quinta-feira, 5 de junho de 2014

Erik Satie

Éric Alfred Leslie Satie, ou simplesmente Erik Satie, nascido no distrito de Pont-l'Evêque, em Honfleur, na região da Normandia, França, no dia 17 de Maio de 1866.

Foi o mais velho dos três filhos do casal, Jules Alfred Satie, francês e Jane Leslie Aston, escocesa, seus irmãos mais novos eram Olga e Conrad. Quando tinha sete anos sua mãe faleceu. Seu pai mudou-se para Paris deixando os filhos aos cuidados dos avós, na cidade natal. Seu tio Adrien, um boêmio, foi grande influência sobre a personalidade do menino nesses anos de formação. Em Honfleur aprendeu piano com Gustave Vinot, discípulo de Niedermeyer e organista da igreja de Sainte-Catherine.

Aos doze anos mudou-se para capital francesa, onde reencontrou o pai, então editor musical. Em 1879 ingressou no Conservatório de Paris, permanecendo até 1882, ali os professores o consideravam medíocre, preguiçoso, imprestável e sem o menor senso de ridículo. Foi reprovado por incompetência em lidar com contraponto e harmonia. Um de seus professores anotou num relatório: “Nada. Três meses para aprender uma peça. Incapaz de ler à primeira vista.” Sua repulsa aos ensinamentos acadêmicos fez com que abandonasse os estudos, decidindo ganhar a vida como pianista de cafés.
Seus primeiros trabalhos importantes, Trois gymnopédies (1888) e Trois gnossiennes (1890) e são os mais populares. Obras muito simples, mas de uma beleza expressiva comovedora. As primeiras foram enriquecidas com as orquestrações de Debussy.
O título Gymnopédie é tido como derivado do antigo festival grego Gymnopaedia, dedicado ao deus Apolo, onde jovens nus dançavam ao som da música de flauta e lira.
Chat Noir
Auberge du Clou
Em 1890 decide morar em um quarto na Rue Cortot 6, em Montmartre. Apresentando-se como “gymnopedista” ao gerente do Cabaré Chat Noir (Gato Negro) conseguiu emprego como pianista, assim como no Auberge du Clou, no segundo conheceu Claude Debussy. No Chat Noir, aproximou-se do humorista Alphonse Allais, que o apelidou "Esotérik Satie".
Debussy e Satie
Em 1891, Satie e Debussy foram iniciados na fraternidade Rosa Cruz, recém estruturada em Paris. Dentre os membros de seu Conselho Supremo, nomes como de Stanislas de Guaita, Sâr Joséphin Péladan, quem influenciou Satie a participar da Ordem, Gérard Encausse (conhecido como Papus) e Augustin Chaboseau.
Péladan, que mais tarde deixaria a Ordem por causa de divergências com Papus e fundaria a “Ordem da Rosacruz do Templo e do Graal”, defendia a ideia de que a arte tinha uma missão divina e era o melhor meio de efetivar a reintegração com Deus.
Dentro da fraternidade, Satie viria a desempenhar uma função semelhante à de mestre de capela, e dessa maneira produziu obras voltadas para a ritualística da ordem, como Le Fils des Étoiles (O Filho das Estrelas), escrita sobre argumento do próprio Sâr Peladan, Première Pensée Rose-Croix (Primeiro Pensamento Rosacruz) e Sonneries de la Rose+Croix (Sons da Rosacruz), que consta de três partes, a saber: Air de L’Ordre (Ária da Ordem), Air du Grand-Maître (Ária do Grande Mestre) e Air du Grand-Prieur (Ária do Capelão).
Insatisfeito, mais tarde fundou sua própria igreja, "L'Eglise Métropolitaine d'Art de Jésus Conducteur" ("A Igreja Metropolitana de Arte e Jesus como Guia"), da qual era o único membro, e excomungava todos que discordassem dele.
Satie foi um dos precursores do minimalismo, abolindo as estruturas complexas e sofisticadas, com absoluto despojamento e simplicidade da forma. Seu primeiro exemplo foi Vexations, data de 1893 e formada por 32 compassos que se repetem 840 vezes.
Suzanne Valadon e retrato de Satie pintado por ela
Eric Satie teve durante a sua vida um único amor, Suzanne Valadon, que era pintora e também modelo dos pintores Renoir e Degas. Viveu esse romance durante seis meses, pediu sua mão em casamento no primeiro dia de namoro, entretanto ela se casou com Paul Mossis.
Rue Cauchy, 22
Em 1898 mudou-se para Arcueil-Cachan, subúrbio industrial da região sul de Paris, morando num modesto quarto no segundo andar da Casa das Quatro Chaminés, na Rue Cauchy, 22,  levando uma vida solitária.
Era um personagem bastante curioso, media 1,67m de altura, excêntrico e irreverente, era famoso por possuir 12 idênticos ternos cinza de veludo e fazer coleção de guarda-chuvas e cachecóis. Detestava sol. Só se alimentava com comida branca: arroz, ovo, peixe, nabo, queijo. Além de compor, também escrevia e fazia caricaturas, inclusive de si próprio. Caminhava, diariamente, nove quilômetros para tocar em Montmartre.

Sua autobiografia, Mémoires d'un Amnésique (Memórias de um amnésico), fez muito sucesso. Seu estilo irônico e surrealista revela-se em 'Escritos em forma de grafonola' e 'Cahiers d'un Mammifère', um livro com poemas, canções e relatos. (Este livro foi lançado em português).

Segue um pequeno fragmento:


VIII
ELOGIO DOS CRÍTICOS
Não escolhi este tema por acaso, escolhi-o por me sentir reconhecido. Porque estou, de fato, tão reconhecido como reconhecível.
O ano passado fiz várias conferências sobre «A Inteligência e da Musicalidade nos Animais».
Hoje vou falar-vos «Da Inteligência e da Musicalidade nos Críticos». O tema é quase o mesmo mas com modificações, bem entendido.
Amigos meus disseram-me que era um tema ingrato. Ingrato, porquê? Não há nele ingratidão nenhuma; pelo menos, eu não vejo onde nos agarrarmos para dizer isso. Vou pois fazer, sereno, o elogio dos críticos.
Não conhecemos suficientemente os críticos; ignoramos o que fizeram, o que são capazes de fazer. Numa palavra, são tão desconhecidos como os animais, embora tenham, como eles, a sua utilidade. Sim.
Não são apenas os criadores da Arte Crítica, que é Mestra de Todas as Artes, mas os primeiros pensadores do mundo, os livres pensadores mundanos se assim podemos chamar-lhes.
De resto, foi um crítico quem posou para o Pensador de Rodin. Eu soube-o há quinze dias, o máximo três semanas, por um crítico. O que me deu prazer, muito prazer. Rodin tinha um fraco, um grande fraco pelos críticos… Os seus conselhos eram-lhe caros, muito caros, demasiado caros, acima de qualquer preço.
Há três espécies de críticos: os importantes; os que são menos; os que não são nada. As duas últimas espécies não existem: são todos importantes…  
(fonte: http://asfolhasardem.wordpress.com/2009/07/01/erik-satie-memoria-de-um-amnesico/)
Resolveu voltar a estudar, com quase quarenta anos. Em 1905 ingressou na Schola Cantorum de Paris e estudou contraponto e orquestração com Vincent d'Indy e Albert-Charles-Paul-Marie Roussel. Era esta uma escola reconhecida como uma das mais conservadoras do seu tempo. Foi ali buscar informações especializadas. Havia abandonado por algum tempo a vida boêmia a que se entregara com empenho, incluindo as sessões do Chat Noir, onde tocava todas as noites. Após três anos recebeu o diploma com a avaliação "très bien" (muito bom).
E essa aprendizagem revelar-se-ia importante numa peça em três andamentos - Pastoral, Choral e Fuga - que tem o nome bastante perturbador Aperçus Désagréables, algo como Introspecções Desagradáveis.
Sua música passou a ganhar atenção a partir de 1911: Maurice Ravel chegou a relevar à Sociedade Internacional de Música algumas de suas obras. Quatro anos depois, atraiu o interesse também de Jean Cocteau, o que proporcionou a produção de obras mais ambiciosas, como balés e uma cantata.
Guillaume Apollinaire
Sob um argumento de Jean Cocteau, Satie compôs o balé Parade em 1917, concebido para o Ballet Russes de Serguei Diaghilev e com cenário e figurino criados por Pablo Picasso. Satie abusou da inovação e da originalidade, incorporando sons de máquina de escrever, sirenes e tiros de pistola à música, aquilo foi um escândalo na época. O crítico Guillaume Apollinaire criou um termo para descrever tal espetáculo, surrealismo, termo que posteriormente descreveria todo um movimento artístico e literário.
Foi em 1918 através de uma encomenda feita por Winnaretta Singer, Princesa de Polignac, uma importante mecena da época, que escreveu Socrate, um drama sinfônico para quatro sopranos e orquestra de câmara, baseada nos diálogos de Platão traduzidos por Victor Cousin. É considerada sua obra-prima e que marcou sua mudança de estilo e gênero.

Princesa de Polignac e Victor Cousin
Satie inspirou compositores franceses a renovarem a manifestação musical de seu país, influenciada pelo Wagnerismo, e pela ópera. Abriu caminhos para uma nova música francesa, através do grupo Les Six, composto por Darius Milhaud, Arthur Honegger, Francis Poulenc, Gerges Auric, Louis Durey e Germaine Tailleferre, supervisionados por Jean Cocteau.
Francis Poulenc, Germaine Taileferre, Louis Durey, Jean Cocteau, Darius Milhaud, Arthur Honegger

Os jovens compositores eram atraídos pelos títulos bem-humorados de suas peças. Satie influenciou seus amigos contemporâneos Debussy e Ravel. Foi o criador do ragtime, estilo de pré-jazz, com as estruturas minimalistas.
Escola de Arcueil, formada por seus discípulos e sob sua supervisão, Henri Pawl-Pleyel, Roger Desormière, Maxime Jacob e Henri Sauguet, teve início em 1923.
Foi o inventor da música ambiente, que ele chamava de musique d'ameublement. A música como mobília ocupando o silêncio do ambiente que eventualmente ocorria entre os convidados, sem se impor fazendo parte dos ruídos naturais e neutralizando os ruídos externos. Entretanto as pessoas ficavam quietas atentas ao seu desempenho. Então bradava nervoso: "Falem algo! Agitem-se! Não fiquem estáticos, só escutando!". Parecia mais uma de suas piadas.
Duas curiosidades sobre a sua obra e forma de trabalhar:
Anotava nas partituras instruções para a interpretação, e usou a proporção áurea em Sonneries de la Rose Croix e outra peças, o que deu a sua música um senso de simetria.
Várias composições suas têm títulos humorísticos, como: Sonatina Burocrática, Três Peças em Forma de Pêra, Prelúdios Flácidos (a um cão), Coisas vistas à direita e à esquerda (sem óculos), Embriões Ressequidos, etc.
Entre suas obras mais apreciadas, estão a série de peças para piano que levam o sugestivo nome de Gnossiennes, algo como ‘Gnósticas’ Que demonstra a sua preocupação filosófica.
Erik Satie, sempre esteve longe de ser, em vários aspectos, um compositor ao nível de grandes nomes. Sua música foi apreciada por poucos em sua época e desprezada pela maioria dos compositores e críticos musicais. Tratavam-no como um compositor de fracos recursos técnicos. Na verdade era um grande improvisador e suas criações nasciam de inspirações súbitas movidas por estímulos não musicais.
O humor era outra característica muito peculiar em Satie, certa vez se queixava de ter passado a infância a ouvir os adultos dizerem-lhe: « Quando cresceres hás-de ver como é... », ao que o compositor acrescentava: - Agora cresci, e continuo a não ver nada...
Outra quando ele faz uma clara citação da Marcha Fúnebre, de Chopin, e anuncia que se trata de uma homenagem a uma famosa mazurca de Schubert.
Em maio de 1915, a pedido do pianista Paul Viardot, Satie mandou seu currículo para constar de um verbete de enciclopédia da música: Tardiamente, foi aluno de Albert Roussel & Vincent d'Indy. Assinou, em 1892, obras absolutamente incoerentes: Sarabandes; Gymnopédies (orquestradas por Debussy); prelúdios do Fils des Étoiles (orquestrados por Maurice Ravel), etc... Escreveu também fantasias de uma rara estupidez: Véritables Préludes Flasques, que Ricardo Viñes bisou na Société Nationale; depois, Embryons Desséchés, que Jane Mortier igualmente bisou em um de seus concertos. O sr. Satie passa, a justo título, por um pretensioso cretino. Sua música não tem sentido e provoca o riso ou o dar de ombros."
Afirmava ter nascido demasiadamente novo num mundo demasiadamente velho, e isso não era ironia tampouco piada.
Sua última obra foi Relâche, em português, “dia de folga”. Quando o público chegou ao teatro para assistia a estreia, deparou com as portas fechadas, afinal os cartazes anunciavam: dia de folga.
Darius Milhaud
Após anos de boêmia e bebedeira, aos 59 anos, faleceu às 20 horas do dia 1 de julho de 1925, durante o sono, vítima de cirrose hepática. Ao entrarem em seu quarto, fato nunca permitido durante os 27 anos que morou naquele endereço, seu irmão Conrad, o compositor Darius Milhaud e o poeta Paul Claudel, depararam com um cenário de indigência, apenas uma cama, mesa, cadeira e roupas amontoadas, uma pilha de papéis velhos e um piano desafinado, e atrás dele encontraram, uma composição que acreditava estar perdida, a música “Jack in the box”, que escrevera no início do século XX.
Dentre os papéis velhos estavam partituras manuscritas, rascunhos e cópias de cartas enviadas e centenas de envelopes... todos fechados. Eram as cartas que os correspondentes endereçavam a Satie, sem que ele se dignasse a abri-las.
Ornella Volta
Milhaud resgatou as partituras, como 3 Gymnopédies (1888) e Véxations (1893), voltarem à vida tornando-as públicas, e servindo de inspiração aos compositores contemporâneos.
As cartas foram lançadas em livro, com o patrocínio dos correios franceses, com o título Correspondência Quase Completa (Correspondance Presque Complète), organizadas pela historiadora e musicóloga Ornella Volta. São 1.165 cartas encontradas de e para um compositor de Erik Satie, resultado de três décadas de pesquisas.

Para ouvir e fazer download de algumas de suas músicas, acesse o link abaixo:
https://drive.google.com/drive/folders/0B9F356bpnhA-djlQVXIxSHBOcHc?resourcekey=0-vsFhPAl5i6EIK35KZFcq5A&usp=sharing

Inclusive há nesta pasta duas subpastas, uma com a obra Socrate completa e outra com um álbum completo dos irmãos Steve e John Hackett.

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