quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SIBELIUS

JEAN SIBELIUS

Os finlandeses dizem que seu país é uma mistura de sauna, sisu e Sibelius. Sauna todos nós conhecemos... Ter sisu é parte do orgulho finlandês, pois é uma mescla de confiança e autonomia, que faz com que a pessoa se veja com capacidade de realizar qualquer coisa. E Sibelius...


Há 150 anos, no dia 08 de dezembro de 1865, nascia Johan Julius Christian Sibelius, conhecido como Jean Sibelius dos mais populares compositores de música erudita do fim do século XIX e início do XX, que é outra das bases da identidade do país. Ele teve um impacto muito maior na mentalidade finlandesa do que o meramente musical.
Nascido numa família de língua sueca na cidade de Hämeenlinna, no Grão Ducado da Finlândia então pertencente ao Império Russo. Foi o primeiro grande expoente e talvez consolidador da identidade nacional finlandesa.
Sua família decide mandá-lo para um importante colégio de língua finlandesa, o The Hämeenlinna Normal-Lycée, onde estudou entre 1876 e 1885. Foi nessa época que adotou o nome Jean.
Seu primeiro grande sucesso Kullervo (Op. 7) baseado no poema épico Kalevala, composto em 1882, quando ainda estava indeciso em seguir a carreira de músico ou como queria a família que se dedicasse ao Direito.

Entrada da atual Sibelius Akatemia

Fachada atual da Sibelius Akatemia
Ele terminou o ensino médio em 1885 e começou a estudar Direito na Universidade Imperial Alexandre em Helsinque (hoje Universidade de Helsinque), porém a música sempre foi a responsável por suas melhores notas na escola e ele logo desistiu do Direito. 

De 1886 a 1889, Sibelius estudou música na escola de música de Helsinque (hoje a Academia Sibelius), depois estudou em Berlim de 1889 a 1890, e em Viena de 1890 a 1891.
Aino Järnefelt (Ainola)
Jean Sibelius casou-se com Aino Järnefelt (1871-1969) na cidade de Maxmo em 10 de junho de 1892. A casa de Jean e Aino, a Ainola, foi concluída no Lago Tuusula, na cidade de Järvenpää, Finlândia, em 1903, onde eles viveram durante o resto de suas longas vidas.

Eles tiveram seis filhas: Eva, Ruth, Kirsti (que morreu muito jovem), Katarine, Margaret e Heidi.
As filhas de Jean Sibelius na década de 1940. Katarina Ilves (à esquerda), Eva Paloheimo, Heidi Blomstedt, Ruth Snellman and Margareta Jalas
Há um caso em que o escritor finlandês Juhani Aho despertou a ira de Sibelius, com a publicação de "Yskin" ("Solo"), uma história de amor autobiográfico em que o autor retrata sua paixão por Aino, quando ela já estava noiva de Sibelius.
Sibelius fez parte de um grupo de compositores que aceitou as normas de composição do século XIX e foi muitas vezes criticado como uma figura reacionária da música clássica do século XX. Apesar das inovações da Segunda Escola de Viena, ele continuou a escrever num idioma estritamente tonal.
Richard Wagner
Como muitos de seus contemporâneos, ele apreciou Wagner, mas apenas durante certo tempo, escolhendo depois um caminho musical diferente. Pensando na ópera como impulsionador de sua carreira, Sibelius começou a estudar as partituras das óperasTannhäuser, Lohengrin, e Die Walküre de Wagner. Ele então partiu para o Festival de Bayreuth onde ainda ouviu Parsifal, que teve grande efeito sobre ele. Ele escreveu à esposa pouco tempo depois, "nada no mundo me impressionou dessa forma, fazendo vibrar as cordas do meu coração". Sibelius então começou a trabalhar em uma ópera intitulada Veneen luominen (A Construção do Barco).
Outras influências primárias incluem Ferruccio Busoni, Anton Bruckner e Tchaikovsky, sendo este último particularmente evidente na Sinfonia N. 1 em Mi Menor (1899) de Sibelius, e mais tarde em seu Concerto para Violino de 1905.
Ferrucio Busoni  -  Anton Bruckner  -  Piotr Tchaikovsky  

Progressivamente abandona as diretrizes de composição da forma-sonata em seu trabalho e, ao invés de múltiplos contrastes de temas, ele ficou na ideia de envolver continuamente células e fragmentos culminando em um grande e único tema. Dessa forma, seu trabalho pode ser visto como um desenvolvimento único, com permutações e derivações dos temas levando o trabalho adiante. A síntese é muitas vezes tão completa e orgânica que leva a pensar que ele começou pelo final, escrevendo rumo ao início, de trás para frente. Esta natureza severa da orquestração de Sibelius é geralmente creditada como uma representação da "característica finlandesa", extirpando o supérfluo da música.
Gustav Mahler - Richard Strauss
Sibelius é muito diferente de seus rivais na virada do século XIX para o XX. Gustav Mahler e Richard Strauss eram adeptos de misturar temas muito diferentes, buscando contrastes quase bipolares, enquanto Sibelius transformava lentamente seus temas.
Por exemplo, a Sinfonia Nº 7 é composta de quatro movimentos sem pausas, as variações vêm do tempo e do ritmo. Sua linguagem não é nada reacionária, apesar de tonal. Sibelius dizia que, enquanto os outros compositores se preocupavam em oferecer coquetéis à audiência, ele oferecia água pura e gelada.
Seu poema sinfônico Finlândia era um protesto contra a crescente censura do Império Russo que controlava o país no final do século XIX, que teve a execução pública proibida pelos russos, então se trocava seu nome nos anúncios de concertos. Foram inúmeros títulos falsos. Se anunciassem algo como Sentimentos Felizes ao Amanhecer da Primavera Finlandesa, sabiam o que seria. Tal obra evoca a luta nacional do povo finlandês. Próximo ao seu final pode se ouvir a melodia serena do hino da Finlândia.
Assim como a Sinfonia Nº 2, escrita na Itália logo após “Finlândia”, foi um acontecimento nacional, numa época de invasão e opressão russas, também foi associada como a representação sonora do nacionalismo finlandês, e também foi proibida.
O núcleo de sua música é a coleção de sete sinfonias. Como Beethoven, cada um usado para desenvolver uma idéia musical e avançar seu estilo pessoal. Sinfonias continuam populares, e muitas vezes são incluídos nos programas e concertos no país e no exterior. Sibelius procurava em cada uma delas basear-se na anterior, melhorando-a. É conhecido o fato de Sibelius ter destruído a sua 8ª Sinfonia — aquela que deveria resumir e dar um passo adiante em relação à sétima — depois de anos de tentativas e de ter por várias vezes prometido mostrá-la a seus fãs americanos. Mas a oitava nunca apareceu.
As sete sinfonias de Jean Sibelius, em sua totalidade, formam um dos conjuntos musicais mais belos que existem. Elas estão repletas de um diálogo profundo com a natureza. O finlandês Jean Sibelius, um dos maiores sinfonistas de todos os tempos, leva essa missão a sério. Por isso, encontramos tanto da sua terra em suas obras apaixonadas. As sinfonias de Sibelius de um mistério invisível. Um halo espiritual existente entre a eteridade de sua música e alma do cosmos.
Símbolo nacional e figura artística mundial, Sibelius parou subitamente de compor em 1927. Ele passou os trinta anos seguintes no mais completo silêncio criativo, recolhido a sua casa encravada numa floresta finlandesa.
Jean & Aino
Sibelius viveu 92 anos. O alcoolismo certamente contribuiu para o bloqueio criativo de 30 anos. Sua última aparição pública como maestro foi desastrosa — ele estava completamente bêbado. Mas, como imagina o escritor inglês Julian Barnes no conto O Silêncio (editado em 2006 no Brasil pela Rocco no livro Um toque de limão), o compositor, sentado diante de uma garrafa de vodca, deve ter proclamado a vitória. “Hoje, sou tão famoso por meu longo silêncio quanto o fui por minha música”.
Sibelius morreu em 20 de setembro de 1957 em Ainola, onde ele está enterrado num jardim. Aino viveu ainda por doze anos até morrer em 8 de junho de 1969, sendo então enterrada junto do marido.

Erik Tawastsjerna, narra na biografia de Sibelius esta passagem sobre as vésperas de sua morte: 


Ele estava retornando de sua costumeira caminhada matinal. Maravilhado, contou à sua esposa Aino que havia visto um bando de curleus se aproximando. "Aí vêm eles, os pássaros da minha juventude" – exclamou ele. Repentinamente um dos pássaros saiu da formação e, voando, fez um círculo contornando Ainola. Então retornou à sua formação e continuou voando em sua jornada com o bando. “Dois dias depois, Sibelius morria de uma hemorragia cerebral”.
Junto com Johan Ludvig Runeberg, foi um dos símbolos culturais da Finlândia, como base para o seu espírito nacionalista. Curiosamente, ambos Sibelius como Runeberg vieram de famílias com afinidade sueco. 
Dentre as composições de Sibelius as mais famosas são:
- Opus 11 - Suíte Karelia de 1893
- Opus 22 - Suíte Lemminkäinen, especialmente um de seus quatro movimentos, The Swan de Tuonela de 1893;
- Opus 26 - Poema sinfônico Finlandia de 1899;
- Opus 44 - Valse Triste de 1904;
- Opus 47 - Concerto para Violino e Orquestra em D menor de 1903.


Em 1972, as duas filhas de Sibelius ainda vivas venderam Ainola ao Estado da Finlândia. O então Ministro da Educação, junto da Sibelius Society, a transformaram num museu, aberto em 1974.
Quando maçonaria foi revivida na Finlândia, pois fora proibida durante a soberania russa, Jean Sibelius, foi iniciado, aos 56 anos de idade, mas precisamente em 18 de agosto de 1922. Ele foi iniciado, elevado e exaltado, na Loja “Suomi nº 1”, no mesmo dia. Esta Loja, foi fundada logo após a sua Iniciação, em Helsinki, capital da Finlândia. Os cerimoniais não foram precedidos pela Consagração da Loja acima citada, mas sim conduzidos pelo Grão-Mestre de Nova York, Ir.: Tompkins que, juntamente com os IIr.: Scudder, Kennworthy, Lang e Necton, viajaram àquele país, no intuito de fundar uma Loja Maçônica. Consta que a cerimônia citada, foi iniciada às 10 horas da manhã, indo até às 19 horas; havendo apenas, um pequeno intervalo para o almoço.
Mais tarde tornou-se o grande organista da Grande Loja da Finlândia. Ele compôs em 1927 todo o ritual musical envolvendo o trabalho de ritualística dos graus em Loja (Opus 113, Musique Religieuse) e é a única música ritual completa para órgão e vocalistas, adicionou duas novas peças compostas em 1946. A nova revisão da música ritual de 1948 é um dos seus últimos trabalhos. É considerado o maior compositor de músicas maçônicas depois de Mozart.

ODE A FRATERNIDADE
Op 113 - Masonic Ritual Music - 08. Ode To Fraternity
VELJESVIRSI
(Texto Original em Finlandês, escrito por Samuli Sario, 03/05/1874 - 14/01/1957, ativista político finlandês e senador em 1918).

Kaunist’ on, kun veljet viihtyy
sovinnossa asumaan,
luottavaisna aina liittyy
toisiansa tukemaan.
Katso, veljesrakkaus
on kuin kukkaiskauneus,
niin kuin kalliin yrtin tuoksu,
niin kuin kirkkaan päivän juoksu.
Parjausta ällös huoli,
valhe väistä vierahaks’.
Huomaa kaiken kaunis puoli,
paha käännä parahaks’.
Neuvo harhaan astuvaa,
nosta maahan vaipuvaa.
Silloin kasvaa kaupunkimme,
siunaus saa sieluihimme.
Veljet aina liittyy
toisiansa tukemaan.

ODE TO FRATERNITY
(Adaptação para o inglês contida no encarte do CD Sibelius - Masonic Ritual Music – gravadora BIS - 1977)

Good and pleasant, O ye Brethren,
’Tis to dwell in unity
Strong to fight each others’ battles.
Faithful to our mystic tie,
Precious is fraternal love,
As the scent of flowers rare.
Myrrh and frankincense and spices
With their fragrance fill the air.
Keep we free from taint of slander,
From the poisoned breath of spite;
Ever speaking words of kindness,
Gentle words of truth and light,
If a Brother stray or fall,
Stretch we forth our helping hand;
Thus shall Masons ever prosper,
Thus united shall they stand,
Good and pleasant ’tis for
Brethren to dwell in unity.

Para ouvir um pouco da obra deste compositor e download:

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