quinta-feira, 22 de maio de 2014

GUERRA PEIXE

César Guerra Peixe, nascido em Petrópolis, RJ, no dia 18 de Março de 1914, era o caçula de dez irmãos, filho Francisco Antônio Guerra Peixe e Anna Adelaide Guerra Peixe, imigrantes portugueses que chegaram ao Brasil em 1893.
Aos seis anos de idade aprendeu a tocar violão com o seu pai, que trabalhava como ferrador de cavalos e era músico amador. Aos sete era autodidata em bandolim, aos oito tocava violino e aos nove iniciou-se no piano.
Aos onze anos de idade é matriculado na Escola de Música Santa Cecília, tendo aula de violino com o professor Gao Omacht, dentre outros. Estudou também piano e teoria musical. Foi premiado por três vezes com a medalha de prata por seu aproveitamento no violino.
Aos catorze anos de idade conseguiu o seu primeiro trabalho, no cinema Glória em Petrópolis, como violinista nas sessões de filme mudo.
Em 1929, aos quinze anos, conclui o curso de teoria e solfejo com Deoclécio Damasceno de Freitas e é nomeado professor coadjuvante de violino na Escola.
No ano seguinte, seu professor de violino viaja para o exterior, passa a ter aulas Lionel Maul, e tornando-se também professor catedrático de violino na Escola de Música Santa Cecília.
Fotografia tirada no dia 15 de março de 1914, três dias antes de seu nascimento.
Família de Francisco Antônio Guerra-Peixe. Da esquerda para direita. Atrás: Palmira, Antônio Herminio, Anna e Tereza; à frente: Amélia , Filomena, Anna Adelaide Guerra-Peixe (mãe), Linnie, Francisco Antonio Gerra-Peixe (pai), e Emilia.
“No carrinho, uma boneca substituindo o que nasceria dias depois, na certeza de que seria do sexo feminino...(Eu, ein?...)” Nota feita no verso da foto por Guerra-Peixe, em novembro de 1982.

A partir de 1931 tem início suas viagens periódicas à cidade do Rio de Janeiro onde frequentava aulas particulares de violino com a professora Paulina D’Ambrósio. Inscreve na prova de admissão ao Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo aprovado em primeiro lugar. Inicia os cursos de harmonia elementar e conjunto de câmara, com Arnauld Gouvêa e Orlando Frederico, respectivamente.
Em 1934, passa a residir na cidade do Rio de Janeiro, trabalhando como músico em restaurantes, baile e gafieiras. No mesmo ano gradua-se em violino.
Iniciou novos estudos de harmonia no curso particular com o professor Newton Pádua durante cinco meses em 1938.
Participa da Orquestra de Vicente Paiva na Rádio Clube do Brasil. Toma aulas de violão com Dilermando Reis, desejoso em acompanhar a cantora Odete Pinajé, por quem estava interessado.
Nesta época, começou a trabalhar como arranjador para alguns cantores e gravadoras.
Teóphilo de Barros Filho
Tem início, em 1942, a Fase Inicial de composição, conforme a sua própria definição. Um exemplo deste período é a composição Fibra de Herói com letra de Teóphilo de Barros Filho, que se tornou o hino semioficial na época da segunda grande guerra, e utilizada pelas forças armadas até os dias atuais.
Em 1943, ingressou no Conservatório Brasileiro de Música, para se aperfeiçoar em contraponto, fuga e composição, tornando-se o primeiro aluno a concluir o curso de composição do Conservatório.
Arnold Schonberg
Guerra Peixe destruiu todo o seu catálogo musical no ano de 1945, por considera-las sem personalidade, salvando somente a Suíte Infantil nº 1, encerrando a sua Fase Inicial.
Guerra Peixe queria algo diferente, ansioso por novidades, interessou-se pela concepção dodecafônica, iniciando a chamada Fase Dodecafônica. Trata-se de um sistema de composição atonal, criado por Schonberg, baseada no livre emprego dos 12 semitons da escala temperada. A composição “Noneto” representa bem essa fase.
Koellreutter
Participou por dois anos e meio o curso particular Análise, História e Estética da Música, Problemas de música para microfone, Harmonia acústica e Técnica dos doze sons, de Hans Joachim Koellreutter.
Em 1946, na Rádio Tupi, fez vários arranjos para o programa “Ritmos Cruzados” alterando o ritmo de melodias conhecidas. Transformou em choro o “Moto perpétuo” de Paganini. A “Sonata ao luar” de Beethoven foi modificada em ritmo de swing, e “Danúbio Azul” de Johann Strauss executada em ritmo de samba.
Ainda neste ano procura uma forma de nacionalização em suas composições dodecafônicas, em especial na Suíte para violão, introduzindo sugestões melódicas de caráter popular.
Compõe a Música nº 1 para Piano e Trio de Cordas com um caráter pessoal na utilização do sistema de doze sons.
No final de 1947, retira-se para São João de Meriti, iniciando um processo de revisão da fase dodecafônica. Reformula algumas obras, em virtude da crise de composição sobrevinda dos problemas estéticos.
Ministra aulas no Conservatório de Música do Rio de Janeiro.
Foi um dos fundadores do Grupo Música Viva, que atuava na rádio Ministério da Educação e Cultura – MEC, no Rio de Janeiro, com o grupo divulgou o seu trabalho, onde permaneceu até 1949, após assistir apresentações folclóricas no Recife, impressionado com o Maracatu, decidiu finalmente abandonar o estilo dodecafônico, voltando ao nacionalismo musical. Termina assim a “Fase Dodecafônica” e tem início a “Fase Nacional”. Dentre as obras que representam este período merece destaque Mourão.
Casara-se no Rio de Janeiro com Célia Pinto em 12 de agosto, um dia antes da viagem a Pernambuco. Fixou residência por três anos naquela cidade. Hospeda o músico Cego Aderaldo durante quatro meses, para estudar o toque de rabeca.
Trabalhou como arranjador na Rádio Jornal do Recife, com a intenção de ampliar seu conhecimento relativo ao folclore nordestino. Estas pesquisas foram fonte para as obras compostas na década de 1950.
Uma curiosidade relacionada às suas pesquisas é que o frevo é originário de ciganos eslavos e espanhóis, e não por negros africanos.
" Durante 3 anos me meti nos xangôs, maracatus, viajei para o interior, recolhi músicas de rezas para defunto, da banda de pífanos…"
Publica no suplemento literário do Diário de Pernambuco de Recife, a série de vinte artigos “Um século de música no Recife” a respeito da vida musical recifense.
Ainda em 1950, conquista o Primeiro lugar por unanimidade com a obra sinfônica Abertura solene, no concurso de composição instituído pela Prefeitura Municipal de Recife para comemorar o primeiro centenário do Teatro Santa Isabel.
Deixa Recife de mudança para São Paulo, em 1953.
Prossegue na coleta folclórica onde realiza pesquisas na capital e localidades do interior, tal como Taubaté, São Carlos, Pindamonhangaba, Ilhabela, Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba. Anota material de jongo, tambu, cateretê, cururu, dança de Santa Cruz, dança de São Gonçalo, folia de reis, Moçambique, congado, caiapós, moda de viola, etc.
Durante esta fase nacionalista, compôs trilhas para diversos filmes, foi premiado em 1953 como o melhor autor de música de cinema no país. Participou de arranjos diversos em obras de Chico Buarque, Luiz Gonzaga e Tom Jobim.
Fez parte da Comissão Paulista de Folclore, esteve presente em diversos congressos brasileiros sobre o folclore.
Trabalhou em diversos programas radiofônicos na Rádio Nacional de São Paulo e recebe diversos prêmios por sua obra voltada ao folclore, dentre livros e composições musicais, incluindo trilhas sonoras.
Da fase nacionalista sua obra mais importante foi a Sinfonia Brasília, composta em 1960.
Ao término de seu contrato com a Rádio Nacional de São Paulo, em 1961, Guerra Peixe volta a residir no Rio de Janeiro. Leciona na Escola de Música Villa Lobos.
Redige o programa semanal Nossa Música Nossa Alma na Rádio MEC, entre os anos de 1963 a 1968, com cerca de 300 programas referentes à música popular e folclórica.
A Escola de Música Santa Cecília em Petrópolis o convida para descerrar a placa comemorativa aos seus 50 anos.
Segue compondo diversas trilhas sonoras de cinema, trabalha como arranjador na TV Tupi do Rio de Janeiro entre 1966 e 1970. Fez parte do corpo de jurados do I Festival Internacional da Canção em 1966, no ano seguinte passa a ser o arranjador musical do II Festival.
Miguel Gustavo
A fim de elevar o nível técnico daqueles que se dedicam à música popular brasileira, funda no Museu da Imagem e do Som, a Escola Brasileira de Música Popular, no ano de 1968.
Em 1970, faz o arranjo para a música de Miguel Gustavo, Pra frente Brasil.
Transforma a Escola Brasileira de Música Popular do Museu da Imagem e do Som, em Seminário de Música do M.I.S., imprimindo-lhe uma orientação mais erudita. No ano seguinte é escolhido pela Academia Brasileira de Música, ocupando a cadeira nº 34, na vaga de seu antigo professor Newton Pádua.
Separa-se de Célia Pinto em 1975. Durante os anos 70 e 80, participa como jurado em diversos festivais e concursos de música erudita, popular ou folclórica. Compõe algumas trilhas sonoras, ministra aulas, cursos, palestras e conferências. Segue recebendo prêmios e honrarias.
Nos anos 90, ministra aulas na Universidade Federal, e Oficina de Música Guerra Peixe na Escola Villa Lobos, participa da IX Bienal da Música Brasileira Contemporânea, sempre no Rio de Janeiro.
Sua última aparição na Televisão ocorre no programa “Arranjadores” na TV Cultura em São Paulo, no ano de 1992.
No dia 26 de Novembro de 1993 falece no Rio de Janeiro, vitimado por um edema pulmonar, seu legado é considerado como um dos mais importantes, por força de sua intensa atuação como compositor, instrumentista, ensaísta e incentivador cultural. Conviveu entre os universos: erudito e o popular e, experimentando e quebrando regras.

“No final da década de 1930 [...] abandonei o violino por 20 anos. Depois de 20 anos senti necessidade de tocar, ao mesmo tempo senti necessidade de lutar pela vida, recomeçar nesse setor. Então, depois de um preparo mais ou menos de um ano, entrei para a Orquestra Sinfônica Nacional” (Guerra-Peixe).

"Não imponho aos meus alunos nenhuma orientação. Discuto a parte da composição, mas a parte filosófica deixo com eles".
- Em entrevista ao jornal O Globo, em janeiro de 1979

Àqueles que quiserem conhecer um pouco mais sobre este grande brasileiro recomendo o site: guerrapeixe.com

Para acessar algumas músicas, utilize o link abaixo:
https://drive.google.com/drive/folders/0B9F356bpnhA-bTFDZlNkcjB5bTQ?resourcekey=0-jiJEAJ_6kEd0K82TAdpEEg&usp=sharing

Nenhum comentário:

Postar um comentário