Nietzsche |
Richard Strauss compôs a peça no ano de 1896. É um dos primeiros trabalhos feitos para homenagear Nietzsche, embora este estivesse com uma paralisia geral nessa época. Mas, ele deve ter ouvido as notícias referentes a essa homenagem feito pelo compositor.
Poema Sinfônico "Assim
falou Zaratustra" (Also sprach Zarathustra)
Seu número de catálogo é Opus 30 /
TrV 176 - escrita durante o período de 4 de fevereiro a 24 de agosto de 1896. A obra teve a sua estreia no dia 27 de novembro de 1896 em Frankfurt —
Frankfurter Opern- und Museumsorchester, com a regência do próprio autor.
O Poema Sinfônico tem
inspiração na obra literária homônima de Friedrich Nietzsche, de 1885, que
conta a trajetória de Zaratustra, ou Zoroastro, o profeta persa (século VII aC)
que desce de seu refúgio solitário na montanha e vai compartilhar seu
conhecimento com a humanidade.
Valendo-se da voz de Zaratustra, Nietzsche denuncia o servilismo à religião e os abusos da sociedade contra o indivíduo. A idéia central do livro é a de que somos seres em transição, do macaco ao que o autor chamou de übermensch, o homem-além-do-homem (ou simplesmente traduzido como super-homem).
Tal teoria foi inserida por Stanley Kubrick em seu filme
"2001, Uma odisseia no espaço" de 1968, e a utilização da música na
trilha-sonora conferiu à obra uma imensa popularidade.
Valendo-se da voz de Zaratustra, Nietzsche denuncia o servilismo à religião e os abusos da sociedade contra o indivíduo. A idéia central do livro é a de que somos seres em transição, do macaco ao que o autor chamou de übermensch, o homem-além-do-homem (ou simplesmente traduzido como super-homem).
Kubrick |
Strauss declarou que não foi sua intenção produzir música filosófica, nem muito menos traduzir musicalmente o livro, mas sim homenagear a grande figura de Niezsche e sua obra-prima. As 9 partes são, segundo o compositor, um panorama do desenvolvimento da raça humana desde sua origem, passando pelo contato com a religião, com a ciência, até atingir a figura nietzschiana do übermensch.
A peça utiliza os seguintes instrumentos para sua execução:
Órgão, 1 Flautim, 3 Flautas, 3 Oboés, 1 Corne-inglês, 3 Clarinetas, 1 Clarineta-baixo, 3 Fagotes, 1 Contrafagote, 6 Trompas, 4 Trompetes, 3 Trombones, 2 Tubas, Tímpanos, 1 Bumbo, Címbalos, Triângulo, Glockenspiel, Carrilhão ou sino, 2 Harpas, e 64 Cordas (16 primeiros-violinos, 16 segundos-violinos, 12 violas, 12 violoncelos e 8 contra-baixos).
Com duração aproximada de 35 minutos, divididos em nove partes, que são tocadas ininterruptamente. Segue comentário e a duração aproximada de cada uma delas:
Clique aqui e Ouça enquanto lê as partes comentadas.
I. Einleitung, oder
Sonnenaufgang
(Introdução, ou O Nascer do
Sol) — cerca de 2 minutos
O impacto indescritível disso
que seria o contato do homem com o poder de Deus (no programa da estreia em
Berlim escrito pelo próprio autor) é construído sobre uma nota grave sustentada
pelo órgão, com ajuda dos contrabaixos e do contrafagote, no qual irá se apoiar
o inesquecível chamado de 3 notas dos trompetes, complementado pela marcação
contundente dos tímpanos. O sol nasce e o homem se confronta com a dor do
conhecimento, a certeza da morte.
II. Von den Hinterweltlern
(Dos habitantes dos mundos
ocultos) — cerca de 3 minutos
Originalmente, Strauss
intitulou essa passagem como Von Göttlichen, Do Divino, e aqui a música traduz
a primeira tentativa do homem em encontrar respostas para os mistérios,
apelando para as "verdades" religiosas. Um doce tema nasce nos violoncelos
e espalha-se pelas cordas com ecos do canto medieval "Credo in unum
Deum" (Cremos em um só Deus).
Violencelo e as demais cortas dominam a segunda parte. |
III. Von der großen Sehnsucht
(Do imenso desejo) — cerca de
2 minutos
A tentativa de encontrar
conforto na saciedade de seus instintos. As cordas "deslizam" com o
tema do desejo e são sistematicamente interrompidas pelos sopros com uma
sonoridade sôfrega e desconfortável. No ápice melódico, uma brutal
interferência que enuncia a dúvida e prepara o próximo trecho.
IV. Von den Freuden und
Leidenschaften
(Das alegrias e das paixões)
— cerca de 2 minutos
A revolta do homem frente à
falta de respostas e sua entrega às paixões, numa melodia gloriosa nos violinos
que simboliza os prazeres carnais, até culminar num comentário jocoso dos
trombones simbolizando o fastio.
V. Das Grablied
(A canção do túmulo) — cerca
de 2 minutos e meio
O sentimento de impotência e
desolação, o desespero do homem (numa melodia que aparece no violino-solo do
spalla) frente à invencível morte.
VI. Von der Wissenschaft
(Da ciência) — cerca de 4
minutos
Começa numa passagem sombria,
na qual o homem tenta, outra vez, encontrar respostas, agora nas ciências e no
aprendizado. Adiante os sopros saltitam, simbolizando o conhecimento, e o tema
principal ecoa em confronto.
VII. Der Genesende
(O Convalescente) — cerca de
5 minutos
O movimento trata da ascensão
do homem a super-homem, libertando-se do mal e da ignorância. Os temas
anteriores retornam, inebriados pela atmosfera da superação dos desejos
terrenos. A fanfarra pontua a presença de Zaratustra, que ri extasiado
(repiques do oboé) e comemora seu triunfo.
VIII. Das Tanzlied
(A Canção dançante) — cerca
de 8 minutos
Volúpia e felicidade na
melodia valsante trazida pelo primeiro-violino, num movimento que vai
acumulando tensão em direção ao êxtase triunfal que aos poucos vai se
desfazendo até o movimento de conclusão:
IX. Nachtwandlerlied
(Canto do viajante noturno) —
cerca de 5 minutos
O sino convida às profundezas
da noite. É um “finale” enigmático, deixando "o problema" do homem não
resolvido. Ecoa o Universo, as esferas, como se o homem fosse se diluir na
matéria da qual ele se destacou. A atmosfera permanece serena mais ainda
ambígua, cheia de interrogações. Simbolizando essa dúvida, uma dissonância
entre o flautim e os violinos antecede a finalização da peça em suaves
pizzicatos.
flautim |
Texto de Rafael Fonseca.
A peça apresentada nesta
postagem é dirigida pelo maestro letão Maris Jansons a frente da Bavarian Radio
Symphony Orchestra.
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