu professor de violino viaja para o
exterior, passa a ter aulas Lionel Maul, e tornando-se também professor
catedrático de violino na Escola de Música Santa Cecília.
A partir de 1931 tem início suas viagens periódicas à
cidade do Rio de Janeiro onde frequentava aulas particulares de violino com a
professora Paulina D’Ambrósio. Inscreve na prova de admissão ao Instituto
Nacional de Música do Rio de Janeiro, atual Escola de Música da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, sendo aprovado em primeiro lugar. Inicia os cursos
de harmonia elementar e conjunto de câmara, com Arnauld Gouvêa e Orlando
Frederico, respectivamente.
Em 1934, passa a residir na cidade do Rio de Janeiro,
trabalhando como músico em restaurantes, baile e gafieiras. No mesmo ano
gradua-se em violino.
Iniciou novos estudos de harmonia no curso particular
com o professor Newton Pádua durante cinco meses em 1938.
Participa da Orquestra de Vicente Paiva na Rádio Clube
do Brasil. Toma aulas de violão com Dilermando Reis, desejoso em acompanhar a
cantora Odete Pinajé, por quem estava interessado.
Nesta época, começou a trabalhar como arranjador para
alguns cantores e gravadoras.
Teóphilo de Barros Filho |
Em 1943, ingressou no Conservatório Brasileiro de
Música, para se aperfeiçoar em contraponto, fuga e composição, tornando-se o
primeiro aluno a concluir o curso de composição do Conservatório.
Arnold Schonberg |
Guerra Peixe queria algo diferente, ansioso por
novidades, interessou-se pela concepção dodecafônica, iniciando a chamada Fase
Dodecafônica. Trata-se de um sistema de composição atonal, criado por Schonberg,
baseada no livre emprego dos 12 semitons da escala temperada. A composição
“Noneto” representa bem essa fase.
Koellreutter |
Em 1946, na Rádio Tupi, fez vários arranjos para o
programa “Ritmos Cruzados” alterando o ritmo de melodias conhecidas.
Transformou em choro o “Moto perpétuo” de Paganini. A “Sonata ao luar” de
Beethoven foi modificada em ritmo de swing, e “Danúbio Azul” de Johann Strauss
executada em ritmo de samba.
Ainda neste ano procura uma forma de nacionalização em
suas composições dodecafônicas, em especial na Suíte para violão, introduzindo
sugestões melódicas de caráter popular.
Compõe a Música nº 1 para Piano e Trio de Cordas com
um caráter pessoal na utilização do sistema de doze sons.
No final de 1947, retira-se para São João de Meriti,
iniciando um processo de revisão da fase dodecafônica. Reformula algumas obras,
em virtude da crise de composição sobrevinda dos problemas estéticos.
Ministra aulas no Conservatório de Música do Rio de
Janeiro.
Foi um dos fundadores do Grupo Música Viva, que atuava
na rádio Ministério da Educação e Cultura – MEC, no Rio de Janeiro, com o grupo
divulgou o seu trabalho, onde permaneceu até 1949, após assistir apresentações
folclóricas no Recife, impressionado com o Maracatu, decidiu finalmente
abandonar o estilo dodecafônico, voltando ao nacionalismo musical. Termina
assim a “Fase Dodecafônica” e tem início a “Fase Nacional”. Dentre as obras que
representam este período merece destaque Mourão.
Casara-se no Rio de Janeiro com Célia Pinto em 12 de
agosto, um dia antes da viagem a Pernambuco. Fixou residência por três anos
naquela cidade. Hospeda o músico Cego Aderaldo durante quatro meses, para
estudar o toque de rabeca.
Trabalhou como arranjador na Rádio Jornal do Recife,
com a intenção de ampliar seu conhecimento relativo ao folclore nordestino.
Estas pesquisas foram fonte para as obras compostas na década de 1950.
Uma curiosidade relacionada às suas pesquisas é que o
frevo é originário de ciganos eslavos e espanhóis, e não por negros africanos.
"
Durante 3 anos me meti nos xangôs, maracatus, viajei para o interior, recolhi
músicas de rezas para defunto, da banda de pífanos…"
Publica no suplemento literário do Diário de
Pernambuco de Recife, a série de vinte artigos “Um século de música no Recife”
a respeito da vida musical recifense.
Ainda em 1950, conquista o Primeiro lugar por unanimidade
com a obra sinfônica Abertura solene, no concurso de composição instituído pela
Prefeitura Municipal de Recife para comemorar o primeiro centenário do Teatro
Santa Isabel.
Deixa Recife de mudança para São Paulo, em 1953.
Prossegue na coleta folclórica onde realiza pesquisas
na capital e localidades do interior, tal como Taubaté, São Carlos,
Pindamonhangaba, Ilhabela, Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba. Anota
material de jongo, tambu, cateretê, cururu, dança de Santa Cruz, dança de São
Gonçalo, folia de reis, Moçambique, congado, caiapós, moda de viola, etc.
Durante esta fase nacionalista, compôs trilhas para
diversos filmes, foi premiado em 1953 como o melhor autor de música de cinema
no país. Participou de arranjos diversos em obras de Chico Buarque, Luiz
Gonzaga e Tom Jobim.
Fez parte da Comissão Paulista de Folclore, esteve
presente em diversos congressos brasileiros sobre o folclore.
Trabalhou em diversos programas radiofônicos na Rádio
Nacional de São Paulo e recebe diversos prêmios por sua obra voltada ao
folclore, dentre livros e composições musicais, incluindo trilhas sonoras.
Da fase nacionalista sua obra mais importante foi a
Sinfonia Brasília, composta em 1960.
Ao término de seu contrato com a Rádio Nacional de São
Paulo, em 1961, Guerra Peixe volta a residir no Rio de Janeiro. Leciona na
Escola de Música Villa Lobos.
Redige o programa semanal Nossa Música Nossa Alma na
Rádio MEC, entre os anos de 1963 a 1968, com cerca de 300 programas referentes
à música popular e folclórica.
A Escola de Música Santa Cecília em Petrópolis o
convida para descerrar a placa comemorativa aos seus 50 anos.
Segue compondo diversas trilhas sonoras de cinema,
trabalha como arranjador na TV Tupi do Rio de Janeiro entre 1966 e 1970. Fez
parte do corpo de jurados do I Festival Internacional da Canção em 1966, no ano
seguinte passa a ser o arranjador musical do II Festival.
Miguel Gustavo |
Em 1970, faz o arranjo para a música de Miguel
Gustavo, Pra frente Brasil.
Transforma a Escola Brasileira de Música Popular do
Museu da Imagem e do Som, em Seminário de Música do M.I.S., imprimindo-lhe uma
orientação mais erudita. No ano seguinte é escolhido pela Academia Brasileira
de Música, ocupando a cadeira nº 34, na vaga de seu antigo professor Newton
Pádua.
Separa-se de Célia Pinto em 1975. Durante os anos 70 e
80, participa como jurado em diversos festivais e concursos de música erudita,
popular ou folclórica. Compõe algumas trilhas sonoras, ministra aulas, cursos,
palestras e conferências. Segue recebendo prêmios e honrarias.
Nos anos 90, ministra aulas na Universidade Federal, e
Oficina de Música Guerra Peixe na Escola Villa Lobos, participa da IX Bienal da
Música Brasileira Contemporânea, sempre no Rio de Janeiro.
Sua última aparição na Televisão ocorre no programa “Arranjadores”
na TV Cultura em São Paulo, no ano de 1992.
No dia 26 de Novembro de 1993 falece no Rio de Janeiro,
vitimado por um edema pulmonar, seu legado é considerado como um dos mais importantes,
por força de sua intensa atuação como compositor, instrumentista, ensaísta e
incentivador cultural. Conviveu entre os universos: erudito e o popular e,
experimentando e quebrando regras.
“No final da década de 1930 [...]
abandonei o violino por 20 anos. Depois de 20 anos senti necessidade de tocar,
ao mesmo tempo senti necessidade de lutar pela vida, recomeçar nesse setor.
Então, depois de um preparo mais ou menos de um ano, entrei para a Orquestra
Sinfônica Nacional” (Guerra-Peixe).
"Não imponho aos meus alunos nenhuma
orientação. Discuto a parte da composição, mas a parte filosófica deixo com
eles".
- Em entrevista ao jornal O Globo, em
janeiro de 1979
Àqueles que quiserem conhecer um pouco mais
sobre este grande brasileiro recomendo o site: guerrapeixe.com
https://drive.google.com/drive/folders/0B9F356bpnhA-bTFDZlNkcjB5bTQ?resourcekey=0-jiJEAJ_6kEd0K82TAdpEEg&usp=sharing
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